quinta-feira, 9 de novembro de 2023

"SEM CONHECER O PASSADO NÃO SE ENTENDE O PRESENTE"

Tinha que ser muito bom fotógrafo para, com os recursos e equipamentos da época, fazer uma imagem aérea com esse enquadramento de cena: onde se destacam conjuntamente completos o Mercado Municipal de Uberaba, inaugurado em 02 de agosto de 1924, arquitetura eclética, estilo inglês, em muitos detalhes dos 1.400 metros quadrados da construção em forma de octógono. Ao fundo a Penitenciária de Uberaba, construída no começo do século XX, pelos arquitetos italianos Luigi Dorça e Miguel Laterza.

A foto foi tirada em 4 de junho de 1935, pelo Correio Aéreo Nacional e,
 atualmente, está no acervo da Brasiliana. Foto/colorizada.

Hoje abriga a UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro). À esquerda da foto aparece o prédio do Colégio Nossa Senhora das Dores, inaugurado oficialmente em 26 de dezembro de 1895. Detalhe: defronte ao colégio não havia o Uberaba Tênis Clube, na Praça Esportes Minas Gerais, hoje Uberaba Tênis Clube. Esses pioneiros da fotografia ainda são poucos valorizados pela geração atual, da qual muitos os desconhecem. 

(Antônio Carlos Prata)

A PRIMEIRA SALA DE CINEMA DE UBERABA

A partir de 1900, começaram a acontecer as primeiras exibições de filmes em Uberaba, feitas inicialmente de forma esporádica por cinegrafistas visitantes, no antigo Theatro São Luiz da Praça da Matriz (atual Praça Rui Barbosa). Algum tempo depois, entre agosto e setembro de 1909, também tivemos projeções feitas no Paris-Theatre (que ficava do lado oposto da praça), mas essa sala acabou destruída por um incêndio após poucas semanas de funcionamento.


A notícia da inauguração da sala, no jornal Lavoura e Comércio de 17 de Abril de 1910.


Essa é a única foto conhecida da fachada do Cinema Triângulo,.
 Foi publicada no jornal Lavoura e Comércio em 6 de julho de 1912.

Um folheto de propaganda do Cinema Triângulo, 
com alguns filmes programados. Ingressos a 500 Reis para adultos, 250 Reis para crianças.


"Cabana do Pai Tomás", em versão cinematográfica de 1910, exibida no Cinema Triângulo em Fevereiro de 1911.

No entanto, a primeira sala de cinema de Uberaba especialmente construída para esse fim só abriu as portas em 16 de abril de 1910, quando a empresa de Salvador Bruno (que já havia feito projeções no Theatro São Luis) inaugurou o CINEMA TRIÂNGULO. A sala tinha 200 lugares e ficava na Rua do Comércio (atual Rua Artur Machado) do lado direito de quem descia da Praça Rui Barbosa, pouco depois da ponte sobre o Córrego das Lajes – onde hoje está o Edifício Geraldino Rodrigues da Cunha.


Festa do 5ª aniversário do cinema, e a nota publicada no Lavoura e Comércio.


A sala prometia exibir sessões de cinema todos os dias. Como os filmes eram mudos, o Triângulo contava com uma orquestra que tocava acompanhando as projeções. Em agosto de 1910, o cinema foi vendido para Abdias Nascimento, que equipou a sala com um piano alemão Ritter Halle. Joaquim Gomes Ferreira regeu por um tempo a orquestra do Triângulo, sendo substituído em 1913 por Renato Frateschi. Segundo o jornal Lavoura e Comércio, o público uberabense passou a prestigiar mais as exibições de cinema que as apresentações de teatro.

Em 19 de fevereiro de 1911, uma multidão compareceu ao Cinema Triângulo para assistir “A Cabana do Pai Thomaz” (“Uncle Tom Cabin”, de 1910), um filme da Vitagraph Company of America, dirigido por J. Stuart Blackton. Esse filme trazia uma importante inovação: foi a primeira vez que uma empresa norte-americana lançou um filme dramático em três rolos. Até então, os filmes longos (“full-length”) da época tinham cerca 15 minutos de duração, em apenas um rolo.

Em 1912, foram encerradas as projeções que aconteciam regularmente no Theatro São Luiz e, aos poucos, desapareceu também a programação do Uberaba-Cinema (que funcionou por algum tempo nas instalações do Grêmio Recreativo). A partir de agosto daquele ano, só restava na cidade o Cinema Triângulo, além de algumas escassas exibições ocasionais no São Luiz.

Na época, o Cinema Triângulo ganhou um palco, onde se apresentaram alguns músicos conhecidos, como o flautista uberabense Pedro Vieira, acompanhado ao piano pela Srta Poupée Meireles (maio de 1917) e também a pianista Dinorah de Carvalho (julho de 1917).

Com a abertura, no final de 1917, da Sala Polytheama, a programação do Cinema Triângulo começou a sumir do noticiário. Entre 1923 e 1924, houve uma breve tentativa de retomar o seu funcionamento, mas a sala encerrou definitivamente suas atividades em 1927.

(ANDRÉ BORGES LOPES)

A VELHA SALA DE CINEMA QUE RESISTE AO TEMPO

Muita gente que hoje passa pela praça do Grupo Brasil (Praça Comendador Quintino) ainda se lembra de que nesse prédio das fotos funcionou, por muitos anos, o Cine Royal. Até 1959, quando fechou as portas, ele foi a sala de cinema mais popular de Uberaba, cobrando ingressos bem mais baratos que os dos cines São Luís, Metrópole e Vera Cruz.O que pouca gente sabe é que, quando esse cinema foi inaugurado – em 11 de maio de 1929, pela empresa Damiani, Bossini e Cia – ele se chamava CINE TEATRO CAPITÓLIO e foi, por um breve tempo, uma das salas mais elegantes de Uberaba. O prédio havia sido especialmente construído por Antonio Sebastião da Costa, e estima-se que a obra tenha custado cerca de 100 contos de reis.

A fachada da sala de cinema, já renomeada Cine-Teatro Royal, 
em cartão postal de Marcelino Guimarães, publicado por volta de 1950.


Um centro de fisioterapia especializado em idosos funcionou no local no final da década de 2010.
Foto do Google Street View.

Uma foto recente do prédio, feita com drone, da página "Uberaba vista de cima".


A Damiani, Bossini e Cia – que também era dona dos cinemas Alhambra e São José – arrendou o prédio e gastou com a instalação dos equipamentos e dos 600 assentos mais de 30 contos. Na dia da estreia, aconteceu um programa em homenagem ao centenário de José de Alencar e ao América Futebol Clube de Belo Horizonte.

