terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

A Uberaba de Doca Ferreira em 40 fotos

Nascido em 1887, Orlando "DOCA" Ferreira, era filho do comerciante Bento José Ferreira. Seminarista na juventude, tornou-se jornalista, escritor e um opositor ferrenho da Igreja Católica. Criticava acidamente os políticos locais, boa parte das famílias tradicionais da cidade e a Empresa Força e Luz local – identificados por ele como responsáveis pelo precário desenvolvimento do município.

Capa do livro "Terra Madrastra: um povo infeliz", publicado pelo próprio autor e lançado em 1928.



Folha de Rosto e Dedicatória de "Terra Madrasta", 1928

Rua São Sebastião, provavelmente no trecho entre a rua Irmão Afonso e Praça Dom Eduardo Uberaba, MG – circa 1925

Rua do Comércio, atual Artur Machado. Ao fundo, a Catedral. Uberaba, MG – circa 1925


Rua do Comércio, atual Rua Artur Machado. Uberaba, MG – circa 1925


Praça Comendador Quintino; ao fundo o prédio do antigo Grupo Brasil e, no canto direito, as torres da Igreja de São Domingos. Uberaba, MG – circa 1925


Rua Vigário Silva, trecho não identificado. Uberaba, MG – circa 1925


Rua São Miguel, atual Dr. Paulo Pontes, antiga zona de prostituição da cidade. Ao fundo o Largo da Misericórdia, atual Praça Manoel Terra. Uberaba, MG – circa 1925




Local aproximado, em foto de 2013 do Google Street View





Rua da Constituição, trecho não identificado, Uberaba, MG – circa 1925


Rua do Cotovelo, atual Padre Jerônimo. Ao fundo o Mercado Municipal (esq.) e a antiga Penitenciária (dir.). atual Faculdade de Medicina. Uberaba, MG – circa 1925



Local aproximado, em foto de 2017 do Google Street View.

Praça Cel Aristides Borges, atual Praça Santa Terezinha. Na casa do meio da foto funciona hoje a Padaria Beliske. Uberaba, MG – circa 1925



A casa como está hoje, em foto de 2017 do Google Street View.

Rua Dr. José Felício dos Santos, no alto das Mercês, na época periferia da cidade. Uberaba, MG – circa 1925



Local aproximado, em foto de 2011 no Google Street View.

Rua 15 de Junho (atuais Jaime Bilharinho e Hidelbrando Pontes), no alto das Mercês, na época periferia da cidade. Uberaba, MG – circa 1925


Não consegui descobrir qual seria essa rua na época denominada "Paschoal Totti" Uberaba, MG – circa 1925


Essa antiga Rua Godofredo Rodrigues da Cunha é a atual Rua Cel. Carlos Rodrigues da Cunha (há outra rua no alto do São Benedito que ganhou o nome de Godofredo, provavelmente nos anos 1930).
Esse trecho de subida acentuada pode ser logo acima do cruzamento com a Rua Santo Antônio ou do outro lado da Av. Guilherme Ferreira, entre a Rua do Carmo e a Praça Tomaz Ulhoa. Uberaba, MG – circa 1925



Rua Major Eustáquio, no trecho entre as Rua Manoel Borges e São Sebastião. Uberaba, MG – circa 1925




Trecho aproximado, em foto de 2017 no Google Maps.


Mercado Municipal e, ao fundo, a antiga Penitenciária (atual Faculdade de Medicina da UFTM). Uberaba, MG – circa 1925


Rua Santo Antônio, entre as ruas Paulo Pontes e Carlos Rodrigues. Uberaba, MG – circa 1925





Trecho aproximado, em foto de 2017 no Google Street View.

Praça Dom Eduardo, vendo ao fundo a atual Rua Hidelbrando Pontes. A casa maior, da família Miziara, ainda existe. Uberaba, MG – circa 1925



A casa, em foto de 2017 do Google Street View
Praça Frei Eugênio que, nessa época, ocupava todo o quarteirão do antigo Cemitério São Miguel. Poucos anos mais tarde, foram erguido nesse local o Liceu de Artes e Ofícios (Sesi/Senai) e a Escola Estadual Minas Gerais. Uberaba, MG – circa 1925




Largo da Misericórdia, atual Praça Dr. Tomáz Ulhoa, vendo-se ao fundo o antigo prédio do Colégio Nossa Sra. das Dores. Na década de 1940, foi erguido no local o Uberaba Tênis Clube.Uberaba, MG – circa 1925





Rua do Comércio, atual Artur Machado, vista no sentido do Bairro. Uberaba, MG – circa 1925



Antiga Rua 24 de Fevereiro, atual Rua Olegário Maciel, pouco acima da Praça Rui Barbosa, em direção à Praça Frei Eugênio. Uberaba, MG – circa 1925





Local aproximado, em foto de 2017 do Google Street View.


Antiga Ladeira do Rosário, atual Av. Presidente Vargas, subida para a praça Comendador Quintino. Uberaba, MG – circa 1925




Local aproximado, em foto de 2017 do Google Street View.


Ladeira do Rosário, atual Av. Presidente Vargas. A casa da esquerda ainda resiste. Uberaba, MG – circa 1925

O mesmo local em foto de 2017 do Google Street View.


Rua Frei Paulino, alto da Abadia, nas imediações do atual Hospital de Clinicas da UFTM. Uberaba, MG – circa 1925


O primeiro prédio da Santa Casa de Miséricordia – construído por Frei Eugênio Maria de Gênova na décadas de 1860 a 1880 – foi destruído em um incêndio em fevereiro de 1921.
Antes mesmo do incêndio, em função da decadência do prédio, a instituição já havia sido transferida "provisoriamente" para a Casa de Frei Eugênio, que se vê nessa foto, de onde só saiu em 1935 – quando foi inaugurado o prédio novo na Praça Thomaz Ulhoa. Essa Casa de Frei Eugênio ocupava o terreno de esquina onde hoje se encontra a Reitoria da UFTM.


Uberaba, MG – circa 1925

Seu livro "TERRA MADRASTA: um povo infeliz", lançado em 1928, é especialmente incisivo contra o grupo político "bernardista" (apoiadores de Artur Bernardes, ex-Presidente da República e líder do Partido Republicano Mineiro) a quem Doca culpa pelo atraso do Estado de Minas Gerais em comparação com a relativa pujança de São Paulo – que nessa ocasião já alcançava Minas em número de habitantes. Doca defendia a anexação do Triângulo Mineiro ao estado vizinho.


Rua Vigário Silva, trecho não identificado. Uberaba, MG – circa 1925


Escadaria da antiga Igreja do Rosário (demolida no final dos anos 1920) que ficava na esquina da Rua do Comércio (atual Artur Machado) com a Ladeira do Rosário (atual Av. Presidente Vargas). A casa ao fundo ainda resiste. Uberaba, MG – circa 1925


Antiga Rua Godofredo Rodrigues da Cunha (atual Carlos Rodrigues da Cunha). As duas casas da esquerda estão onde hoje fica o Hotel Tamareiras. Uberaba, MG – circa 1925

Rua Manoel Borges, no cruzamento sobre o Córrego da Manteiga, hoje canalizado sob a avenida Santos Dumont. Uberaba, MG – circa 1925



Praça Comendador Quintino, provavelmente vista da frente do antigo Grupo Brasil. Uberaba, MG – circa 1925


Rua São Sebastião, esquina não identificada. Uberaba, MG – circa 1925

Rua da Constituição, provavelmente no cruzamento do vale do Córrego do Capão da Igreja (canalizado sob a atual Av. Guilherme Ferreira) em direção ao alto da Abadia. Uberaba, MG – circa 1925

Antiga Escola Normal de Pirassununga, SP – inaugurada em 1921.


Mapa do "futuro Estado de São Paulo", anexando o Triângulo Mineiro e algumas cidades do Sul de Minas.



Os algozes de Uberaba nos anos 1920, segundo Doca Ferreira: a Administração, a Política, o Clero e a Empresa Força e Luz.



Antigo prédio do Fórum de Uberaba, situado na subida da Rua Lauro Borges, demolido nos anos 1960. Uberaba, MG – circa 1925




O mesmo local em foto de 2017 do Google Street View.




Rua São Sebastião, esquina não identificada. Uberaba, MG – circa 1925





No dia-a-dia, acusava os gestores municipais de desviar os impostos arrecadados, que não eram devidamente empregados em melhorias urbanas e serviços públicos de qualidade. E criticava os moradores ricos e poderosos por seu descaso com o aspecto da suas moradias e por não se preocuparem com a aparência das ruas da cidade.

Denuncia, ainda, que em Uberaba havia corrupção, assassinatos, espancamentos, compra de votos, suborno e registros em atas falsas, nos pleitos eleitorais.

Há no livro cerca de 40 fotos e ilustrações que mostram uma Uberaba que não aparecia nos cartões postais de então. Feitas durante a década de 1920, as imagens mostram ruas e praças de uma cidade feia, pobre e decadente – incompatível com a alegada "fortuna" que havia sido amealhada pelos criadores de gado Zebu e com o pretensioso título de "Princesinha do Sertão". As legendas são originais do autor.

