segunda-feira, 18 de junho de 2018

ANTENÓGENES, MAGO DO ACORDEON

Quando se pensa em sanfoneiros na música brasileira, o primeiro nome que vem a cabeça é o do pernambucano Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião” – ou mesmo o do seu conterrâneo e sucessor artístico Dominguinhos. Pouca gente sabe que quando Gonzagão despontou nas rádios cariocas no início da década de 1940, o caminho do sucesso para os tocadores de sanfona já havia sido aberto e desbravado por outro pioneiro: o uberabense Antenógenes Silva – conhecido como “Mago do Acordeon” – que, no ano de 1938, já contava com mais de 100 músicas lançadas em disco pelo selo Odeon. 

Antenógenes Honório Silva nasceu em Uberaba em 30 de outubro de 1906, primeiro de dez filhos do serralheiro Olímpio Jacinto da Silva e de Dona Maria Brasilina, descendentes empobrecidos do famoso Barão de Ponte Alta. A necessidade fez com que estudasse pouco e trabalhasse desde cedo. Ainda criança, encantou-se com a sanfona, que o pai tocava e teve paciência de lhe ensinar. Sua mãe contava que o menino Antenógenes ia para o centro da cidade e demorava a voltar, embevecido com as músicas que ouvia nos gramofones das lojas da Rua do Comércio. Chegando em casa, tirava as melodias de ouvido e de memória na sanfona paterna. 

Uberabense Antenógenes Silva – conhecido como “Mago do Acordeon”

Adolescente, era convidado para tocar em bailes e festas da cidade. Cismou que queria um acordeon de verdade, mais caro e sofisticado que a velha sanfona de oito baixos do seu Olímpio. Economizou os trocados que ganhava nas festas até conseguir comprar um. Em pouco tempo sua fama chegava em Ribeirão Preto, onde ia tocar nos fins de semana. Tinha 21 anos quando resolveu tentar a sorte na capital paulista. Um amigo o viu de mala e cuia na estação da Mogiana e perguntou, “vai pra onde?”. “Pra São Paulo, estudar música, trabalhar e tocar”, respondeu, “um dia volto aqui para dar um concerto”. “Estudar para dar concerto aqui não precisa não”, retrucou o amigo. O trem já partindo, Antenógenes lhe disse: “Santo de casa não faz milagre”. E correu para o mundo. 

Em São Paulo, seu assombroso talento foi logo reconhecido. Tornou-se atração das rádios Educadoras e da Record. Venceu o preconceito que havia contra a sanfona: nas suas mãos, o arcodeon se transformava em instrumento de música erudita. Gravou os primeiros discos pela R.C.A. Victor e passou a ser convidado para tocar com os mais famosos cantores do rádio. Em 1934, firmou contrato com a Odeon e com a sua parceira de vida: a também radialista Lea Silva, pioneira dos programas femininos na rádio brasileira. 

Antenógenes Honório Silva

Entre o final dos anos 1930 e a década de 1950 o casal transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde juntaram dinheiro, consagração e fama. Antenógenes deixou os programas de música regional (num deles foi sucedido por Gonzagão, que o considerava como um dos seus mestres) e partiu para outros gêneros: valsas, polcas, maxixes e tangos. Chegou a fazer sucesso no Uruguai e na Argentina, onde tocou com Carlos Gardel e Libertad Lamarque. 

Sua esposa, Lea Silva, farmacêutica de formação e violinista amadora, comandava no rádio um programa com dicas de beleza e culinária. Juntos os dois montaram um laboratório de cosméticos, que fabricava o então afamado Creme de Beleza Marsileia. Já bem de vida e famoso, Antenógenes retomou os estudos: concluiu os cursos primário e ginasial e, não satisfeito, formou-se em química industrial. Em 1957 passou uma temporada na Europa, participou de um concurso promovido pela fábrica de gaitas Honner, na Alemanha, tendo sido reconhecido como um dos maiores acordeonistas do mundo. Apresentou-se também no Conservatório de Paris. 

Creme de Beleza Marsileia


No Brasil, compôs e gravou centenas de músicas, sozinho ou em parcerias. A mais famosa delas é a valsa “Saudades de Matão” (1938), em parceria com Jorge Galati e Raul Torres, que foi objeto de uma longa disputa pelos direitos autorais.



Menos famosa, mas não menos bela, é "Saudades de Uberaba", parceria com Oscar Louzada, que nunca encontrou um letrista disposto a complementar com poesia essa homenagem à nossa terra.




Participou também da gravação pioneira de “Tico-Tico no Fubá” ao lado do autor Zequinha de Abreu e fez a única gravação registrada de Dona Stella Maris, a esposa de Dorival Caymmi, que é vocalista na sua valsa “Saudade Profunda”.