A notícia da inauguração do Cine-Theatro Capitólio, no jornal Lavoura e Comércio.


Dois anos depois, em 1931, a empresa Orlando Rodrigues da Cunha e Cia destronou os cinemas da Damiani e Bossini ao inaugurar o moderno e bem mais luxuoso Cine Teatro São Luís na praça Rui Barbosa. Para complicar ainda mais, entre julho e outubro do ano seguinte, a Revolução de 1932 no estado de São Paulo impediu a entrega dos filmes para o Capitólio e as outras salas da empresa, que teve que interromper as exibições. Em novembro, a Damiani e Bossini abriu falência.

A sala passou para administração da empresa de Orlando Rodrigues da Cunha que, um mês depois (26 de dezembro), reinaugurou o cinema com o nome Cine Teatro Royal, anunciando que passaria a exibir também filmes sonoros, com ingressos mais baratos que os do Cine Teatro São Luís. Durante algum tempo, as mesmas películas eram exibidas nas duas salas, com pequena diferença de horário. Quando o rolo de filme acabava de ser projetado no São Luís, era rapidamente rebobinado e um funcionário o levava correndo até a sala de projeção do Royal.

O fim das atividades ocorreu em fevereiro de 1959. A empresa alegou que a sala estava com instalações antigas e equipamentos defasados em relação às exigências dos novos filmes, e que não era economicamente viável fazer uma atualização. Desde então, o prédio teve diversos usos, mas permaneceu razoavelmente preservado. Hoje, funciona nele o salão de festas de uma igreja.



(André Borges Lopes)

UMA FOTO HISTÓRICA, DOIS GRANDES FOTÓGRAFOS E UM MEMORIALISTA

Essa foto de um grupo de indígenas do povo Bororo é bastante conhecida. Ela foi feita em Rio Verde, estado de Goiás, em 1894. Um negativo de vidro da imagem foi encontrado nos arquivos do fotógrafo carioca MARC FERREZ (1843-1923), um dos mais renomados mestres da fotografia brasileira no final do século 19 e início do século 20. Por isso, durante muitos anos, atribuiu-se a Ferrez a autoria desse registro, que faz parte da Coleção Gilberto Ferrez, hoje sob guarda do IMS - Instituto Moreira Sales.

A foto de 1894, reproduzida a partir do negativo em poder do IMS, publicada no site da Brasiliana Fotográfica.

(A foto original, sem a supressão de nudez exigida pelo puritanismo do Facebook, está nesse link.


Nos anos 1990, o jornalista e agitador cultural uberabense Jorge Henrique Prata Soares, conhecido como PRATINHA (1944-2010), abriu um debate sobre a autoria da foto, ao encontrar outro negativo da mesma imagem nos arquivos do seu bisavô, JOSÉ SEVERINO SOARES. Retratista premiado, “JUCA” SEVERINO foi um dos pioneiros da fotografia na nossa cidade nas últimas décadas do século 19 (há diversas imagens feitas por ele aqui na página do Uberaba em Fotos). Mas Severino também trabalhou como dentista prático e como comerciante de sal e, por isso, tinha o costume de viajar pelo Triângulo Mineiro e pelo sul de Goiás. Pratinha foi idealizador, pesquisador e entusiasta de um livro sobre a obra de seu bisavô, que foi lançado (numa edição de tiragem limitada) após a sua morte, em 2014.
Os três personagens: Marc Ferrez, Juca Severino e Borges Sampaio (fotografado por Severino em 1889)

O acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro também possui uma copia em papel dessa imagem do Bororos, atribuída a Juca Severino. E as discussões sobre a real autoria do registro perduraram por alguns anos. Cabe esclarecer que, na época em que a foto foi feita, ainda não estava consolidado o conceito de “direitos de autor” ou “copyright” em relação à fotografia. Era comum que fotógrafos trocassem ou comercializassem seus negativos, e muitas dessas imagens eram reproduzidas sem que houvesse grande preocupação em creditar os autores.

A reproducão das imagens no livro "Agents of Transculturation",
 publicado em 2013, quando ainda havia dúvida sobre a autoria da foto.

A primeira nota no Jornal do Comércio, publicada no dia 11 de janeiro de 1895.

https://ims.com.br/cadernos-de-marc-ferrez/maquinas-e-acessorios-para-fotografia/

Recentemente, encontrei mais informações sobre as condições em que foi tirada essa foto, graças ao trabalho de outro personagem gigantesco e multifacetado da história uberabense: o agente do correio, farmacêutico, advogado, promotor, coronel da Guarda Nacional, jornalista e memorialista ANTÔNIO BORGES SAMPAIO (1827-1908). Nascido em Portugal e naturalizado brasileiro, Borges Sampaio estabeleceu-se em Uberaba em 1844 e foi, por várias décadas, correspondente local do Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro.

A segunda nota no Jornal do Comércio, publicada no dia 12 de janeiro de 1895.


Sampaio foi amigo e cliente de Severino, a quem encomendou a produção de inúmeras fotos da nossa cidade, algumas das quais foram enviadas à imprensa das capitais e aos institutos históricos e geográficos do Brasil e de Minas Gerais. Nos dias 11, 12 e 18 de janeiro de 1895, o Jornal do Comércio publicou três notas onde a história da foto é contada em detalhes.

(André Borges Lopes)


Cidade de Uberaba

IGREJA DE SANTA RITA DE CÁSSIA

A história da igreja começou com o advogado Cândido Justiniano da Lira Gama, que era alcoólatra. Devoto da santa, Cândido prometeu que construiria uma capela em homenagem a ela caso ele conseguisse se livrar do vício da bebida. A promessa foi concretizada em 1854 é a primeira e única edificação de Uberaba tombada em 1939 pelo instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN pelo seu grande valor histórico, arquitetônico e cultural.

Igreja Santa Rita de Cássia - Foto: Antônio Carlos Prata.

Em 1877, o tempo fez com que a construção singela precisasse de reparos urgentes. A reforma e ampliação da capela, então, foram providenciadas como promessa do negociante Major Joaquim Rodrigues de Barcelos, após ter o pedido de se tornar pai ser atendido por Santa Rita. Nela está instalado o Museu de Arte Sacra (MAS), inaugurado em maio de 1987. O acervo, rico em peças barrocas dos séculos XVIII e XIX, conta a história.

Antônio Carlos Prata




(34)3331-9200



(34)3331-9200


Endereço: Praça Manoel Terra S/Nº – Centro – Uberaba/MG.