Doca ainda publicou "Forja de Anões" (1940) e "Pântano Sagrado" (1948). Esse último foi recolhido e queimado em praça pública como resultado de um processo movido pelo bispo Dom Alexandre Amaral. //

(André Borges Lopes, baseado em informações recolhidas por Marise Soares Diniz)


Cidade de Uberaba


sábado, 22 de fevereiro de 2020

UMA LEMBRANÇA DOS MEUS 50 ANOS NO JORNALISMO

Paulo Nogueira

No espaço me concedido pela direção do JU todas as semanas, hoje vou narrar um fato de repercussão nacional e até internacional que cobrimos durante meses, que estará no meu livro sobre meus 50 anos no jornalismo no Rádio, TV, Jornal e Assessoria de Comunicação. No início de minha carreira no jornalismo, foi a façanha do Ramiro Matilde Siqueira, que até então era um homem comum da pacata cidade de Jaboticatubas, em Minas Gerais, até se tornar uma fera pelos seus crimes cometidos na década de 70, foram mais de 35 vítimas. As armas utilizadas eram sempre espingardas cartucheiras usadas para roubar dinheiro e armas que encontrava, assim como, na execução cruel de suas vítimas, em sua maioria, fazendeiros desprotegidos. Em razão disso, ganhou a alcunha de “O Bandido da Cartucheira”. Foram vários os latrocínios praticados por este indivíduo, causando verdadeira histeria e paranóia no meio rural, pelo temor dos moradores de se tornarem a próxima vítima. Mesmo na capital, algumas mortes foram atribuídas a ele. Depois de várias mortes em Minas Gerais, começaram a surgir novas vítimas em Goiânia com as mesmas características do “Bandido da Cartucheira”, famílias inteiras eram chacinadas. Pelo menos duas equipes de policiais civis de Belo Horizonte participaram da caçada ao perigoso assassino, como também as policias civil e militar de Uberaba, quando de sua passagem pela região. Ele esteve na região próximo a Sacramento, e eu estava cobrindo tudo, dirigia o carro de reportagem, fazia as fotos e os textos.

QUASE FUI MORTO

Numa sexta feira por volta de 5 horas da manhã, eu dormia dentro do carro embaixo de uma árvore próximo ao acostamento da estrada que liga a BR- 262, a cidade de Sacramento.Estava um pouco frio, e já havia percorrido muitos quilômetros durante a noite e madrugada, juntamente com os policiais á caça do bandido. Acordei com uma pessoa batendo com um pedaço de madeira no vidro do carro. De imediato abri o vidro, era o Ramiro, com uma espingarda na mão e outras duas nas costas e com a roupa muita suja. Muito assustado, perguntei o que queria, ele disse, “ preciso sair daqui, estou quase cercado e preciso ganhar tempo”, e neste momento passava um caminhão na estrada, e fazia muito barulho, aproveitando, dei partida no carro e sai em velocidade, e pelo retrovisor vi que o bandido se embrenhava no mato novamente. Foi um alívio. escapei por pouco de morrer.

MORREU NA DELEGACIA

Depois de muitas investigações e diligências em cidades visitadas pelo criminoso pela região e no estado de Goiás, conseguiram sua prisão. Ramiro foi preso em Corumbaíba, em Goiás, e transferido para a carceragem a Delegacia de Vigilância Geral, em Goiânia, onde em 1981 apareceu morto na cela, ao que tudo indica, por ataque cardíaco.

Jornalista- Membro da Associação Brasileira de Jornalismo Científico

Artigo publicado na edição do jornal de Uberaba – 21/02/2020


Cidade de Uberaba


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

LEOPOLDINO

Oi, turma!

(Eleitor gosta de ser sacaneado pelos políticos em troca de 30 dinheiros...)

Nome mais falado em Uberaba nos últimos tempos, já morreu. Leopoldino de Oliveira, a quem foi dada homenagem da ex-mais charmosa e serpenteada avenida da sagrada terrinha. De origem humilde, cursou o Grupo Escolar “Brasil”, concluiu o ginasial no Colégio Marista, mercê intenso sacrifício financeiro dos pais. Ânsia de saber, Leopoldino, foi para Belo Horizonte, trabalhando e estudando formou-se em Direito na Universidade de Minas Gerais. Jornalista, chegou a Redator-Chefe do “Estado de Minas”, o mais tradicional matutino mineiro, embora não tenha deixado de assinar artigos nos jornais locais, “Lavoura e Comércio” e “Gazeta de Uberaba”. Na capital, para manter-se e estudar, sujeitou-se a todos os tipos de serviços que lhe aparecia. Retornando a Uberaba, instalou movimentada banca de advocacia.

Seduzido pela política, fez carreira meteórica: vereador, Presidente da Câmara; depois, Agente Executivo, nome que era dado ao atual Prefeito. Dinâmico, trabalhador, sem preguiça, leal aos princípios democráticos, isento de “ manobras”, já comum à época, sem conhecer as manjadas “licitações’, super exigente no trato das “ coisas públicas”, principalmente o dinheiro sujo, sistemático na transparência dos seus atos, sofreu ataques e uma série de problemas. Por não concordar com costumeiros “ métodos” praticados pelos “ caciques políticos” que dominavam a cidade , oriundos das tradicionais famílias da terrinha, adversários ferrenhos, de morte, de Leopoldino, “armaram” de tudo, covardemente e nas sombras, infames na forma de agir, e o “apearam” do poder.

Decepcionado, não sem razão, ao sofrer tamanha “ rasteira”, aborrecido com as atitudes “sujas” de pessoas em quem confiava, mudou-se para Belo Horizonte. Candidatou-se à Deputado Federal, elegeu-se representando Uberaba. Faleceu em B.H., anos depois. Além do Agente Executivo probo, digno e decente, Leopoldino de Oliveira, nos deixou uma grande obra. Inicio da construção e canalização do córrego das Lages, que cortava o centro da cidade. Mais tarde, em u homenagem, colocaram o seu nome na recém inaugurada avenida.

Leopoldino de Oliveira, deixou um vigoroso legado à política de Uberaba: seriedade, decência, trabalho desinteressado, tino administrativo. As pressões sofridas no cargo, soube superá-las com galhardia e coragem Quando iniciou os trabalhos na avenida, trecho do “morro da Onça” ao mercado municipal, duas pistas de cada lado, advertiu:- “Não tentem “entubá-la”, nem os afluentes da Lages; o centro da cidade, situado numa encosta, não irá resistir o volume d’água das chuvas; os nossos “altos” (bairros) vão crescer e aí será o caos”...

Os “ deuses” da ignorância, prepotência e soberba, na ânsia de serem lembrados, não respeitaram o alerta, quase profecia de Leopoldino. Deu no que deu ! Leopoldino, na sua morada eterna, está remoendo de tristeza e decepção, vendo a avenida no estado em que está . Outrora charmosa, cartão-postal da cidade, ponto comercial de excelência; hoje, “entubada”, “corredor de ônibus”, “cerca de fazenda”, fedentina espalhada em grande trecho, comerciantes fugindo dela e muita gente aproveitando-se dos SEISCENTOS MILHÕES DE REAIS que teriam sido gastos no tal projeto Água viva”, que “revitalizou” uberabenses “quebrados’...A história não pode ser esquecida e muito menos, omitida. Abraços do “Marquez do Cassú”.


Cidade de Uberaba


VILA DOS CONFINS

Oi, turma!

(Demoraram a acreditar que “ Inês é morta”...)

O livro foi publicado em 1956. Dezenas de edições. O romance-depoimento , nasceu de um pequeno relatório sobre uma campanha política e acabou num “baita”romance que deu à Mário Palmério, cadeira de “ imortal” na Academia Brasileira de Letras. “Vila dos Confins” relata, com indescritível crueza, a história de uma eleição num lugarejo perdido nos confins brasileiros. Alí, Palmério, conta com um delicioso sabor sertanejo, aspectos da vida nesse Brasilzão sem fronteiras. Entre caçadas, pescarias, reuniões e comícios, “causos’ que o “coronel” político, “ manda- chuva” da currutela, comanda as eleições, suas artimanhas e as promessas feitas. Mário Palmério, condensa sua experiência relatada na obra que se tornou “best-seller” nacional...

Misturando realidade com ficção, “Vila dos Confins”, é de uma atualidade incrível, pureza verdadeira, passados mais de 65 anos de sua publicação inicial. As “peripécias” narradas por Palmério, faz do livro, um apanágio do comportamento dos “ coronéis”, começando pela figura do “ deputado Paulo Santos”, apoiando o candidato “João Soares”. Outras personagens como “Xixi Piriá”, mascateava lá pelas bandas dos “Confins”, “Gerôncio”, amigo e compadre do “Paulo Santos”, apaixonado por pescaria, sem contar o “Jorge Turco”, “vendeiro” do lugarejo, preguiçoso que só ele, ficava a “ contar estrelas”, o “ velho” Aurélio, tio do “ Paulo Santos”, responsável pelo seu ingresso na política, sem contar a liderança da “Almira”, que mandava no Prefeito...

