Acervo: 1879 a 1912
A Imprensa no Brasil:
Os jornais são referências fundamentais para as pesquisas historiográficas por garantirem acesso à informação e revelarem ideologias diferenciadas, as tradições, os usos, os costumes, as atividades comerciais, os aspectos políticos, sociais, culturais e econômicos, que marcaram a trajetória de um povo.
No Brasil, qualquer atividade de imprensa era proibida antes de 1808 e, consequentemente a imprensa brasileira nasceu tardiamente, assim como o ensino superior, as manufaturas, a própria independência política e a abolição da escravatura.
Ao contrário dos principais países latino-americanos, o Brasil entrou no século XIX sem tipografia, sem jornais e sem universidades, inviabilizando a formação do público leitor. Isso gerou um legado de analfabetismo, sentido até hoje.
A primeira tipografia a funcionar de forma duradoura no País viria a bordo da nau Medusa, integrante da esquadra que transferiu a Corte Portuguesa para o Brasil em 1808, fugindo das tropas napoleônicas. Utilizando-se desse material tipográfico o príncipe D. João baixou um decreto em 13 de maio de 1808, determinando a instalação da Impressão Régia no Rio de Janeiro, com a ressalva de que nela “se imprimam exclusivamente toda a legislação e papéis diplomáticos que emanarem de qualquer repartição do meu real serviço, e se possam imprimir todas e quaisquer obras, ficando inteiramente pertencendo seu governo e administração à mesma Secretaria”.
Tobias Rosa foi um dos dirigentes do Jornal Gazeta de Uberaba. Imagem do final do século XIX.
Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.
A imprensa brasileira tem como marcos fundadores: o lançamento, em Londres, do Correio Braziliense, em 1º de junho, e a criação da Gazeta do Rio de Janeiro, em 10 de setembro, ambos de 1808.
Apesar dos percalços e limitações, a imprensa brasileira conquistou espaço em sua trajetória histórica e possui um número apreciável de jornais que têm revelado notável capacidade de inovação técnica e editorial, o que lhes permitem vencer todos os desafios surgidos até hoje.
A Imprensa em Uberaba:
Em Uberaba, a imprensa surgiu em fins do século XIX e desde então revela fatos importantes que marcaram a história da cidade e do Brasil. Os jornais fundados na cidade tiveram o desafio de construir um jornalismo informativo, crítico e esclarecedor.
O primeiro jornal impresso que se tem notícia no Triângulo Mineiro surgiu em Uberaba, intitulado O Paranaíba, que segundo o pesquisador Hildebrando Pontes[1], foi criado pelo médico francês Henriques Raimundo des Genettes em 01 de outubro de 1874.
Hildebrando Pontes revela que a maioria dos primeiros impressos obedecia a fins políticos, “daí ser a política uma das causas que mais eficazmente contribuíram para o progressivo desenvolvimento da imprensa entre nós” [2]. Lembra que por estes impressos manterem posicionamentos políticos em suas abordagens, alguns jornalistas sofreram violências das partes ofendidas.
Segundo Hildebrando Pontes, em boa parte era graças aos jornais que a civilização ganhava força: “Hoje, graças ao benemérito influxo da civilização, cuja maior parte se deve à imprensa, a leitura de jornais é tão necessária ao espírito como o alimento que da vida e força ao organismo. Um fato parece não ter importância se dele não se ocupa a imprensa”.
Jornal Gazeta de Uberaba:
Com a preocupação em viabilizar para o público o acesso às informações pertinentes à imprensa de Uberaba, a Superintendência do Arquivo Público tem como um dos objetivos recuperar acervos documentais. Diante disso, intermediou junto a Arnaldo Rosa Prata, ex-prefeito de Uberaba, a disponibilização do Jornal Gazeta Uberaba para ser digitalizado e disponibilizando via internet para o público.
O Gazeta de Uberaba foi distribuído pela primeira vez em 1875 e teve como primeiro diretor e redator José Alexandre de Paiva Teixeira. Na primeira etapa de sua existência foi publicado até fevereiro de 1876.
Em 27 de abril de 1879 o mesmo jornal foi recriado por João Caetano e Tobias Rosa (tio de Arnaldo Rosa Prata) e nessa época o impresso manteve uma atuação político-partidária oponente ao Partido Liberal que era representado por outro jornal com o título de Correio Uberabense.
O Jornal Gazeta de Uberaba foi o quarto periódico criado em Uberaba.
Arnaldo Rosa Prata resguarda o acervo há anos e gentilmente emprestou os jornais para serem digitalizados pela Superintendência do Arquivo Público de Uberaba. Um acervo de grande importância para a história do município e região e se refere ao período de 27 de abril de 1879 a 1912.
O Gazeta de Uberaba era um periódico semanal, que após 30 de novembro de 1894 passou a circular seis vezes por mês. Em 1º de janeiro de 1903, a circulação passou a ser diária e tornou-se o primeiro jornal diário que Uberaba teve.