No início dos anos 1960, o casal decidiu erguer do zero a Rádio Federal na cidade de Niterói. Mas um enfarte fulminante levou Lea Silva em dezembro de 1961. Antenógenes seguiu com a rádio e a fábrica por mais dez anos, quando vendeu tudo e se aposentou. Amante fiel das músicas antigas, continuou apresentando-se esporadicamente em bailes e homenagens. Sem filhos, faleceu em 2001, aos 94 anos, no mais completo ostracismo. Nenhum grande jornal do país publicou seu obituário. 

(André Borges Lopes / texto originalmente publicado no Jornal de Uberaba, em 27/05/2018)


domingo, 17 de junho de 2018

HISTÓRIA DO HINO DO USC

O hino do Uberaba Sport Club, famoso pela composição e melodia, foi criado, originalmente, para ser a marcha da cidade de Uberaba. Em pesquisa realizada pelo Professor Carlos Pedroso, este apresenta um histórico sobre os autores o hino do USC. Composto por Lourival Balduíno do Carmo, o hino tem melodia de Rigoleto de Martino. Conforme o pesquisador o autor da letra era barbeiro de luxo e trabalhava no início da Rua Artur Machado. Músico e poeta, ele tinha por costume se vestir muito bem, daí surgiu o apelido de Barão. Era poeta e músico autodidata. Após cinco anos de casamento, este nobre cidadão acabou enveredando para o alcoolismo. Perdeu tudo que tinha. Na pesquisa, Pedroso conta um diálogo entre De Martino e Barão. Lourival Balduíno certa vez afirmou ao maestro: "Eu ainda vou pôr letra de futebol nessa sua marcha de Uberaba". De Martino respondeu: "Eu não acredito. Conheço a sua capacidade de fazer versos livres, quase como trovas. Mas letra de marcha hinária você nunca terá capacidade de compor". Certa manhã, o Barão levou a De Martino a letra e profetizou: "Sua marcha de Uberaba, daqui por diante, vai ser mais conhecida como o hino do USC".Jornal da Manhã, de Uberaba-MG, em 15/07/1999.


Composto por Lourival Balduíno do Carmo(Barão) e melodia de Rigoleto de Martino


Tenho fulgente história.
Até os deuses já cantam minha glória!
Sou o valente campeão
Que de Uberaba possuo o coração.
Sempre leal e forte,
Sou o denodado Uberaba Sport,
O astro rei, brilhante sol,
A potestade mor do futebol.
Meus jogadores lutam sempre com afeição
Em prol do belo alvi-rubro pavilhão
Nada os retém em seu fervor
Acometendo com ardil e valor.
Em campo altivos, briosos, viris,
Sempre triunfam nas pugnas febris.
Seus peitos tremem de santo ardor
E a glória os beija num lance de amor…
Nobre e liberal,
Meu time não tem rival!
É vencer a sua divisa ideal.
Tem vitórias mil:
É a glória do Brasil!
Ah! Valente Sport
Tão alvejado e sempre forte!
Aleguá!…guá!…guá…Urrah!…Urrah!
Salve! Ó campeão
Da Princesa do Sertão!


Títulos
Campeonato Mineiro da Segunda Divisão:2003 - Campeão.
Campeonato Mineiro da Segunda Divisão: 2007- Vice-campeão.
Taça Minas Gerais: 1980 - Campeão.
Torneio de Acesso ao Campeonato Brasileiro: 1986 - Campeão.
Torneio Santos Dumont: 1974 - Campeão.
Taça Minas Gerais: 2006 - Vice Campeão.
Competições Oficiais
Taça Minas Gerais: 2009 - Campeão.
O Uberaba no campeonato mineiro

Hino

Carta aberta aos caminhoneiros


Dada a conhecer hoje 27/05/2018 no Posto Zote, em Uberaba/MG.

Consta que no dia 30 de junho de 1944, o Brasil entrou na II Guerra Mundial, ao lado dos países aliados: Estados Unidos, Inglaterra, União Soviética e as resistências civis-militares de países como a França. Há 74 anos, portanto, nossos 443 jovens soldados morreram pela pátria, apesar de pouco ou nada saber sobre as razões do conflito.

Os que viveram aquele tempo contavam que o nosso país mergulhou em crise geral. Nossos pouco eficientes veículos, então movidos a gasolina e óleo diesel (popularmente chamado de óleo cru), passaram a ser abastecidos com gasogênio. Racionamentos eram comuns em todos os setores da nossa economia. Aguentamos firmes!

Hoje estamos vivendo crise de guerra em pleno “tempo de paz”. Nossos caminhoneiros pararam o Brasil por melhores condições de trabalho e essa não é a primeira vez nos últimos dezenove anos. “Sem caminhão o Brasil para”, foi esse o slogan dos caminhoneiros que deram um breque no país em 1999. Nossos governantes não aprenderam a lição.

