domingo, 28 de abril de 2019

Edgard Rodrigues da Cunha. O Advogado e o Mestre do Direito

A tecnologia atual, avançada, amenizou a importância da memória, mas certa desconfiança do que foi escrito ainda permanece. Entretanto, podemos afirmar que o que sobrou do passado foi a memória. A sua reabilitação como fonte parece ser a tônica da cultura historiográfica (cotidiano, realizações, construções, mentalidades inovadoras, crenças e outros). Segundo um autor, quando “o futuro frustra, o passado reconforta”. Neste cenário a preocupação da sociedade atual em pesquisar, procurar, reativar, revitalizar e recompor as origens, as raízes e as realizações de seus antepassados tem enriquecido a nossa história da formação e da nossa estruturação”

ELIANE MENDONÇA MARQUEZ DE RESENDE

Formação e Exercício Profissional

Edgard Rodrigues da Cunha nasceu na fazenda Cruz, situada no município de Uberaba, em 28 de abril de 1911, filho de Gustavo Rodrigues da Cunha e Maria Carmelita de Castro Cunha.

A primeira parte de sua infância transcorreu em Uberaba, indo posteriormente, com a separação dos pais e acompanhando sua mãe, residir na fazenda dos avós maternos, no município de Uberlândia.

Em 1924, com a reconciliação dos pais, voltou a Uberaba, residindo onde é hoje o Manhattan Shopping.

Realizou os cursos Primário e Ginasial no Colégio Marista Diocesano de Uberaba, finalizados, sendo coroado como orador da turma de 1930.

Formou-se em Direito, no Rio de Janeiro, em 1935, sendo contemporâneo e convivendo na então capital da República com os primos Afrânio e José Humberto Rodrigues da Cunha.

Edgar Rodrigues da Cunha

Formado, voltou a Uberaba, lançando-se no exercício profissional em época em que advogavam na cidade grandes nomes das Ciências Jurídicas, como José Mendonça, Aristides Cunha Campos, Lauro Fontoura, José de Sousa Prata e outros.

Por coincidência, instalou sua residência e escritório em frente à casa de José Mendonça, na rua Segismundo Mendes.

Paralelamente ao exercício da advocacia, dedicou-se ao Magistério, lecionando na hoje legendária Escola Normal Oficial de Uberaba, instalada na cidade em 1882.

Destacou-se na advocacia na segunda metade da década de 1940, em defesa de dezenas de pecuaristas vitimados pela queda dos preços do gado zebu, em 1945.

Durante 20 (vinte) anos lecionou uma das disciplinas de Direito Civil na Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, fundada por Mário Palmério em 1952, colhendo, por seu desempenho magisterial e científico, homenagens como paraninfo, patrono e homenageado especial por diversas turmas de formandos.

Casou-se em 1942 com Maria Júlia Junqueira, que havia cursado até o terceiro ano de Direito e lhe deu valioso apoio. Tiveram cinco filhos.

Pai e Companheiro

Falar de um pai tão presente, de um homem de múltiplas facetas, não é tarefa fácil! Relembrar uma vida tão intensa em atividades e tão densa em realizações!

Pai atuante na sociedade, mas nem por isto distante! Enérgico sim, mas carinhoso à sua maneira. Pai presente em todos os momentos bons ou ruins de nossas vidas! 

Pai orgulhoso de nossos feitos e das conquistas da cidade que tanto amou! Um homem à frente de seu tempo!

Sua visão de mundo nos deixava admirados. Com ele aprendemos a enxergar fronteiras distantes, a desvendar e conhecer o mundo. Aprendemos que o conhecimento é indispensável para se obter o sucesso!

Aprendemos com ele a ter medo do medo.

Ele nos ensinou que a audácia é necessária para vencer barreiras e atingir objetivos. Que a honestidade não é qualidade, mas obrigação!

Dizia-nos que é preciso pensar grande e que as desventuras que porventura vierem devem ser enfrentadas de cabeça 
erguida! Que a vida tem que ser vivida com alegria e que o homem quando para começa a morrer![....] Este homem com certeza, pela lição de vida que deixou, merece ser lembrado por ocasião de seu centenário.

Maria Carmelita R. Cunha


Pensamentos e Conceitos

Em notável discurso como paraninfo da turma da Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro de 1971, que teve como orador dos formandos o futuro juiz de Direito em Goiás, Murilo Amado Cardoso Maciel, afirmou a respeito da advocacia:

“Ingressais, certamente já ouvistes estas palavras, agora, na mais bela das profissões liberais que o homem pode escolher.

A mais bela porque, defensores da honra, da liberdade e dos bens de vossos semelhantes, tereis, muitas vezes, que enxugar as lágrimas dos oprimidos, conter as injustiças do opressor e a contumélia dos arrogantes e descer ao calabouço em que se encontram os encarcerados.

Já disse alguém que a advocacia supera todas as outras profissões em requintes de beleza, finura de espírito e prazer. Voltaire chegou a dizer: eu desejaria ser advogado; é a mais bela profissão do mundo.”

Contudo, advertiu, após esplêndida citação de Fiot de la Marche atinente à profissão:

“Para ser advogado, não basta receber o diploma.

É preciso algo mais. É necessário integrar-se na profissão. É preciso amá-la e vivê-la.

Para bem desempenhá-la é preciso, conforme disse o insigne mestre do Direito, Mendes Pimentel, ter talento, trabalho, fé e coragem.”

E ponderou, lúcido:

“Já dizia Von Ihering que o escopo do Direito é a paz, mas o meio de consegui-la é a luta. O Direito é luta. Luta incansável em defesa do interesse material e moral do homem.

Isto não quer dizer que se deva levar a luta aos extremos da incompreensão e do fanatismo. Muitas vezes se ganha mais transigindo do que permanecendo irredutível em posições.

Lembrai-vos que ainda vale o velho e sábio adágio popular – “é preferível uma ruim composição a uma boa demanda.”

Já sobre o Direito, parafraseando José Higino, intérprete de Ihering, ensinou:

“A medida do Direito não é o absoluto da verdade, mas o relativo do fim.

Um mundo novo abre-se diante dos olhos maravilhados dos homens.

Os satélites artificiais, fabuloso instrumento de aproximação dos homens, as naves interplanetárias que já vão à Lua e a Marte, estão a exigir a criação de um novíssimo Direito [....] Uma nova roupagem é unanimemente reclamada para o Código Civil, Código Penal e Direito Comercial.”

Antevendo o futuro do país, proclamou:

“O Brasil deixou de ser uma nação deitada eternamente em berço esplêndido. É um país que caminha conscientemente para os seus altos destinos no seio das demais nações. 

É agora um país que inicia a sua grande decolagem para entrar no rol das grandes potências.

Urge, portanto, que nos preparemos devidamente para que esta nossa entrada seja devidamente observada, comentada e aplaudida.”

Em outra ocasião, como paraninfo de nova turma de bacharelandos em Direito, sintetizou de maneira categórica e absoluta:

“Jamais devereis esquecer que o essencial na profissão não é ganhar a vida, mas construir uma vida.”

DR. EDGARD, O PROFESSOR

O professor Edgard lecionava Direito das Sucessões no curso de Direito da então Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, hoje UNIUBE. Era professor dedicado, exigente, ao mesmo tempo, atencioso e amigo de seus alunos. Suas aulas tinham grande conteúdo e seu autor de referência era Carvalho Santos. Nelas caminhava com voz firme e com fichas nas mãos por onde se orientava. Foi, sem dúvida, um professor marcante que seus discípulos jamais esquecerão.

Nas agradáveis conversas, quando já no final da vida, repleta de vitórias, contou-me as dificuldades pelas quais passou como estudante no Rio de Janeiro, onde aprendeu alemão com pessoas que residiam na mesma pensão e que haviam refugiado da Guerra, e sua opção por advogar em Uberaba, onde só existiam profissionais consagrados. 

O professor Edgar, que tanto ensinou, lembra sempre a famosa frase de Horácio “Não morrerei por inteiro”.

Claudiovir Delfino

A Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, à avenida Guilherme Ferreira, hoje 
Uniube campus I, tinha as grandes e arejadas salas de aula no primeiro andar: primeira sala, 1º ano; segunda sala, 2º ano, e assim até a quinta sala, a última, com suas janelas para a rua Carlos Rodrigues da Cunha. Já na virada da esquina, começávamos a tremer, pois, em breve, enfrentaríamos o Robespierre, o temido e exigente professor 
dr. Edgard Rodrigues da Cunha, que ministrava o 
Direito de Família, encerrando todos os volumes que havíamos estudado do dr. Washington de Barros Monteiro.

Ali, na sala de aula, na cátedra, estava ele, prestando aos seus alunos o concurso da sua inteligência viva, seu raciocínio rápido e o brilho da sua cultura. As questões do Direito em geral, especialmente da sua área, as questões econômicas, os problemas do ensino, as falhas da nossa legislação, todas as controvérsias, ideias e iniciativas, porque homem pluridimensional, nele encontravam um batalhador persistente e esclarecido, revelando sua visão de futuro, seu constante trato com os livros e com os estudos, o que resultava na análise conscienciosa das questões que debatia e elucidava.

