sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

A IGREJA DOS NEGROS QUE DESAPARECEU

Muitos uberabenses pensam que a bela igrejinha de Santa Rita, no morro defronte ao Mercado Municipal é a igreja mais antiga de Uberaba. Construída em 1854 e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico (IPHAN) desde 1939, a Santa Rita é a única sobrevivente das igrejas da época do império. Mas antes dela existiu a pioneira Capela de Santo Antônio e São Sebastião de Berava, erguida em 1818 na região onde está a praça Frei Eugênio, a primeira matriz da paróquia. E também a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que foi construída entre 1839 e 1842 no lado direito da Rua do Comércio, na época a principal rua da cidade, atual Artur Machado. Era uma igreja de duas torres em estilo colonial, relativamente grande e bonita, erguida encostas do morro onde hoje está a Av. Presidente Vargas.

Igreja do Rosário

A devoção a Nossa Senhora do Rosário é muito antiga. Teria surgido na Europa, entre os dominicanos, ainda na Idade Média. A primeira irmandade do Rosário foi criada em Colônia (Alemanha), em 1408. A ordem chegou ao Brasil em meados do século XVI, sendo a Irmandade dos Homens Pretos de Olinda a mais antiga do país.

Durante o período da escravidão, brancos e negros não podiam frequentar as mesmas igrejas – uma segregação que, na prática, persistiu por décadas, mesmo após a abolição em 1888. A pesquisadora Marina de Mello Souza, autora do livro “África e Brasil Africano” conta que, no tempo dos escravos, e ensino e a catequese de todo africano escravizado era de obrigação dos seus senhores. Com apoio desses proprietários, as comunidades negras se reuniram em irmandades leigas de devoção. Tanto a igreja católica quanto a administração colonial usavam a conversão à fé católica como instrumento de controle sobre a população negra, seus costumes e suas crenças – procurando “desafricanizar” a identidade cultural dos escravos.

Cabia aos membros das irmandades cuidar das festas de seu padroeiro, enterrar os irmãos mortos e ajudar as famílias dos falecidos que não possuíssem recursos. Os principais santos de devoção das irmandades dos “homens pretos”, segundo Souza, eram Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito.

Uberaba contava com uma grande quantidade de negros, escravos e libertos, no século XIX. O historiador Borges Sampaio relata que, no censo realizado em 1955, a vila de Uberaba tinha 1923 habitantes, sendo 1391 pessoas livres e 532 escravos, de ambos os sexos. A população do município era maior, pois a maioria dos habitantes vivia na zona rural. O censo de 1868 encontra 7681 moradores em toda a paróquia, sendo 1636 escravos. Entre os homens livres, havia significativa quantidade de mestiços e negros libertos.

Em 1839, coube ao padre Zeferino Batista Carmo (de quem já falamos aqui na coluna) propor que se erguesse na cidade uma igreja que atendesse a essa população, proibida de frequentar a Matriz. Construída com a mão de obra dos próprios negros, ela foi inaugurada oficialmente em 1842. Depois da Lei Áurea, a Igreja do Rosário continuou reunindo a comunidade negra, servindo de palco para as festas do 13 de Maio. Entre as comemorações que aconteciam na igreja no início do século XX, Borges Sampaio destaca “a festa anual dos pretos” e a “missa com ladainha em todos os sábados”, eventos que contavam com a participação da conceituada banda de música “União Uberabense”.

O surgimento de novas igrejas no bairro, como a Santa Rita e a São Domingos (1904) causou um lento abandono da igreja do Rosário. A Cúria Metropolitana deixou de cuidar da sua manutenção e o prédio entrou em decadência, num momento em que a Rua do Comércio vivia seu apogeu – não apenas como centro de negócios, mas também como porta de entrada da cidade para quem chegava pelo trem da Cia Mogiana. Seria preciso fazer uma obra cara de restauração, para a qual não havia recursos.

Diante dessa situação, o então prefeito Leopoldino de Oliveira decidiu demolir o antigo templo. Em 1927 a velha igreja foi removida para dar lugar a um largo e um jardim. Restaram dela poucas lembranças. Há apenas três fotos conhecidas: uma feita à distância por volta de 1895, do alto da Santa Terezinha, onde aparece de frente. Outra mostra apenas a escadaria que dava acesso às portas principais. Na última, ela é vista por trás, do alto do morro, já em mau estado de conservação, pouco antes de ser demolida.


(André Borges Lopes)



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Cidade de Uberaba



Saiam de seus casulos!

Definitivamente; estamos numa fase em que as tragédias nos rondam diuturnamente e, para respondê-las, só há uma via: a prevenção. Aliás, não há um verbo mais eloquente e tão esquecido do que prevenir.

No universo das más notícias fomos obrigados digerir a morte dos dez adolescentes no Centro de Treinamento do Clube de Regatas Flamengo, dia 08/02/2019. Vitor, Samuel, Rykelmo, Pablo, Jorge, Edson, Christian, Bernardo, Áthila e Arthur deram suas vidas à imprudência das imprudências. Em essência, o mesmo pensamento que rege o campo mental dos (i)responsáveis pela segurança de uma barragem, no caso a de Brumadinho, rege também a mente daqueles que confinaram meninos em um contêiner para morrer. Suas famílias agora choram na desesperança. 

O pior é pensar que fiscalizações e fiscalizações foram realizadas no Ninho do Urubu e nenhum agente público teve tutano para interditá-lo totalmente ou setores das suas instalações. Pontuo sem medo de errar: poder, tráfico de influência, dinheiro, ameaças e outros fatores mais, “amarelaram” os senhores da lei a ponto de lhes fazer recuar. Autoridades com poder de Estado, no momento de suas ações se recolhem colocando em risco vidas indefesas. Já disse e volto a repetir: enquanto isso os seus vultosos salários são pagos em dia, não obstante o baixo clero do funcionalismo esteja pagando alto preço para “tocar o barco”, no dizer de Ricardo Boechat.

Depois da porta arrombada, colocam o cadeado. Autoridades de todos os setores se apressam em mostrar serviço ditando regras, normas legais e diretrizes ao Flamengo infrator, que tem seu exemplo nefasto seguido pelo Clube Bangu. Interessante; os que deveriam ser recolhidos (provisória ou preventivamente) devido às mortes consumadas permanecem livres, leves e soltos. Na terra dos dourados habeas corpus, ver um poderoso preso nessas horas, é sonhar dormindo sono profundo.

Um pouco da história recente de Uberaba: quando em 2003 tivemos nossas águas envenenadas por produtos químicos lançados no Ribeirão Alegria devido ao descarrilamento de um trem, constatei algo para mim inusitado. Na procuração da empresa dona do trem, para representa-la, contei nada menos do que cinquenta e quatro advogados. Nada contra, mas imaginemos no caso Brumadinho e CT do Flamengo! Ao piloto da locomotiva restou um “sequestro”, que o fez confinado sem saber onde estava e “nada teve para declarar”. 

Senhores agentes públicos fiscalizadores; saiam de seus casulos! Estamos com vocês!


João Eurípedes Sabino - Uberaba/MG/Brasil



Cidade de Uberaba

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O TREM DA MOGIANA

Há mais de 20 anos minha mulher e eu, caminhamos, matinalmente, na praça da Mojiana. A saudosa Mojiana, mais tarde FEPASA, hoje, VLI-Atlântica, antigas são as recordações. Custa-me acreditar que acabaram com o”trem de passageiros”, daqui para Campinas. As viagens até quase o fim do século passado, não dá para esquecer tão cedo. A Mojiana, chegou no final do século XIX e foi de capital importância para o progresso da nossa região, trazendo e levando riquezas, transformando a vida e os costumes de uma cidade em estágio avançado de crescimento. “Viajar” de trem de ferro, era o sonho de toda criança, como é, hoje, visitar e brincar na Disneylândia...

A implantação das rodovias, o asfalto, as fábricas de carros, ônibus e caminhões, acabou tornando obsoleto o transporte de passageiros por via férrea. É como burro de carga; depois de trabalhar a vida inteira, o dono o despreza e o deixa morrer em qualquer canto da fazenda, onde um dia, prestou inestimáveis serviços. O brasileiro como sempre, sem memória, abandonou a ferrovia, tão usada nos países desenvolvidos e civilizados; berços de humanidade, cultura, história e progresso. Nos países da Europa, é o meio principal , o mais turístico e alegre, além de seguro e rápido. No Japão, apenas para lembrar, “viajar no trem bala”, é privilégio e lembrança que não se apaga. No Brasil, infelizmente, suprimiram o “trem de passageiros”, sonho imorredouro da minha infância...

A descaracterização do trem de ferro, em mais de 90% no país, deveria receber a repulsa enérgica da sociedade, das lideranças classistas, empresariais e políticas. Aceitou-se, pacifica e covardemente, uma decisão governamental para atender interesses escusos, que contraría princípios, violenta nossa história e depõe contra os nossos foros de civilização e cultura. Uma simples “ canetada”, uma argumentação frágil, “matou” o “trem de passageiros”, com a esdrúxula desculpa que ele não era mais rentável às empresas . E o Brasil, aceitou...

Nos primórdios da civilização regional, as estradas de ferro, “Mojiana” e “Paulista”, cobiçavam o rico potencial do Triângulo. Uberaba, era o alvo preferido. A “Paulista”, oferecia melhor condição de “frete”. A “Mojiana”, com o bafejo dos “barões do café”, de Ribeirão Preto, levou a melhor. A ânsia de chegada do progresso, foi tão expressiva que os uberabenses, proprietários do trajeto onde iam correr os trilhos, nada cobraram de indenização pelas áreas e pedreiras necessárias à construção da linha...

A “velha” Mojiana, do “tronco” ao “ramal” , duas linhas que saiam da terrinha, iam, uma via, Igarapava, Aramina, Ituverava, S.Joaquim da Barra, Orlândia , Ribeirão Preto. A outra ,o “ramal”, servia Conquista, “cipó”(Sacramento), Rifaina, Igaçaba, Pedregulho, Franca, Batatais e Ribeirão Preto. Quem, da “velha guarda”, não viajou até “ Barrinha” e de lá, em trecho eletrificado, desembarcou na estação da Luz, em São Paulo ?...