Contato: Telefone: (34)3331-9200 – imprensa.fcu@gmail.com

Horário de Visitação: Terça a sexta das 12h às 18h e sábado e domingo das 8h às 12h



Cidade de Uberaba

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Morre o médico Dr. José de Castro Gomes. Conhecido como Dr. Zequinha

 Faleceu aos 93 anos em São Luis. 

Dr. José de Castro Gomes

Faleceu hoje na Capital São Luis o médico Dr. José de Castro Gomes. Conhecido como Dr. Zequinha. Estava Internado na Clínica Ibirapuera e depois de completar neste domingo dia 16 seus 93 anos Faleceu de causas naturais. 

O corpo está sendo transladado para Pinheiro, onde será velado por familiares,  amigos e conhecidos em sua residência em frente do Armazém Paraiba fundo das Lojas Americanas. O sepultamento se dará  amanhã a partir das 9 horas no Cemitério de Santo Inácio de Loiola. 

Dr. José de Castro Gomes. Foto/Divulgação

Dr. Zequinha formou - se na 1ª turma de medicina da Universidade Federal de Uberaba MG, e foi um dos fundadores. Fez especialização em Ginecologia na França e na Alemanha. Morou e trabalhou por mais de 60 anos na cidade mineira e além de Médico muito conceituado foi Diretor do Hospital e professor da Faculdade onde se aposentou. 

De volta pra sua terra atendia seus amigos e conhecidos e não deixava de visitar a chapada, de onde contava muitas estórias da juventude. Dono de uma memória privilegiada gostava de ler muito, escutar boa música e fazer palavras cruzadas, além de boas prozas. Quem o conheceu e teve a oportunidade de conviver, diz que vai deixar saudades!!!

Antônio Carlos Prata

Cidade de Uberaba

Morre Jaime Moisés

 Com muita tristeza que comunico a vocês o falecimento do Sr. Jaime Moisés na madrugada desta quinta-feira (20/07)  um dos homens mais íntegros e honrado de Uberaba.

Jaime Moisés/ Foto/Divulgação. 

Empresário da Comunicação, ex-Governador do Lions Club International, Contador, Professor e Diretor dos Colégios Dr. José Ferreira e São Judas Tadeu.

Cidadão Uberlandense e Comendador no Grau de Cooperador da Maior Honraria de Uberlândia, a "Comenda Augusto César".

Jaime, que no sábado passado (15) havia completado 93 anos de idade, infelizmente já internado no hospital São Marcos devido a complicações de um quadro de pneumonia.

Jaime foi fundador e diretor do Jornal de Uberaba; diretor do jornal O Triângulo em Uberlândia; vereador e presidente da Câmara Municipal de Conquista-MG e era natural de Santa Juliana-MG.

Apesar de separados nunca saiu de perto de D. Alice. Pai do Abrão Moisés Neto e do Daniel Angotti Moisés e da saudosa Luciene. Avô e bisavô extremamente dedicado e o melhor amigo, sem dúvida.

Seu corpo será velado durante toda esta quinta-feira na Funerária LIV  na Av. Edilson Lamartine Mendes, 137 - Parque das Américas em Uberaba.

Jaime Moisés combateu o bom combate, terminou a corrida e guardou a fé.

Vá com Deus e Descanse em Paz.

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Fotografia publicada no livro História em Mosaico, de Joaquim Prata dos Santos, 1995.


Foto da familia Joaquim Prata dos Santos.

1. Alexandre Prata dos Santos-2. Marietta dos Santos-3. Anna Prata dos Santos-4. Euclides Prata dos Santos-5. Antonio Zeferino dos Santos (Toniquinho)-6. Celeste Prata dos Santos-7. Lucilia Prata dos Santos-8. Célia Prata dos Santos-9. Miguel José da Silva-10. Maria Prata dos Santos Silva (Anita)- 11. Marietta Prata dos Santos-12. Leda Prata dos Santos-13. Antonio Zeferino dos Santos-14. Nelly Prata dos Santos.

História de Uberaba

CITE-SE O FALECIDO

Existe nos meios forenses um dito popular que diz: “alguns juízes acham que são deuses, os desembargadores têm certeza”. E em Uberaba, talvez por acreditar nisso, um deles foi além e resolveu exercer seus poderes divinos.

Segundo nota publicada no jornal mineiro O Popular, em 04/5/1998, o juiz da 4ª. Vara Cível local, Lenin Ignachitti, ao apreciar petição inicial em ação de reconhecimento de sociedade de fato, requerido por uma concubina em desfavor de seu ex-companheiro, proferiu o lacônico e imperativo despacho: “cite-se o falecido para os termos da presente ação.”

Imagens: cemitério local São João Batista (acervo Google)

Ao zeloso e espirituoso oficial de justiça encarregado não coube outra alternativa e, ao devolver o mandado, certificou ter feito exaustivas diligências no intuito de bem cumprir a ordem, mas ao saber que o citando, “desde o dia 5 de setembro de 1997, está residindo no Cemitério São João Batista, nesta cidade, à quadra 1, sepultura n. 142”, para lá se dirigiu. Destarte, “prosseguindo as diligências, bati por inúmeras vezes, à porta da citada sepultura no sentido de proceder à citação determinada, mas nunca fui atendido. Certifico, ainda, que entrei em contato com os coveiros e com o administrador do citado cemitério, sendo informado por todos que tinham a certeza de que o citando se encontrava em sua sepultura porque viram-no entrar e não o viram sair”.

Como bem disse o filósofo francês René Descartes o “Bom senso é o que há de mais bem distribuído no mundo, pois cada um pensa estar bem provido dele.” Pelo visto é o que faltou ao magistrado ao tentar trazer um falecido às barras da justiça. Lado outro, felizmente, é o que sobrou ao bem humorado servidor público, cuja atitude merece figurar em Coisas e Fatos Antigos de Uberaba.
Moacir Silveira

Fonte: Diário de Uberaba, de Marcelo Prata (vol. V, p. 695).


História Uberaba

CIRCO DO POVO 40 ANOS

No dia 04 de Maio de 1983, o bairro Costa Teles, da cidade de Uberaba/MG, foi palco de um evento, que marcou em definitivo, a introdução de um projeto cultural inclusivo, na cidade!

Um espaço que era revolucionário para a época, com oficinas culturais, ações de incentivo e valorização da cultura popular, aprendizagem profissional, espaço lúdico, e revolucionárias atividades pioneiras como a Gibiteca e a Brinquedoteca.

Foto acervo do pessoal de Carlos Albert Pereira.

Atores, cantores, palhaços dançarinos e poetas, entre tantos outros artífices da arte popular e clássica de Uberaba, tinham ali um espaço digno de manifestação!