“Vila dos Confins”, traz crítica política e social, fatos que permeiam a narrativa do texto no campo das batalhas surgidas na “campanha”, envolvendo a luta pelo Poder. Mário Palmério, dá voz à minoria, denuncía desigualdades, revela um contexto de absoluta opressão que o “adversários”, os que não comungavam com as ideias do “coronel”, eram sumariamente, excluídos e esquecidos, num linguajar bem matuto, embora altamente dignificante. Engraçado, a “ Vila” continua bem atual...

Confesso, não consigo dissociar ”Vila dos Confins” com a cidade que me viu nascer, crescer e a certeza que morrerei por ela. Figuras folclóricas da “ currutela”, narradas por Palmério, me vem à mente, toda hora. Gente que vejo, todo dia, nas rádios, jornais e TVs. da terrinha. Quando falam em conquista ( não confundir com a nossa simpática vizinha...), estampo a figura do “Xixi Piriá”, “vendendo” ilusões ( planta de amônia, gasoduto, ZPE, aeroporto internacional..), o ”deputado Paulo l Santos”, acobertado pelo “tio”, o “velho Aurélio” que morria de vontade ser advogado para ocupar a Procuradoria do município...

Vejo o “Gerôncio”, “dono da venda”, com cargo na Prefeitura, pois amigo do “Paulo Santos”, recebendo sem trabalhar, bons “caraminguás”, o “Jorge Turco”, adorando as “ estrelas’ que andam, falam e rebolam, o “João Soares’”, dono do alto falante da” currutela”, apadrinhado do deputado “Paulo Santos”, sem esquecer a única mulher da tropa, a “ Almira”, que manda no Prefeito...

“Vila dos Confins”, foi tão famosa como a minha cidade. Coitada ! Perdeu-se no tempo ! Não tem mais Mário Pamério, seu autor...Ainda assim, continua resistindo ao tempo. É charmosa, doce e delicada, embora os “ moradores da Vila “ foram morrendo; outros mudando por falta de emprego. Os filhos e netos que ficaram, não estão dando conta do recado. Chegaram os forasteiros e fizeram “ a festa”. São os novos donos da terrinha. Até quando ? Não se sabe...outubro vem aí....Tudo pode acontecer...(Luiz Gonzaga de Oliveira)


Cidade de Uberaba


domingo, 16 de fevereiro de 2020

DIALETO CAPIAU

Guido Bilharinho 

Não bastou ao historiador Hildebrando Pontes pesquisar, conhecer e escrever sobre futebol, imprensa, fatos e bastidores da política uberabense. Não lhe bastou efetuar o hercúleo trabalho de medição, arrolamento e descrição minuciosa de todo o sistema fluvial de Uberaba e região, bem como de proceder à pesquisa, levantamento e ementário de toda a legislação municipal de Uberaba (leis, decretos, portarias e resoluções de 1892 a 1933). 

Além disso, também pesquisou, estudou, analisou e discorreu sobre todos os demais aspectos e setores do município. 

Contudo, embora enciclopédico e diversificado, tudo isso foi pouco para ele, curioso de todos os saberes. Seu interesse por tudo que é humano, uberabense e regional ultrapassou todos os limites e o fizeram perquirir, pesquisar, estudar e escrever até sobre assunto completamente alheio e estranho à sua formação científica e técnica de engenheiro agrônomo, egresso do lendário Instituto Zootécnico de Uberaba. 

Faltava-lhe, ainda, estudar e escrever sobre o dialeto regional. 

Faltava. A partir de 1932 não faltou mais. E para sempre. Pelo trabalho meticuloso, rigoroso e altamente filológico do Dialeto Capiau. 

*
Esse ensaio - ora publicado no blog https://bibliografiasobreuberaba.blogspot.com/ em edição fac-similar do manuscrito vazado na ortografia da época - não só pela dificuldade de sua digitação, como também para permitir o acesso direto ao texto sem nenhuma intermediação que pudesse, por mínima que seja, alterar ou afetar suas meticulosas disposições, esteve até agora em lugar ignorado, desde quando Hildebrando, por volta do ano de seu término ou logo em seguida, enviou os originais ao escritor Coelho Neto. 

Falecidos Coelho Neto em 1934 e posteriormente seu filho Paulo Coelho Neto, responsável pelo espólio intelectual e material de seu célebre pai, como localizá-los? Onde procurá-los? 

Até que por informações correntes no circuito cultural, aventou-se a possibilidade desses originais estarem na Biblioteca Nacional. E estavam. E estão. E que, com a máxima boa vontade e diligência de autênticos servidores públicos, foram reproduzidos e remetidos a Uberaba. 

O Dialeto Capiau, de Hildebrando Pontes, como se pode verificar no Sumário, espelho sincrético do texto, é obra de alta linhagem intelectual, cultural e técnica. Certamente, ninguém poderia fazer melhor e nem com tanta consciência e conhecimento do falar regional. Tanto que ninguém o fez. Só Hildebrando, sedento de todos os saberes. Por isso, o fez. Nenhum, mas nenhum mesmo, profissional da área (professor, filólogo, gramático, escritor) se abalançou a tal cometimento. Possivelmente nem ao menos dele cogitou. Hildebrando, porém, dele não só cogitou como o realizou. Ninguém faria melhor. 

A partir desta edição, que o divulga e disponibiliza erga omnes, os estudos filológicos na área dialetal brasileira terão acesso a essa contribuição de capital importância, que os deverão influenciar e nortear de ora em diante. 

__________________ 

Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/


Cidade de Uberaba

À beira do abismo (*)

No final dos anos cinquenta, lembro-me de ouvir através da Rádio Sociedade do Triângulo Mineiro-PRE 5-ZWV 37, o programa “Por detrás das grades”. Era também comum ver os adolescentes jornaleiros em desabalada carreira saírem por um corredor lateral do vespertino Lavoura e Comércio, bradando : “Ó o Laaavouuuuura! Deu o crime!”. Nomes eram citados e a seguir não citarei nenhum para evitar problemas. 

Na Rodoviária Velha, tínhamos os Agentes de Polícia, ou “Bate Paus” que, investidos de autoridade prendiam para averiguação. A um deles foi atribuído o fato em que ao pedir os documentos a certo suspeito, foi-lhe apresentada uma receita médica. “Está tudo certo. Só falta você colocar a sua fotografia” disse a autoridade. Um certo investigador ostentava em sua Vespa a legenda: “Polícia Secreta”. 

A Revista O Cruzeiro publicou a foto do veículo. Um soldado destacado no Bairro Santa Maria cortou seu cacetete cumprindo ordens superiores para “cortar a borracha”. Tínhamos os comissários de menores voluntários (não vai longe o tempo) que, exercendo suas atividades particulares recebiam do Poder Judiciário a credencial para agir em cima da infância e juventude. Um deles, que também foi vereador e dono de pensão, se fazia respeitar pelo seu jeito irrepreensível. 

Sensatos e comedidos à parte, muitas autoridades de antão e recentes seriam penalizadas, sujeitas a cumprir de meses até quatro anos de detenção, além de indenizar o ofendido. Por quê? É que, por exemplo: expor o preso ou parte do seu corpo, entrevistá-lo, interrogá-lo durante o período de repouso noturno, perambular com ele dentro de camburão, misturar detidos de sexos diferentes, “constranger”, etc., etc., etc., vai dar cana para quem o fizer. Agora sim; o bandido receberá o trato de excelência e o membro de tribunal, o juiz, o promotor de justiça, o policial, o agente penitenciário e outros ficarão expostos até à perda do cargo e função. Está instalada a ditadura em plena democracia. Alguém duvida? 

Na minha embaçada visão jurídica, considero que houve avanços(a lei menciona as redes socias no Art.38), mas é inegável que os agentes do Estado irão recuar. Vamos pagar a conta com valores astronômicos. O juiz não pede, ele manda. Tanto que a sua ordem é expressa em “MANDADO” que poderá virar “PEDIDO”. Guardemos a “Lei do Abuso de Autoridade” para não nos esquecermos desde quando o Brasil parou à beira do abismo com a lei 13.869, vigorando desde 05/01/2020. 


(*) - João Eurípedes Sabino 
Presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. 
Membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerias. 
Presidente do Fórum dos Articulistas de Uberaba e Região

Cidade de Uberaba


AS MUITAS MORTES DO CAPITÃO SILIMBANI

Corria o ano de 1908 e as novidades sobre os voos de Santos Dumont em Paris com seus aparelhos “mais pesados que o ar” chegavam a Uberaba por jornais e revistas, atiçando a imaginação das pessoas. Os primeiros aviões eram um sonho distante, mas a possibilidade de ver um homem voando estava cada vez mais perto: circulava a notícia de que em breve chegaria na “Princesinha do Sertão” o arrojado aeronauta Jose Silimbani – capitão do Real Corpo de Aeróstatos da Itália – que, desde o ano anterior, assombrava os brasileiros com suas exibições aéreas com o balão de ar quente “Colosso”.

Desenho e dados técnicos de um balão de ar quente do tipo Montgolfier, do século XVII.

Não existem fotos do balão de ar "Colosso "do Capitão Silimbani. Mas não devia ser muito
diferente desse que aparece sendo inflado em um Circo Aéreo no estado do Nebraska, EUA, em 1910.