Nas oficinas montadas com capricho, na Rua Tristão de Castro, nº 2, executavam-se excelentes trabalhos de arte tipográfica. A sua tiragem era de 1.200 exemplares impressos em 4 a 6 páginas. Na sua existência de aproximadamente meio século de circulação, o Gazeta de Uberaba contava com um numeroso corpo de colaboradores representados por distintos jornalistas nacionais e estrangeiros.
Em 1891 assumiu a direção do jornal o professor Alexandre Barbosa, sucedido pelo promotor de justiça pública de Uberaba, Joaquim José Saraiva Júnior, que também não permaneceu por muito tempo na direção, uma vez que foi transferido para a Promotoria de Monte Alegre. Sendo assim, a coordenação e redação passaram para as mãos de Chrispiniano Tavares, José Maria Teixeira de Azevedo e outros. Quando entrou em cena a República, a aderência política afeita pela folha ajustou-se ao Partido Republicano Mineiro (PRM).
Já no ano de 1895, o então proprietário do jornal Gazeta de Uberaba, Tobias Antônio Rosa, mudou-se para o município de Ribeirão Preto, levando consigo o jornal, que passou a ser intitulado São Paulo e Minas. Em 1897 Tobias Antônio Rosa voltou para Uberaba e reabriu as portas da redação do jornal com o seu nome anterior, Gazeta de Uberaba.
Na sucessão da presidência do Estado de Minas Gerais, de Bias Fortes, para Silviano Brandão, surgiu em Uberaba o Partido da Lavoura e Comércio, entidade que representava os interesses de segmentos econômicos da região que eram contrários às taxações cobradas em detrimento aos seus interesses financeiros. Assim nasceu também o jornal Lavoura e Comércio, em 1889, de propriedade de Antônio Garcia de Adjunto. O embate de interesses políticos na região ficou marcado claramente nas linhas editorias dos dois jornais: de um lado estava o Gazeta de Uberaba, alinhado com as proposições políticas do governo de Minas Gerais, de Silviano Brandão; do outro lado, o Lavoura e Comércio, entrincheirando os interesses classistas locais.
A oposição do jornal Gazeta de Uberaba ao jornal Lavoura e Comércio se deu até a fusão do Partido da Lavoura e Comércio com o Partido Republicano Mineiro, em janeiro de 1903. Após esse período o Gazeta de Uberaba centrou-se noutras questões de interesses gerais como relata Pontes[3].
Hildebrando Pontes, mostra no seu estudo sobre a imprensa de Uberaba que, o Gazeta de Uberaba, a partir de 1909, ajustou seu enfoque editorial à defesa do recém-criado Partido Civilista, contrário a indicação feita pela convenção nacional ao pleito da Presidência da República. Hildebrando Pontes ainda conta que o jornal tomou outra linha absolutamente diferente pela marcada até então, quando:
[...] Entretanto por transação de 21 de janeiro do ano seguinte, entre os diretores os senhores Tobias Rosa e Filho e o Coronel Américo Brasileiro Fleury, passou a ser, a Gazeta de Uberaba, desse dia em diante propriedade do último. Essa transação inverteu diametralmente, os pólos de defesa política do jornal, que passou a ser agora, órgão francamente hermista, politicamente redigida pelo deputado Afrânio de Mello Franco, e literariamente redigido pelo José Afonso de Azevedo, figurando, ainda, no seu corpo de colaboradores, além de outros, o Dr. José Julio de Freitas Coutinho, Juiz Municipal de Uberaba. Cessada a campanha hermista, continuou como órgão do PRM, redactoriado pelos doutores Lauro de Oliveira Borges, Alaor Prata Soares e José Julio de Freitas Coutinho. (PONTES, JORNAL CORREIO CATÓLICO, 1931. n/p).
A partir de 24 de janeiro de 1911, o jornal Gazeta de Uberaba tornou-se “Propriedade de uma Associação”, dirigida pelos mesmos senhores, menos o Dr. Coutinho, que se retirou.
No entanto, o Jornal Gazeta de Uberaba teve suas atividades interrompidas em 1912.
Em novembro de 1913, o coronel Tobias Rosa, fundou a Gazeta do Triângulo, uma associação que defendia os interesses do PRM – Democrata.
Em 1915 rearticulou a volta do Gazeta de Uberaba, que dessa vez atendia aos interesses do “Partido da Concentração Municipal de Uberaba”. Desse modo, o Gazeta de Uberaba funcionou até 1917, ano em que faleceu o coronel Tobias Antônio Rosa.
Marta Zednik de Casanova
Superintendente do Arquivo Público de Uberaba
[1] PONTES, Hildebrando. A Imprensa de Uberaba. JORNAL CORREIO CATÓLICO, 21 de mar. 1931. n/p. nº 360.
[2] Id. Ibid. n/p. [3] PONTES, Hildebrando. A Imprensa de Uberaba. JORNAL CORREIO CATÓLICO, 21 de mar. 1931. n/p. nº 360. n/p.