Este projeto se sustentou por anos e tinha nome e sobrenome: Prefeito Wagner do Nascimento,Secretário de Educação prof. José Thomaz da Silva Sobrinho, prof. Antonio Carlos Marquez, Beethoven Luis Teixeira .

Tive a honra de fazer parte deste projeto, onde emprestava minha voz e talento de comunicar, como Apresentador Oficial do Circo Do Povo!

Mas além destes citados acima,tivemos muitos outros importantes agentes, que agiam nos bastidores e na produção deste projeto!

O prefeito Paulo Piau, em um de seus mandatos, reinaugurou o Circo, uma nobre tentativa de resgate deste ativo cultural e popular, que a meu ver, deveria ser uma política de governo, sempre! 

Carlos Alberto Pereira


História Uberaba

segunda-feira, 3 de abril de 2023

PAULO JOSÉ DERENUSSON

O terceiro presidente da ACIU eleito para a gestão de 1929 foi Paulo José Derenusson, nascido em Petrópolis, RJ, em 1890. Filho de Leon Derenusson (Francês) e Joana Aska Derenusson (Alemã).
Veio para Uberaba para adquirir o ativo e passivo da empresa Dias Cardoso Ltda.. concessionária da FORD e se estabeleceu com o nome de Paulo Derenusson Cia. Ltda.

Paulo José Derenusson - Foto/ Acervo Aciu.


Cofundador da PRE-5-Rádio Sociedade do Triângulo Mineiro, foi também um dos fundadores do partido da União Democrática Nacional - UDN, do qual foi o primeiro presidente. Elegeu-se vice-prefeito em 1950 com consagradora votação, eleição essa em que foi eleito prefeito, o médico Antônio Próspero do PTB.

Deixou o comando da empresa para seu filho Léo Derenusson, em 1962 e mudou para o Rio de Janeiro.

Paulo José Derenusson, casado com Luiza Aleixo Derenusson, faleceu em 20 de janeiro de 1967, deixando seis filhos. Atendendo sua última vontade, seus restos mortais foram enterrados em Uberaba, no cemitério São João Batista.

Em sua gestão na ACIU que se estendem até o final de 1932, teve como diretores- Vice-presidente, Santos Guido; 1° Secretário, João Rocha; 2° Secretário, Antônio Joaquim; 1° Tesoureiro, Aurelino Luiz da Costa e 2º Tesoureiro, Américo Mendes Russo

Foram épocas difíceis, de grandes transformações e de muitas realizações. A quebra da bolsa de Nova York em 1929 abalou a economia de todos paises. Em 1930 piorou a situação do Brasil em decorrência de desencontros nos conchavos da velha política do "Café com Leite". provocando uma revolução que só terminou com a vitória da Aliança Liberal comandada por Getúlio Vargas.

A diretoria da ACIU, em desacordo com seus Estatutos, tomou posição em favor da Aliança Liberal mas deu liberdade para que seus associados fizessem sua opção.

Essas crises provocaram a criação de novos tributos e aumento de impostos em todas as esferas governamentais, gerando elima de revolta e insegurança no setor produtivo.

Uberaba que já era um centro importante no setor máquinas de beneficiamento de arroz, viu a redução do crédito bancário gerar imensas dificuldades, provocan- do atrasos em pagamentos de impostos e taxas. Coube à ACIU a gestão junto aos bancos federais buscando alternativas para minimizar os efeitos da grave crise financeira e intermediar junto ao Poder Público para a regularização dos débitos fiscais.

Junto ao Governo do Estado a ACIU conseguiu a implantação de uma unidade do Grupo de Mecanização Agricola (EMA) e fez gestões para a instalação do Corpo de Bombeiros. Lutou para a melho- ria do tratamento de água que era precário e deu início aos estudos para implantação de uma unidade do SENAC em Uberaba.
Foi também um período de ajustes. Os Estatutos da ACIU foram adaptados aos novos tempos. Diminui-se o número de Conselheiros Consultivos de 25 para 5. Ampliou-se o prazo de gestão da diretoria de 1 para 2 anos em futuras eleições. Suprimiu os votos por aclamação que foram substituidos por cédulas.

Foi nessa gestão que se deu o reconhecimento da ACIU como Instituição de Utilidade Pública. A necessidade de construção de uma sede para ACTU era um sonho acalentado desde sua criação. Afinal, cada diretoria utilizava locais variados como empréstimo para a realização de suas reu- niões. A primeira oportunidade nesse sentido surgiu nessa diretoria que comprou um terreno na rua Olegário Maciel para futura construção,

Na presidência de Paulo J. Derenusson a entidade incluiu em seus objetivos a defesa dos interesses da classe rural, mu- dando seu nome para ACIRU-Associação Comercial, Industrial e Rural de Ubera- ba. Por essa razão, em 1934, a ACIRU participou da exposição agropecuária. Em setembro de 1935, criada a Sociedade Rural, a ACIU retomou ao seu nome original.

Conta Guido Bilharinho que em 1929 foi fundada a Casa Aliança, a Sapataria Molinar, a Confeitaria Vasques (Bar da Viúva) e o Hotel Modelo, ainda existente. Em 1930 foi criada pelos sócios Orlando Rodrigues da Cunha e o grupo Fontoura Borges, uma empresa para construção do Grande Hotel e de cinemas (São Luis, Metrópole e Vera Cruz), sendo o Cine Teatro São Luis inaugurado em 1931.

Fundou-se também em 1931 a fábrica de fumo 31 por Elviro Cabral de Menezes e Orlando Bruno. Nesse ano o município conta com 1.070.000 animais, dos quais 700.000 bovinos, mostrando a pujança do setor público.

Por Gilberto Rezende, Conselheiro da ACIU. Fontes: ACIU; Arquivo Público de Uberaba; Liana Mendonça; Guido Bilharinho, Livro - Dois Séculos de História de Uberaba; Maria Antonieta Borges e Indiara Ferreira - Livro - História da ACIU-90 anos - Câmara Municipal de Uberaba.


História de Uberaba

terça-feira, 28 de março de 2023

A carretinha do Vaguinho

Escrevi aqui há bastante tempo sobre o carrinho de hot dog do Grisinho. Esse causo, que tento retratar aqui tem certa semelhança, se não pela história, mas sim pelo estado deplorável dos objetos em questão.
Pois hoje, coincidentemente, depois de encontrar um amigo aqui do face - Pedro Riccioppo, artista plástico – que me incentivou a continuar com meus relatos, encontrei também o Waguinho do coco, ou melhor: “Poeta da cabaça”, como ele gosta de ser chamado.

Como uma coisa puxa outra, lembrei de uma passagem com essa figuraça aqui do centro da cidade.
Vamos lá, então.