Outra imagem de uma apresentação de balão de ar quente nos EUA no início do século XX.

O balão de Giuseppe Silimbani não tinha cesto de passageiros.
 Em vez disso, havia um par de trapézios pendurados, nos quais ele fazia acrobacias nas alturas. Um tipo de show comum nessa época.

Giuseppe Silimbani e sua primeira esposa Antonietta Cimolini. O casal de italianos compartilhava o gosto pela música e por esportes radicais. Em 1902, mudaram-se para Buenos Aires, na Argentina.

Na Argentina, Giuseppe tornou-se o Capitão Jose Silimbani. O casal apresentava-se em acrobacias aéreas, com o patrocínio de uma fábrica de cigarros. Em março de 1904, um acidente tirou a vida de Antonietta, mas os jornais brasileiros "mataram" o capitão.


Em 1907, Jose Silimbani veio ao Brasil fazer uma temporada de exibições. Após apresentar-se na capital paulista, tomou o trem da Mogiana e evenredou pelo interior até chegar em Uberaba.

A primeira versão do assassinato, divulgada pela imprensa de Uberaba, foi reproduzida em diversos jornais no Brasil e no exterior. A investigação policial mostrou que a história real era bem diferente.


Balões de ar quente não eram uma novidade. Reza a lenda que o Padre Bartolomeu de Gusmão, um brasileiro da cidade de Santos, teria colocado alguns para voar Lisboa no início do século XVIII. Algumas décadas mais tarde, em 1783, os irmãos franceses Joseph e Étienne Montgolfier criaram um modelo prático e popularizaram seu uso. Por volta de 1900, eram comuns as exibições de voos desses aeróstatos por artistas e aventureiros em todo o mundo.

Depois de apresentar-se com sucesso nas cidades de Campinas, Ribeirão Preto e Franca, o capitão finalmente chegou a Uberaba de trem. Desembarcou seus equipamentos, hospedou-se no elegante Hotel do Comércio da Rua Vigário Silva e anunciou o local escolhido para sua apresentação: o Largo das Mercês, atual Praça Dom Eduardo. Ingressos para o evento foram vendidos a 8 mil reis para adultos, 1 mil réis para crianças. Às duas da tarde do dia 3 de maio, um domingo, Silimbani inflou seu balão e ganhou os céus. Dezenas de metros acima do solo, pendurou-se em um trapézio e exibiu-se em um show de arriscadas acrobacias. De volta ao solo, foi recebido em triunfo pela multidão, embora alguns tenham reclamado da pequena duração do show.

O balonista havia sido contratado pela companhia teatral de Manuel Balesteros para fazer duas apresentações na cidade. A segunda ascensão seria no domingo seguinte, dia 10. Mas no sábado à noite aconteceu o impensável: o destemido capitão, gravemente ferido por um tiro de garrucha que lhe atingira o baço, agonizava em seu quarto de hotel. Nos dias seguintes, jornais de todo o Brasil anunciaram a morte do aeronauta em Uberaba, assassinado após uma briga.

Silimbani tinha 34 anos de idade, e não era a primeira vez em que perdia a vida, ao menos na imprensa brasileira. Em março de 1904, vários jornais de São Paulo e do Rio anunciaram sua morte ao despencar nas águas do Rio da Prata durante uma apresentação em Buenos Aires. O acidente causou grande comoção porque o corpo desapareceu e demorou a ser encontrado, mas não fora ele quem morrera. A vítima era sua jovem esposa, a também italiana Antonietta, parceira nas exibições aéreas. O casal tinha um filha, na época com cinco anos de idade.

Giuseppe Silimbani nasceu na cidade de Forli, na Emília Romana e começou a vida como padeiro. Tenor aficionado e esportista em diversas modalidades, logo interessou-se pelo balonismo. Em 1898, casou-se com Antonia Cimolini, natural da Ravena, com quem compartilhava o gosto pela música e pelo esporte. A dupla começou a apresentar-se pela Itália mas, em 1902, decidiu vir para a Argentina – onde Giuseppe tornou-se “Jose” e inventou o fantasioso título de “capitão”. No ano seguinte, os dois já eram razoavelmente famosos: com o patrocínio de um fabricante de cigarros, exibiam-se em diversas cidades. São considerados precursores da aeronáutica no país vizinho.

Com a morte da esposa e parceira, Silimbani seguiu apresentando-se sozinho. No final de 1907, já casado novamente, deixou a família em Buenos Aires e arriscou-se em uma temporada de shows aéreos pelo Brasil. Fez diversas exibições em Santos e São Paulo, onde apresentava-se no Parque Antárctica e logo tornou-se um ídolo da comunidade italiana, que o tratava como "o homem mais corajoso do mundo". No final de janeiro de 1908, deu início a uma sequência de shows pelo interior, seguindo os trilhos da Companhia Mogiana até chegar em Uberaba.

A última morte do Capitão Silimbani aconteceu na imprensa. Seus assassinos espalharam a notícia de que, no início da tarde do sábado, o italiano havia ofendido e importunado diversas mulheres da cidade. Por fim, invadira a casa e tentara violentar a esposa do seleiro Joaquim da Cunha que, vindo em seu socorro, lutou com o agressor e acabou lhe dando o tiro fatal. Essa versão foi reproduzida em diversos jornais brasileiros.

A investigação mostrou que os fatos não correram bem assim. Ouvidas pelo delegado, nenhuma das outras mulheres confirmou as tentativas de assédio. O inquérito apurou que Joaquim e Marina, chegados há poucos meses da cidade mineira de Guaranésia, moravam nos fundos da ferraria do Sr. Antonio Felix, no Largo das Mercês, onde o balonista montava seus equipamentos. Na ausência do marido, que saíra para fazer um serviço nas imediações, o italiano teria dirigido alguns galanteios e propostas a Marina – que não tiveram boa acolhida. Alertado do fato por vizinhos, o seleiro voltou ao local armado com uma garrucha.

Silimbani anda tentou refugiar-se na ferraria, onde foi espancado pelo proprietário e por um outro funcionário, que era primo de Marina. Já bastante machucado, acabou expulso para a rua, onde Joaquim disparou o tiro, evadindo-se em seguida. Apesar de socorrido no prédio do Ginásio Diocesano, os médicos lhe deram poucas esperanças. Levado ao hotel, morreu no início da noite e foi enterrado em Uberaba no dia seguinte. O delegado pediu o indiciamento dos três pelo assassinato, mas não encontramos notícias do resultado do processo. Apesar de protestos isolados da comunidade italiana, muitos jornais não se preocuparam em desmentir a primeira versão.

(André Borges Lopes – Uma primeira versão desse artigo foi publicada na coluna Binóculo Reverso em 02/02/2020. Um agradecimento especial ao João Araújo, do Arquivo Público de Uberaba, que ajudou a recuperar essa história)

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

SAUDOSO CORREIO... ELEGANTE...

(Uma rosa não é só uma rosa; uma rosa é uma mulher sedenta de amor!)

Idos de 1960. Uberaba, era uma cidade pacata. Recatada. Sem correria. Nada parecido com a Uberaba de hoje, perdida nesse “mundaréu” de besteira que assola a santa terrinha. Eram sete bairros, algumas vilas e no “miolo” da cidade, bucolicamente, corriam córregos à céu aberto, pista dos dois lados das largas avenidas, a “ rua do Comércio” trepidante; lojas super enfeitadas, calçamento à paralelepípedo. A gente andava, dia e noite, sem ser incomodado... Os ônibus trafegavam de bairro a bairro, poucas linhas, muitos” carros de praça” e uma moçada bonita prá valer ! Bota bonita nisso ! Os moços namoravam as meninas, sem que elas soubessem...É. tinha disso, sim...Namoro à traição...

Igrejas? As tradicionais Santa Rita, Catedral, São Benedito, Santa Terezinha, Abadia, Adoração Perpétua, Fátima e só. Hoje, proliferam por todos os cantos da “ grande Uberaba”... Chico Xavier, com sabedoria e humildade, doutrinava e mostrava os caminhos do Espiritismo. Os protestantes, evangelizavam seus rebanhos. Cristãos fervorosos ! “Centros de umbanda”, muito poucos. Ontem, como hoje, a iluminação pública, fraca. Uma “ porca miséria”. Lâmpadas que mais parecem tomates maduros...

O “footing” semanal das lindas moças no primeiro quarteirão da Artur Machado, hoje chamado de “ calçadão”, contornava a Leopoldino , até o finado cinema Metrópole. Era a pureza da beleza ! A “homaiada” , babando na calçada ou na mureta do córrego das Lajes, era um sussurro só -“ vai ter mulher bonita prá lá, sô!”. Uberaba, era um cidade alegre. Bem feliz !O uberabense conhecia tudo da terrinha, às vezes, tão mal amada...

Festa d’Abadia, novena na são Benedito, quermesse na são Domingos... Naquele tempo, as saias cobriam os joelhos; sutiãs e calcinhas, guardavam peitos e bundas. As moças eram mais “família”. Os moços não usavam drogas, cigarro estava na moda, a “tatuagem” não existia. Homem namorava mulher. Mulher namorava homem. Por sinal, se davam muito bem... Nas quermesses e barraquinhas, a esperada troca de bilhetes, o esperado “correio elegante”...