Foi marcante o episódio de um gavião que sabia o horário infalível da sua “refeição”. O cozinheiro do “carro restaurante”, religiosamente, lhe guardava a comida. À hora aprazada, o gavião lá estava como se tivesse relógio para receber a sua ração... O gavião, morreu. O “carro restaurante”, também. Os vagões de 1ª. E 2ª.classes, idem. O “ chefe” da estação, o apito do trem e o “conferente”, acompanharam. Restou a “303”, a “Maria Fumaça”, na praça da Mojiana. Está moribunda, suja, furada, maltrapilha, mato alto ao seu redor, servindo de vaso sanitário e mictório aos vândalos e de motel das estrelas, aos mais apressadinhos. Quando passo e olho aquele espectro de progresso de ontem, custo a conter as lágrimas... “ Marquez do Cassú”.



Luiz Gonzaga de Oliveira




Cidade de Uberaba

O QUE É SER POLÍTICO...

Politica, é uma palavra oriunda do grego e se refere a um estadista, homem público que lida com a chamada “ coisa pública”. É um cidadão que influencía maneiras de como a sociedade deve ser conduzida. São, normalmente, pessoas do bem que estão ou estiveram em cargos de decisão no governo, em qualquer esfera, ou almejam esse cargo, quer por indicação, quanto por eleição. O político pertence a um partido que quer, ou tenta, obter aceitação popular para qualquer posto; se puder, os mais elevados. O político, geralmente, é um formador de opinião , quer no município, estado ou federação. Mesmo sem ocupar qualquer cargo eletivo ou de mando. Considera-se político pessoa que manipula e influencia a opinião pública em favor do grupo a qual pertence. Em Uberaba, nossa santa terrinha, mal ou bem, alguns se pontificam.

Respeito e reverencio políticos uberabenses de proa , que sempre estiveram em evidência, por serviços prestados à coletividade, elevando o sagrado nome da nossa cidade. Nunca é demais citar, Mário Palmério, Fidélis Reis, Alaor Prata, Wilson Moreira, Marcus Cherém, Godofredo Prata, Antônio Próspero, Boulanger Pucci, João Guido, Hugo Rodrigues da Cunha, Randolfo Borges Jr., Arnaldo Rosa Prata, Juarez Batista, Eurípedes Craide, Wilson de Paiva, Roberval Alcebíades Ferreira, Chico Veludo, Ivo Monti, Jorge Furtado, Hélio Angotti, Artur Teixeira, cujas atuações políticas em favor da cidade, obtiveram dividendos e condutas irrepreensíveis. Honraram seus mandatos e dignificaram com altivez e probidade.

Formadores de opinião, foram também jornalistas da estirpe de Quintiliano Jardim, seu filho, Raul, os Ruis (Mesquita, Novais e Miranda), César Vanucci, Antônio Fialho, Jorge Zaidan, Ataliba Guaritá Neto (Netinho), Mons,Juvenal Arduini, D.Alexandre Amaral, Orlando Ferreira (Doca), Chico Xavier, Celso Afonso, Carlos Bacelli, em belíssimas pàginas psicografadas, entre outras celebridades que engrandeceram a cidade, como Hildebrando Pontes e José Mendonça. Figuras que enalteceram o nosso “ curriculum” cultural.

Porém, a história de políticos mal preparados, correm aos montes... A que vou contar, reflete o grau de alguns deles. Evidente, que os citados anteriormente, nada tem a ver com o que relato. Politico de meia-idade, recém eleito, “lambuzou-se” todo no primeiro ano de mandato. Enamorou-se ,perdidamente, pela secretária. Romance tórrido. Certo inicio de noite, depois de um” penoso” dia de trabalho, enviou mensagem à esposa:- “Querida, espero que compreendas a razão deste bilhete. Tenho 54 anos, necessidade sexual que tu não podes me satisfazer. Sou muito feliz contigo. Espero que não fiques magoada comigo. Quando leres este, estarei no motel com a minha secretária. É linda; tem só 18 aninhos . Não te preocupes, chegarei em casa antes da meia-noite. Não te perturbarei. Durma com os anjos...Teu amor.....”

Depois de uma bela noite de prazeres sexuais, pé ante pé, volta para casa. Acende a luz da sala e vê em cima da mesinha de centro, um caprichado bilhete. Nele estava escrito:-“Querido maridinho, obrigada pelo aviso. Aproveito o ensejo para lembrar-te que tenho também 54 aninhos. Ao leres esta cartinha, comunico-te que estarei noutro motel, com o meu professor de tênis. Ele é jovem. Bonito ! Tem apenas 18 aninhos. Como és um bom político e sabes fazer conta de quantos eleitores votaram em ti, compreenderás que estamos nas mesmas circunstâncias. Com uma pequena diferença: 18 anos, “entra” mais vezes em 54, do que 54, “entra” em 18...Te quero ! mas, não me esperes para dormir. Chegarei só amanhã, de manhã. Da sua ...”

A separação do benquisto casal aconteceu alguns meses depois... Abraços do “Marquez do Cassú”.



Luiz Gonzaga de Oliveira



Cidade de Uberaba

ESCRACHO...


Abordei em livros passados, o “corre,corre”, a “caça às bruxas”, quando estourou o movimento de 1964. A postura desrespeitosa, cínica, cruel e até covarde, de alguns próceres da UDN ( União Democrática Nacional), aqui em Uberaba, levou às grades, figuras conhecidas e benquistas de uberabenses que, sabidamente, não faziam apologia comunista e muito menos, atuavam em movimentos mais tarde tido como esquerdistas. Dois jornalistas (Joel Lóes, falecido e Olavo Sabino Jr.), além de sacerdotes da santa terrinha, Padre Prata e Juvenal Arduini, de saudosa memória, passaram pelo constrangimento de serem ouvidos pelo Comando Revolucionário .

Os “ dedo-duros” deitaram e rolaram em denúncias vazias contra uberabenses. “Durval, da Farmácia”, “Zé, do Café Reina”, citando os mais conhecidos, além de Benito Caparelli, vereador, teve cassação sumária do seu mandato , padecendo por vários dias, no cárcere da Policia Militar. O “movimento estudantil”, “sumiu” de uma hora prá outra. A turma da UDN, mandava e desmandava na terrinha do “Doca”. A cidade passava por instantes de medo. Quase terror. Nas repartições públicas, aconteciam as demissões sem direito às defesas. Um horror para os coitados dos exonerados...

Enquanto isso, os “afilhados” da revolução, iam conseguindo grandes empregos, sem necessidade de concurso. Foram nomeados em Ministérios, Correios, Caixas Econômicas, Estadual , que ainda existiam, Federal e bancos oficiais. Políticos uberabenses “revolucionários”, batiam palmas para Rondon Pacheco, figura asquerosa, guindado à Chefia do Gabinete Civil do Governo Revolucionário. Começava ali, a degringolada de Uberaba e a forte ascensão de Uberlândia...Com o apoio, pasmem ! de graduadas e impolutas personalidades uberabenses!

A “revolução” permitia eleições municipais. Em 1966,” Chico” Veludo candidato do MDB, ”fantasiado” de oposição, tolerado pelos militares ganhou a eleição para Prefeito. Todavia, não foi empossado. “Inventaram” o famoso “voto de legenda”. Já viu, né ?... Uberaba sem representação, Palmério, auto-exilado no Paraguai; os udenistas, procurando “ achar um deslize do nosso maior benfeitor” ( já lhes contei, também...). Todo o ódio que devotavam ao Embaixador Mário Palmério, veio à tona.

Ainda bem que Raul Jardim, Netinho, os Ruis, ligados ao “Lavoura e Comércio” e PRE-5, não sofreram nenhum tipo de ameaça. Azar de quem trabalhava no “Correio Católico” e “ Difusora”... Jorge Zaidan, César Vanucci, José Veloso Guimarães, além desse reles memorialista, eram “vigiados’ , dia e noite.. Nossos passos seguidos, nossos comentários gravados e as páginas do jornal, censuradas.

O que causava espanto foi ver a docilidade, servilidade e fragilidade, com que nossos políticos, com a “faca e o queijo “ nas mãos, deixaram escorrer por entre os dedos, em ombrear-se com a cidade irmã, que, além do principal “civil” no governo revolucionário” no Gabinete Militarl, “emplacou” também Homero Santos, um simples deputado federal, como “líder do governo da revolução”. Tristeza maior, vendo uberabenses batendo palmas, sem o menor instinto de reação,para pelo menos, solicitar uma “beiradinha” de prestigio para a sacra terrinha...

O uberabense não aprendeu. Passados meio século do que aconteceu, nossos homens públicos, continuam batendo palmas para qualquer forasteiro que aqui aporta. Quando será que Uberaba voltará a aprender fazer política ? Abraço fraterno do “ Marquez do Cassu”.


Luiz Gonzaga de Oliveira



Cidade de Uberaba

ECOS DA REVOLUÇÃO/64

O movimento de 1964, deixou seqüelas profundas no seio da sociedade uberabense. As prisões acontecidas, principalmente entre os católicos praticantes de uma linha socialista da época. O Arcebispo Metropolita, D.Alexandre Gonçalves Amaral, com indômita coragem, encarou os militares sem fraquejar à defesa de suas “ovelhas”, vitimas dos “dedos-duros” do movimento revolucionário. Na perseguição aos jornalistas do “Correio Católico” e dos padres da Arquidiocese, com a fortaleza moral que possuía, depois de um “ entrevero” com o então Comandante do 4º.Batalhão, Tte. Cel. Nazaré, “ zarpou” para Belo Horizonte e num áspero diálogo com o Governador Magalhães Pinto, Comandante Civil da Revolução, expôs-lhe as arbitrariedades que estavam acontecendo em Uberaba, solicitou a troca do comando local.