Se durante a 2ª Grande Guerra, quando tínhamos pouco mais de quarenta milhões de habitantes fomos privados de tanta coisa, imaginemos agora que temos mais de 213.000.000? Nossos irmãos caminhoneiros ao pararem seus caminhões, testaram e viram o poder que têm. De cima a baixo na economia, todos os setores em cascata foram comprometidos. De norte a sul do país vimos, em tempo real, estradas literalmente obstruídas por veículos médios e pesados. E o povo, apesar de ser o fiador da conta e sentindo doer na própria carne, bate palmas para as manifestações adotadas. Os caminhoneiros, sem usar o vandalismo e a violência fizeram suas pressões e ganharam a simpatia da sociedade.

Para que fique gravado na história, é bom registrar que sem a presença de sindicatos ou influência de partidos políticos, a frota brasileira foi mobilizada longe dos interesses da mídia. Tanto foi verdade que o governo de Michel Temer, encurralado, convocou o Exército Brasileiro para dissolver o movimento. Deu errado porque a Força se aliou aos caminhoneiros! O país parado, parado, parado, vê suas forças policiais se perfilarem com os manifestantes que lutam por uma causa nobre: reduzir o preço dos combustíveis e facilitar a vida dos brasileiros. 

Não é segredo para ninguém que a história sempre reservou lugares especiais para aqueles que arcaram com os prejuízos por ter colocado seus destinos à mercê da sorte. Nossos caminhoneiros são autênticos heróis ao exporem seus destinos para nos proporcionar boa qualidade de vida. Ainda que sofram as pessoas Brasil afora, todas elas sabem que sofrem por uma causa digna: colocar o caminhoneiro no lugar que merece, ou seja, tirá-lo da condição desumana de trabalhador descartável e promovê-lo ao patamar de um ser humano valorizado e dono de uma força até então desconhecida por ele próprio e todo a sociedade brasileira.

Prossiga caminhoneiro! Sua sorte está lançada! Seus compatriotas estão com você! Sua família, mesmo distante, compreenderá a sua luta! Nós do outro lado guardaremos nossos veículos em casa os usaremos o mínimo possível para conseguir que os combustíveis tenham seus preços reduzidos!

Eu, particularmente sei o que é a vida do caminhoneiro e a de sua família. Meu saudoso pai no ano de 1980 ficou ilhado no Rio Tocantins e incomunicável por 54 dias. Ao ser localizado e, ao voltar para casa vi minha mãe morrer no outro dia. Vocês, caminhoneiros, estão expostos a esses dramas.


Caminhoneiro! Não se esmoreça! Nós estamos com você!


João Eurípedes Sabino – Uberaba Minas Gerais. 

Obras-Primas do Cinema Europeu


METROPOLIS
Criatividade e Arrojo

Guido Bilharinho

Metropolis


         A ficção-científica nasce com Edgar Allan Poe, que, além de tudo, em 1844, quase um século antes de Orson Welles, agita Nova York com a falsa notícia, publicada no New York Sun em tons sensacionalistas, da travessia do Atlântico por máquina voadora dirigida, entre outros, por um certo Monck Mason. Aliás, Poe é, também, o criador da ficção policial. Na literatura, são gêneros menores ou, na concepção de muitos, nem o são. Apenas, simples entretenimento. Na verdade, com exceções tão raras quanto notórias, entre as quais os contos poescos, não passam disso.

         No cinema, contudo, tanto um como outro adquirem importância e status artístico, assumindo posição destacada.

         Metropolis (Idem, Alemanha, 1926), de Fritz Lang (Áustria, 1890-1976), é talvez, cronologicamente, o primeiro grande filme de ficção-científica. Não simplesmente o primeiro, porque, antes dele, e desde Méliès, com seu Voyage Dans la Lune (França, 1902), o gênero já se instala no cinema. Mas, o primeiro de valor artístico, de arrojada criatividade.

         É filme expressionista. Síntese entre o expressionismo, a inventividade artística e a ficção-científica.

         Impressionam, nele, a convergência e a convivência de concepções futuristas na arquitetura, no urbanismo e na parafernália e infraestrutura mecânicas, abrangendo desde TV, robótica (um perfeito e, segundo consta, primeiro robô do cinema), e complexa combinação de máquinas de toda espécie, função e finalidade com as mais antiquadas e superadas formas de habitação subterrânea, como as catacumbas.

         Lang coloca, pois, lado a lado, modernidade e arcaísmo: a) arranha-céus colossais e coruscantes, entre os quais se insere, insólita, a casa-cabana de cientista genial, porém, estereotipadamente aloucado, vezo expressionista ecoando a tendência preconceituosa do homem comum em relação aos sábios; b) portentosos viadutos e sombrios corredores catacúmbicos cavados na rocha; c) interiores futuristas e cavernas tumulares de ossuários à mostra. Estas, aliás, lembram e remetem àquela descrita por Edgar Allan Poe (EE. UU., 1809-1849), no conto “O Barril de Amontillado” (The Cask of Amontillad), da série Contos de Terror, de Mistério e de Morte. Conto este, aliás, que, fundido com “O Gato Preto”, e ambos alterados em muitos pontos, servem de base ao segundo episódio do filme Muralhas do Pavor (Tales of Terror, EE.UU., 1962), de Roger Corman.