Liana Mendonça

Edição do Jornal da Manhã do dia 18/04/2011



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Cidade de Uberaba

Gilberto Rezende resgata fotografia antiga de ex-prefeitos juntos

Foto:Jornal da Manhã - 11 de agosto de 1988.
Uma foto histórica do JM. Paulo Piau, Hugo Rodrigues da Cunha, Luiz Neto e Marcos Montes. Todos se elegeram prefeitos de Uberaba. Vinte anos após, pode-se constatar que esses homens de bem, unidos pelos mesmos ideais, foram reconhecidos pela comunidade que os credenciaram para novos desafios em sua carreira política. Hugo Rodrigues da Cunha, deputado federal; Marcos Montes, secretário no governo de Luiz Neto; deputado estadual e federal Paulo Piau, também secretário de Luiz Neto, passou pela Assembleia Legislativa, Câmara Federal e é hoje o prefeito de Uberaba.

Foi através do governo de Hugo Rodrigues da Cunha que se criou em Uberaba o espírito de industrialização, sem prejuízo dos outros pilares que sustentam nossa economia. Não se admite mais a ausência de uma Secretaria de Indústria e Comércio em qualquer plataforma de Partidos Políticos que aspiram o governo municipal.

Há que se fazer justiça e ressaltar que o programa de Industrialização nasceu na diretoria da Aciu na gestão de Jorge Dib Neto, em 1972, e teve a participação de todas as Entidades de Uberaba, Classistas, Sociais, Políticas, Culturais e do Jornal da Manhã.

E de justiça também reconhecer que a força do Jornal da Manhã é que tornou possível a eleição de Hugo Rodrigues da Cunha em sua primeira eleição em 1972. Aliás, há de ser destacado que esse Jornal, em sua fase inicial, teve o exclusivo propósito de participar dos processos de política municipal, nas palavras do seu fundador e diretor Edson Prata, em seu Edital de 18 de janeiro de 1983.

Um fato que completa 46 anos e mostra que Uberaba ganhou. Valeu!


Gilberto Rezende
Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro e ex-presidente e conselheiro da ACIU e do CIGRA



Cidade de Uberaba

Renê Barsan – Um legado de realizações

Em plena madrugada de uma segunda-feira de outubro de 1982, recebo um telefonema de um amigo solicitando minha presença na residência de Renê Barsan para tratar de um assunto confidencial e urgente. 

O tema era política, pois estávamos a um mês das eleições municipais e Renê era um forte candidato a prefeito, pelo PMDB. Seus amigos diziam que já poderia mandar confeccionar o terno da posse.

De início, estranhei a solicitação, pois era então presidente do PDS. Partidarismo à parte, fui ouvir as razões desse inusitado convite.

Pelas suas pesquisas, era certa a vitória de Wagner do Nascimento. Renê, em segunda colocação, sugeriu que a única forma de modificar o resultado seria através da renúncia de Hugo, da qual seria o herdeiro natural, mesmo pertencendo a outro partido.

Quem conhecia Hugo Rodrigues da Cunha já sabia da impossibilidade dessa pretensão ser acolhida. Para não deixar dúvidas, ele declarou ao Jornal da Manhã que jamais renunciaria e que acreditava em sua vitória.

Na apuração dos votos, as previsões de Renê se confirmaram: o PMDB teve a preferência de 70% dos eleitores. Wagner, 37,37%; Renê, 22,66%; e Arnaldo, 10,07%. Já o PDS ficou com 29%; Hugo, 15,27%, e João Junqueira, 13,32%. Pouco mais de 1% tiveram os candidatos Henry e Victor.

Foi a primeira e última vez que Renê Barsan participou de um processo político partidário. Foi muito traumatizante o seu desapontamento. Ele se desencantou da política.

Família Taso ou Dasho em Harput: Elias Taso, Meryem Naman, Helani, Melek, Rahel, Aznif, Feride, Samuel e Sake.— Tradução: Rima Dilmener, Lisa Tigno, Nafi Donat,Maria Alice Barsam, Rene Barsam Júnior, Mark Willmann, Fabiana Barsam, Jen Siegelman eJoshua Crandall. Foto: Acervo da família.

Renê Barsan nasceu em 14 de junho de 1930 na cidade de Elasik, na Armênia, com o nome de Henna Barsamian. Fugindo do genocídio provocado pelos turcos e que dizimou mais de 70% da população, ele veio ainda criança com sua mãe, Aznif (Alice) Barsan, para Uberaba, onde, além de existir uma comunidade armênia, seu pai, Kavme Barsan, que já havia antecipado sua viagem, morava nas redondezas, em Uberlândia. Com a chegada da família, Kavme veio também para Uberaba e aqui se estabeleceu com o comércio de calçados e máquina de beneficiamento de arroz.

A família de Kavme residia à rua João Pinheiro, no bairro Boa Vista, e era constituída de cinco filhos: Renê, Henry, Ulisses, Nelson e Ailda (casada com José Bichuetti).

Ulisses, Nelson e Renê se formaram em Medicina. A formatura de Renê foi no início da década de 1950 e em 1956 graduou-se em ortopedia infantil na Europa. Ficou tentado a trabalhar na Legião Estrangeira, na África, mas foi demovido pelo pai. Dominava seis idiomas e fez inúmeros trabalhos acadêmicos publicados em vários países.

Médico por vocação, Renê instalou sua clínica na rua Olegário Maciel, no Centro, era exemplo de cidadão por devoção à cidade que o acolheu. Dedicava parte de seu tempo ao Hospital da Criança, ao lado dos médicos Humberto Ferreira e Ézio De Martino.

Dotado de espírito associativista, Renê se juntou com De Martino para criar a Sociedade de Medicina do Triângulo Mineiro (SMTM). Revezando-se na presidência e contando com o apoio de toda a classe, os dois conseguiram em quatro gestões entregar a sede própria da entidade.

Seu empenho em trabalhar por Uberaba não tinha limites. Desde 1966, a cidade tinha o sinal da TV Tupi. Todavia, não tinha emissora. Renê arregaçou as mangas para suprir essa lacuna. Como a concessão era dos Diários Associados, Renê, com captação de recursos junto à comunidade, criou uma empresa local para, em sociedade com a concessionária, implantar a emissora.

Em junho de 1972, em área doada pelo governo municipal Arnaldo Rosa Prata, foi inaugurada a TV Uberaba, com a presidência de Renê Barsan.

Renê nutria também um grande amor pelo Uberaba Sport Clube, no qual começou como assistente de jogadores com fraturas e acabou como presidente em 1978. Para dar sustentabilidade ao USC, criou o Cascata Club. Em sua gestão ficou registrada a façanha de ter sido o primeiro e único presidente do USC a vender um jogador para o exterior, Henrique Pires de Barros, que foi transferido para o Canadá.

Não era menor seu amor pelas crianças. Participou ativamente do Conselho do Bem-estar do Menor (Conbem), no qual os meninos trabalhavam fardados, por meio período, dedicando o outro intervalo para o estudo.

Sempre repetia que toda pessoa precisava exercer uma profissão, independentemente de sua renda. Sabendo das dificuldades de grande parte da população mais carente de ingressar nas poucas faculdades existentes, Renê estimulou o prefeito Hugo Rodrigues da Cunha a criar, em 1975, a FETI – Fundação de Ensino Técnico Intensivo. Ele abriu um espaço na área pública para formação de profissionais técnicos em variadas atividades. Quando assumiu a sua presidência, fez toda uma reorganização, que provocou uma grande expansão da entidade, dentro dos moldes que preconizava.

Além de atuar na Medicina, ele também agiu no setor empresarial. Tinha expressiva participação nas empresas de ônibus Líder e São Geraldo. Criou também a Itemel, uma fábrica de para-raios que concorria com a Eletrotécnica.

Foi presidente da ACIU no período de 1980/1981. Conseguiu, em sua gestão, a aprovação do curso de Ciências Contábeis para a FCETM – Faculdade de Ciências Econômicas do Triângulo Mineiro. Promoveu diversos cursos, seminários e palestras visando aquisição de novos conhecimentos técnicos para os associados. Participou da elaboração do projeto municipal de consolidação do novo Código Tributário. Informatizou o SPC para agilizar o atendimento. É também em sua gestão que a diretoria da entidade fez campanha para a instalação de um centro coletor para tancagem de álcool.

Renê, falecido em 22 de setembro de 1988, era casado com Maria Beatriz Furtado e teve 3 filhos - Marcelo, médico, casado com Fabiana; Renê Júnior, administrador, casado com Ana Lúcia; e Maria Alice, odontóloga.

Em suas declarações, o filho Marcelo disse que seu pai não admitia intolerância. “Na minha casa não tem isso, porque sofremos isso fora”, explica.

Intérprete fiel do que pensava a comunidade, Luiz Gonzaga de Oliveira, que o assessorou na TV e na ACIU, disse que Renê era, além da elegância e educação, um homem decente, um líder de caráter, de dignidade e de seriedade absoluta.

“Dr. Renê Barsam” é o nome da FETI (Fundação de Ensino Técnico Intensivo) e da Unidade Básica de Saúde instalada no bairro Santa Marta. 