Magalhães Pinto, não esperava aquela reação da autoridade-mor do catolicismo regional. Não só atendeu d. Alexandre, como designou para o comando do 4º.BPM, um oficial que servia ao Corpo de Bombeiros da capital, católico fervoroso, Tte,Cel.José Vicente Bracarense. Profissional e disciplinador, veio para acalmar o perigoso atrito que envolvia Igreja x Militares. Bracarense, não só conquistou a tropa, como também, a sociedade uberabense. Credita-lhe uma série de melhorias à unidade. Aquisição da residência oficial para o Comandante, hoje, sede do 5º. CRM. , construiu, com praças e soldados, o prédio do “Colégio Tiradentes” e recursos dos soldados e oficiais; conseguiu o asfalto do páteo interno do Batalhão e a área fronteiriça ao Batalhão; hoje, praça Magalhães Pinto. Construiu também, com o auxilio de seus comandados, a Capela de São Sebastião e criou o “ rancho alegre”, local de lazer para militares e seus familiares.

Entre os fatos que marcaram sua atuação no comando, uma, foi digna de registro. Contou-me depois de anos, o saudoso sub-tenente Oscar Lage , que numa formatura de soldados, a tropa perfilada , o comandante Bracarense à postos, ao seu lado, ajudante de ordens e secretário, o seu filho, também militar José Hamilton de Jesus Bracarense. Nesse momento, chega ao palanque, o tenente Espírito Santo e entrega um documento à Bracarense. A tropa, em posição de sentido, aguardava apenas a ordem de iniciar o desfile. Foi nesse instante que um soldado, dizem , o mais gozador da tropa e com tudo fazia galhofa, “entortando” a boca para não ser percebido, comenta, baixinho, com o companheiro à sua direita:- Pronto ! Agora tá tudo certo ! A Santíssima Trindade, está reunida ! O pai, o filho e o Espirito Santo “... Quem ouviu não resistiu ao sorriso e a tropa desfilou, sorrindo, em todo o seu percurso...

Quando soube do que acontecera, bem humorado, o Comandante Bracarense, quis saber o “autor” da façanha. Como num código de guerra, ninguém delatou o companheiro... No QOR- Quadro de Oficiais da Reserva- , já Coronel, Bracarense “fincou” raízes em Uberaba e não retornou para sua doce São João Del Rey, onde nasceu. Tive o prazer de ser seu colega na administração Hugo Rodrigues da Cunha ( 1973/77) . Excepcional companheiro !

Tenho mais histórias da “revolução/64. Conto-lhes amanhã. Abraços do “Marquez do Cassú”.


Luiz Gonzaga de Oliveira




Cidade de Uberaba

HISTÓRIAS DA REVOLUÇÃO/64

Ainda naquela dura e cruel “ caça aos comunistas” da santa terrinha, as reuniões clandestinas continuavam sendo realizadas. Uma chácara nos arredores do córrego do Lageado, era a “toca” dos descontentes com a “revolução”. Uberabenses dos mais variados segmentos da sociedade, advogados, empresários, comerciantes, bancários e uma grande dose de estudantes universitários. Infiltrados entre eles, “ um observador militar” que ninguém pudesse desconfiar da sua missão. Era o “cabo Anselmo” das reuniões...

Certa feita, quando se planejava uma “expropriação” (roubo ) da única agência do Banco do Brasil, na terrinha, a “ reunião” foi cercada por “ milicos” ( como eram chamados os militares), abortaram os preparativos da tentativa... Quase todos os participantes foram presos. Menos um, o “observador militar” que fugiu antes do cerco”. Passados muitos anos, regime militar chegando ao fim, estudantes que se tornaram profissionais, empresários falecidos e outros participantes, “ fora de combate”, num encontro social, lá estávamos nós, o jornalista que conhecia a história e o militar, cuja patente era bem alta. “Papo” vai, “papo vem”, depois de seguidos uísques, na ousadia, perguntei-lhe como conseguiu fugir daquela terrível noite !...

-“O senhor foi o único que escapou!”, perguntei-lhe. Ele, mais que depressa, foi rápido no gatilho e não deixou por menos:- “Meu filho, nunca mais repita essa pergunta tão tola! Um bom militar como eu, não foge à luta. Apenas naquele dia, bati em retirada, entendeu ?” Mudamos de assunto e continuamos “ uiscando”...

Outro episódio daqueles tempos, me aflora à memória. Dois comerciantes conceituados na terrinha, pais de família, altamente caridosos, Euclides Brandão e “Babá da Farmácia”, com suspeitas de “ comunistas”, foram presos, vítimas da sanha dos “dedo-duros” da revolução. As famílias, perplexas com a arbitrariedade cometida, procuraram o mais famoso advogado de Uberaba e um dos mais conceituados de Minas, dr.Aristides Cunha Campos. Explicações de praxe, nervoso com a situação dos amigos, dr. Aristides, preparava a procuração à defesa dos presos. – “ Quem vai assinar a procuração? “ perguntou a um dos filhos de Euclides.

-“Eu!”, respondeu o mais velho.- “ O seu nome, por favor!”
-“Lenine !” falou alto e bom som.

-“Ah! meu filho, com esse nome, seu pai não sai da cadeia, tão cedo !...”respondeu o advogado. O outro filho, o saudoso Aristides Cunha Campos assinou a procuração...

Naquela tarde, Euclides Brandão estava em casa com a família e o “Babá da Farmácia”, foi no “vácuo” e também liberado da prisão...

Fatos verídicos acontecidos há 55 anos na sagrada terrinha . Bom inicio de semana. “Marquez do Cassú”.


Luiz Gonzaga de Oliveira


Cidade de Uberaba

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

O QUE ELE DISSE ?...


Tem fatos que se não fossem verídicos, os leitores iriam chamar o cronista de mentiroso, inventor de causos, criador de situações e outros adjetivos pouco lisonjeiros. Aliás, cronista é sempre assim: quando a “ coisa” não acontece, ele inventa. Parece até aquele clã político, emérito em criar mentiras, normalmente para agradar seus inocentes eleitores , desde que tvccontenham inverdades para seus adversários... É bastante conhecido aquele lema criado por políticos malandros e quase sempre sem pudor:- “Adversário se for honesto, correto e bem sucedido, sem defeito, a gente logo arranja uma carrada delas e ainda coloca doze testemunhas de cada lado”...

Mineiro então, é pródigo em realizar tais façanhas. Amigo de longa data, jornalista dos bons, primeiro diretor de jornalismo da saudosa TV-Uberaba, Symphrônio Veiga, era profundo conhecedor da alma mineira. Seus jeitos e trejeitos, “ saídas” e “entradas”. Conta “causos” que a roda de amigos, delirava. Inclusive eu. Symphônio, até hoje, fala rápido, “embola” as palavras, agilidade mental fantástica, é autêntico mineiro de “Belzonte”. Adora doce de leite com goiabada e sempre diz:-“vamos no buteco tomar um “golo”? Nunca boteco, nem gole...

Suas histórias, jurava , de pés juntos, serem verdadeiras. “Certa vez”, me contou, na estrada de  na divisa com Tamanduaá, casal de velhinhos, parou no único posto da cidade para abastecer o velho carrinho. – “Quantos litros, doutor ?” perguntou o frentista, na mesma faixa etária do casalzinho. – “Encha o tanque, sô, “ respondeu o motorista. Nisso, a velhinha do velhinho, entrou no “ papo”. –“O que foi que ele disse ?”. O velhinho gritou:-“Perguntou quantos litros quero colocar no tanque, entendeu?”. O frentista , curioso:- “’Ceis tão indo prá onde ?”. O velhinho da velhinha, já meio com raiva, - “Prá Uberaba, conhece ? Vamos visitar os parentes da minha mulher ! ”A velhinha insistiu:-“O que foi ele lhe disse? “ . De “saco cheio”, gritando, respondeu:-“ Ele perguntou para onde nos vamos passear, tá? “

Ao ouvir Uberaba, o frentista, alegre, antecipou:- “Eu nasci lá. Cidade boa.Terra de moça bonita e rica !”. – “O que foi que ele disse?”, perguntou , curiosa, a velhinha do velhinho... Nervoso,o motorista velhinho, respondeu:- “Minha velha, ele disse que nasceu em Uberaba”! Entusiasmado, o frentista continuou:- “Xí, há muitos anos, namorei uma garota da minha terra que era a moça mais bonita da cidade. Elegante, rica, frequentava o Jockey Clube, fazia “footing” na rua Artur Machado, íamos na “matineè” do cinema que tinha lá, o Metrópole. Mas, num dei sorte, ela era meio sem vergonha, deixava eu” bulinar” os peito dela, punha as mãos no meio das pernas dela... O senhor num há de ver, “nóis era” quase noivos, quando ela fugiu com outro”, completou. –“O que foi que ele disse? Demorou muito”, reclamou sedenta de curiosidade. 

Foi então que o velhinho da velhinha, não suportando a “ carga” de perguntas , deu a “bronca” final:- “Ele disse que te conhece lá de Uberaba, desde velhos carnavais”...

Tanque cheio, o velhinho pagou a conta, saiu em disparada, sem olhar pelo retrovisor, rumo a Uberaba, a amada terrinha...

Bom inicio de semana a todos. Abraço do “ Marquez do Cassú.



Luiz Gonzaga de Oliveira





Cidade de Uberaba

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

O CIRCO DO POVO !...

Beethoven Teixeira, quando no governo de Wagner Nascimento, teve a feliz idéia de criar o “circo do povo”, pensava em divertimento à população uberabense, principalmente a mais carente, “voz” aos artistas e arte e cultura, enaltecidas na sacratíssima terrinha. Não podia imaginar que, 25 anos depois, houvesse a troca de “ palhaços” e também da “ lona”... E, lamentável, para pior ! O circo imaginado pelo filho do saudoso dr.Edelweis Teixeira, serve, hoje, para outras “ finalidades”. Parodiando, nunca esteve tão em moda, o samba “Cara de Palhaço” , na voz inconfundível do melhor cantor de boate do Brasil, Miltinho, que dizia “Cara de palhaço, pinta de palhaço, roupa de palhaço, foi o que você arranjou pra mim “, letra antológica do compositor Luiz Antônio; “ veste”, a roupa de nós, uberabenses...

