O Folclore faz parte da grade disciplinar do Colégio Nossa Senhora das Graças desde sua fundação
Na quadrilha das festas juninas, nas décadas de 60 e 70, o marcante era Edelweis Teixeira - médico e inspetor de escolas por profissão e folclorista por devoção. Teixeira era uma das mais notáveis figuras da área cultural brasileira e recebeu em 1984, por indicação do professor e vereador Murilo Pacheco de Menezes, o título de “Cidadão Uberabense”.
A partir de 1977, foram criados os concursos que integravam os festivais anuais de folclore no qual, se destacou a folclorista Iraídes Madeira com o tema “O Folclore em Quatro Tempos”.
O folclore é apenas uma das áreas culturais reverenciadas pelo Colégio Nossa Senhora das Graças. Concursos literários, Revista “Bolando Comunicação”, edições de livros de contos e poesias de autoria dos próprios alunos, Feiras de Trabalhos Artísticos e Feiras de Pesquisas e Criatividade sempre foram uma constante.
O Colégio tem a chancela do pioneirismo na criação em Uberaba da Fanfarra Feminina que, juntamente com a Masculina, chegou a atingir 120 participantes. Ele foi pioneiro também a adotar calças compridas para as alunas no início da década de 70. Uma ousadia que contou com o beneplácito dos pais.
Esses fatos marcantes são frutos do arrojo e pioneirismo do casal formado por Murilo e Terezinha, fundadores e administradores do Colégio Nossa Senhora das Graças, criado em março de 1958, em sociedade com Salim Hueb, pai de Terezinha.
Murilo nasceu em 03/06/1929, na cidade de São Raimundo Nonato, Piauí. Com 14 anos, em 1943, já era seminarista em Salvador, onde percebendo falta de vocação para o sacerdócio, iniciou a carreira de Magistério em 1952, na cidade de Belo Horizonte. Após alguns anos, mudou-se para Uberaba, tornando-se professor no Diocesano, Cristo Rei e José Ferreira.
Terezinha Hueb de Menezes. Foto: Reprodução.
Ao conhecer a professora Terezinha Hueb, brotou o amor e a conjugação de ideais. O casamento com Terezinha, então com 19 anos, recém-formada pelo Colégio Nossa Senhora das Dores, foi realizado em 1958, onde, na frente do altar da Igreja de São Benedito, os noivos se completaram na comunhão de propósitos.
Murilo ajudou a fundar a Escola de Química e Agrimensura e se enveredou também na política onde foi eleito para vereador na década de 1980. Foi presidente da Comissão de
Justiça, Legislação e Redação, recebendo em sua vida os títulos de Cidadão Uberabense, Personalidade do Ano, Mérito Político, Homenagem Personalidade do Ano – Melhores 87, Destaque Político, Medalha Major Eustáquio (que ele mesmo criou), Diploma de Honra ao Mérito e Mérito Rotário Uberaba-Leste.
Na sua vida empresarial teve seus percalços como tem qualquer empresário que luta por seus ideais. Nem sempre as leis econômicas caminham junto com nossos sonhos. As rotineiras oscilações de mercado trazem sempre grandes frustrações empresariais.
A mudança da sede do Colégio da rua Veríssimo para o novo prédio da rua Edmundo Borges de Araújo, construído em apenas seis meses, trouxe dificuldades para a família, que se viu obrigada a transferir sua residência para o próprio Colégio. Todavia, Murilo, com um caráter forjado na têmpera do aço, soube enfrentar com muita dignidade as tempestades circunstanciais.
Murilo faleceu em 19 de agosto de 1999. Ao se referir a ele em 2014, o então Presidente do Legislativo Elmar Goulart relatou que ele deixou seu nome cravado na história da política da cidade como representante da expressão máxima da ética e da cidadania. “O Plenário desta Casa, onde são aprovados projetos importantes para o desenvolvimento de Uberaba, leva o nome do professor Murilo Pacheco de Menezes”, disse.