Gilberto Rezende
Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro e ex-presidente e conselheiro da ACIU e do CIGRA
Fontes: ACIU, Marcelo Barsan e Luiz Gonzaga de Oliveira
Os dados eleitorais são de Tião Silva




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Cidade de Uberaba


sábado, 20 de abril de 2019

Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães

Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães. Foto: Autoria desconhecida/década de 1970.
Localizada na Rua Alaor Prata, no centro da cidade. Seu acervo foi se constituindo ao longo de seus 104 anos, com a efetiva contribuição dos cidadãos uberabenses, e ela conta com um pátio cultural. Além da recepção e sala de multimeios, no térreo, os setores da Biblioteca se organizam por cinco pavimentos, cujo acesso se faz por escadas e elevador.

Arquivo Público de Uberaba


Cidade de Uberaba

OLAVO SABINO JÚNIOR.

Conheci Olavo Sabino, filho do seu Lavico, no início da década de sessenta, quando ele ainda disk jockey da Rádio Difusora.

Olavo Sabino de Freitas Jr.

Lá aquele jovem já era irreverente, sagaz, isento, incisivo e tudo mais que um bom profissional do rádio precisava e precisa ter. 

Olavo não nunca usou meias palavras e não cortava volta com o seu pensamento. Era direto!

Foi mestre ao fazer: rádio, jornal escrito, televisão, assessoria, administrar jornal, rádio e TV, com um detalhe: não guardava consigo o que sabia e ensinava com prazer aos que queriam aprender a arte da comunicação. 

Os que com ele conviveram sabe do que estou falando.

Apesar de não parecer, Olavo tinha um coração generoso, tanto que nunca negava ajuda às pessoas, 
principalmente aos colegas de profissão. “Ajuda não precisa ser divulgada” disse-me ele certa vez. 

Uberaba perde um dos maiores comunicadores da sua história. 

Saudade...Olavo . 

João Eurípedes Sabino.
Uberaba/MG/Brasil.

Cidade de Uberaba

ADEUS OLAVO

Tem pessoas que marcam nossa vida de maneira especial. Na história de meus 50 anos no rádio Olavo Sabino de Freitas Jr. Tem um capítulo especial. No meu primeiro dia de Uberaba ele se fez presente de uma maneira curiosa. Fui para o Uberabão para transmitir o que seria o meu primeiro jogo na Rádio Sete Colinas e acabou sendo o único que transmiti na Rádio Sociedade. Na verdade só meio jogo entre Uberaba e União Tijucana. Sem seu narrador, Farah Zaidan que não pode trabalhar o Olavo resolveu ser narrador. Só deu conta de um tempo. No intervalo impediu que transmitisse pela Sete me entregando o microfone da Sociedade sem nunca ter me visto na vida e entimando: se vira garoto e depois passa na redação do Jornal da Manhã, onde era diretor, para conversarmos. Foi assim que Uberaba tomou conhecimento da minha voz em um trabalho ao lado de José Vieira do Nascimento, Wellington Cardoso Ramos e Ernani Dias Duarte. Pena que o Olavo não esperou para ler esta e outras várias passagens que vivemos juntos. Descanse em paz meu Mestre e amigo. 
Em tempo: Vi uma postagem de uma jovem jornalista afirmando que Uberaba perdeu um grande homem da televisão .Pena que ela não tenha conhecido o Olavo do radio-manivela e do jornal do chumbão. Televisão é coisa fácil.

Moura Miranda


Cidade de Uberaba

quarta-feira, 17 de abril de 2019

O silêncio de Aldo

Nas minhas andanças a trabalho pela cidade, ainda adolescente, eu tinha o hábito de parar em alguns locais para disfarçar o cansaço. Montado em minha Göricke, eu varava Uberaba de ponta a ponta. O mural do jornal Lavoura e Comércio, os mostruários das fotos Shroden e Prieto, as vitrines da Notre Dame de Paris e o pão de queijo da Padaria Brasil faziam parte do meu trajeto. Na banca de jornais do Sr. Wilmondes Bastos, da Rua Artur Machado, eu parava para ver a programação dos teatros amadores TEU e NATA.

Aldo Roberto Silva - "Salsichachau"
Ali, pela primeira vez, num cartaz, vi a foto do ator, radialista e dublador Aldo Roberto Silva e pude conhecê-lo pessoalmente. A sua espontaneidade foi tanta que me fiz seu amigo e cultuamos a nossa amizade por mais de 50 anos. Tivemos vidas diversas, mas com um ponto em comum: gostamos da cultura e lutamos pela sua preservação. Vi Aldo em cena várias vezes, sempre com atuação impecável, aliás, esse era o seu padrão. 

Nos aniversários de nossos filhos o palhaço Salsichachau se apresentou como emissário do riso, levando-o a sério enquanto todos riam. Ficará na história de tantas e tantas crianças de Uberaba. 

Três episódios entre Aldo e eu me marcaram para sempre: quando lancei o livro “O andarilho”, em 2006, ganhei dele uma tela de Ovídio Fernandes retratando a figura do andarilho São Bento. Graças a Aldo Roberto, tenho uma viola que ele ganhou em 12/04/2008 no 50° Encontro de Folias de Reis, realizado no Cine Municipal Vera Cruz. Quando lhe ocorreu um acidente, o visitei algumas vezes e, mesmo imobilizado, me permitia, ao sair, estar melhor do que cheguei. Aldo Roberto não deixava a dor interferir no humor. 

Na TV e Rádio, no programa Se Liga, Aldo fazia o gênero que o diferenciava. Haja talento para criar situações e sacadas originais! Perspicácia, tirocínio e irreverência vieram com Aldo para lhe permitir estar antes do lance. Quando se expressava, o fazia trazendo a piada pronta. Não é meu exagero afirmar que ele não perdia para um Ronald Golias, um Jô Soares e até um Chico Anysio. 

No dia 16/12/2017, Aldo Roberto, aos 78 anos e sem saber dizer não, nos deixou para sempre. Nossa cultura, em especial as artes cênicas, está de luto. O silêncio de Aldo será o de sua querida Uberaba diante do seu nome, que, na saudade, jamais será esquecido.


João Eurípedes Sabino

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas.


Cidade de Uberaba

Zebus de Sombrero

Vem chegando a Exposição e, com ela, os visitantes do exterior. Dentro de alguns dias, os “gringos” já estarão pela nossa cidade. Nas últimas décadas, o gado Zebu de Uberaba tornou-se famoso por todo o mundo, seja pela qualidade da sua genética, seja pela excelência do controle sanitário. Se a gente pouco vê boiada embarcando em avião rumo ao estrangeiro, não é porque nosso Zebu não emigre. Mas porque novas tecnologias dispensam os animais do incômodo transporte: no lugar vão botijões de sêmen e embriões congelados, levando o DNA do zebu triangulino para povoar pastos de outras terras.

De início, as coisas não eram tão fáceis. Sempre que a situação econômica apertava no Brasil, os criadores de Zebu fino tentavam recorrer à exportação de touros e matrizes para não ficar no prejuízo. E um dos locais mais sonhados era o México. Em parte porque o país asteca tem uma grande tradição em pecuária e condições ambientais semelhantes às que há no Brasil. Em parte porque sua enorme fronteira com os Estados Unidos sempre serviu de passagem para gado contrabandeado ao país vizinho – driblando a rígida vigilância sanitária dos EUA.

A primeira vez que uberabenses tentaram vender gado na América do Norte as coisas não correram nada bem. Era o ano de 1922 e os pecuaristas brasileiros estavam desesperados pela crise dos negócios no País – fruto do final da 1ª Guerra na Europa e de uma epidemia de peste bovina que obrigou o governo a proibir o tráfego de gado. Dois grupos de zebuzeiros (um de Uberaba outro do Rio de Janeiro) colocaram centenas de cabeças de zebu em navios e foram tentar vendê-los no sul dos EUA, onde os criadores estavam começando a formar os rebanhos de zebus Brahman. Foram impedidos pelas autoridades de desembarcar em Saint Louis, no Missouri, e desviaram o rumo a Vera Cruz, no México. Tiveram o azar de chegar bem no meio de uma guerra civil entre o presidente Álvaro Obregon e o caudilho Adolfo de la Huerta. Boa parte das reses finas foi confiscada pelas tropas em conflito para servir de churrasco. Só algumas poucas, talvez 20 ou 30, conseguiram entrar nos EUA pela fronteira. Os prejuízos para os uberabenses foram monumentais.

Em 1945 houve uma nova crise da pecuária no Brasil e uma nova oportunidade de exportação. No México havia interessados em comprar gado indiano para melhoramento da pecuária, entre eles o poderoso ex-presidente Lázaro Cárdenas. Mas a Secretaria de Agricultura do México impunha feroz resistência a esse negócio, alegando o risco de que o gado trouxesse ao país o vírus da febre aftosa. Contava com apoio dos EUA – na época o maior comprador de gado mexicano e interessado em vender aos vizinhos seus reprodutores Brahman. 