De algum tempo até cá essa parte, a administração municipal, considera os uberabenses , autênticos “ palhaços”. A palavra “palhaço”, é de origem italiana, “paglia”( favor não confundir com pulha...) servia para revistar colchões de antigamente. O palhaço, é lírico, ingênuo, angelical, inocente e quase sempre, frágil. Com o tempo, foi ganhando novas “ colorações”. No linguajar comum, tem características figurativas e termos pouco confiáveis. Que o diga os policiais militares.. .Ao entregar aos grafiteiros , a incumbência de pintar aqueles horrorosos e mal postos bancos no “calçadão” da Artur Machado, as autoridades, como sempre, pouco se preocuparam ( ignorância? ...) com o que podia acontecer...

As “caras de palhaços”, feriram os brilhos dos uberabenses. Inclusive dos militares.... A reação popular, veio na hora. A “arte” da “palhaçada”localizada, chocou os lojistas da área e os que por ela, transitam.- “Que palhaçada é essa ?” A Policia Militar, gritou:- “Esses bancos grafitados, é uma verdadeira apologia ao crime!”. Quando a Prefeitura se deu conta da “palhaçada” que incorreu, voltou atrás e mandou repintar os bancos do “calçadão”. Pudera ! O dinheiro não é dela ! Sai do nosso bolso! Só que a merda estava feita. Foi um “tiro no pé” da Administração. A cidade tomou”um soco direto no nariz de palhaço”...Veio a esfarrapada desculpa;- “Nóis num sabia que isso ia acontecer!...”Diz o velho ditado:-“Depois da casa arrombada, não adianta tranca na porta!”...

Aliás, as “ palhaçadas” estão acontecendo em profusão na santa terrinha do “Doca”. São tantas, que é de “ corar o frade de pedra “. Todo santo dia, as reclamações aumentam. A “cerca” que divide a Leopoldino de Oliveira, os BRTs., atazanando a vida dos comerciantes, a escuridão nas ruas da cidade, as obras inacabadas, as ruas esburacadas, a escuridão que causa medo, a falta de segurança, a sujeira nas vias públicas, o débil atendimento nos postos de saúde, a questionável “revitalização “ do centro da cidade, o isolamento aéreo que estamos sofrendo, o “ estacionamento pago” em locais de pouco movimento, a fedentina na parte final do córrego das Lages, incomodam os uberabenses de tal forma e a Prefeitura teima em não dar a menor atenção aos reclamos populares e o sufoco que o povão está passando.

Sem falar no aumento do IPTU, falta de creches, “burrocracia” na Prefeitura e “ otras cositas mas”.. .O uberabense não está suportando mais a “ cara de palhaço, o nariz de palhaço, a pinta de palhaço” que nos vestiram ! Pelo amor de Deus ! Vamos colocar um fim nisso !


Por hoje, chega ! Sem nariz de palhaço” ! Eita Uberaba, bão “. Abraços do “Marquez do Cassú”.


Luiz Gonzaga de Oliveira



Cidade de Uberaba

DOCES RECORDAÇÕES...

Esquecer é a pior forma de fazer desaparecer. Aquilo que ninguém mais fala, escreve , canta ou celebra em seus ritos, deixa de existir. O homem morre, mas, seus descendentes, guardam a memória de sua vida e assim, de alguma forma, ele sobrevive. Porém, se todos esquecem , aí ele morre. 

Definitivamente. A arte é um esforço de imortalidade. Os desenhos anônimos nas cavernas habitadas por nossos ancestrais, os afrescos de Michelângelo no teto da Capela Sistina, no Vaticano, expressam o mesmo gosto que alimenta as futuras gerações. As gravuras, as pinturas, as fotografias, vídeos e filmes, uma simples fita de programa de rádio, serão sempre uma projeção biográfica da nossa curta existência biológica. Aprendemos com Freud, que aprendeu com a família judaica, que, só se goza o presente, quem tem raízes no passado e possa plantar e produzir o seu desejado fruto – o futuro.

Estou eu a lembrar de exponenciais figuras humanas que dedicaram suas vidas ao crescimento e desenvolvimento da nossa amada Uberaba, hoje, tão machucada e maltratada. É triste ! Fidélis Reis, Mário Palmério, Alaor Prata, D.Alexandre, Mons.Juvenal Arduini, Jorge Furtado, Artur Teixeira, Boulanger Pucci, Antônio Próspero, Hélio Angotti, Ézio de Martino, José Humberto R. Cunha, Joubert de Carvalho, Antenógenes Silva, Cacaso, Leopoldino de Oliveira, Glycon de Paiva, Avelino Ignácio, Pedro Moura, Álvaro Lopes Cançado, Humberto Ferreira, Randolfo Borges Jr., Ovidio Fernandes, Inácio Ferreira, Chico Xavier, Aparecida Conceição Ferreira, da. Fiuquinha Borges, Augusto Vanucci, “Doca”, entre outros mortos que, por absoluta fugidia memória, não foram citados, dêem as mãos e orem para a sua querida cidade.

Na minha profissão, que falta fazem Raul Jardim, os Ruis (Novais ,Miranda e Mesquita), Jorge e Farah Zaidan, penas brilhantes, que nunca se calaram e acovardaram em favor da terrinha amada. No rádio, Fuad Maluf, Toninho e Marieta, o filho Edinho, Jesus Manzano, João Cid, Antônio José Prata, J.Carvalho, Marcos Nogueira Carvalho, Terenço, Nhô Bernardino, Leite Neto, Nilton Foresti, Lázaro Adalberto, Lidia Varanda, Rdson Lúcio Lopes, Joel Lóes, Joel Oliveira, Euripedes Craide, Edson Campos (xuxú), Adib Sarkis, nomes que jamais serão esquecidos, quando “ se fazia “ rádio na sagrada terrinha. Tem mais nomes reclamando não serem citados. Peço-lhes perdão. A culpada é a minha fraca memória...

O nosso “exército” de “vivos”, está acabando. Os “últimos moicanos”, cabem numa palma da mão: Geraldo Barbosa, César Vanucci, Júlio César Jardim, Paulo Nogueira, Paulo Sarkis e este dinossauro que assina este mal traçado texto.. A imprensa de Uberaba, aquela época, era destemida, verdadeira, isenta, competitiva e honesta. Ninguém estava “segurado” em repartições públicas... Dessa turma citada, quase todos, estão com as “chuteiras dependuradas”. Dois jovens (nem tanto...,), talentosos profissionais, empunham a bandeira de Uberaba para o Brasil:- Fernando Vanucci, insubstituível no “Globo Esporte” e Fábio William , sério e correto apresentador dos telejornais da Globo. Uberaba, orgulha-se de vocês !

Coroando todas essas lembranças, dos Céus, improvisando com o talento que Deus lhe deu, a “Crônica ao Meio Dia”, a voz marcante de Ataliba Guaritá Neto- o inesquecível Netinho – símbolo do amor maior a Uberaba !

Olhos marejados de lágrimas, voz embargada, nó nos “grugumilho”, coração apertado, seca está minha garganta, ergo minha prece à Nossa Senhora da Abadia, padroeira da terrinha : “Não deixe a nossa cidade acabar “.... Abraço comovido do “ Marquez do Cassú”.



Luiz Gonzaga de Oliveira




Cidade de Uberaba

CAVALO TARADO...

De formação eminentemente rural, a história de Uberaba se passa, em grande parte, nas cercanias da santa terrinha. As fazendas, sítios e povoados, se tornaram repositório de um cem número de “causos”, magníficas histórias vividas que fazem parte do folclore da nossa centenária cidade. As famílias tradicionais, o gdo zebu, os canaviais, arrozais de antigamente, hoje, a cultura da soja, milho, sorgo e trigo, dominam a paisagem do campo. 

Isso aconteceu no advento do projeto de “ parceria e arrendamento de terras”, inspirado na ação de um uberabense ilustre, bancário aposentado, José Humberto Guimarães. Funcionário do Banco do Brasil, adido à carteira agrícola, movimentou o governo Wagner Nascimento e mercê estupendo trabalho, trouxe para Uberaba, um contingente enorme de trabalhadores paulistas, paranaense, catarinenses e gaúchos, para lavrar os nossos improdutivos cerrados. O projeto foi um sucesso. 

Na roça, os “forasteiros” se deram magnificamente bem. Valentes, sem preguiça, disposto ao trabalho, mal saía o sol, lá estavam eles com suas famílias, arando a terra. De onde vieram, condições nem sempre favoráveis, encontraram em Uberaba, a “Meca” para concretizar seus sonhos. A terrinha que sempre acolheu, de braços abertos, todos que a procuram, se alegrou ! Financiamentos, modernas máquinas agrícolas e uma vontade indômita para o trabalho, mudaram o panorama agro pastoril da região. Das barrancas do rio Grande, passando por Água Comprida e Conceição das Alagoas, ganharam também o cerrado rumo a Uberlândia . Colocaram fim naquela vegetação rasteira, de capoeira, onde habitavam cobras e calangos.

Afeitos à terra, poucos se aventuraram à pecuária. Os que optaram, se deram bem. Os filhos crescendo, famílias adaptadas aos nossos costumes, vieram os primeiros casamentos e a conseqüente mistura de sangue. A “interação famíliar” estava consolidada. Um fazendeiro novato na profissão, adorava cavalos. Sonho maior, ter um produtivo haras. Pacientemente, foi adquirindo exemplares. Desde os da lida diária, aos de exposição e reprodução. Daú....