Wagner Eustáquio Carvalho - "Waguinho" , “Poeta da cabaça”. Foto / Reprodução.


O Waguinho, antes de montar seu próspero negócio de venda de coco gelado na Governador Valadares, em frente ao bar dos irmãos na curvinha (melhor torresmo de Uberaba), possuía uma carretinha que utilizava para transporte de recicláveis.

“Carretinha” é um mero eufemismo para aquela geringonça. Na verdade, era um carretão com soalho de mosaico de madeirite mal justapostos, colunas de resto de canos de tamanhos desiguais e envolta com tela de galinheiro.

Essa estrutura contava com mais ou menos uns cinco metros de comprimento por uns dois de largura e sempre com restos de papelões, garrafas pets e tudo que puderem imaginar.

A coisa era tão desengonçada, que um dos membros da confraria do café, apelidou aquilo de Catifunda.
E o Waguinho, que habitava os fundos da antiga Futurista, estacionava a dita cuja no morro da Lauro Borges, bem perto da esquina com a Artur Machado.

Como ele conseguia essa proeza com seu fusca da cara quadrada, sempre foi um mistério, pois ele manobrava a estrovenga sempre de madrugada e consequentemente ninguém presenciava a chegada ou saída daquilo.

Devido às dimensões avantajadas do apêndice veicular, ao permanecer ali estacionada por dias a fio, além de ocupar umas duas vagas de veículos, enfeava a rua com seu aspecto desagradável. Como professa meu amigo Carijó, “para aquilo ficar feio teria que melhorar bastante”.

E todo dia no encontro matinal do café na lanchonete do Leone, fazíamos coro, sempre em tons de galhofa, para que Waguinho desse um jeito na “Catifunda” (como se isso fosse possível!)
Era mais para zoar o Waguinho, pois sabíamos que ele tirava seu sustento trabalhando com ela.
Os mais zoadores éramos o Divino da van e eu que todo dia pegávamos no pé do Waguinho, que levava de boa a gozação.

Levava “de boa” até que a Catifunda sumiu.

Pois é. Furtaram a carretinha do Waguinho.

Ficamos todos pasmos; mas como alguém, em sã consciência, poderia cobiçar uma coisa daquelas a ponto de roubá-la?

No tempo que a Catifunda ficou sumida – uns dois meses – foram aventadas várias hipóteses, inclusive a de que a mesma seria, assim como o Carrinho do Grisinho havia sido, reformada por um amigo e devolvida toda linda. Essa hipótese foi descartada pela maioria depois de passar uma semana sem notícias dela e também pela total impossibilidade da Catifunda voltar linda.

Outra hipótese seria que a vigilância sanitária teria recebido uma denúncia e recolhido a mesma de madrugada. Essa era a hipótese acampada pelo Waguinho que passou a me acusar de ter feito a denúncia. Não adiantou eu jurar de pés juntos que não havia feito denúncia alguma, o Waguinho continuou a suspeitar dessa alma boa que narra essa passagem.

A última hipótese era de um furto puro e simples. Apesar dos pontos contra, era a aposta que liderava a bolsa, pagando R$1,30 por R$1,00.

Pois bem, daí um mês o assunto foi perdendo o interesse e quando já caía no esquecimento geral, eis que o Waguinho anuncia a boa nova. Havia achado a Catifunda!

Questionado pelo Divino se continuaria a usar o estacionamento a céu aberto, ele saiu-se com essa:
- Não Divino, depois que eu vi quem a tinha roubado, fiquei com pena dele e dei a carretinha para ele trabalhar.

Aplausos gerais para o Waguinho na lanchonete que teve esse gesto magnânimo.
A história poderia terminar aí. Só que não.

Caparelli, sempre desconfiado, seguiu com uma pulga atrás da orelha. Ora, depois de escutar o chororô do Waguinho esse tempo todo ele simplesmente abriria mão da Catifunda?

Caso resolvido poucos dias depois.

Aconteceu que comprando carne na Prudente de Morais, o Divino conversando com um amigo em comum que sabia do furto descobriu a verdade dos fatos.

Pelo menos foi o que ele me contou.

Aqui tento transcrever o que ele me relatou.

O Waguinho estava passando à pé pela rua Coromandel e avistou no quarteirão da frente a carretinha meio cheia de reciclados e, cheio de entusiasmo, apressou o passo para fazer a reintegração de posse da desengonçada Catifunda, que por sinal estava mais desengonçada do que nunca.

Eis que, de um terreno baldio aparece o agora posseiro dela e parece que em uma combinação o Waguinho olhou para o catador e o catador olhou para o Waguinho.

Parecia um duelo em um filme de faroeste, quando os pistoleiros se encaram. Tipo assim “Três homens em conflito”.

Nesse momento o catador, meio assustado, deixa cair um objeto no chão e abaixa-se bruscamente para pegar o mesmo.

O Waguinho, de longe, não sabia o que era aquilo e deu um salto para o lado.
O catador por sua vez, achando que o Waguinho se preparava para atacá-lo saltou para o outro lado e se embrenhou no terreno baldio.

Ledo engano: assim que o Waguinho completou seu salto acrobático já caiu virado para a esquina e vazou rapidamente dali. Foi um para cada lado em desabalada carreira.
Dizem as más línguas que o Waguinho até hoje quando passa por ali fecha os vidros do Fusca. “Seguro morreu de velho”

Marcelo Caparelli

domingo, 26 de março de 2023

RESTAURANTE TABU

Chin Ichiro Kikuichi, veio para o Brasil, em 26/9/1933, quando ainda garoto, tinha pouco mais de 10 anos. Foi em Pedregulho, SP, que ele conheceu Olívia Peroni (Zica), com quem deu início a uma inocente amizade, mais tarde paixão amorosa e, finalmente, união duradoura pelos vínculos do matrimônio. Mas ao contrariar a tradição japonesa, casando-se com uma brasileira, foi deserdado pelo pai e obrigado a seguir caminho por sua própria conta e risco. Vieram então para Uberaba, MG, o jovem casal e filhos Imiuce, Nivaldo, Waldir e José Francisco.