Em Uberaba, alguns grandes criadores de Zebu montaram a “Sociedade Exportadora Brasil-América” para cuidar dessa transação. Por fim, com o apoio de Cárdenas, os uberabenses ganharam a queda-de-braço. Mas, para cumprir as exigências sanitárias, o rebanho foi levado para a Ilha do Sacrifício, no Caribe, onde ficou estabulado em longa quarentena, durante a qual foram submetidos a rigorosos testes por veterinários e zootecnistas. Finalmente, o rebanho – já todo vendido – foi considerado sadio e liberado para ir para as fazendas.

Poucas semanas depois explodiu a bomba: em abril de 1946, apareceram no México alguns casos isolados de aftosa, dando início a uma epidemia que se espalhou rapidamente. Imediatamente, os EUA suspenderam as importações de gado – jogando a pecuária mexicana em uma longa e profunda crise. Pesadas acusações foram lançadas sobre os zebus brasileiros e os defensores da importação, inclusive Cárdenas, politizando a discussão. 

Nunca chegou a ser comprovado que os zebus uberabenses tenham sido os responsáveis pela essa epidemia. Mas o estrago estava feito. O combate à febre aftosa no México levou quase uma década para ser concluído e causou prejuízos incalculáveis à economia do país. Houve até algumas dezenas de mortes de fiscais sanitários, camponeses e soldados em revoltas de pequenos criadores que não se conformavam com o abate obrigatório dos seus rebanhos sob suspeita. O trauma demorou a ser superado e, por 50 anos, nenhum zebu brasileiro pode entrar no México. Somente em 1997 um acordo sanitário reabriu as negociações.

Esse e muitos outros causos, estão no livro “ABCZ 100 anos: história e histórias”, que será lançado na próxima Expozebu.


(André Borges Lopes)


Cidade de Uberaba

Amigo Padre Prata

A vontade de todos era que Padre Prata, tão estimado, permanecesse entre nós. Porém, apesar de ser um imortal da Academia, isso não aconteceu. E, para sempre, ele foi colher os frutos de sua abençoada e proveitosa existência. Quem teve o prazer de desfrutar do convívio com Padre Prata tem muita história para contar. E tenho a felicidade de ser um desses privilegiados. 

Tive a satisfação de manter cordial contato com Padre Prata quando estive na Direção do Jornal da Manhã, de 1972 a 1984. Ele era colunista do Correio Católico e se rendeu ao nosso apelo de continuar colaborando, semanalmente, com suas crônicas geniais no novo jornal.

Com o Jornal da Manhã já em nova sede, Edson Prata me convidou a integrar a Academia de Letras do Triângulo Mineiro e providenciou o documento de minha nomeação assinado por vinte e um acadêmicos, dentre eles, Padre Prata.

Na Academia, minha amizade com Padre Prata se intensificou. Ele e os demais fundadores compareciam a todas as reuniões mensais e isso o deixava animado. Quando estive à frente da Academia, a meu pedido ele me orientava, agraciando-me com generosa atenção: “Precisando, estamos aqui.” E reiteradamente ele me entusiasmava: “Foi uma bela reunião!”.

Ao final de cada gestão minha, requisitei ao Padre Juvenal Arduini que me apontasse um sucessor. E só ao final do meu sexto mandato, ele mencionou Padre Prata como uma possibilidade. Fiquei feliz. Mas por pouco tempo. Tivemos que aguardar, pois Padre Prata estava numa pescaria e, ao retornar, garantiu que nunca pensou nisso. Uma pena. Teria sido formidável!

Foi a convite do nosso Presidente da Academia, o amigo João Eurípedes Sabino, que ele, Padre Prata e eu apreciamos a cidade num circuito de carro, numa prosa animada. Talvez fosse uma despedida, mas Sabino e eu não havíamos imaginado isso.

Depois de minha esposa Carmen e eu sermos atropelados por uma moto, nós nos recuperávamos em casa quando recebemos a visita do amigo Padre Prata - visita que ficou em nossa história: a conversa na sala de visita, o cafezinho e minha chamada para vermos o quintal. Ali, Padre Prata se transformou, revivendo o tempo de menino criado em fazenda, apaixonado pelo que encontrava: a jabuticabeira florida como noiva, pés de canela, camélia, hibisco, manga, urucum, pitanga, pau-brasil, abacaxis ornamentais, orquídeas, e os vasos – renda-portuguesa, alecrim, arruda, jasmim, lírio, azaleia, rosas, miosótis, violetas, picão, erva-cidreira, capim-cidreira, manjericão, hortelã... Ele sabia algo singular sobre cada planta. Era mesmo outra pessoa... Nós o ouvimos extasiados! Ele finalizou instruindo a este leigo cultivador: “Corte o pé de mamão; não dará mais frutos.” Depois desse dia, invariavelmente quando nos víamos, ele perguntava pelas plantinhas e prometia voltar para vê-las.

Sou grato também ao Padre Prata por ele ter feito as últimas orações junto à minha esposa, quando ela faleceu. E a morte de ambos me faz crer que Deus anuncia aos bons, com certa antecedência, quando deixarão esta vida. Ambos sabiam sua hora e estavam preparados. Hoje estão junto de Deus. 

São essas apenas algumas das tantas recordações que tenho do colega Padre Prata, amigo ilustre e imortal na memória de todos nós.

Mário Salvador
Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.


Cidade de Uberaba

Vista parcial do centro de Uberaba

Vista parcial do centro de Uberaba 


Década de 1930

Foto: Autoria desconhecida

Foto: Arquivo Público de Uberaba


Cidade de Uberaba

...O novo me fascina.

Por fatalidade nasci precocemente envelhecido.

Tremendamente velho. Incapaz de fecundar.

Sinto-me enjaulado no sudário escuro de palavras gastas
e envelhecidas.

Esclerosadas. Algemadas à linha etimológica da origem.

Quero falar a língua virgem das palavras inexistentes,
mas as vestes macias e empoeiradas dos vocábulos desgastados efeminam minha força, castram minha masculinidade.

Sinto as dores do parto da noite que tenta dar à luz a
aurora e pare apenas uma candeia bruxuleante.

A fosforescência da palavra gasta dissolve em estilhaços
a força luminosa do relâmpago. Queria falar a língua do raio
e da borrasca e apenas balbucio a linguagem medrosa da brisa.

" Novo-velho, velho-novo", aspirando ao futuro mas algemado ao passado, garanhão castrado, viril efeminado, vivo a contradição e o absurdo.

Quero ser a verdade e dissolvo-me na mentira.

A austeridade é meu programa, mas o luxo me fascina.

Fiz da liberdade a minha deusa, mas a escravidão cômoda me alicia.

Quero assumir mas a responsabilidade me amedronta.

Quero viver perigosamente mas o risco me apavora.

Quero-me livre mas sinto-me algemado.

Sado-masoquista, quero perfurar e ser perfurado.
Sou eu, e não sou eu.

Sinto-me singular e múltiplo, uno e dividido, inteiro e fraturado.

Não me auto-identifico. Já sou, já não sou. Apenas existo.

Eu sou a ideia-contradição. A lógica. A irrealidade do real,
sou apenas o dever de pensar.

Sou o paradoxo - Sou o HOMEM.


( Poeminha do saudoso prof. Paulo Rodrigues, da antiga Fista, em plena crise existencialista, em 1979)


Cidade de Uberaba

Nasci

Sempre desejei nascer.

Antes de ser, já queria ser.

Apesar dos anticoncepcionais da auto-censura, nasci.

Sou um pensamento-neném, precocemente envelhecido.

Sinto-me umedecido pelo líquido amniótico que me envolvia
no ventre cefálico que me gerou.

Nasci mutilado, revoltado. Rebelde, contraditório.

Rebelde, cortei a linha que me amarrava ao útero materno,
na escuridão indecisa e morna de uma eterna e segura dependência, e rumei para a insegurança, para o mistério, para a dúvida.

Nasci. Mas tive vergonha de ser um pensamento nu.

Procurei vestir-me com a roupagem fosforescente da palavra.

Passei do mundo incolor da abstração ao mundo acariciante do som e da cor. Por fatalidade fui um mal nascido.

Nasci plebeu, sem genealogia histórica e sem linha.

Nasci rebelde.

Detesto linhas que prendem.

Odeio qualquer palavra que destile opressão e limite.

Há linhas que prendem, oprimem e escravizam.

Odeio a linha que prende o peixe livre das grandes águas.

A linha que amarra a pipa livre no vasto céu.

A linha fria de aço que segura o trem
e o submete a um destino marcado e sem opções.
A linha que amarra o navio ao cais
e lhe nega o perigo da viagem.

A linha gráfica que encurrala o espaço indefinido na dimensão
da figura. A linha mentirosamente azul
que fecha o horizonte, num círculo. A linha luminosamente reta
que prende a estrela a meus olhos e a torna meu objeto.

Odeio linhas moralísticas que cindem dogmaticamente o certo
e o errado.

As linhas friamente lógicas
que dividem a verdade e o erro. As linhas freneticamente
subjetivas que separam o belo e o feio.

Tenho nojo das linhas que escravizam o homem livre
aos padrões ideológicos ou sociais.