A história que lhes conto: Apaixonado pela raça “mangalarga marchador”, comprou do Quinzinho Cruvinel Borges, na “Casa Azul”, dois bonitos animais. Um, preto. O mais novo, “rajado”. “Peão” da fazenda, acostumado a lidar com tropas, logo notou algo estranho. A todo instante, o preto “subia” no “rajado”, tendo “cobrir” o parceiro. Certa tarde, não viu os dois no curral. Temendo o pior, saiu à procura. Surpreso, encontrou os dois mortos. A tristeza invadiu coração do novato fazendeiro paranaense. Quís saber o que tinha acontecido com eles.
Veio, então, a “explicação” do “peão”:-“Sabe,patrão, quando um animal, “invoca” com outro do mesmo sexo,é um perigo. Eu explico, quando o preto, vendo o “rajado” distraído, bebendo água no “melancia”, pulou em cima dele e começou a” cobrir”. O “rajado”, no susto,”trancou a entrada”. Com muita dor, o preto, pensava:- se ele afrouxar, eu tiro. “.O “rajado”, segurando a dor da penetração, pensava:- se relaxar, ele põe tudo “...”Por isso, patrão, os dois morreram... Embora decepcionado com o acontecido, o fazendo concordou com o que lhe foi contado...

A história, nada tem nada a ver com o “namoro” Prefeitura x Codau , um cedendo ao outro, encargos e obrigações que lhe cabe. Qualquer semelhança, é mera coincidência.....Abraço afetuoso do “Marquez do Cassú"



Luiz Gonzaga de Oliveira





Cidade de Uberaba

BARRAGEM DE MINERADORA SE ROMPE EM BRUMADINHO/MG.

Mais um espetáculo deprimente o Brasil assiste com o rompimento de Barragem da empresa Vale do Rio Doce.

Até quando permanecerá esse estado de coisas? 

Tudo se resume num só item: autoridades do setor se submetem ao jogo pesado das empresas responsáveis pelo desmonte das nossas jazidas que depois são vendidas a preço de bananas.

Não por acaso o uberabense Murilo Ferreira se demitiu da Vale. Terá ele visto o futuro da extração de minérios no Brasil? Murilo anteviu as desgraças que as mineradoras estavam por proporcionar ao Brasil e especialmente ao estado de Minas Gerais?

Agora os intocáveis senhores representantes dos órgãos oficiais enchem o peito e ditam regras cheias de isso e aquilo. E os seus gordos salários são depositados em suas contas sem atraso.

Jornal da Gazeta

E agora Ministério Público? Onde estão os culpados pelo rompimento da Barragem de Mariana? 
Desgraça pouca é bobagem: esse é o caso da Barragem de Brumadinho rompida, cujas consequências vão além da nossa imaginação. 

E Minas Gerais,vai continuar sendo palco dessas catástrofes? Outras barragens estão na lista para romper. Cidades poderão ser soterradas e vidas impagáveis serão ceifadas. Resta a pergunta: quando? 
Que essa Barragem rompida nos sirva de alerta e exemplo para colocarmos um basta nessa vergonhosa situação que se estende ao longo de séculos. O nome “Minas Gerais” subentende jazida de minérios no subsolo. 

Vamos soterrar essa cultura de que, por ser mineradora pode ela fazer o que bem entende com o povo brasileiro! Inclusive roubar o subsolo juntamente com
o sonho de pessoas indefesas. 


João Eurípedes Sabino. 
Uberaba/Minas Gerais/ Brasil.


Cidade de Uberaba

UBERABA (QUASE) ANTIGA...

Velho tem a mania de lembrar coisas e fatos antigos, principalmente apelidos. Ainda bem que o “ Alemão-Alzheimer”, passou longe... algumas denominações de logradouros de Uberaba, voaram com as cinzas do tempo. A vila Maria Helena, por exemplo, onde passei parte da minha infância e a inteira juventude, tinha locais que, se falasse o nome, difícil saber onde era... O “beco dos Braga?”, conhece ? E o “ beco do Mathias ?’, são ruelas transversais à rua Visconde do Rio Branco. Qualquer moleque da minha época, sabia pelo apelido. Nome? Não.

E a atual “vila Kathalian”, entre a Exposição e o Parque das Américas? Era o famoso “Sunga- Saia”, por razões óbvias...E nos fundos do atual Terminal Rodoviário, antiga estação da “ Oeste”, ruas Ituiutaba, Conceição as alagoas, Conquista e adjacências, era conhecida com a região das “ Bicas”...A atual, moderna e progressista Santa Marta, era o “Ovo Choco”. Alí pertinho,” Recanto das Torres” e bairro”Olinda”, era o “campo de aviação do Torres Homem (Rodrigues da Cunha), filho de dona Olinda Arantes Cunha...Um dos bairros “classe média/alta”, no Fabricio, a “Vila Olímpica”, não passava do “ pasto do Pereira”...

Trecho da rua Tiradentes, depois da Padre Zeferino, funcionava um conhecido puteiro, jocosamente conhecido como “Curral das Éguas”... Inicio da Padre Francisco Rocha, fundos do antigo armazém do Augusto Araújo, o tradicional “Puxa-Faca”, pelas brigas constantes à porta do bordel da “Aurora”. Os sopapos eram acompanhados de facas bem afiadas ...


No alto d’Abadia, sem a quantidade de conjuntos habitacionais existentes, atualmente, dentro do bairro, eram conhecidos o tradicional “Barro preto”, no final das ruas do Carmo e Capitão Domingos e no lado contrário, seguindo a Barão da Ponte Alta, se concentrava a simpática região dos “Olhos d’água”. Atrás da igreja de Nossa Senhora d’Abadia, padroeira da terrinha, pontificava as “Amoras”, “Coreia” e “Coreinha” e vila do “Ângelo”...

Quase ao final da avenida Leopoldino, onde, hoje, reside a “nata” da sociedade uberabense,era a grande “fazenda do Rezendão”. O “castelinho” da família, continua lá. No alto da “Boa Vista”, perto da avenida das “Torres”, existe um marco de pedra e madeira, que, segundo os historiadores, é uma referência ao inicio da civilização local, por todos chamado “Cachimbo”, e o povo adotou o “Boa Vista”, como alto do “cachimbo”...

Nas Mercês, a avenida Alexandre Barbosa, era a “ rua Cassú”, pois, começava ali, a estrada que demandava ao lugarejo do “Cassú”, onde estava instalada a primeira fábrica de tecidos da região. O caminho ganhava a “chácara do Tutuna”, atravessava o rio Uberaba, passava na porta do casarão da fazenda do Tonico dos Santos, até alcançar o povoado. A rua “Cassú” por ter muitas minas d’água, era conhecida como “brejinho”. Quando construíram o atual cemitério, antes de chamar-se “São João Batista”, era o ‘cemitério do brejinho”...

No inicio da Vila Santa Maria, do lado direito de quem sobe rumo ao aeroporto,a avenida Pedro Salomão”, era a “chácara da Manteiga” e, do outro lado, na Santa Beatriz, “chácara do Mané Balaio”... No “pasto do Lalau”, está erguida a Igreja da “Medalha Milagrosa” , enquanto a “chácara dos Maristas”, edifica-se a “morada das Fontes”... Tem muita coisa pra contar...Uberaba, santa terrinha, cresceu muito ...O “corguinho”, primeiro a ser canalizado, na avenida Santos Dumont, todos conheciam com o “ córrego das bostas”... Será porquê ???...“ Marques do Cassú”.




Luiz Gonzaga de Oliveira







Cidade de Uberaba

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Um pouco Pedro Fu Manchuda lenda

Um pouco da lenda Pedro Fu Manchu. Ele ganhou esse apelido devido ao seriado “Tambores de Fu Manchu”, que passava no Cine Royal, ali na praça do Grupo Brasil. Na verdade, Fu Manchu era um chinês de barbicha e bigode longos.

 Fu Manchu

Na minha adolescência, participei junto com outros amigos da vida do Pedro, na época, na Vila Frei Eugênio, onde morou em uma casinha de taipa feita por ele, que ficava encostada no muro da residência dos De Vitos. Foi vizinho de muita gente importante, como a família Nascimento (Pepinho), dona Filinha, Policarpo Capim e do antigo jogador do USC, Gabardo, que tinha uma oficina de ferreiro. Pedro Fu Manchu foi o melhor anunciante de eventos da cidade. Com seu famoso megafone, ele anunciava os jogos do USC.


Carlos Ticha



Cidade de Uberaba

domingo, 20 de janeiro de 2019

Ponte que divide os estados de Minas Gerais e São Paulo, em Delta, no Triângulo Mineiro.

Outra vista da velha ponte do Rio Grande, publicada em julho de 1968 pela finada Revista Manchete, em matéria especial sobre o Triângulo Mineiro. Do lado esquerdo (São Paulo) vemos ao fundo as chaminés da Usina Junqueira. Do lado direito (Minas Gerais) o Uberaba Country Clube e a sede campestre da Associação Atlética Banco do Brasil.

Ponte São Paulo, em Delta, no Triângulo Mineiro. Foto de Mituo Shiguihara /Revista Manchete. 

Ainda não havia as represas de Volta Grande (1974) e Igarapava (1998) e nem a nova ponte ligando a BR-050 com a Via Anhanguera (2001). O rio tinha um longo trecho navegável para barcos de pesca e lanchas de recreio. 

A foto foi publicada invertida na revista, aqui está na posição correta). 

1968_Dupla de locomotivas General Motors Diesel G-12 da Cia Mogiana puxando uma composição de cargas para Minas Gerais sobre a ponte Igarapava-Delta no Rio Grande. 

Dupla de locomotivas sobre a ponte Igarapava-Delta no Rio Grande. Foto de Mituo Shiguihara /Revista Manchete. 

Por décadas os trens dividiram o tráfego por essa ponte com carros, carroças, caminhões, boiadas e pedestres desde a sua inauguração em 1915 até o início de 1979 – quando foi aberta ao tráfego a variante Entroncamento-Amoroso Costa, que passou atravessar o rio em uma nova ponte ferroviária, construída cerca de 10 km abaixo desse local e ainda em operação. 

A rodovia BR-050 só ganhou uma ponte nova em 2001.