Imagens: fotos de cima para baixo e da esquerda para a direita: Olívia, Chin, Imiuce, 
Nivaldo, Waldir e José Francisco, Leandro, Jussara e Adriano (acervo de Waldir Kikuichi)

Quando aqui chegaram o restaurante já existia. Fora inaugurado em 1942 pelo comerciante Omar Andrade Rodrigues. O nome Tabu fora copiado de uma casa similar, existente no Largo do Paissandu e ao lado do Café Caipira, na Av. São João, São Paulo, SP.Em 1960, Chin e seu irmão Yassu passaram a figurar como sócios dos então proprietários Shinosuk Ito e Einosuk Ito (Antonio). Em 1963, ambos chegaram a deixar a sociedade para abrirem negócio próprio. A partir de 1969, Chin retoma com exclusividade o controle do restaurante, dando início ao seu período de maior fama e prestígio, pois muito frequentado por intelectuais, estudantes, notívagos, boêmios, jornalistas, políticos e artistas de todo o Brasil.

No cardápio: o suculento filé a cavalo e o tradicional sanduíche de pernil fizeram sua fama, mas o rei e cantor Roberto Carlos, quando por aqui passava, tinha por preferido o saboroso frango ao molho pardo, outra especialidade da casa.

Em 1981, com o falecimento do mestre Chin, o restaurante chegou a fechar suas portas, voltando a reabri-las, sob o comando de seus filhos Waldir e Nivaldo Kikuichi, sete anos depois, em 1988.

O Restaurante Tabu continua honrando a tradição de bem servir, só que agora em novo endereço: Av. Francisco Pagliaro, 299, São Benedito, mas sob o comando da terceira geração da família, ou seja, por Jussara Daher e dos filhos dela com Waldir Kikuichi, Leandro e Adriano, netos do saudoso Shin do Tabu.

E para o conhecimento dessa e das futuras gerações é que faço esse registro em Coisas e Fatos Antigos de Uberaba.

Moacir Silveira



História de Uberaba




sábado, 25 de março de 2023

ALERGIA

Uma das grandes injustiças cometida contra esse escriba por sua filha é o epíteto de pão duro que ela me agracia às vezes.

A expressão, reza a lenda, surgiu no Rio antigo, para alcunhar um pedinte que ao finalizar o seu lamurioso pedido ao incauto transeunte e depois de muita insistência, arrematava como argumento final: “- Senhor, pode ser qualquer coisa, até um Pão Duro”.

Descobriu-se depois que o pedinte era possuidor de inúmeros imóveis na cidade e que os alugava, auferindo assim uma renda substancial.

Esse enredo na realidade foi uma peça de Amaral Gurgel. Se baseada em fatos reais não saberemos nunca, mas ficou no imaginário popular como se verdade fosse.
Pois bem, depois desse intróito, passemos aos fatos:

Geralmente passávamos as férias de início de ano no Guarujá, onde havia uma abundância de apartamentos dos tios à disposição dos parentes interioranos.

Tínhamos o Ap. da Neide e do Tio Betinho, da Angela, do Tio Natal e, finalizando, o que mais ficávamos que era o Ap. do Tio Ariovaldo e tia Terezinha.

Gostávamos demais do Guarujá, pois praia “era a nossa praia” e combinado com o custo zero da estadia (não que isso importasse, é claro), formava-se o passeio perfeito.

Íamos e voltávamos de ônibus, pois a minha “Caravan 78” era uma beberrona de primeira, além de não ser nada confiável, depois de várias retíficas no motor e os pneus ressolados que vez ou outra insistiam em esvaziar do nada. Ah, o motorista, diga-se de passagem, era mais ou menos do nível da Caravan (que deus a tenha).

E como uma coisa puxa a outra, então tenho que relatar o amor que os meus filhos tinham pela Caravan:
Quando pré adolescentes, eles começaram a frequentar o Munchen, apelidado de “Bobódromo” e eu, ao leva-los e busca-los lá, deveria, segundo as regras deles, deixa-los um quarteirão antes, para que não fossem vistos descendo daquela beleza.

Nas duas primeiras vezes eu desliguei a Caravan para que eles descessem e quem disse que a beberrona pegava? Parece que ficava magoada e descontava pirraçando esse pobre choffeur!
Depois disso, por via das dúvidas, nunca mais desliguei a dita cuja.

Onde estávamos, mesmo? Na viagem de ônibus, que nos deixávamos na estação Tietê, pegávamos o metrô, descíamos no Jabaquara, outro ônibus para Santos, coletivo para a balsa, atravessávamos e por fim outro coletivo para a avenida Leomil, onde ficava o apartamento do Tchiarió (tio Ariovaldo).Na volta a mesma coisa.

Numa dessas férias, na volta, como estávamos um pouco atrasados, pegamos um taxi na balsa de Santos para nos levar até a rodoviária.

No caminho, a Marcella começou a ficar enjoada e trocando ideias com a Zânia, chegamos à conclusão que só poderia ser o camarão que ela havia comido antes, visto que eu tenho alergia muito acentuada por esse crustáceo.

Comentei com o motorista e ele com medo de que a criança vomitasse no carro dele, fez o trajeto de mais ou menos 30 minutos, em espantosos 15!!

Foi a sorte dele, pois assim que descemos do taxi, a Marcella vomitou com força.

A partir daí, demos por fato consumado que a Marcella teria a mesma alergia que eu e nunca mais ela comeu camarão, lagosta, ou qualquer fruto do mar.

Mas, como diz meu amigo Carijó - nunca é um tempo longo demais - deu-se que no seu primeiro casamento ela e o marido foram passar a lua de mel em Maceió.

O ex marido médico, era apaixonado por frutos do mar e no Resort que ficaram (all inclusive) servia-se camarões em todas a refeições. Meio que timidamente, resolveu ela que experimentaria um daqueles camarões gigantes que serviam a toda hora.

Afinal, sendo o marido médico, qualquer problema o socorro seria imediato.

Mas para surpresa geral (menos para mim, supõe ela até hoje) não houve reação alguma.

Neca de alergia, nada de beiço inchado, nada de espirros; nem mesmo uma mísera coceirinha no braço.
A partir daí, como diz o ditado “quem nunca comeu mel, quando come se lambuza”, foi uma farra só.
Omelete de camarão no café da manhã, camarão na moranga no almoço, Lagosta à Thermidor no jantar, ostras e espetinho de camarão na praia e por aí ia.

Chegando em Uberaba, fui recebê-los no aeroporto e ao abraçá-la, ela já me questionou naquele tom de voz vários decibéis acima do normal:

-Pai, cê me enganou esse tempo todo!!!! Não tenho alergia nenhuma por camarão. Cê não queria é comprar camarão porque é caro, aí inventou isso.

Não adiantou contra argumentar, até hoje ela jura de pé junto que assim foi.

Nem sabe ela - saberá agora - que aconteceu meio que parecido quando ela comeu filé mignon e também passou mal. Mas dessa vez não consegui convencer a Zânia que tinha sido a carne.