Detesto linhas. Odeio limites.

Adoro o infinito, o intangível, o inacessível, o inefável.

Nasci rebelde e iconoclasta. Meu prazer é quebrar ídolos.

Gosto de estuprar virgens tradicionais. Violentar certezas absolutas. Amo as defenestrações. Adoro engravidar formas novas.

O novo me fascina.

Por fatalidade nasci precocemente envelhecido.

Tremendamente velho. Incapaz de fecundar.

Sinto-me enjaulado no sudário escuro de palavras gastas e envelhecidas.

Esclerosadas. Algemadas à linha etimológica da origem.

Quero falar a língua virgem das palavras inexistentes,
mas as vestes macias e empoeiradas dos vocábulos desgastados efeminam minha força, castram minha masculinidade.

Sinto as dores do parto da noite que tenta dar à luz a aurora
e pare apenas uma candeia bruxuleante.

A fosforescência da palavra gasta dissolve em estilhaços a força luminosa do relâmpago. Queria falar a língua do raio e da borrasca e apenas balbucio a linguagem medrosa da brisa.

"Novo-velho, velho-novo", aspirando ao futuro mas algemado ao passado, garanhão castrado, viril efeminado, vivo a contradição e o absurdo.

Quero ser a verdade e dissolvo-me na mentira.

A austeridade é meu programa, mas o luxo me fascina.

Fiz da liberdade a minha deusa, mas a escravidão cômoda me alicia.

Quero assumir mas a responsabilidade me amedronta.

Quero viver perigosamente mas o risco me apavora.
Quero-me livre mas sinto-me algemado.

Sado-masoquista, quero perfurar e ser perfurado.

Sou eu, e não sou eu.

Sinto-me singular e múltiplo, uno e dividido, inteiro e fraturado.

Não me auto-identifico. Já sou, já não sou. Apenas existo.

Eu sou a ideia-contradição. A lógica. A irrealidade do real,
sou apenas o dever de pensar.

Sou o paradoxo - Sou o HOMEM.


( Poeminha do saudoso prof. Paulo Rodrigues, da antiga Fista, em plena crise existencialista, em 1979)


Cidade de Uberaba

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Luiz Gonzaga Oliveira, sinônimo de conhecimento e amor por Uberaba

Oi turma! 

Sabe quero agora render as minhas homenagens a um senhor, no alto dos seus 80 anos, de sabedoria e história de amor a Uberaba... Estou falando do jornalista Luiz Gonzaga Oliveira. Há pouco li um texto seu, que na minha opinião, é um dos que mais conhecem a história dessa cidade, declarando todo seu amor pela nossa terrinha.

Luiz Gonzaga de Oliveira

Belo texto, por sinal... Como sempre... E Gonzaga, como outros da terrinha que não se venderam para elite da cidade, nunca virou “nome de praça e nem ficou recebendo homenagens em praças públicas”, como adoram fazer os incompetentes políticos de Uberaba com quem tem “indicação zebuína”.
Gonzaga, pelo seu conhecimento que tem da história dessa cidade, tinha que ser, no mínimo, conselheiro de quem fosse o prefeito da cidade. E aqui, pelo contrário, pelo atual foi até perseguido e “tirado do ar”...

Mas Uberaba é assim mesmo, reconhece quem não merece, desdenha de quem merece. E toda vez que falo de Gonzaga, lembro-me de um de seus melhores amigos, com quem tive a honra de trabalhar, o saudoso Valdemar Hial.

E não esqueço o que este mesmo doutor, junto com advogado Walter Bruce, teve que fazer. em passado recente. para que Gonzaga ser “reconhecido” pelo ex-prefeito Anderson Adauto...
Meus aplausos sempre Gonzaga, você sim me dá orgulho de dizer que sou uberabense!


Jornalista Racib Idaló


Cidade de Uberaba

MEUS CABELOS COR DE PRATA

Abro a “ caixa dos Correios” e deparo com uma mensagem a mim dirigida. Aliás, depois que a nuvem passa, não trocaria meus amigos de fé, irmãos camaradas, minha vida maravilhosa, minha amada família, minha terrinha sagrada , por nada, nada desse mundo, imundo ... Muito menos por uma vasta cabeleira loira, uma barriga de “ tanquinho”, saliente e lisa...Enquanto envelheço, torno-me mais amável comigo mesmo, menos crítico de mim mesmo...

Acabei tornando-me meu melhor amigo. Não avexo-me de comer biscoito de polvilho na padaria do Xisto Arduini, de bebericar minha saborosa cachacinha no bar do Filó, a cervejinha gelada do “bar cotovelo” do Luizinho, na agradável companhia do Zé Roberto. Não dispenso de ir prá chácara , com o Juca Tomé e o Sabino, degustar a costelinha de porco, caprichada, feita pelo Arnaldo. 

Acostumei-me a arrumar a minha cama, comprar “boboseiras” quando vou ao centro da cidade. Sei que apesar das broncas da Wania, ao meu lado, vigiando o tempo todo, quase há 60 anos, continuo roncando em sono profundo, meio “ lambão”, confesso. Extravagante ? sei lá... Assistí, com lágrimas nos olhos, a “partida” cedo demais, de amigos fraternos, antes que conhecessem o que é uma boa velhice...

Ninguém à censurar,depois de velho, ficar “ grudado” no computador, horas e horas, querendo saber coisas que não sabia e só ouvia dizer...Lembrar dos idos tempos que dancei ao som das lembradas orquestras da terrinha e muitas outras famosas de todo o Brasil e, digo-lhes, sem ter chorado nenhum amor perdido...Se nas férias, ia à praia , calção comprido, esticado sobre um corpo quase decadente, “ furando ondas de araque”, sob olhares complacentes de jovens de corpos sarados, “ vocês vão também envelhecer, seus putos! “... conversava eu com meus botões... 

A memória ainda é boa; a vista? Nem tanto. Sou péssimo fisionomista, confundo ”Zé” com “Mané”. Recordo coisas importantes e as” desinportantes” também. O coração enternece quando lembro-me dos “ meus” que já se foram. Coração que nunca sofreu, não conhece a alegria de ser imperfeito. Sou abençoado por isso. Vivo o suficiente por meus cabelos brancos e o riso da juventude que, nas rugas, navegam nas avenidas do meu rosto...

Quanto mais se envelhece, mais fácil é ser autêntico. Nem para peidar, peço licença. Preocupo-me pouco com que os outros (adversários, sempre inimigos, nunca) pensam a meu respeito . Enquanto viver, não vou perder tempo, lamentar o que poderia ter mais feito . Aos jovens, que tem a paciência e a delicadeza de lerem os meus humildes textos, histórias e pensamentos, deixo um recado que aprendi com o excepcional Nelson Rodrigues:

Quando um grupo de universitários cariocas, ao visitá-lo para uma longa entrevista sobre a sua atividade na crônica brasileira, abordando os mais variados temas,o inquiriram que mensagem deixava aos estudantes brasileiros, Nelson, era míope, fumante inveterado, ajeitou-se na poltrona, olhos esbugalhados, cigarro no canto da boca, óculos com lentes parecendo vidro, na ponta do nariz, respirou fundo e soltando uma enorme baforada, disse apenas :- “ Jovens ! Sabeis envelhecer ! “ Marquez do Cassú “. 


Luiz Gonzaga de Oliveira


Cidade de Uberaba

TELEVISÃO


Em meados da década de 60, a Escola de Engenharia e Eletrônica de Itajubá (MG) , desenvolveu um projeto e construiu equipamentos para instalar emissoras de televisão , sem incluir, inicialmente, o transmissor. Uberaba, foi escolhida para o grande teste. Durante 30 dias, os poucos televisores da cidade puderam captar imagens locais, do Jockey, UTC e Sirio Libanesa e “ shows” com artistas locais. Raul Jardim, Netinho, Xuxu, o lançamento de uma menina que, mais tarde, tornou-se famosa, Vanusa Flores e o “palhaço” Xuxu, além de desfiles das moças bonitas da terrinha, ao som do piano de Rosseti, fizeram a festa na cidade.

A família Jardim, dona do “Lavoura” e da PRE-5, escolhida para adquirir o equipamento e “montar” a TV. Raul, topou! Os irmãos, demais sócios, “afinaram”. Edson Garcia Nunes, que tinha sido meu colega na Faculdade de Direito, empresário de sucesso em Uberlândia, estava, por acaso, na cidade. Viu e gostou da “ novidade”. Levou a idéia e os equipamentos para a sua cidade. Surgiu então a TV-Triângulo, tendo como sócio, um uberabense, Luiz Humberto Dorça. Um dia, talvez quem sabe, possa contar um pouco dessa história....

Anos depois, final da mesma década (60), um grupo de uberabenses fundou a rádio “7 Colinas”, a terceira da terrinha. O projeto era audacioso : além da rádio, desejava instalar uma TV local. A esse período, a Embratel inaugurava o seu arrojado prédio na Fidélis Reis, com Quintiliano Jardim , à sediar a regional da estatal para a região setentrional do Brasil. À comandá-la,depois de um breve período em que esteve à frente, um engenheiro uberabense da família Guaritá , para sucedê-lo um carioca, engenheiro Arolde de Oliveira, especialista em telecomunicações.