Cidade de Uberaba


quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Ponte sobre o Rio Uberaba

Ponte sobre o Rio Uberaba na estrada ligando Uberaba ao distrito de Nossa Senhora das Dores do Campo Formoso (atual município de Campo Florido). Construída em madeira no início do século XX, essa ponte foi reformada em 1933-34.

Ponte sobre o Rio Uberaba - Recorte de jornal Lavoura e Comércio, edição de 6 de julho de 1934

Fonte: jornal Lavoura e Comércio, edição de 6 de julho de 1934.




Cidade de Uberaba

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

CORRIDA DE TOUROS NA RUA DO COMÉRCIO

Já nos referimos à importância que teve para Uberaba a chegada da ferrovia em 1889. A linha pioneira da Companhia Mogiana deu à região uma opção de ligação com as grandes capitais do País muito mais rápida, segura e confortável do que havia até então. Mas nem tudo eram flores na relação dos uberabenses com o trem de ferro.

A Cia Mogiana era a mais problemática das empresas ferroviárias paulistas do século XIX . Embora sua rede de estradas fosse ampla, atendendo a uma das regiões cafeeiras mais ricas do estado vizinho, a empresa frequentemente dava prejuízos e os novos investimentos eram feitos a passo de tartaruga. Duas décadas depois de inaugurar a estação em Uberaba, a linha já chegava até Araguari, mas a qualidade do serviço estava longe de ser satisfatória.

Em 1909, a Cia Paulista de Estradas de Ferro – na época uma das melhores empresas do país – levou sua linha até a cidade de Barretos, e as comparações foram inevitáveis. Os mineiros queixavam-se que o custo dos fretes da Mogiana era muito mais alto que o da concorrente, e o serviço pior. Muitas locomotivas eram velhas e pouco confiáveis, havia falta de vagões para atender as encomendas, os trens de passageiros atrasavam com muita frequência.

Para piorar, a ligação de Uberaba com o ramal da ferrovia Oeste de Minas em Ibiá, prometida há décadas, não saia do papel. O que, na prática, dava à Mogiana o monopólio do transporte na região. O problema só seria amenizado em 1915, quando a Mogiana abriu a nova linha de Igarapava, e em 1926, quando foi entregue a ligação da Oeste de Minas.

Um dos grupos que mais queixas tinha em relação aos serviços da Mogiana era o dos criadores de gado. Na virada do século, os pecuaristas dependiam do trens para transportar para o Triângulo Mineiro seus preciosos reprodutores Zebu, trazidos de navio diretamente da Índia ou comprados de criadores no norte do estado do Rio de Janeiro, onde há décadas já fazia fama o gado indiano. Também usavam os trens para levar e trazer de volta o gado de alta qualidade que mandavam para exposições agropecuárias no Rio e em Belo Horizonte.


Cartaz da festa de San Fermin em Pamplona, Espanha, em 1909

O transporte para essas cidades era uma epopéia: o gado saia de Uberaba pela Mogiana, que ia somente até Campinas. A mudança de bitola na linha obrigava que as reses trocassem de vagão para seguir até a capital de São Paulo, onde eram novamente transferidos para a Central do Brasil, que os levava até o Rio. Se o destino fosse Belo Horizonte, era preciso fazer uma nova baldeação no meio do caminho, em Barra do Pirai. Somando tudo, o transporte levava de quatro a seis dias, nos quais o gado seguia balançando em vagões apertados, acompanhado por vaqueiros que lhes fornecia água e comida no trajeto. Um enorme estresse, mesmo para o rústico e resistente gado Zebu.

Nem sempre as coisas corriam bem. Em 1907, o capitão Joaquim Machado Borges foi visitar as fazendas de Cantagalo e Porto Novo do Cunha, no norte do Rio, com o objetivo de comprar reprodutores puro sangue para sua própria fazenda e para a do coronel José Caetano Borges. Entusiastas do Zebu, um ano antes, os dois tinham sido responsáveis pela promoção da primeira exposição de gado indiano em Uberaba, na Fazenda do Cassu, de Zeca Caetano. Despachado de trem, o gado deveria chegar na tarde de uma quinta-feira, dia 20 de junho.


Rua do Comércio (atual Artur Machado) em Uberaba, em 1904. Postal de Marcelino Guimarães.

O trem atrasou e chegou na cidade quando o sol já havia sumido no horizonte. A velha estação da Mogiana ficava no final da Rua do Comércio (atual Artur Machado). Prudente, o capitão Joaquim preferia não correr o risco de fazer o desembarque e atravessar a cidade com seu precioso gado durante a noite. Mas os funcionários da Mogiana foram irredutíveis, e não permitiram que a carga ficasse nos vagões até o amanhecer.

O resultado foi trágico. O zebus, estressados pela longa viagem, pularam dos vagões tão logo as portas foram abertas, sem que os vaqueiros pudessem contê-los. Duas reses morreram na queda e outras duas ficaram feridas. O restante da manada desceu a Rua do Comércio numa disparada rumo à Praça Rui Barbosa, colocando para correr em pânico e desespero os pedestres que estavam nas ruas da cidade. Alguns touros invadiram as casas comerciais que ainda estavam abertas e um deles só a custo foi retirado de dentro de uma barbearia, depois de causar ferimentos em alguns clientes. Ainda que sem querer, Uberaba teve seu dia de “Corrida de Toros”, como as da cidade espanhola de Pamplona.


(André Borges Lopes)









Cidade de Uberaba

JUNTOS POR UBERABA

As redes sociais vieram para ficar. Os tradicionais veículos de comunicação estão perdendo prestigio. Não são mais os “ grandes condutores da opinião pública”. Deixaram-se “ vender” para os poderes públicos. Estão perdendo, vertiginosamente, audiência de outrora. O povo não mais se deixa levar pelas aleivosias cometidas, propositada e covardemente, por eles . No caso do “ estacionamento pago” em Uberaba, o exemplo é gritante. Mais de 3.000 uberabenses se manifestaram sobre a antipática medida. 99% disseram NÃO! Vejam exemplos:

Marta Silva”:-“A praça Rui Barbosa ficou uma merda. Haja amortecedores para passar por ali”.Fátima Mafioli:-“É um grupo apartidário, ou novo?”, pergunta.Mário Afonso Guido Cunha, lembra “Foi o tempo em que Uberaba era o paraiso para se morar. Verdade é que muitos profissionais vinham prestar serviço, por aqui ficaram , casaram, criaram os filhos. Vamos lutar para voltar aos bons tempos, cidade limpa, ordeira e progressista. Esses últimos governos municipais, os prefeitos não eram nativos daqui. Vamos valorizar os uberabenses de verdade”.

Tem mais depoimentos .Sandra de Deus Cherim, “vamos sim, lutar por uma Uberaba melhor. Esses governantes que estão ai, estão acabando com a cidade. É aumento de água, essa de ter que pagar estacionamento, é um absurdo. Acorda, povo de Uberaba. Vamos lutar pelos nossos direitos.” Benigno Bebiano Jr.,exalta:-“ Temos o pior Prefeito de todos os tempos. Este senhor acabou com Uberaba”. Josy Veloso, sem medo:-“Sou funcionária pública; nem por isso, vou me calar”. Ataide Camargo, diz:-“ Governo fajuto. Culpado os eleitores que elegeram essa tartaruga. Temos que eleger gente competente e que traga empregos para a cidade. Acorda, Uberaba! Ano que vem, temos que limpar essa corja de burros”.

Continuam as “ broncas”. Milo Bazaga, pergunta “ É ganância do prefeito em aumentar o roubo no povo uberabense. Porque a zona azul de Uberaba, idoso tem que pagar ? “ Miguel Luiz, faz ironia:-“ Prudente de Morais, acabaram com o movimento dela. Coitados dos comerciantes. Parabéns, Sr. Paulo Piau, nosso prefeito querido...”Luiz Hozumi Nojivi, com tristeza, fala:-“Uberaba, realmente, parou no tempo!”. Gustavo Menezes, desabafa:- “O centro está parecendo dia de sábado. Quase nenhum carro parado nuas suas vias onde está cobrando estacionamento. Realmente a população não aprovou isso”. Evaldo Firmino, prega:-“Ninguém pode ser escravo de sua identidade. Quando surge uma oportunidade de mudança, é preciso mudar “. E as queixas nas redes sociais, vão se avolumando. Acompanhem :

Gina Idaló, grita:-“Esse Piau tá querendo mais “dim-dim”. Nossa! Já nos tirou tanto! Quer mais ainda ?”. Geraldo Jr.”É muito estranho. Queria saber o nome do dono dessa empresa. As máquinas não funcionam e os “ flanelinhas verdes”, querem vender o cartão de 20 reais”...Já Wesley Ferreira, é pura ironia:-“Tirando o trabalho do jovem aprendiz e suas oportunidades... parabéns,prefeito, parabéns, vereadores , estão cada vez mais, acabando com a nossa cidade”. Mário Cortez, é um gosador:-“Bom demais. Agora vamos poder andar a cavalo a vontade no centro. E em dia de chuva, vamos pescar uns peixes com o barco. Ei, Uberaba, véia de guerra! Leonardo Silva, nada contente, afirma “Parabéns por fazer o que sempre queriam: ganhar muito dinheiro pro bolso, destruir nosso comércio e a nossa cidade. Parabéns, vocês são “feras”uma máquina de destruição”. Paro por hoje. Uberaba, começa ficar acordada ! Isso é um alerta para os que se acham” donos da cocada preta”...
Volto na segunda. Bom fim de semana. Abraços do “ Marquez do Cassú”.



Luiz Gonzaga de Oliveira


Cidade de Uberaba

A PRAÇA ( E A RUA ) É DO POVO!