Marcelo Caparelli


História de Uberaba

ESCÂNDALO NA REPÚBLICA

Nos anos 50 um boato quase termina em escândalo. A tecidos Bangu promoveu uma badalada festa em Paris para apresentar a moda brasileira, articulada por Guilherme da Silveira e por Assis Chateubriand. A festa seria em um castelo e organizada por Jacques Fath, renomado costureiro de fama internacional. Foram convidadas e aceitaram a Primeira Dama Dona Darcy Vargas e sua filha Alzirinha Vargas. Quando elas já estavam em Paris fizeram uma intriga com Getúlio de que a festa seria um bacanal. Getúlio, aflitíssimo, mandou telegrama para as duas não comparecerem, mas elas disseram que de jeito nenhum perderiam a festa. Evidentemente foi uma fofoca, a festa chiquérrima decorreu normalmente e foi um sucesso.

Imagens: 1 - Martha Rocha e Netinho (acervo Dulce Guaritá); 
2 - Netinho (Uberaba em Fotos) e 3 - Martha Rocha (Google)

Felizmente, em Uberaba as coisas foram bem mais tranquilas. Para abrilhantar a festa local foi convidada Martha Rocha, rainha da beleza e a primeira Miss Brasil. Ela que, aos 21 anos de idade, havia conquistado esse título, em 26/6/1954, no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, RJ. Favorita para vencer o Miss Universo acabou ficando em 2º. Lugar, perdendo para a americana Miriam Stevenson.
Ela veio a Uberaba para, em nome da Tecidos Bangu, promover uma apresentação beneficente com toda a renda revertida em favor das Instituições de Caridade da cidade.

Sua recepção ficou à cargo do respeitável mestre de cerimônias, radialista, jornalista e apresentador de TV Ataliba Guaritá Neto, o popular Netinho, que esbanjou charme e competência no decorrer de todo o evento.
Moacir Silveira



História de Uberaba

DEBANDADA HISTÓRICA

Deveras significativo o fato de Uberaba, desde os seus primórdios, sempre ter se destacado no campo musical. Vale lembrar que o surgimento de sua primeira corporação, a “Banda dos Bernardes”, se deu no distante ano de 1815. Tempos depois, em 1852, por iniciativa da família Nascimento, passou a contar também com a renomada banda “União Uberabense”, com atuação por quase 60 anos, sendo essa a primeira banda brasileira a importar instrumentos musicais da Europa.

Tamanho prestígio e importância não passou desapercebido quando da passagem das tropas militares imperiais por nossa cidade, por ocasião da Guerra do Paraguai. E foi exatamente graças a esse reconhecimento que a banda uberabense do maestro Francisco Gonçalves Moreira teria sido

Fotos: banda de música e soldados desconhecidos participantes da
 Guerra do Paraguai (acervo Google imagens)

Contratada para acompanhar as forças que marchavam com destino ao Mato Grosso.Entretanto, uma hilária e cômica situação se deu quando as tropas se aproximaram do palco dos conflitos, os integrantes da gloriosa corporação musical debandaram em campanha.

Só não sei como o fizeram, se através de uma retirada estratégica, de fininho, ou de uma em verdadeira e furiosa debandada histórica, pois fico a imaginar a grande dificuldade de portar tubas ao vento e pesados bumbos em desabalada carreira.

Essa e outras interessantes informações você encontra no livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba”, de Olga Maria Frange de Oliveira, cujos últimos exemplares ainda podem ser encontrados na livraria Papel Cartaz.
Moacir Silveira


História de Uberaba

ÚLTIMA APRESENTAÇÃO

Para o ainda garoto, em 1923, a proposta era irrecusável: ordenado inicial de 200 mil réis para ser o pianista da “Recreativa”, uma recém inaugurada casa de espetáculo de Uberaba.

O pai do menino foi, inicialmente, contra “alegando ser o mesmo demasiadamente novo” para ocupar lugar de tamanha relevância e responsabilidade. Além do mais ele ainda era aluno do Ginásio Diocesano e isso certamente lhe atrapalharia os estudos. Mas acabou cedendo, ante a insistência do menino e a sua promessa de muito estudo.

O primeiro obstáculo a ser superado veio de um dos músicos do grupo que disse firme e forte: “ou ele veste calça comprida ou abandono a orquestra”. É que para homens na faixa dos 40 era difícil aceitar ordens e dicas de um mero adolescente de apenas 14 anos. Demais disso e ainda por cima, usando calças curtas.

Sem se intimidar o jovem aceitou o desafio, envergou calça comprida e se tornou um dos maiores nomes da história da música em nossa cidade.

Imagens: fotos de Alberto Frateschi constante do livro citado.

Mais tarde, já adulto, consagrado professor e maestro, ele manteve seu jeito elegante, educado, seu espírito de liderança e, sobretudo, sua personalidade brincalhona no trato com alunos, amigos e colegas. Um deles, o também hoje maestro Jeziel Paiva e seu aluno à época, relembra com carinho sua tirada humorística predileta nos encontros ocasionais quando, referindo-se ao grande compositor e músico italiano Paganini, dizia: “Paganini, Paganada, Paganunca!!!”

Dono de uma das mais brilhantes carreiras no mundo da música ele consagrou-se como um dos maiores nomes do meio artístico da cidade e região. E assim foi até aquele fatídico e premonitório dia, 1/10/1977, por sinal um sábado de “céu azul de brigadeiro”, quando ele “sentiu uma vontade irresistível de sentar-se e tocar. E ele tocou nesse dia como nunca o fizera antes!” Familiares, vizinhos e transeuntes admirados pararam para apreciar tão inusitado recital.

No dia seguinte, domingo, ele levantou-se cedo, como de costume, foi até a padaria Pão Gostoso, na Rua João Pinheiro, comprou pães e seu jornal matinal e retornou para a sua residência, à Rua João Caetano, 32, onde minutos depois um infarto fulminante silenciou-o para sempre, aos 68 anos de idade.
Em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à Uberaba ele merecidamente tem seu nome lembrado na Rua Maestro Alberto Frateschi, no bairro Frei Eugênio.

Com muito mais riqueza de detalhes, essa e outras belas histórias você encontra no livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba”, de Olga Maria Frange de Oliveira.
Moacir Silveira


História de Uberaba

JOGADO NO RIO GRANDE

Por uma questão de somenos, mera divergência de posicionamento político, uma turba enfurecida de desordeiros arrancou o busto do pedestal que estava na Praça Rui Barbosa e o atirou nas profundezas do Rio Grande, em 7/10/1930.