Era o que o “ grupo 7 Colinas” procurava. Realizados os estudos técnicos exigidos pelo Ministério das Comunicações, foi dada a entrada do “ pedido de abertura para licitação de uma transmissora de televisão na cidade Uberaba (MG)”. Registre-se: o trabalho de Arolde de Oiveira ( hoje deputado federal (PSD-RJ) e dono no Rio de Janeiro, de uma emissora de rádio, gospel, foi irretocável ! Nada faltou no estudo da viabilidade técnica para que a licitação fosse aberta, pois que, inicialmente, não havia mais interessados no projeto.

Ledo (Ivo) engano. Passados alguns meses, eis a decepção ! Aproveitando todo o trabalho técnico proposto pelo grupo uberabense, com “olheiros” em todos os Ministérios em Brasilia, a turma das “Associadas”, de B,H., é declarada vencedora da concorrência ... Com a solerte “inteligência” mineira, o grupo belorizontino, rapidamente, registra a firma “ Rádio e Televisão Uberaba Ltda”, tendo como componentes, os uberabenses Ranulfo Borges do Nascimento, João Laterza, João Henrique Sampaio Vieira da Silva, Álvaro Barra Pontes, todos falecidos e um remanescente vivo, o professor José Thomaz da Silva Sobrinho...

Era a turma do “PSD véio de guerra”, aliada às “Associadas” de BH, tendo à frente, Camilo Teixeira da Costa, Hélios, Adami e Amoni e supervisão de José de Oliveira Vaz...Arnaldo Rosa Prata, entusiasmado com a construção do “Uberabão”, canalização do córrego das Lages e o novo terminal rodoviário, com o beneplácito dos vereadores, desapropria um bom pedaço da fazenda do “Rezendão”, no bairro EE,UU, e doa aos “Associados” para a construção da sede da TV-Uberaba. Ação, diga-se, muito rápida. Ações da TV-Uberaba ,foram colocadas à venda na cidade. E como o uberabense aderiu!... Um senão: até hoje, as “cautelas” das ações não foram entregues aos seus legítimos donos...A turma de BH, escolheu o presidente da nova empresa : o saudoso e memorável médico e homem de negócios, dr.Renê Barsam. 

Quando percebeu “ outras intenções” dos comandantes, entregou o cargo. Dia 9 de junho passado, a TV-Uberaba, “completaria” 46 anos... Hoje, nem “arquivo” tem mais. Infelizmente! 
A memória de Uberaba se esvai, sem que ninguém tome um “ tiquinho” de providência ...
Se houver alguma dúvida do que contei, estou à disposição . “ Marquez do Cassú “.


Luiz Gonzaga de Oliveira


Cidade Uberaba

Os atletas do Judô Oriente de Uberaba exibem medalhas conquistadas após competição mineira em 1980

Atletas do Judô Oriente de Uberaba - Foto: Autoria desconhecida.
Foto: Tranquilo Baliana, Dr. Mauro Guerra, Nilo Martins, Otavio Lamartine (Sansão), Douglas, Sérgio Leite, Irineu Leite, Valdir Machado, José Dos Reis, Cláudio Custódio, Cláudio Berto, Robson Pinti, (,,,), Rene, Anísio Modesto, Públio, (,,,,), Luiz Roberto, Francisco Sales, Cesar, Vitor Caetano, Rogério Guerra, Isídio, Mauro Guerra, Ronald Pinheiro , José Mauro.

(Foto do acervo pessoal de Tranquilo Baliana)

Cidade de Uberaba

domingo, 7 de abril de 2019

Turma de Jornalismo, Julho 1979, pela FISTA - Faculdades Integradas Santo Tomás de Aquino

Turma de Jornalismo, Julho 1979, pela FISTA - Faculdades Integradas Santo Tomás de Aquino - Uberaba-MG
Carmen Gimenez, Antonio Carlos Marques, Maurílio Modesto, Carolina Cançado Ratto Mendonça, Dedê Melo Prais, Vera Lúcia Rezende Cunha, Ana Teresa Rodrigues Nascimento, Mario Salvador, Virgínia Borges Palmerston e Paulo Lemos de Oliveira.  (Foto do acervo da jornalista Ana Luíza Brasil.)

Relembrando a comemoração dos nossos 10 anos de formados, em julho de 1989, acompanhados de alguns dos nossos queridos professores e homenageados. Estamos na mira dos nossos 40 Anos em Julho de 2019...

(Jornalista Ana Luíza Brasil)


Cidade de Uberaba

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Padre Prata morre aos 96 anos em Uberaba

Dedicamos ao Padre Prata,todo nosso carinho e gratidão.
 Conheça um pouco da história do saudoso Thomas de Aquino Prata
 no Programa História Viva, projeto da Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI)(Uniube) (Universidade de Uberaba) Vídeo créditos: Uniube. 

Cartão créditos:  Uniube - Universidade de Uberaba.
Padre Prata

Com profundo pesar e consternação que comunicamos a triste notícia do falecimento do Padre Prata

Seu passamento ocorreu hoje, 04 de abril de 2019 no período da manhã.

De acordo com a Arquidiocese de Uberaba, velório será na Catedral Metropolitana. Haverá missa às 9h de sexta (5), também na Catedral, presidida por Dom Paulo.

Uberaba em Fotos presta suas condolências à família e amigos.

Thomaz de Aquino Prata - Arquidiocese de Uberaba.




“Em nome da Arquidiocese de Uberaba venho manifestar os sentimentos pelo falecimento do Pe. Prata. Já com 96 anos de idade, lúcido, inclusive escrevendo uma coluna semanal no Jornal, revelando seu perfeito vigor. 

Pe. Prata vai para a casa do Pai consciente de ter cumprido sua missão. Louvamos a Deus pela sua vida e agradecemos pelos trabalhos prestados na Igreja, especialmente na Arquidiocese de Uberaba. 


Pe. Prata, vai com Deus e interceda por nós, para que enfrentemos com coragem a pastoral dos novos tempos. Obrigado por tudo!”


_*Dom Paulo Mendes Peixoto*_


_Arcebispo Metropolitano de Uberaba_


*Nota à imprensa*:


É com grande pesar, que a Arquidiocese de Uberaba comunica o falecimento do Pe. Thomaz de Aquino Prata, mais conhecido como Padre Prata.

Pe. Prata faleceu na tarde desta quinta-feira, 4 de abril, às 13h30, no Hospital São Marcos, para onde foi encaminhado depois de ter uma parada cardíaca durante consulta médica. Seu velório será na Catedral Metropolitana de Uberaba, com início às 18h. Haverá uma primeira missa de corpo presente neste dia 4 de abril, às 19h, na Catedral. 

Amanhã às 9h será realizada missa de corpo presente, presidida pelo arcebispo metropolitano de Uberaba, Dom Paulo Mendes Peixoto, também na Catedral Metropolitana. 

O sepultamento ocorrerá às 11h, do dia 5 de abril, no cemitério São João Batista. Contamos com as orações de todos! 


_*Pe. Thomaz de Aquino Prata*_

Nascimento: 22/12/1922

Ordenação: 08/12/1946

Falecimento: 04/04/2019


Cidade de Uberaba

sexta-feira, 29 de março de 2019

O Relógio Japonês

Mais uma vez escrevo sobre ele nesses 39 anos. A primeira o fiz no artigo “O povo pede uma praça”, em jornal editado pelo Clube de Engenheiros no ano de 1978. Ganhou o apelido carinhoso de Relógio Japonês por ter sido doado a Uberaba pelas colônias japonesas daqui e de Igarapava/SP, quando equivocadamente festejamos 100 anos de fundação no dia 3 de maio de 1956. Está localizado na Praça Dr. Jorge Frange, próximo ao edifício São João.

Memória: demoliu-se a velha rodoviária e a reinauguração da praça seria no dia 28/01/1983. Os táxis ficariam colocados de forma oblíqua diante do relógio. Estreitariam muito o passeio, além de causar transtornos entre os táxis e os veículos da via descendente. Jesus Prata, o vereador Arly Coelho e eu reivindicamos ao prefeito Silvério Cartafina Filho e ele, com seu estilo, ordenou: “Coloque-se o ponto de táxis na parte baixa da praça”. E colocaram.

O único sino daquele obelisco aguça os meus tímpanos ao bater horas inteiras e meias com precisão britânica. Na madrugada, num raio médio de 300 metros, é ouvido com nitidez. No mundo dos digitais não há quem, com uma ponta de insônia, ouça as suas badaladas e se feche para a nostalgia. “Detén el tiempo en tus manos. Haz de esta noche perpetua” (compôs Roberto Cantoral).

Dentre os cartões de visita que habitam o coração do uberabense, o Relógio Japonês, com certeza, é um deles, mesmo estando tão relegado.

Sempre o tivemos como referência, embora seus ponteiros tenham ficado inertes por incontáveis períodos. Sebastião José Polveiro, aos domingos, galga mais de 12 metros de altura, renova a corda, faz manutenções no bruto e assegura que suas peças estão nos trinques. Luiz Ricardo Rodrigues, o Branco da banca de jornais, custeia as despesas e cuida do arvoredo ali existente.