O “ leva e trás” dos bilhetes, por conta dos garçons, camisa branca, calça preta e a “borboleta” Mensagens de amor, bilhetes anônimos, letra caprichada, “dele” prá “ela” e “dela prá”ele”.. Mensagens inocentes, “cantadas ”sem maldade, elogios pródigos. Tudo começava com um singelo bilhete; depois, o namoro, noivado e quase sempre, o casamento.

O “correio elegante” era a “coqueluche” da moçada. Palavras amorosas, enterneciam corações! O pátio da igreja São Domingos, deixou saudade. Quem era aquele galanteador ? Elas voltavam prá casa curtindo o desconhecido amor platônico . Seria ele, feio? Bonito? Alto ? Baixo? Pobre? Trabalhador? Malandro? Romântico, elas tinham certeza !...

Refasteladas na cama macia, travesseiro bordado, ‘”pregavam” no embalado sono, inebriada pelo perfume do “correio elegante. Os sonhos apareciam, a fantasia desenhada, desejo ainda não satisfeito. No outro dia, não via a hora de chegar a noite; ir prá quermesse e aguardar, ansiosa, um novo “ correio elegante “... Essa lembrança tão especial, foi ontem...

(Luiz Gonzaga Oliveira)


Cidade de Uberaba


FLAGRANRE INDIGESTO...

(Toda experiência deve e precisa ser vivida..)

Contei essa história verídica e personagens com nomes fictícios, acontecida na santa terrinha há uns 50 anos. Uberaba, sempre foi uma cidade boêmia. Sua fama ultrapassou fronteiras . Responsável por grandes “ programas” de maridos que aproveitam as férias da família e caiam na “gandaia”. Era mulher e os filhos viajarem, em férias de janeiro, e o “ capeta corria solto” no grupo dos (des)casados. A frequência nas casas da Deide, Lêda, “Dentinho de Ouro”, Ivete, Sônia e Vailda, aumentava de forma assustadora . A mulherada vinha dos “ fundões” do Triângulo, Goiás e Mato Grosso, atraídas para “fazer a vida” na cidade grande.

“Putas novas na praça”, era a senha. Pequena fase de “solteiro”, dinheiro no bolso, a alegria era total. Combinava um grupo de amigos e a “farra” varava noites. A casa da Zenilda, a mais frequentada, por razões óbvias... Certa noite, comeram, beberam, dançaram, treparam e tudo mis que tinham direito. Divertiram- se a valer. Zenilda, nada cobrou. Apenas deu uma “cantada” no Astrogildo, gerente do banco onde ela tinha conta. Queria um pequeno empréstimo... -”Vai lá amanhã. Sem problemas”, disse ele, devidamente “trolado”....

Dito e feito. No outro dia, Zenilda, lá estava. Roupa discreta, sem pintura, lenço nos cabelos, sandália “rasteirinha” e, humildemente, senta-se à frente do gerente. Ele, ar sério, terno e gravata, meio sem graça, abre a gaveta da mesa e mostra à Zenilda, um telegrama do banco “suspendendo a carteira de empréstimos”. Desculpou-se e a “dama da noite”, decepcionada, deixa a agência. Abatida, volta prá casa.

“Bolou” um plano diabólico. Semana seguinte, toda “ produzida”, cabelos alinhados, rosto maquiado, lábios borrocados de um reluzente batom, bem vermelho, sapatos de salto alto, saia provocante, colante, deixava à mostra suas lisas e roliças coxas. “ bustiê” generoso, destacava parte dos seus seios . Ás mãos, uma nota fiscal. Dirige-se ao caixa, o Calixto, velho de casa. Do fundo, Astrogildo, gelado . –“Por favor, pague-me esta nota’”, disse sorrindo.

Calixto, quis saber a origem do débito. –“Foi a despesa do seu gerente, lá em casa, com as minhas periguetes”...O “caixa’, foi direto ao gerente. Ele, sem olhar, deu o seu sonoro visto, “pague-se” . Dinheiro na bolsa, Zenilda, deu-lhe uma piscadinha marota e rebolando, deixou a agência. Querer armar “pé de briga” com o Astrogildo depois do acontecido, é convidá-lo à ir dar um ligeiro passeio na “ zona”...

Uma reverência aos boêmios casados de ontem, com o alerta aos que, hoje, se aventuram nas escapadelas das férias.


(Luiz Gonzaga Oliveira)


Cidade de Uberaba

FIO DE BIGODE

(O povão quando pende para um lado, é fogo de morro acima, água de morro abaixo...)

Às vezes penso que vivo no tempo em que “ fio de bigode” era o selo, assinatura de compromisso que não pode ser desfeito”. Ouví histórias sobre a dignidade e lealdade de homens que tinham no fio de bigode, sua palavra de honra. Hoje, homens usam pouca barba e bigode. Os que usam são adeptos de Fidel Castro. É preferível esse uso, barba e bigode densos que esses brinquinhos nas orelhas ... Não sou puritano, nem machista. Talvez, retógrado... .Cada um usa os brincos onde lhe aprouver. Quanto a honradez do “fio de bigode” que os antigos marcavam posição, apesar de não existirem mais, o meu respeito. De corpo e alma.

Atualmente o cidadão assina cheque sem fundos, promissórias que não vão pagar nunca, dão sua palavra de “ homem” que jamais cumpre, mente com a cara mais deslavada do mundo... A falta de seriedade chegou a tal ponto que os homens não mais se respeitam, compromissos não são levados a sério. Palavra de homem, antigamente, era cumprida. Hoje, é motivo de chacota. Uberaba, não foge à regra. Basta ler o “Diário do Judiciário” e constatar essa veracidade.

Casamentos feericamente realizados, com pompas, galas e brasões de rainha, champanhe e coloridas páginas sociais, meses depois, sem constrangimento e espanto de outrora, desfeitos e a indefectível desculpa das famílias:- “ houve incompatibilidade de gênios; daí a separação.. E o longo período da paquera, namoro, noivado, nada adiantou para que os noivos se conhecessem? Custa-se a acreditar, mas, é a rotina dos mal casados...

Na política, a falta de seriedade, decência, desfaçatez, compromissos não cumpridos, “ puxada de tapete”, o “canga macaco”, a mentira, o cinismo, a “cara de pau”, são somente triviais... Não tem explicação ? Tem sim ! Esses malandros que usam essas artimanhas , são conhecidos, carinhosamente pelos colegas, com “ gente inteligente”... Pode ? Como se “inteligência” fosse sinônimo de mau caratismo, safadeza, sem-vergonhice e desonestidade!

Um fato verdadeiro ao tempo do “fio de bigode” do século passado. Um dos “coronéis” de um dos partidos, para espanto e decepção dos companheiros, mudou de lado. Em busca de apoio, soube que o Juiz de Paz, de Veríssimo, não o acompanhara na mudança. Procurou o velho Quirino Matheus e saber o “ porquê” da sua rebeldia. O diálogo travado foi severo e ríspido:

-“Porque me abandonou, Quirino? Companheiro de tantas lutas, vitórias e derrotas?
-“Não, coronel, não o abandonei. Vosmecê é que nos abandonou. Continuamos firmes com os “Arara”. Coronel é que pulou o barranco pros lado dos “Pachola”... O “ papo” terminou alí...≥ Qualquer não coincidência com os políticos profissionais de hoje, não se pode falar em mera semelhança...

(Luiz Gonzaga de Oliveira)

Cidade de Uberaba

“DOCA”... SEMPRE ELE...

(O rabo não pode balançar o cachorro. Os homens de bem estão desaparecendo...)

Algumas pinceladas sobre o livro proscrito, “Terra Madrasta”, escrito por Orlando Ferreira, o temível “Doca”, excomungado pela Igreja Católica, na metade do século passado. Abordando assuntos até então não publicados pela imprensa local, “Doca, deixou boa parte dos políticos locais de “cabelos em pé”. Um trecho do livro que aborda a política que aqui se praticava , escreve:-“A política de Uberaba é um acervo de misérias, futricas, futilidades, desonestidade. Tudo que é de mal e prejudicial aqui se pratica”. Prossegue:- “A política local é um contato impuro e imoral que prostituiu também a Justiça. Aqui não se deseja independência de caráter; educa mal o homem “.

Ao comentar sobre eleições, “Doca’, é contundente:- “Não são livres . Sempre campeou a imoralidade, a mais pérfida corrupção. Os chefes políticos são todos cretinos e idiotas. A única aptidão é que são mandões, usam a violência , o suborno, a compra de votos, a covarde traição. Funcionários públicos, partidários deles, não vacilam em prostituir , se no cargo que ocupa, seja para agradar o “ chefe”.
Sobre os partidos políticos, “Doca”, foi claro , direto e taxativo:- “ Sempre foram compostos por indivíduos sem honra, sem patriotismo, sem cidadania, sem instrução e de uma ignorância apavorante, autênticos boçais”. “Doca”, além de irreverente, era também bastante cáustico . Está lá no “Terra Madrasta”:- Uberaba não deve à chefe político nenhum favor; só tem a lamentar as desgraças por eles ocasionadas “.