Passados quase 26 anos dessa deplorável manifestação, uma severa e prolongada seca fez baixar o nível do rio e da ponte a peça tornou-se visível. Foi o que disse o dentista Hélio Gomes Ferreira, responsável por encontrá-la, pois, segundo ele, o fato tornou-se possível "graças a estiagem e obras de construção da barragem que diminuíram a vazão e ele pode vê-la enterrada no leito seco do rio." Depois de resgatá-la ele levou-a para sua residência. “Encontrava-se bem danificada pelo tempo e, mesmo assim, foram-lhe oferecidos 100 mil cruzeiros por ela”. Proposta, obviamente, recusada por tratar-se de “peça de valor histórico inestimável”, teria acrescentado.

Fotos: Melo Viana e busto (acervo Google)

É que o homenageado era o Dr. Fernando de Melo Viana, ex-juiz de direito da Comarca (1911-1918), advogado geral do Estado, ex-secretário do interior, ex-deputado estadual, ex-governador de Minas (1924-1926), ex-vice-presidente da República (1926-1930) e ex-senador em três legislaturas.

Após oportuna restauração, a valiosa peça foi devolvida à comunidade, sendo afixada no antigo fórum da Rua Lauro Borges, 97. Atualmente ela pode ser vista no hall de entrada do novo prédio do TJMG, Av. Maranhão, 1580, no bairro Santa Maria.


A justiça assim foi feita e o honorável nome dessa ilustrada figura foi devidamente reposto em seu devido lugar, ora identificando o grandioso prédio como Fórum Melo Viana, sendo os nomes daqueles irresponsáveis vândalos devidamente relegados ao lixo da história e do lamentável ocorrido esse devido registro em Coisas e Fatos Antigos de Uberaba.
Moacir Silveira

Fonte: Diário de Uberaba, Dr. Marcelo Prata (Revista Dimensão, Vol. IV, páginas 119 e 221)

quinta-feira, 23 de março de 2023

Uberaba, meados dos anos 70 e 80.

Um dos ângulos mais convincentes de um passado que conta a história de várias gerações.

Uberaba, meados dos anos 70 e 80. Foto: Autoria desconhecida.

Detalhes: a casa da esquina, à esquerda, foi a residência do Major Eustáquio, fundador de Uberaba. Atualmente é um hotel de 6 andares (Monte Carlo). Ainda à esquerda, a farmácia Triângulo Mineiro, a Padaria Brasil, que não existem mais, e, mais adiante, à Casa de Sinuca Manogra. À direita, o famoso Bar 1001, era um ponto de encontro da vida noturna, onde o Médium Chico Xavier, por vezes, tinha o hábito de ir tomar café. Ao lado a banca de revistas. Se a câmera virasse um pouquinho pra direita veríamos a Livraria ABC, o Jornal Lavoura e Comércio. (Antônio Carlos Prata).

História de Uberaba

quinta-feira, 16 de março de 2023

Foto aérea mostrando a Igreja de São Domingos e a Casa do Rosário em 1935.

Mais uma foto aérea de Uberaba, essa tirada no dia 5 de junho de 1935. No centro da imagem está a Igreja de São Domingos e a Casa do Rosário. Mais ao fundo, isolada no morro e em estado precário de conservação, a igrejinha de Santa Rita. Ela só seria tombada como Patrimônio Histórico Nacional em 1937, e uma restauração foi feita em 1940.
À direita, o Mercado Municipal e, bem no canto superior direito, um pedaço do Colégio Nossa Senhora das Dores e sua capela, na época recém construída.

Reparem que, nessa data, ainda não havia sido erguido o Hospital da Criança. Mas, poucos meses depois, começaria a funcionar, nesse casarão em forma de "L" ao pé da foto (na esquina das ruas Segismundo Mendes e Lauro Borges, hoje desocupado e aguardando uma improvável restauração) a chamada "Casa da Criança", que seria o embrião do futuro hospital, inaugurado em 1947.

Foto do Correio Aéreo Militar, no acervo da Brasiliana Fotográfica.

(Clique na foto para ampliar e na tecla "Esc" para voltar ao normal)

Também ainda não havia a Avenida Leopoldino de Oliveira no trecho entre a Rua Segismundo Mendes e a praça do Mercado (as obras foram iniciadas em 1938). No extremo esquerdo da foto, um pouco para trás da Igreja de Santa Rita, o casarão que nos mostra suas janelas laterais, é a antiga residência do Coronel Raymundo Soares de Azevedo. Inaugurado em 1914, é hoje a sede da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

(André Borges Lopes)

Rua Arthur Machado em meados dos anos 60.

Rua Arthur Machado em meados dos anos 60. A rua era viva porque havia vida no seu entorno. Tínhamos a Casa Pignatário, Center Discos, Casa das Meias, do Sr.Durval, as Coletorias Estadual e Federal, a Central Telefônica, a Pensão Ribeiro, Uberaba Hotel, Armazém Central (pegou fogo em 67), do Sr. Martinelli, Eletro Central, Bar Eldorado, Rei da Vitamina, Farmácia Alexandre Campos, Esquina do Barulho, Bar da Viúva, Salão do General, Casa da Sogra, Rei do Móveis, Hotel Modelo, Lojas de materiais de construção Casas do Babá e Ferreira Laterza, Foto Akira. Casa Gaúcha Chapelaria, Fábrica e padaria Esperia, Loja Grisi, El Toro, Marabá, Banca de Revistas do Wilmondes, Dental Lider, joalheria Gaia, sorveteira Linde, o Banco Mercantil de Minas Gerais, Cine Uberaba Palace, Bar Guarani, Posto Marzola, Bar Buraco da Onça, do Sr. Romeu, Bar JB, Bar Tip Top, do "Quinzinho", Barbearia do Sr. Artur Riccioppo, Bazar São João.

Rua Arthur Machado em meados dos anos 60. Foto: Autoria descnhecida.

Rua Arthur Machado -em meados dos anos 1960. Foto: Autoria desconhecida


Córrego das Lajes, atual Avenida Leopoldino de Oliveira. Foto: Autoria descnhecida.


Cartão postal da antiga Praça Rui Barbosa, na década de 1970.
Foto: Acervo Uberaba em Fotos.

De quebra, o córrego das Lajes todo iluminado e arborizado, o Grande Hotel, Galo de Ouro e cine Metrópole, em franca atividade. Sem falar no Hotel do Comércio, no Cine Teatro São Luíz. Padaria Brasil, Bar do Mosquito, Jóquei clube, Livraria Católica, A Caprichosa, Grutinha Santa Luzia, Enfim, a cidade baixa ainda pulsava, era uma área bastante movimentada, de comércio pujante, atraía naturalmente pessoas de todos os recantos. Hoje...

(Antônio Carlos Prata)


História de Uberaba