Volto ao passado e me lembro que Odettes Tiveron leu as horas nos algarismos romanos daquele “mastodonte” durante décadas. No dia 21/04/15 cessaram essa feliz convivência quando ela partiu para a eternidade.

O tempo não passou devagar e nem fluiu rapidamente; eu, é que não o vi passar. O Relógio Japonês sim, sempre foi a fiel testemunha.



João Eurípedes Sabino

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. 


Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas. 



Cidade de Uberaba

Parabéns, tio Mário!

“O eterno Tio Mário, comunicador infantil que fez sucesso nas décadas de 70 e 80 na cidade, quando comandava um programa de televisão na extinta TV Uberaba, será homenageado pelo Shopping Uberaba nesta sexta-feira, 26, às 17h, no encerramento das gincanas infantis que fazem parte da programação de férias”. Eis aí parte do convite que recebemos para estarmos no instante da homenagem que o acadêmico Mário Salvador receberia. Lá fomos para viver emoção única e imperdível. 

Este espaço é pequeno para descrever a transcendência do momento decorado por crianças que, apesar de não terem vivido o tempo de Tio Mário, lhe acercaram com afeto demonstrando estar diante de um ícone imortal.

Difícil foi segurar as lágrimas no momento em que Tio Mário, em meio à criançada, reeditou seu programa Hora do Recreio, com um número de gincana. Crianças tomaram suco na colher como vimos há décadas. E ele, Tio Mário, visivelmente emocionado, conduziu os trabalhos como se estivesse no estúdio da TV Uberaba.



Tio Mário - Foto: Francis Prado

Presença da família e amigos do homenageado, placa de prata, plantio de palmeira, declamação de poesia, manifestação afetiva das crianças, palavras dos coordenadores, som, fotos, filmagens e expressões de carinho, etc., formataram aquele cenário que vai para a história, essa jamais será escrita sem o nome de Mário Salvador. A Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ali representada por vários confrades, absorveu parte da justa homenagem recebida pelo seu ex-presidente.

Ao declamar o poema “Ser criança”, Tio Mário polarizou as atenções com versos sensíveis e acessíveis, principalmente pelas crianças. Perfeitamente encaixável no CD que Fausto Reis gravará com músicas compostas pelos acadêmicos da ALTM. Arahilda Alves, com sua maestria cantou o jingle do programa, então cantado pelos Sobrinhos de Tio Mário. 

A relatividade do tempo ficou ali estampada: todos voltamos a ser crianças, junto às crianças, tendo a sensação de que ele não passa, nós sim, é que passamos. E o nome fica. Parabéns, Tio Mário Salvador!


João Eurípedes Sabino

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. 

Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas.


Cidade de Uberaba

Cem anos de José Bilharinho

Hoje, cedo o meu espaço ao acadêmico Guido Bilharinho para que nos brinde com a síntese curricular do irrepreensível aniversariante que, ontem, completaria cem anos de meritória existência. Ei-la:

“José Soares Bilharinho nasceu em Uberaba, no dia 13 de dezembro de 1918. Formou-se em Medicina, em Belo Horizonte, em 1943, e clinicou em Uberaba, a partir de 1945, na Casa de Saúde e Maternidade São Lucas, na avenida Presidente Vargas, posteriormente transferida a outros médicos. Militando na política, nas fileiras do antigo Partido Social Democrático (PSD), foi eleito vereador, compondo a legislatura de 1951/1954. Participou e atuou no Rotary Club de Uberaba, do qual foi presidente no biênio 1960/1961 e governador do antigo Distrito 453. Exerceu durante alguns anos o magistério médico, lecionando Fisiologia, na Escola de Enfermagem Frei Eugênio e na Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro, e Farmacologia, na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, da qual foi um dos fundadores. Integrou, também, a Comissão Fundadora da Unimed/Uberaba, sendo seu primeiro presidente.

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, nela exerceu os cargos de tesoureiro, por quatro anos; secretário, por seis anos, e presidente, em três mandatos consecutivos, de fevereiro/1981 a fevereiro/1987.

Participou, ainda, do Conselho Administrativo e Fiscal da entidade mantenedora do Colégio Dr. José Ferreira, do Conselho Superior do Jockey Clube de Uberaba e do Conselho Deliberativo da Fundação Cultural de Uberaba.

Atinentes a quatro dessas áreas de atuação, escreveu os livros: Planejamento Geral dos Serviços Administrativos Municipais (1954), O Rotary em Ação (1967), Elogio de Clementino Fraga (1971), ampliação de seu discurso de posse na Academia de Letras, e a monumental História da Medicina em Uberaba em nove volumes, cinco dos quais editados a partir de 1980.

Além disso, editou e dirigiu no decorrer de 1952, juntamente com o então diretor-geral da Prefeitura de Uberaba, Iguatimosi Cataldi de Sousa, o periódico mensal Legislação, Organização, Orientação e Planejamento Municipal, distribuído a todas as câmaras municipais do país e o único no gênero editado nas Américas”.

Registro aqui ao aniversariante e a seus familiares as homenagens da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, que o teve como Membro Efetivo e presidente. Na imortalidade, José Bilharinho é para nós, seus confrades, fonte de inspiração e perene referência.


João Eurípedes Sabino

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas.



Cidade de Uberaba

Histórico Patrimônio meu

Inicio o meu texto de hoje em tom melancólico apresentando o poema que um dia lavrei para datas especiais como a de ontem.

Eu sou a Memória / Hoje tão calada e esquecida / Que acaba sozinha em vida / Morre aos poucos com a história. Devagar vou sumindo / Dia a dia sendo apagada / Meu passado vai ao nada / E o presente pra lá está indo. Velhas casas e casarões demolidos / Relíquias escapam da mão / Cultura colide com a ambição / Valores de ontem agonizam feridos. Histórico Patrimônio meu / Não o protejo como deveria / Espero poder resgatá-lo um dia / E vê-lo no lugar que é todo seu. Quem não se liga ao passado / Expõe-se ao risco na certeza / De no futuro ser lembrado com frieza / Por ter sido um ser desnaturado.

Tristeza como a que ontem senti, só comparei quando uma voz ao telefone me anunciou que minha saudosa mãe havia deixado esse mundo. “Tenho uma notícia triste para lhe dar: a casa em que Zote nasceu está sendo demolida. Faça alguma coisa!”, disse-me uma voz amiga no meio da tarde. Fiquei perplexo depois de ter escrito um livro sobre a vida de José Formiga do Nascimento - o lendário Zote - e lançado a obra em 31/01/2015 no Cine Municipal Vera Cruz. Quase 1.000 pessoas estavam presentes e numa só tacada 270 livros foram vendidos, tendo em vista o interesse que o personagem despertou e continua despertando. Outras edições virão.

Fui ao local da demolição. Atônito, não tive outra alternativa senão dizer ao mundo em “NOTA HISTÓRICA LAMENTÁVEL: neste momento está sendo perpetrado um crime contra o patrimônio histórico de Uberaba: a casa onde nasceu José Formiga do Nascimento - o Zote - está sendo demolida. Não bastaram as gestões que fizemos junto ao CONPHAU e aos proprietários da casa. Ela está indo ao chão e junto vai uma parte da história. Ali nasceu o uberabense que Uberaba nunca esquecerá. Local da barbárie: rua José de Alencar, 376, antigo 68. Aos que primaram pela omissão os nossos ‘parabéns’”.

Não divulgarei aqui as manifestações da legião de amigos, residentes no Brasil e mundo afora, cujas raízes estão em Uberaba. São tantas que as guardarei como prova de que Zote habita a memória e o imaginário dos seus conterrâneos ou não. Naquela casa então de Bento Eduardo da Silva Polveiro e depois Osório Adriano da Silva, nasceu no dia 23/02/1923, há 95 anos, o menino que por ser meio parvo e genial, recebeu o apelido de Zote. Era a última casa daquele estilo no bairro São Benedito e uma das últimas de Uberaba (!!!) Para onde vamos senhoras autoridades responsáveis? A palavra não é mais minha.

Por que esse meu apego com algo material? É que a história não me perdoará, se de braços cruzados eu permanecer: “Quem não preserva o passado não terá futuro”. Eis a questão.


João Eurípedes Sabino

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas.


Cidade de Uberaba

Por que Quintiliano?

No dia 08/11/2016, em Belo Horizonte, vivi a honra insigne de tomar posse na Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, junto aos meus pares uberabenses: Ilcea Sônia Maria de Andrade Borba Marquez, José Humberto Silva Henriques e Luiz Gonzaga de Oliveira.