Esses pequenos trechos do livro, comentários e opiniões, “Doca” escreveu há 90 ( noventa) anos. A sua antevisão e ou qualquer premonição , semelhança com os dias atuais, não é mera coincidência...

(Luiz Gonzaga de Oliveira)

Cidade de Uberaba

O tradicionalismo das famílias em Uberaba

(Nada de novo surgirá na política se escolhermos sempre os mesmos...)

SÁBIO CONSELHO


O tradicionalismo das famílias em Uberaba, merece elogios. Estamos acostumados a reverenciar tradições. Respeitar dogmas, costumes, tudo que não fira ou atropele as famílias que tem na tradição, o seu maior tesouro. Uberaba, conhecem, é modelo nesse quesito. A ser apresentado a um respeitado “figurão” da terrinha, o jovem recebe, de cara, a indefectível pergunta:- “ Você é filho de quem ? A que família pertence ?”. Se o garoto tem raízes tradicionais, desfila o seu “ rosário” familiar . Se não pertencer a um dos clãs da cidade...

Estou a recordar uma família libanesa que chegou a Uberaba na metade dos anos 40, do século passado. A família Zaidan, ”seo” Habib, dona Salma e os filhos, Salim, João, Elias, Ramza, Jorge e Farah. Uma pequena estada em São Benedito da Cachoeirinha, se estabeleceu na doce e simpática Ituverava, paixão, até hoje, da exemplar família. O “velho” Habib, sabedoria árabe , notável experiência de vida, escolheu, com a aquiescência da família, transferir domicilio. A cidade escolhida, Uberaba, totalmente desconhecida dos filhos.

O natural desejo de crescimento, educação para os filhos , oportunidade de trabalho e estabilidade financeira, foram determinantes à mudança de vida, amigos e parentes que lá deixaram. Rua Vigário Silva, primeira morada . “Seo” Habib, experiente, pesquisou, sondou, maneiras, modo de vida e conduta dos uberabenses. Queria conhecer o comportamento, a tradição tão comentada dos uberabenses.

Certa tarde, reuniu os filhos na enorme sala de jantar. Com gestos, palavras e conselhos da milenar sabedoria árabe, foi falando:- “Filhos meus, estamos em terra estranha. Gente boa , mas, todo cuidado é pouco. Não quero ver e nem ouvir dizer, envolvido em nenhum tipo de briga. Uberaba, tem muita tradição familiar . É preciso ter muito cuidado com o que escreve, fala, discute, negocia. Afaste de qualquer desavença. Uberaba que escolhemos para morar, é´muito acolhedora. As famílias são muito ligadas”. Jorge, o filho do meio, quis saber mais detalhes. “Seo” Habib, continuou:

-“Filho meu, toma nota. Rodrigues da Cunha, é primo dos Borges. Borges, é cunhado dos Prata .Prata é casado com Oliveira, descendente dos Pena, aparentados dos Oliveira. Oliveira, casado com Marinho, aparentado dos Sabino, primo-irmão dos Freitas. Freitas é afilhado dos Adriano. Adriano é da família dos Machado.  tem filhos casados com os Rodrigues da Cunha e laços de parentesco com os Soares Azevedo, muito ligados aos Pontes...

Os ensinamentos e conselhos , dizia sempre o Elias Zaidan, “solteirão” da família, calhou de muita utilidade à família. Jamais um Zaidan, teve problema. Exceto João e Ramza, os outros casaram-se na terrinha e aqui fincaram raízes. Perpetuaram suas vidas incorporadas à santa terra . Os irmãos Zaidan, me adotaram como “irmão” que muito me honra e orgulha . Eles deixaram um legado de trabalho, seriedade e honradez.


(Luiz Gonzaga de Oliveira)


Cidade de Uberaba

A VINDA DA FOSFÉRTIL PARA UBERABA

(As coisas andam tão ruins em Uberaba que estou perdendo a vontade de protestar)

1975, auge do regime militar. Prisões acontecendo em todo o Brasil. Uberaba, a nossa terra mãe, o aprisionamento se dava de forma diferente. Um governo estadual ostensivamente hostil , comandado pelo uberlandense Rondon Pacheco, de triste memória, fazia o possível e o impossível, descaradamente, à prejudicar o lento desenvolvimento da cidade . Benefícios maiores, conquistas definitivas, eram carreados, sem dó e piedade, a cidade de Rondon . Indústrias, escolas, estradas, verbas públicas, saneamento, oportunidade de negócios, fluíam numa só direção: exatamente 102 kms. da ex-“capital do Triângulo’...

Uberaba, completamente órfã. Sem representantes aliados ao governo revolucionário, nos restava políticos da oposição(MDB), sem forças que pudessem “brigar” pela santa terrinha. Por mais que se esforçassem, eram tolhidos nos seus preitos. Vivíamos na mais completo abandono, apesar da boa vontade e seriedade administrativa do prefeito Hugo R. da Cunha. Sem apoio nas esferas maiores, era impotente para conter a onda avassaladora de favores colhidos para Uberlândia, cidade do governador Rondon Pacheco.

Luta covardemente desigual. Uma cidade com “ capa e espada”, lâmina afiada, ferina; outra, com uma faca de cozinha, pequena e em corte. Foi quando, luminosamente, a estrela divina se fez presente. Uberaba, pode enxergar uma luz no fim do túnel. Hugo Rodrigues da Cunha, sabia. Embora da elite oligárquica da cidade, aliado da Revolução/64, numa radiosa manhã de abril, recebeu a confirmação da notícia que guardava a 7 chaves : Uberaba ia ganhar uma importante indústria química, produtora de fertilizantes. Mineiramente calado, ele segredou a noticia com receio de Rondon ter ciência e atrapalhar o empreendimento. Ele sempre ódio Uberaba...Era uma “fábrica de fábricas”!

A Valefértil, subsidiária da Petrobras, unidade nitrogenada, seria instalada aqui na terrinha ! Quando soube da decisão governamental, Rondon, “roeu unhas”, “desgrenhou os cabelos”. Quis agir. Era tarde. As jazidas de fosfato de Tapira e Araxá, iriam abastecer a futura planta. Projeto do mineroduto concluído, inicio da construção . A área, às margens do rio Grande, água em abundância. Nada mais poderia impedir a grande conquista ! Uberaba respirava aliviada. Finalmente, a Revolução/64, premiava nossa terra-mãe !

A CDI ((Cia. Distritos Industriais-MG), preparava-se para o levantamento topográfico da área Tecnicos, engenheiros, agrimensores, topógrafos e outros profissionais, foram chegando. Um fato curioso aconteceu. O prefeito de Sacramento(MG)), era homônimo do prefeito de Uberaba. Também Hugo Rodrigue da Cunha...Ao receber uma correspondência endereçada “confidencial” da Presidência da República, extraviada, Hugo sacramentano, exultou de alegria. Ao ler o conteúdo, caiu em perdidas lágrimas, a carta era para o Rodrigues da Cunha, de Uberaba.

Ressalto, por dever de justiça, a atuação do engenheiro Wagner Nascimento, funcionário da CDI-MG, encarregado de acompanhar os técnicos belorizontinos no levantamento preliminar do local da futura fábrica. Wagner, atuou com um profissionalismo exemplar. A equipe de trabalho passou por maus momentos nas barrancas mineiras do rio Grande...

Decidida e sacramentada a instalação da fábrica nas barrancas do rio Grande, o prefeito Hugo Rodrigues da Cunha, com autorização da Câmara municipal ( nos anos 70, vereador trabalhava com espírito de cidadania, não era remunerado e muito menos tinha um bando de assessores), criou o Distrito Industrial 3 para abrigar não só a Fosfértil, como também as demais misturadoras que, inexoravelmente, como de fato aconteceu, alí iriam se instalar. Fosse melhor o trabalho de persuasão e “venda” da fábrica, muitas outras misturadoras, por certo, teriam vindo. Pena...

O programa do Governo Revolucionário/64, o badalado “PoloCentro”, chegava na região dos cerrados, terras extremamente pobres em vegetação, no jargão caboclo onde só florescia “ lobeira e calango”. Uma fábrica de fertilizantes viria cobrir essa lacuna no solo inapropriado para a agricultura, tornando-o mais produtivo. Fator de desenvolvimento para a nossa região, mas, se estenderia em todo o Brasil Central, como de fato aconteceu.

O “casamento” insumos agrícolas e fertilidade das terras em função do “PoloCentro”, resultou no extraordinário desenvolvimento do setor agroindustrial que o Brasil, hoje, experimenta. A chegada dos técnicos mineiros, ciceroneados pelo engenheiro da CDI-MG, Wagner Nascimento, foi acompanhada de peripécias incríveis . Fazendas enormes, terras agricultáveis, proprietários antigos- de pai para filho-, arraigados a velhos costumes, desconhecendo o enorme progresso que estava chegando para Uberaba, e daí a nossa redenção industrial, tentaram impedir, por todas as formas, meios e armas, o levantamento topográfico da área a ser desapropriada...