Estou a acompanhar essa celeuma do “ estacionamento pago” em ruas, praças e avenidas na terrinha do “Doca”. Então, veio à lembrança um episódio que tomou conta de Uberaba, em 1972/73 . Antes de deixar a Prefeitura, o prefeito Arnaldo Rosa Prata, embora com alguns senões, fizera uma louvável administração. A começar pela surpreendente vitória nas urnas, sobre imortal” Mário Palmério, com quem disputou a Prefeitura naquele “mandato tampão” . Arnaldo, inaugurou o , até hoje, inacabado “Uberabão”, construiu o novo terminal rodoviário, “cobriu” parte dos córregos centrais da terrinha, além de asfaltar ruas no centro e bairros da cidade.

Nas eleições municipais de 72, prestigio em alta, rádio,jornal e TV, recém inaugurada, às mãos, lançou, com a sua turma da Arena 1, o tabelião Fúlvio Fontoura, como candidato à sua sucessão. Pelas obras realizadas, o apoio recebido, a eleição do “pupilo”, era ‘fava contada” . Do outro lado, Arena 2, meio desorganizada, precisando de votos na convenção da escolha de candidato, lançou Hugo Rodrigues da Cunha, perdedor de uma disputa à deputado federal e ex-Presidente da ACIU, também um dos lideres do movimento separatista do Triângulo, de Minas Gerais, chamado UDET (União de Desenvolvimento do Estado do Triângulo).

Hugo, contava com um frágil apoio de empresários do setor automobilístico e reflorestamento. Não mais. “Boa pinta”, a “bola da vez” era Fúlvio. A “mulherada” morria de amores por ele. Hugo, feioso, bigodudo, era o “azarão”. (Sem contar com o João Pedro de Souza, coitado, do esfacelado MDB...).Máquina administrativa na mão, vereadores ao seu lado, deputado federal, imprensa quase unânime,Fúlvio, podia mandar fazer o “ terno de posse”...

Mas, como em “boca de urna” e “cabeça de Juiz”, ninguém sabe o que sai, Hugo, “deu um banho de votos no seu opositor”. A vitória dos“ reflorestadores”, deixou uma parte dos “donos da cidade”, na rua da amargura. Nesse ínterim, veio o “troco”. O grande “Jumbo Eletroradiobraz”, pesquisa Uberaba para instalar uma das suas espetaculares lojas ! Euforia do “grupo” derrotado. A empresa paulista, precisava de uma grande área para a sua instalação. O que fez Arnaldo ? Com a anuência, quase total, só Mário Guimarães, eleito vice prefeito na chapa de Hugo, votou contra, a Prefeitura, doou a praça Jorge Frange, a “antiga praça da rodoviária”, à empresa paulista... Seria a “consagração” de Arnaldo e da Arena 1 e a “oposição” teria de aceitar...

Hugo, “empinou o arreio”! Gilberto Rezende, “cabeça pensante” do grupo vitorioso, gritou:-“Doar praça pública à particular ? Jamais! A praça é do povo !”.Ação popular impetrada, a medida foi sustada. Quando tomou posse, uma das primeiras medidas de Hugo, foi anular o “decreto de doação” da praça. O “Lavoura” “caiu de páu” no novo Prefeito. As rádios também .A TV, ficou neutra. “Sapo de fora não ronca”, disse dr.Renê Barsam, presidente da emissora.

Hugo, ofereceu ao grupo, outras áreas. Por “pirraça” e orientada pela “oposição”, a empresa paulista não aceitava nenhuma outra localização. Queria a praça e pronto ! Só que a “praça é do povo”, diziam os uberabenses. O “castigo veio à cavalo”. Em pouco tempo, a gigante “Jumbo-Eletrorádio Braz”, faliu ! A “oposição” ficou caladinha e Uberaba ficou livre daquele abacaxi.

Conto-lhes essa história da vida política de Uberaba e essas pretensões absurdas, quando falam em “ progresso de Uberaba’, “democratização de espaços”...Não sei se o meu fraterno amigo, Gilberto Rezende, toparia encampar um trabalho comunitário e dizer aos atuais “donos” da terrinha, para ir devagar “com o andor”, nesse famigerado “estacionamento pago”.

Desculpem-me pela extensão do texto. Abraço uberabense do “Marquez do Cassú”.



Luiz Gonzaga de Oliveira



Cidade de Uberaba

“DOCA” E UBERABA

Acordei, pensando em Você, minha doce e amada Uberaba ! Como estão judiando da nossa querida terrinha, meu Deus ! Logo me veio a mente, Orlando Ferreira, que conheci na minha infância na vila Maria Helena, onde éramos vizinhos. Lembrei do “Terra Madrasta”, o livro tão polêmico, proscrito pela Igreja Católica, objeto de estudos históricos até hoje. “Doca”, tinha acendrado amor por Você, Uberaba amada ! Ao elogiá-la, manifestou também o seu desagravo,com o que faziam com Você ! A classe política que dominava a terrinha e a chamavam de “ Princesa do Sertão”...

Hoje, Uberaba amada, colocaram na rua, as mazelas que apostavam em Você. No livro, segundo a sua dedicatória, “Doca” ,dizia” está podre, andrajosa e descalça”. Em outro trecho, terra querida, ele afirmava:- “ Estás infeliz, embora ofereça o meu trabalho, aprenda nele a odiar seus malfeitores”. “Doca”, Uberaba ,minha paixão, mais adiante no livro que chamou de “Terra Madrasta”, dá o seu testemunho a claríssima, deslumbrada e autêntica visão do futuro que te aguarda, Uberaba de todos nós. Foi assim que ele falou numa hora inspirada:

“Em ti, no teu solo estupendo, só existe a eterna beleza e ver-te é considerar-se acordado nas paragens dos sonhos. Por toda parte, poesia, encanto, paisagens maravilhosas, brilho, caridade, esplendor! Do teu solo ubérrimo, das suas árvores lindas, das tuas águas brilhantes, evola-se um murmúrio doce e harmonioso, apaixonado e indefinível, música sublime em concerto com o Sol que canta, nas alturas, a eterna canção da Luz e a Lua, as sonatas do amor! Tens tudo, Uberaba, mas, estás pobre, andrajosa e descalça. És honesta, mas estás amarrada, subjugada e assim seus malditos algozes ti prostituiram facilmente ! Estás em mesmo estado, sim ! Além disso, muito desprezada e injuriada”!. Contudo, te amo ! Apaixonadamente !”

Relembro, minha amada Uberaba, a lucidez e clarividência de Orlando Ferreira, o “Doca”, ao se referir a Você ! Ele descreve, com sabedoria invulgar, no livro que completou 90 anos, o quanto a amava, terra querida ! Enaltece , Você nem imagina, o que representa também áqueles que aqui aportaram , à busca de melhores dias...Uns,se sobressaíram com altivez e honra ! Outros, denegriram e denigrem a sua gloriosa imagem, Uberaba de todos nós...

“Doca”,é transparente quando afirma:- “As nossas maiores desgraças , devemo-las à maldita política uberabense. Politiqueiros sem escrúpulos , em ações descuidadas, se cercaram de maus elementos vindo de fora, aventureiros mortos de fome, que aqui aportaram com o fito único e exclusivo, ganhar a vida. Gente que não tem o menor amor a nossa amada terra, cujo principal desejo, é forrar o estômago. Assaltam, com facilidade e ganham posições de destaque, graças a imbecilidade dos nossos caricatos dirigentes. Uberaba amada, tem sido vítima desgraçada desses malditos aventureiros- todos mal intencionados -, desonestos, ladrões e muito ignorantes. Entretanto, nossa terra não se emenda, não se corrige”...

Amanhã, continuo com meus pensamentos voltados à memória de Orlando Ferreira, “Doca”, tão perseguido por dizer a verdade que, segundo o historiador, escritor e presidente da ALTM, João Euripedes Sabino, até o seu túmulo, não consta do cadastro do cemitério do “ brejinho” e muito menos nos arquivos públicos e historiadores da cidade. Uma outra história...
Grato pela atenção da leitura. Abraço fraterno do “ Marquez do Cassú”.



Luiz Gonzaga de Oliveira




Cidade de Uberaba

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Eterno referencial (*)

Meus amigos estão partindo / E eu na “sofrência” pensando / Qualquer dia estarei indo / Querendo ou não estarei viajando.

As palavras aí de cima enviei a alguns amigos ao cientificá-los da partida do amigo Jésus da Cunha Tormim no último dia 08/01/2019. Envolvido pela comoção de ver o grande combatente repousar quase que subitamente, não me restou outra alternativa senão a de escrever o que me pediu o coração. Não era para menos, posto que perdi três amigos e duas amigas em um mês. 

Recebi incontáveis respostas e dentre tantas, me permito transcrever algumas aqui, já que me valeram e poderão provocar extensas reflexões: “Deixe a barba de molho”. “Felizmente iremos conscientes do dever cumprido”. “Essa sua tristeza, ainda bem que extravasou na trova bastante realista”. “Esse é o final nosso e não tem jeito”. “Sua missão aqui ainda será longa...”. “E assim segue a vida”. “É a única certeza que temos”. “És jovem no modo que vives a vida”. “Verdade amigo. Deus tem o tempo certo para cada um de nós”. “Estamos no mesmo barco”. “A morte é apenas uma viagem”. “O dia da grande viagem é um botão on/off”. “Ainda vamos fazer muitas viagens juntos”. “Essa é a lei...”. “Terminada a missão aqui, começa a de lá”. “Não vamos pensar nisso não...”. 

E continuam outros amigos manifestando sobre o meu epitáfio: “Não pense, que é melhor”. “Sigamos com Deus rumo ao horizonte lá bem no infinito”. “Devemos viver o hoje como se fosse o último dia”. “Nós viajaremos querido amigo”. “Essa é a única certeza que temos, meu amigo”. “A fila anda e ninguém fura”. “Viver o hoje bem vivido, vale mais a pena”. “Enquanto tiver sonhos o corpo suporta muito bem”. “Estamos todos na fila”. “Precisamos de seus ensinamentos”. “Iremos todos...”. “Verdade. Tenho o mesmo sentimento”. “Compartilho o sentir”. “Amigos especiais são presentes de Deus”.