Dia memorável vivenciei na Casa de Cultura, presidida pelo também uberabense César Vanucci. Ali nos perfilamos junto a eminentes intelectuais mineiros e soubemos que por aquela egrégia confraria também passou Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Cada ingressando teve a prerrogativa de indicar o patrono de sua própria cadeira, esse nascido e com exercício literário neste município. Prestei homenagem ao acadêmico Quintiliano Jardim (09/02/1881-09/10/1966), Príncipe dos Jornalistas do Brasil Central. Enumerei suas atividades no mundo da imprensa, lutas essas vividas num tempo em que a condução era o lombo de burros e ele mesmo levava o jornal “Lavoura e Commércio” (iniciado em 1899) aos rincões de Goiás, na antiga capital goiana. Passei pelos anos trinta, quando Quintiliano fundou a pioneira PRE-5 – ZYV-37 – Rádio Sociedade do Triângulo Mineiro e a dirigiu por décadas. Seus filhos: George, Raul e Murilo Jardim prosseguiram com a obra de Quintiliano até 2003, quando o “Lavoura”, depois de 104 anos, encerrou suas atividades.

Quintiliano Jardim 

Do livro “Cinzas de sonhos”, escrito por Quintiliano com o pseudônimo de Flávio, extraí e declamei em plenário a trova que todo uberabense ama: “Uberaba de ontem, Uberaba de hoje! Das duas não sei qual quero mais; Se a Uberaba dos meus tempos de menino. Se a Uberaba dos meus dias outonais!”.

Dentre os dados que compilei sobre o meu combativo patrono, tenho as suas certidões de: Nascimento, Casamento e Óbito. Descobri que Quintiliano Jardim não nasceu em Ouro Preto ou Goiás Velha, como me afiançaram. Era uberabense nato e, não fosse a argúcia do colega jornalista João Camelo, teria perdido a vida num atentado. Como se constata, a missão de informar sempre custou caro.

Lembro-me de Quintiliano. Um homenzarrão elegante, que não desprezava o terno e sempre exalava o aroma do perfume Lancaster. Numa foto ilustrativa dos 60 anos do jornal (06/07/1959), cedida a mim pela amiga Dra. Ceres Mary Cunha, está ele com a postura do impecável jornalista, ciente de que os seus veículos informativos (rádio e jornal) cumpriam a missão importantíssima de ilustrar consciências no Brasil emergente, àquela época abarrotado de analfabetos. Sua luta foi árdua. Por que escolhi Quintiliano Jardim? Devemos-lhe gratidão.


João Eurípedes Sabino

Cidade de Uberaba

Noite histórica

E a casa esteve com sua lotação esgotada na noite da última terça-feira, 26/03/2019. O lugar é a Academia de Letras do Triângulo Mineiro e as presenças foram de universitários representantes dos Diretórios Acadêmicos do IFTM, Fazu, Uniube, UFTM e seus renomados Mestres, além do Programa U+20 e da Diretoria de Turismo da Prefeitura Municipal de Uberaba. Soma-se o apoio do Museu do Zebu da ABCZ, representado por Thiago Ricioppo e Maria Goretti dos Santos, além da empresa Bela Vista Cultural, capitaneada pelo megaeditor Fábio Ávila. Foi uma noite histórica! 

Projetado para ser um evento simples por Carlos Mardegan, como deveras foi, algo beirou as raias do infinito, quando cada um dos presentes, todos amantes das letras, se identificaram com o pensamento do ambiente que era o de valorizar e oportunizar a afloração de suas escritas.

A Casa criada por José Mendonça, Edson Prata e Juvenal Arduini, lá nos idos de 1962, abre espaço para que a juventude se aproxime e almeje ocupar ali uma cadeira, quem sabe a minha (32), no momento oportuno. Em cada olhar, em cada semblante e postura vimos frente a frente jovens, cujas vidas e condutas diferem muito do que comumente assistimos. Usaram o coração e a sensibilidade quando Fábio Ávila chamou alguns deles à frente para declamarem poemas escritos por alunos do ensino médio. Vi lágrimas correrem naquelas faces.

O projeto de entrelaçar os Acadêmicos com estudantes de todos os níveis vem de longa data, porém, para levá-lo à materialização, reconheçamos, havia um caminho longo a percorrer. Com o advento da sede própria doada pela Universidade de Uberaba, esse caminho encurtou sobremaneira. E agora vamos percorrê-lo sempre, realizando eventos de natureza cultural.

A abordagem sobre o Arquivo Público de Uberaba, feita pela Superintendente Marta Zednik de Casanova, e os relatos de Paulo Fernando Silveira, em referência às suas obras, foram pontos de destaque com os quais a nossa Casa de Letras brindou os presentes. Ambos, na condição de Acadêmicos, enfocaram seus temas em nome da Academia.

Nosso Sodalício, como entidade cultural sem fins lucrativos, não tem muito a oferecer no campo material, entretanto, no imaterial seus alcances vão muito além do que as vistas alcançam. O que farão aqueles universitários com o que puderam interagir na data histórica de 26/03/2019 no seio da Academia de Letras do Triângulo Mineiro? Ali estavam vários “Machado de Assis”. Disso não tenho dúvidas. Basta que tenham “uma alavanca e um ponto de apoio”, segundo o sábio Arquimedes. A nossa ALTM sempre será essa alavanca e esse ponto de apoio.


João Eurípedes Sabino -Uberaba/MG/Brasil.

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas.


Cidade de Uberaba

terça-feira, 19 de março de 2019

No dia 14 de março de 2019, foi celebrado o Dia Nacional da Poesia e, também, data de nascimento de Carolina Maria de Jesus

No dia 14 de março de 2019, foi celebrado o Dia Nacional da Poesia e, também, data de nascimento de Carolina Maria de Jesus, uma escritora brasileira, conhecida por seu livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada que foi publicado em 1960. Carolina de Jesus foi uma das primeiras escritoras negras do Brasil e é considerada uma das mais importantes escritoras do país.
A escritora nasceu no dia 14 de março de 1914, em Sacramento (MG) e morreu em 13 de fevereiro de 1977, aos 62 anos.

"A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago." (Carolina Maria de Jesus, em "Quarto de despejo", 1960)

 Carolina Maria de Jesus

A primeira grande escritora negra do país celebraria 105 anos em 2019.

“Eu vivo para o meu ideal”. Essa frase é da escritora Carolina Maria de Jesus e encaixa-se perfeitamente para descrevê-la. Natural de Sacramento (MG), Carolina amava as palavras e tinha certeza de quem era: mulher, preta e poetisa. Seu sonho e maior objetivo era ser publicada. Ela conseguiu. Foi publicada em português e outros 14 idiomas, em 40 países.

Catadora de papel e moradora da favela do Canindé, em São Paulo, Carolina escreveu sobre suas vivências. A vida de catadora, as pessoas que moraram na favela, a fome, tristezas e, principalmente, a pobreza. Seu primeiro livro, Quarto de despejo, chegou a vender mil exemplares em um único dia. Um retumbante sucesso editorial e recorde para a época. Depois do bestseller, a autora produziu outras obras, mas sem igual sucesso. Entre elas, as publicações: Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada, de 1961. Provérbios, e Pedaços da fome, de 1963. A última obra, Diário de Bitita: um Brasil para brasileiros, publicada primeiro na França pela Éditions Métailié, com o título de Journal de Bitita, só sairia no Brasil em 1986.

O dia do registro de nascimento de Carolina é o dia 14 de março. Mesma data de aniversário de Castro Alves e antigo Dia Nacional da Poesia no Brasil. No mês de seu aniversário, confira outras sete curiosidades sobre sua vida!

Segundo a historiadora, Elena Pajaro Peres, Carolina frequentou a escola durante apenas dois anos em sua cidade natal. Foi no Colégio Allan Kardec, que ela foi alfabetizada e já adulta dedicava grande parte de seu amor a literatura à sua professora.

Carolina adorava o Carnaval e chegou a gravar um álbum com sambas e marchinhas. As músicas, apesar de raras, estão disponíveis online na Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles (IMS).

Antes de conseguir publicar seus livros. Carolina bateu na porta de diversas redações e jornalistas para divulgar seus poemas e alguns foram publicados em duas reportagens na revista O Cruzeiro.

Carolina atuou no documentário alemão: Favela: a vida na pobreza, protagonizado por ela mesma, mas impedido de passar no Brasil durante a ditadura militar, por apresentar a miséria da favela do Canindé. Localizado e restaurado pelo IMS na Alemanha, o filme foi exibido pela primeira vez no Brasil, no centenário de nascimento da escritora, em 14 de março de 2014 e pode ser assistido na sede do instituto.

Em Sacramento (MG), Carolina foi criada em uma comunidade de forte tradição oral. Seu interesse pela literatura é despertado primeiro pelo oficial de justiça, Manoel Nogueira, que todas as tardes lia para os negros que não sabiam ler, o jornal, poemas ou pensamentos.

O primeiro romance lido por Carolina de Jesus foi A Escrava Izaura, emprestado por uma vizinha de sua mãe e a partir daí começou a ler tudo que chegava ao seu alcance.


 Carolina Maria de Jesus
Durante os anos em que Carolina vivia em São Paulo, a publicidade do governo para trazer novos imigrantes para a capital paulista era muito forte – a Nova York da América Latina. Mas pouco ou nada era dito sobre as recentes favelas instaladas na cidade. Carolina denunciou as condições de miséria, as quais vivia e a constante chegada de migrantes do campo fadados ao mesmo destino.

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