Os donos das terras, fazendeiros honestos e decididos, acompanhados de seus capatazes e valentes peões, faziam “ piquetes” à impedir o trabalho daquele “pessoal estranho”, invadindo suas terras seculares... –“Onde já se viu, desmanchar os currais, acabar com a nossa roça, desativar os alambiques, onde se fazia nossa inigualável cachaça?”, lamentavam , raivosamente, os donos das terras. Espingardas ”cano longo”, “treizoitão” carregado de balas, azeitado, esparramando tiros prá cima, à afugentar aqueles “ intrusos”...

Conhecendo os fazendeiros, Wagner Nascimento, com seu jeitão simples, humilde, educado, bons argumentos, foi explicando , um a um, o que representava a fábrica para Uberaba. Em curto espaço de tempo, ligeiramente conformados, aquiesceram em fornecer informações, documentos da área, discutiram valores da desapropriação, forma de pagamento e etc...

A terrinha ganhou vida nova ! Comercio, indústria, prestadoras de serviço, passaram a abastecer a obra. Mão de obra local, ganhou fôlego. Os primeiros funcionários da Petrobras, chegavam a cidade. Locação de imóveis, em grande demanda. A primeira residência locada, a do casal Zilma Bugiato-Rubens Faria ,na avenida Santos Dumont. Primeiro locador, o engenheiro George Pedersen, encarregado das primeiras obras no DI- 3.

Uberaba com a Fosfértil, era alegria plena ! Ressurgiu o progresso. Veio a privatização. O ‘slogan” “Fábrica de fábricas”, continuou. O DI-3, realidade saudável. Aumentou o incentivo ao campo, novas tecnologias aplicadas. Sem favor algum, Uberaba tornou-se o maior polo químico da América do Sul ! Graças a Deus, estamos às margens do benemérito Rio Grande. Senão....

Qualquer outra história, não passa de ficção... 


(Luiz Gonzaga Oliveira)


Cidade de Uberaba

A CRIAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA

O curso de Medicina, pioneiro e incorporado à Universidade Federal do Triângulo Mineiro, foi criado ao final da década de 40, do século passado. Mário Palmério, “ pai do ensino superior no interior do Brasil”, tinha instalado as Faculdades de Odontologia, Direito e Engenharia CiviL que funcionavam a pleno vapor, abrindo um novo leque de progresso e desenvolvimento na cidade e região. Uberaba, respirava cultura e dinamismo.

A eterna briga política da cidade, facções que não se entendiam, se juntaram à causa meritória, no episódio que vou lhes contar . PSD e PTB, na “situação”, UDN/PR/PSP, agrupavam-se na “ oposição”, morrendo de inveja da atuação de Palmério. Naquele tempo, a Exposição Nacional de Gado Zebu, promovia a cidade. O Brasil inteiro, voltava suas vistas para o maior evento agropecuário nacional. As presenças das maiores autoridades do país, se encontram na santa terrinha. Na Presidência da República, Juscelino Kubischeck, revolucionava o país, era a figura central.

Simpático, afável, fazia questão de pernoitar na cidade e participar do baile do “Presidente”, no Jockey Club, como, quando Governador, prestigiava o baile em sua homenagem, no Uberaba Tenis Clube. A agenda oficial, reservava o 3 de maio para Uberaba. Com ele, Ministros, Governadores, Deputados, se faziam presentes. A abertura da Exposição de Gado de Uberaba, era manchete nos principais órgãos da imprensa nacional. Hoje... .deixa pra lá...

O PSD, partido de JK, era comandado na terrinha pelo “coronel” Ranulfo Borges, cercado de figuras honradas da cidade. A cadeia pública, defronte ao Mercadão, “caindo aos pedaços”. PSD, em peso, foi à Juscelino, pedir-lhe que reformasse aquele velho pardieiro . JK, ouviu calado, as lamúrias. De pé, ouviu o pedido . Pigarreou, esfregou os pés, sem sapatos e num largo sorriso, disparou:- Não vou reformar cadeia nenhuma nesta cidade que gosto muito”. A “velha guarda” do PSD, emudeceu, esperando pelo pior...Foi aí que...

Juscelino, enfático, completou:- Vou dar à Uberaba, uma Faculdade de Medicina, ouviram?“. Palmas ecoaram na ampla sala da casa de Adalberto Rodrigues da Cunha, presidente da SRTM. Na “esquina do enjeitei”, a “fazendeirada” zombava. Não acreditava. Uberaba, tinha pouco mais de 80.000 habitantes, ganhando uma Faculdade de Medicina! A euforia tomou conta da santa terrinha.

Lideranças políticas, empresariais, classistas, clubes de serviços, agropastoris, esqueceram suas divergências; deixaram de lado suas picuinhas e se juntaram para a grande conquista fosse logo alcançada. Um comboio com as nossas principais lideranças , se agrupou rumo à Brasilia. Uberaba, graças a Deus, estava unida.


A CRIAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA – 2 –

Uberaba, a sagrada terrinha, sempre se destacou pelo pioneirismo de sua gente. Na medicina não foi diferente. Os farmacêuticos e suas poções, pesquisando e manipulando formulas medicinais, experimentando a nossa rica flora, os caminhos percorridos por eles, médicos-farmacêuticos, parteiras e benzedeiras, suas atuações se revertiam de grandeza e abnegação no tratamento das doenças existentes. Uma história muito rica e de inexcedível valor. Penoso enumerar os grandes feitos, as fantásticas pesquisas dos profissionais da saúde, normalmente bem sucedidas e que vieram salvar vidas.

Tudo começou na Santa Casa de Misericórdia, onde é hoje, o complexo da Universidade Federal do Triângulo Mineiro- UFTM. Fundada pelo primeiro bispo de Uberaba, Frei Eugênio Maria de Gênova, a vocação humanitária dos médicos daquela época, atendiam e davam guarida aos doentes de qualquer classe social. A Santa Casa, enquanto existiu, teve a bondosa e desprendida colaboração das “Irmãs Dominicanas”, caridosas por vocação e a segura direção de dedicados e fraternos Provedores.
Uma Provedora de notável destaque, Maria da Glória Leão Borges, esposa de Ranulfo Borges, o “chefão” políticos da cidade. Maria da Glória, teve efetiva participação na criação da Faculdade de Medicina. Dada a largada pelo Presidente JK, médicos e demais lideranças locais, esqueceram suas divergências politicas, ojerizas pessoais , irmanados, visando a concretização de tão grande conquista; o nobre ideal de tão especial presente.

Registro, com muita honra, preito de gratidão aos “ 18 do forte” pelo trabalho realizado: Alfredo Sabino de Freitas, Alyrio Furtado Nunes, Antônio Sabino de Freitas Júnior, Carlos Smith, Fausto Cunha Oliveira, Hélio Angotti, Hélio Luiz da Costa, João Henrique Sampaio Vieira da Silva, Jorge Azôr, Jorge Henrique Marquez Furtado, José de Paiva Abreu, José Soares Bilharinho, Lauro Fontoura, Mário Palmério, Mozart Furtado Nunes, Odon Tormin, Paulo Pontes e Randolfo Borges Júnior, por ordem alfabética, homens de cêpa, despidos de vaidades pessoais, vantagens políticas, dedicaram grande parte dos seus preciosos tempos, trabalho, talento e profissionalismo para que Uberaba tivesse a grande glória: Faculdade de Medicina!

Com recursos próprios, viajaram inúmeras vezes para Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasilia, as suas expensas. Nada de dinheiro público. Enfrentando os naturais percalços de tão nobre empreitada, merecem o nosso respeito, orgulho e gratidão ! Uberaba, é grata aos seus filhos verdadeiros !. Com o tempo, contarei passagens iniciais da nossa Faculdade de Medicina, quando as aulas eram ministradas dentro das celas do antigo “cadeião


(Luiz Gonzaga Oliveira)

Cidade de Uberaba

UBERABA – SEMPRE ELA...

( A vida é bela quando não se tem medo dela...)

I
Aqui nascí, viví na cidade que escolhhi
Meus pais, mulher e filhas também
Plagas outras, trabalhei. Daqui, saudade sentí
Voltei correndo. Não agradei do vai e vem.

II
“Uberaba dos meus amores” disse o poeta
Concordo, Gênero, número e grau.
Viajando sempre, quando a saudade aperta
Volto correndo. Brigando com quem dla fala mal.

III
Ando triste. Preocupado. Não minto.
Malandros dela tomaram conta, eu sinto.
Fantasiados de políticos, só sabem mentir
Faláciass, promessas, querendo nos iludir!

IV
Chegaram ontem. Bons de papo e meneios
Devagar vão enganando os “ trouxas”
Não medem trapaças e outros meios
Acham Uberaba terra de gente frouxa...

V
Vereadores, Prefeitos, Deputados
Temos de tudo um pouco
Eleitos, safados, deixam todos frustrados
Não adianta gritar até ficar rouco...

VI
Conhecidos “ze ninguém”, desclassificados
Uns “caça-dotes” de meia tigela
A política deixou-os abonados
Nadando, sem pressa, no dinheiro “dela”

VII
Uberaba alegre, festiva, sempre dadivosa
Bondosa, acolhe “picaretas” de toda parte
Eles, quando sentem a “rebordosa”
Tchau! Recebe a “longa” do Pedro Malazarte...

Luiz Gonzaga Oliveira



Cidade de Uberaba


A “RUA SÃO MIGUEL” E OS POLÍTICOS...