Já a irrequieta e dinâmica Terezinha, graduada em Letras na FISTA, por uns tempos passou a lecionar e participar da administração desta Instituição, dirigia o Centro de Ciências e Letras da Universidade de Uberaba e ainda encontrava tempo para lecionar e administrar seu próprio Colégio.
Teve intensa participação nas atividades educacionais e culturais. Foi membro do Fórum dos Articulistas de Uberaba e Região e da ALTM (Academia de Letras do Triângulo), eleita em 23/02/1991, ocupando a cadeira de nº 27.
Por coincidência, essa cadeira que tem como patrono a figura de Machado de Assis, pertenceu a Edson Prata, um dos fundadores do Jornal da Manhã, no qual Terezinha manteve por muitos anos como articulista uma coluna semanal, editada aos domingos, em nome da Academia.
Em 2012 reuniu as crônicas mais marcantes em um livro intitulado Assim Como Nós e fez seu lançamento no Centro Cultural Mário Palmério. Publicou Tempesfera, de poesias e temas do cotidiano. Organizou o livro Murilo Pacheco de Menezes – O Homem e Seu Legado - reunindo crônicas do marido, além de uma biografia.
Segundo Guido Bilharinho, foi ela que introduziu em Uberaba e no Brasil Central a poesia construtivista, que é aquela que usa razão e sensibilidade.
Cooperou ainda com a escritora Vânia Maria Resende na elaboração do livro ‘Quantas saudades do Colégio eu vou levar’. Participou da Revista Dimensão e do livro A Poesia em Uberaba do Modernismo à Vanguarda, ambos editados por Guido Bilharinho.
Eleita a primeira mulher na presidência da ALTM em 12/03/2009, conseguiu junto à diretoria da ACIU o início de uma parceria para edição dupla da revista da Academia – Convergência e Saberes – em participação com a FCETM - Faculdade de Ciências Econômicas do Triângulo Mineiro.
Terezinha recebeu inúmeras homenagens em vida, entre elas as medalhas do Mérito Rotário e Major Eustáquio, o título de Mulher Destaque, pela Câmara Municipal de Uberaba e da Associação de Mulheres de Negócios e, por duas vezes, figurou entre “Os Dez Mais”.
A conquista de uma sede própria para a Academia de Letras sempre foi uma de suas preocupações. Segundo palavras da Ilcéa Borba, ex-presidente da ALTM, a quem Terezinha incentivou a se tornar escritora, ela lutou muito para a conquista da sede. “Mesmo quando estava doente, solicitava esforços de seu filho Fernando para concretizar mais este sonho”, declara.
Terezinha faleceu em 22 de maio de 2014 provocando grande consternação na comunidade. O Jornal da Manhã destacou suas realizações administrativas, culturais, educacionais e sociais.
De todos os legados deixados por Murilo e Terezinha o mais importante foram os seus cinco filhos – José Luiz, Paulo César, Maria Angélica, Fabiano e Fernando.
Fernando relata que na parte cultural, o aprendizado dos filhos foi até por ‘osmose’. Ele e os irmos aprenderam a seguir o caminho da harmonia e do diálogo. Ele se lembra de que seu pai dizia que a melhor forma de ensinar é com o exemplo. Com ele, os filhos aprenderam os princípios de honestidade e caráter.
“Vereador Professor Murilo Pacheco de Menezes” é hoje nome de rua no conjunto residencial Mário de Almeida Franco.
“Terezinha Hueb de Menezes” é nome da sede da ALTM - Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
Só não tem nome a saudade que deixaram.
Fontes consultadas:
Colégio Nossa Senhora das Graças (site);
Jornal da Manhã (reportagens);
Guido Bilharinho – escritor, advogado e membro da ALTM;
Ilcea Borba – psicóloga e membro da ALTM;
Maria Antonieta Borges – ex-presidente da Fundação Cultural de Uberaba, historiadora, membro da ALTM;
Fernando Hueb – filho.
Autor- Gilberto de Andrade Rezende – Folclorista e Membro da Academia de Letras do Triângulo.
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Cidade de Uberaba