Os donos das frases mencionadas, aos quais sou imensamente grato, irão identifica-las, como o pai que reconhece a voz do filho estando ele entre mil crianças. Jamais imaginei que o falecimento do amigo Jésus da Cunha Tormim pudesse reverter a mim ensinamentos vindos de tantas pessoas em momento tão especial. Jésus era assim; tinha o poder de aglutinar pessoas. Usava frases diretas ou de efeito e, muitas vezes de “efeito retardado” para serem entendidas horas ou dias depois. Defendia sempre a verdade sem perder a ternura. Não sabia negar ajuda a ninguém. 

Amigo Jésus. Por onde você passou, o seu assento jamais terá um substituto e, na confraria Roda de Fogo, será nosso eterno referencial.



(*) - João Eurípedes Sabino-Uberaba /MG/ Brasil 








Cidade de Uberaba

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

André Borges Lopes

Há duas semanas, falei das uvas e vinhos do Padre Zeferino, destruídos pela repressão aos que apoiaram a Revolução Liberal mineira. Mas o movimento de 1842 também trouxe benefícios à região de Uberaba. Um dos mais duradouros foi a transferência do Colégio do Caraça que – para se afastar da agitação política – deixou às pressas as serras ao norte da antiga capital Ouro Preto e se instalou em uma fazenda em “Campo Belo da Farinha Podre”, atual cidade de Campina Verde.

Encravado nas montanhas da Serra do Espinhaço, o “Santuário do Caraça” é um ponto turístico histórico de Minas Gerais. Foi o primeiro grande empreendimento no Brasil da Congregação da Missão – ordem religiosa conhecida como ”lazaristas” ou “Irmão Vicentinos” – que, vinda de Portugal antes da independência, aqui chegou em 1818. Dois anos depois, receberam de Dom João VI as terras onde havia a “Ermida do Irmão Lourenço”, uma capela barroca e uma hospedaria para peregrinos que se aventuravam pela Serra do Caraça.

Em poucos anos, a ermida semiabandonada transformou-se num colégio interno e um seminário, inaugurados em 1921. Famoso pela seriedade e rigidez da disciplina, o Caraça tornou-se referência de ensino para a elite brasileira do século XIX. Ex-alunos fizeram carreira como governadores de estado, senadores, deputados, empresários e autoridades religiosas – entre eles dois presidentes da República: Afonso Pena e Artur Bernardes. Colégios particulares do Rio de Janeiro faziam anúncios destacando que seguiam o “método Caraça” de ensino científico, religioso e moral.

Nos anos após a independência, havia muita desconfiança política em relação a padres estrangeiros vinculados às ordens em que os superiores estavam na Europa. Mas não são claros os motivos que levaram à fuga dos lazaristas durante a Revolução que – por dois meses e dez dias – transformou Minas Gerais num campo de batalha entre liberais e conservadores do Império. Há versões que falam da adesão dos religiosos a um ou a outro lado do conflito, e do temor de retaliações. Fato é que, em 24 de agosto de 1842 – dias depois da derrota do rebelde Teófilo Otoni para forças comandadas pelo Duque de Caxias na batalha de Santa Luzia – o então diretor do colégio, Padre Antônio Viçoso (futuro Bispo de Mariana), transferiu-se para o Triângulo Mineiro carregando alunos, professores, escravos, livros e parte dos equipamentos. Uma viagem de 700 km em carroças e tropas de mulas, pelas estradas precárias da Província.

O colégio instalou-se em três grandes fazendas – Campo Belo, Fortaleza e Paraíso – na região de Campina Verde. Terras que haviam sido doadas aos Vicentinos em 1830 pelo fazendeiro João Batista de Sequeira e sua mulher Bárbara – descendente de índios Caiapós – que não tinham filhos nem herdeiros. Os doadores pediram em troca a construção de uma capela para celebração de missas aos domingos e dias santos, a construção de uma escola de “primeiras letras” e , quando houvesse condições, que fossem ministradas aulas de gramática latina e outros estudos “que o reverendíssimo superior julgar que se estabeleçam”.

A transferência do Caraça cumpriu por algum tempo as promessas. O “Colégio e Seminário de Campo Belo” foi pioneiro na difusão de cultura, educação e religião no Sertão da Farinha Podre – região esquecida do Império, de escassas escolas. Cumpriu também missões de catequese dos índios Caiapós, que ainda habitavam grandes áreas do Triângulo, e ofereceu uma alternativa de educação formal para os filhos dos donos de fazendas agrícolas e de criação de gado de Minas, Goiás e Mato Grosso. Relatos da época dizem que um terço dos alunos estudava gratuitamente, ou “pelo amor de Deus” nos termos de então.

O mais ilustre dos alunos dessa escola foi o escritor Bernardo Guimarães – autor dos romances “Escrava Isaura” e “O Seminarista” – que ambientou em Campo Belo um de seus contos: “Jupira”, história de amor e tragédia entre uma índia Caiapó e um português, publicada em 1872. Também foram alunos do colégio em Campina Verde o político Eduardo Montandom, futuro presidente da Província de Goiás, o advogado e compositor Antônio Cesário de Oliveira Filho (Major Cesário) e diversos intelectuais que fariam carreira como professores e profissionais liberais em Uberaba.

Em 1856, o Caraça retornou definitivamente à sede original, agora tendo à frente padres Vicentinos vindos da França. Foi o início de sua época de ouro como centro de formação da intelectualidade brasileira.



Cidade de Uberaba

O SAMBA UBERABENSE DE IBRAHIM SUED

No início dos anos 1950, despontou na imprensa carioca um novo colunista social, que iria fazer grande sucesso nas décadas seguintes. Descendente de árabes, de uma família pobre, Ibrahim Sued iniciou a carreira nos jornais como repórter fotográfico, ainda nos anos 1940. Nesse trabalho, revelou raro talento para infiltrar-se em locais restritos e obter boas informações, além da uma capacidade admirável de relacionamento com a fina flor da alta sociedade da então Capital Federal.

Trabalhou com grandes jornalistas, como Joel Silveira na revista “Diretrizes” e Carlos Lacerda na “Tribuna da Imprensa”, onde começou a escrever os primeiros textos. O sucesso viria a partir de 1954, quando foi contratado pelo jornal “O Globo” para assinar uma coluna social informal e inovadora para a época, com a qual fez fama e fortuna. Criou “bordões” que se tornaram célebres como “De leve”, “Sorry periferia”, “Ademã que eu vou em frente”, “Os cães ladram e a caravana passa”, dentre outros.

Curiosamente, Sued nunca foi escritor talentoso e – segundo seus detratores – tinha dificuldades com a gramática. Além disso, fazia amigos com a mesma velocidade com que colecionava desafetos. Causou surpresa quando, no início de 1956, revelou que estava dando início à carreira de letrista. Sua primeira música era o samba-canção romântico “Decepção”, composto em parceria com um músico também estreante, de família uberabense: Mário Jardim, neto de Quintiliano Jardim – jornalista e diretor do jornal “Lavoura e Comércio”. Mariozinho, como era conhecido, morava no Rio de Janeiro, onde trabalhava no Tribunal de Contas.

Em fevereiro daquele ano, a música foi lançada pela gravadora Sinter, interpretada por Neusa Maria, uma bela e jovem cantora que despontava nos programas de rádio da Capital. Em parte graças à curiosidade e à promoção dada por Ibrahim, o samba fez sucesso e foi incluído no primeiro LP da cantora, lançado meses depois. Uma busca no YouTube nos permite ouvir a gravação original: uma história triste de uma moça apaixonada, traída por falsas promessas de amor, bem ao gosto da época.

No mês de abril Ibrahim e Mário já anunciavam nova parceria no samba “Amor não é brinquedo”, quando uma revelação caiu como um bomba: a jornalista uberabense Iná de Souza reivindicava a autoria da letra e acusava o colunista de plágio. Não faltavam inimigos de Ibrahim na imprensa e a denúncia teve repercussão em diversos jornais e revistas. Iná foi entrevistada e contou sua história: a pedido de Mário, havia escrito a letra no inicio de 1954. O samba, gravado por uma cantora uberabense com arranjo do maestro Alberto Frateschi, teria feito sucesso no carnaval daquele ano. A letra supostamente escrita por Ibrahim tinha poucas palavras modificadas, a maior parte era rigorosamente igual, inclusive o título.

Desconhecida no Rio, Iná de Souza tinha certo prestígio em Uberaba. Filha de uma família de jornalistas que editava o jornal “O Triângulo”, Iná escrevia crônicas e poemas desde a década de 1940. Era também uma das responsáveis pela revista “Graça e Beleza”, de moda e comportamento. Durante a gestão de Antônio Próspero havia trabalhado por alguns anos na Prefeitura, como bibliotecária, diretora do serviço de estatística e chefe de gabinete do prefeito. Nos últimos anos, havia se licenciado do cargo e estava morando com uma irmã na capital de São Paulo – onde foi surpreendida ao ouvir na voz de Neusa Maria o samba que havia composto.

Questionado pela imprensa, a primeira explicação de Mario Jardim tinha cara de confissão de culpa: alegava que, na realidade, a letra era dele e Ibrahim Sued – que não sabia nem batucar em caixa de fósforo – havia composto a música. O próprio Ibrahim, então passando uma temporada na Europa, preferiu não se manifestar. Enquanto isso, Iná de Souza chegava ao Rio disposta a contratar um advogado para processar a dupla e garantir seus direitos. Dizia que tinha inúmeras provas e testemunhos do que afirmava. Mas que, infelizmente, a única gravação em acetato da música feita em 1954 havia sido subtraída de uma rádio uberabense pelo poderoso avô jornalista do coautor.

O que se seguiu nunca ficou muito claro. Aparentemente, a gravadora Sinter intermediou um acordo entre as partes. O fato é que assunto sumiu da imprensa, e ninguém tocou mais no assunto. Mário e Ibrahim continuaram a compor em parceria e Iná voltou a Uberaba, onde tornou-se uma conhecida agitadora cultural. Mas isso já é uma outra história.


(André Borges Lopes)



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