(Quanto mais você agacha, mais a bunda aparece...)

Pornográfico? Não ! Texto realista ? Sim ! Chega de “ puta véia”. Elas não “ dão mais caldo”, nem nos representam “.. A pedida da vez, as meninas que perderam a virgindade a pouco tempo...”Respeitosamente, esse era o “papo” dos boêmios frequentadores da famosa rua “São Miguel”, “baculerê” da saudosa Uberaba dos anos 50 do século passado. ( Tempos que não voltam mais...) .Incrustada no centro da cidade, atrás da Catedral Metropolitana, inicio da praça Frei Eugênio, direção ao bairro d’Abadia, a “ rua São Miguel”, era famosa no Brasil inteiro. Macho que visitasse Uberaba e não conhecesse a “ rua do santo”, não conheceu a sagrada terrinha..

As “ putas véias” daquele tempo, Amelinha, Negrinha, Jovita, “tia Moça” ( que era velha...), Tubertina, Isolina, Nena, além de outras menos votadas. A moçada da época queria “ficar” com as “meninas novas”, procedentes de Goiás, Mato Grosso e interiores de Minas e São Paulo... Na “São Miguel”, abrigavam eleitores de todos os partidos políticos sediados na terrinha.. Não existiam muitas legendas partidárias. . Eram o PTB, de Mário Palmério, a UDN, dos Rodrigues da Cunha, o PSP, de Boulanger Pucci e Antônio Próspero, o PR, do Tatí Prata e Homero Vieira de Freitas, o PSD, do Coronel Ranulfo e Lauro Fontoura, PCB, do Durval da Farmácia. Nada mais!

Quem era “abonado”($$$), jantava no Tabú, com as “ primas”. A plebe rude, se fartava com o churrasquinho do Jaime, à porta do Tabú. “Bebum”, sem grana, “fazia ponto” na “Boca da Onça”, do Caio Guarda. Os “shows” no “Casino Brasil” , comandado pelo Paulo da Negrinha, “estreladosera “fresco” ou “viado”. Motel não existia. O máximo que se permitia, alguns “esconderijos” para encontros furtivos, tinha o pomposo nome de “rendez-vouz”..

Hoje, a “coisa’ está mudada. “Zona do meretrício”, virou “zona eleitoral”, “michê” chama-se “propina”, “gigolô” é assessor, “bate-pau”, é “segurança”... “Puta véia”, políticos que não querem abandonar as “bocas”; “Rendez-vouz”, ou “casas de prostituição”, conhecidas como Câmara, Senado, Assembléias, Palácios e Prefeituras. “Donas de bordel”, políticos corruptos, agarrados ao Poder. “Rua São Miguel”, mudou de endereço... “Meninas novas no puteiro”, os jovens, ingressando na vida publica. Frequentadores do “puteiro”, eleitores que votam por dinheiro, cargo público, sem concurso..Esperando sempre por uma “ boquinha”....

Ao frequentar as “ ruas das eleições”, procure “ficar” com “puta nova”. Neca de “puta véia”. Política não é prostíbulo. Os políticos é que frequentam a “ casa errada”. As “Negrinhas’, “tia Moças, “, “Tubertinas”, “Nenas” e “Isolinas” da nossa política ,não devem ser reconduzidas às “velhas pensões’. São “putas véias”; não dão mais caldo”. São “bananeiras que deram cacho”. O eleitor quer “ puta nova”, recém chegada, limpinha, no “ bordel”...


Luiz Gonzaga de Oliveira


Cidade de Uberaba


sábado, 1 de fevereiro de 2020

UMA DAMA NA BARBEARIA

Já falamos aqui sobre os “anos dourados” da pecuária do zebu durante o início da década de 1940. Com os grandes países do mundo envolvidos numa guerra interminável, a demanda e o preço da carne bovina no mercado internacional foi às alturas.

Capa do jornal "Lavoura e Comércio" do dia 19 de abril de 1944

O governo brasileiro, por meio do Banco do Brasil, oferecia crédito fácil e barato a qualquer interessado em investir na criação de gado. O resultado foi uma “bolha especulativa” com o boi indiano: milhares de pessoas, muitas sem nenhuma familiaridade com o negócio, tomavam empréstimos ou aplicavam suas economias na criação de zebu, em busca de fortuna rápida. Como era de se esperar, o preço dos reprodutores disparou.

Um detalhe da foto de capa, tirada pelo fotógrafo Prieto.

De um momento para o outro, os pecuaristas do Triângulo Mineiro tornaram-se celebridades nacionais. A imprensa contava histórias e lendas sobre os novos milionários e seus touros transformados em verdadeiras minas de ouro. Dizia-se que, em Uberaba, havia estábulos com ar refrigerado – na época, um luxo que pouquíssimas casas dispunham – e que algumas reses tomavam banho com champanhe. Num tempo em que andar de avião era um sonho, divulgavam-se fotos de touros sendo transportados em aeronaves para fazer coberturas. Alimentando a fama, grupos de “zebuzeiros” fechavam bares e cassinos no Rio de Janeiro, em festas onde comentava-se que charutos finos eram acesos com notas de dólar americano.

Avenida Leopoldino de Oliveira, no final dos anos 1940. No canto esquerdo, o prédio da Associação Comercial, que tinha no térreo o Restaurante Ribamar.

Certamente havia excessos de novos-ricos deslumbrados com o dinheiro fácil, mas boa parte dessas lendas era simples invenção, ou exagero em cima de fatos reais. Houve, de fato, alguns casos em que reprodutores vendidos para regiões distantes do Brasil foram levados de avião – até porque eram poucas as opções de transporte. Mas a especulação com o preço dos animais gerou situações inusitadas. Algumas delas podem ser resgatadas nos jornais da época, como o velho “Lavoura e Comércio” de Uberaba.

Tantos eram os interessados na Exposição de Gado Zebu em 1944, que a SRTM solicitava à população que recebesse os visitantes em suas casas.

Em abril de 1944, a euforia estava no auge e nossa cidade se preparava para a abertura de mais uma Exposição. Eram tantos os interessados em conhecer “a Meca do Zebu” que os hotéis e pensões não davam conta. A Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, antecessora da ABCZ, publicou anúncios nos jornais pedindo às famílias uberabenses que se dispusessem a alugar quartos em suas casas para alojar os visitantes. No dia 19, o “Lavoura” estampou na capa uma grande notícia com direito a foto, onde se via uma jovem bezerra sendo atendida em uma barbearia no centro da cidade. E contava em detalhes a história.

O Salão Rex continua em funcionamento, mas desde os anos 1970 está na Galeria do Edifício Rio Negro. O cabeleireiro Vasco, veterano do estabelecimento, confirmou algumas das informações dessa história. Foto: divulgação Galeria Rio Negro

O criador José Campos, filho de uma família de fazendeiros da vizinha cidade de Veríssimo, contou que estava almoçando no restaurante Ribamar – na época um dos melhores da cidade, no lugar onde mais tarde funcionou o Bar Tip-Top – quando viu passar pela calçada da Avenida Leopoldino de Oliveira um homem conduzindo uma bezerra zebu. Largou os talheres, correu atrás do moço e disse que queria comprar o animal. O dono, José de Paula, relutou em vender – alegando que a havia ganho de presente, que a bezerra chamava-se “Boneca” e era criada em casa, como bicho de estimação. Mas não resistiu a um cheque de 10 mil cruzeiros oferecido pelo pecuarista.

Capa do jornal "Lavoura e Comércio" do dia 19 de abril de 1944

Criador experiente, José Campos achou que Boneca – uma Indubrasil bem puxada para o Gir – estava maltratada, que a aparência descuidada e os pelos longos escondiam suas boas qualidades. Sem muitas alternativas nas imediações, Campos levou a bezerra ao Salão Rex – tradicional barbearia que ficava na própria Av. Leopoldino, próximo à esquina da Rua Artur Machado, onde hoje há uma loja de celulares – e convenceu o proprietário Artur Riccioppo a “dar um trato” na menina. A cena foi flagrada pelo fotografo Prieto.

De banho tomado e com a toilette feita, Boneca despertou a cobiça de quem passava pelo local. Teve início na calçada um leilão improvisado, onde o novo proprietário teria “enjeitado” uma oferta de 40 mil cruzeiros pela nova estrela do seu plantel. “Boneca tem qualidades excepcionais” – dizia – “bem tratada, dentro de pouco tempo estará figurando entre as bezerras mais cotadas de região, e seu preço superará a casa dos 100 mil cruzeiros”. Para se ter uma ideia, com esse valor comprava-se na época um pequeno apartamento com vista para o mar no Rio de Janeiro.

Já no ano seguinte, com o fim da guerra e o corte nos financiamentos, a “farra do boi” terminou de forma trágica. O preço do gado despencou, inúmeros fazendeiros e investidores perderam tudo o que tinham e a classe dos pecuaristas passou uma década pendurada em dívidas e penhores – até conseguir um generoso perdão do governo em 1954.

(André Borges Lopes_Uma primeira versão desse texto foi publicada da na coluna "Binóculo Reverso”do Jornal de Uberaba, em 19/01/2020