         Antes do Chaplin de Tempos Modernos (Modern Times, EE.UU., 1936), Lang focaliza a robotização do operário pela imposição de movimentos uniformes e constantes.

         Raros são os filmes, proporcionalmente à evolução científica da época de sua feitura, com poder imaginativo tão desenvolvido e marcado por percepção e realização tão avançadas e ousadas como Metropolis. E, ao mesmo tempo, tão terrível em captar a realidade da exploração do trabalho humano e a volubilidade e desorientação das massas amesquinhadas e animalizadas.

         Nem só isso, nem só tudo isso, porém. Além das notórias distorções impostas pelo expressionismo, realçando o mistério, o inaudito e o indizível, o sentimento humano e humanitário permeia o filme do início ao fim. Afinal, suas personagens são seres humanos, malgré tout.

         Como construção cinematográfica e criação artística, Metropolis constitui uma das obras capitais não só da ficção-científica e do expressionismo, mas, do cinema, que nem o exagero e mesmo simploriedade da justaposição antinômica capital x trabalho conseguem empanar. Porém, são justamente excessos, desvirtuamentos e contrastes que Lang quer realçar, mesmo que, nesse passo, incida num maniqueísmo convencional.

         Sob o aspecto da interpretação dos atores, o filme, desde 1926, denuncia o que muitos, à época, inclusive e principalmente Chaplin, não queriam ver e aceitar: a limitação imposta pela falta do som, levando não só nesse, mas, principalmente nele, a demasias interpretativas para conseguirem os atores exprimir e enfatizar as emoções e sentimentos que avassalam as personagens. No caso, é enorme o esforço nesse sentido dos dois protagonistas, o casal de jovens inserido no vórtice dos acontecimentos e neles interferindo com sua ação idealista (e bastante idealizada).

         Por fim, em se tratando, como se trata, de filme expressionista, mesmo que de ficção-científica, é inadmissível (para se ficar num termo civilizado) sua colorização, conforme versão existente. A própria gênese do filme, como de qualquer obra do expressionismo cinematográfico, repele a claridade, a iluminação, o pluralismo cromático. Sob esse prisma, a cópia colorizada que a televisão por vezes exibe, e segundo se sabe, ainda por cima mutilada, é simplesmente anti-expressionista e ofensiva à autoria e à criação artística.

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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, estudos brasileiros, história do Brasil e regional.


Câmara Municipal de Uberaba em Sessão Solene entrega Título de Cidadania ao casal.Sr.e Sra Família Palis

Câmara Municipal de Uberaba em Sessão Solene. 



Vereadores da Legislatura de 1970 a 1972.


Em pé (esquerda para direita)


Sílvio Roberto dos Santos Prata
Eurípedes Soares
Álvaro Diniz de Deus
João Antonio Speridião
Homero Vieira de Freitas
Israel José da Silva (Presidente da Câmara Municipal de Uberaba)
Wirson Rezende da Cruz
Senhor e Senhora Palis
Munir Dib
Sebastião Rezende Braga
Pedro Solé
Valdir Rodrigues Vilela (Secretário Geral da Câmara Municipal de Uberaba)

Foto: Schroden Jr.

(Foto do acervo pessoal de Valdir Rodrigues Vilela).

HISTÓRICO DA MAÇONARIA EM UBERABA

Publicada 3ª edição
do
HISTÓRICO DA MAÇONARIA
EM UBERABA
de Inácio Ferreira


Fartamente ilustrado

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus

Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus 
 Foto: Antônio Carlos Prata

Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus
Foto: Antônio Carlos Prata

A igreja matriz onde hoje se localiza nossa catedral teve o início de sua construção em 1827 (o Brasil já havia se tornado independente) por intermédio de Vigário Silva mas seria apenas em 1854 que seriam realizados ali os primeiros ofícios religiosos. Esses 17 anos de construção de um templo razoavelmente modesto mostra-nos a precariedade econômica da população local nas primeiras décadas do século XIX. Enquanto a região nordeste ainda se mantinha com a produção e exportação de açúcar, a região central de Minas havia se convertido em grande polo econômico por conta do ouro e convertido a própria cidade do Rio de Janeiro em capital pela proximidade de ambas, São Paulo havia se caracterizado pelas atividades bandeirantes e a região sul pela produção de charque, em Uberaba ainda se definia uma economia em parte agrícola marcada pela produção de arroz (vide os ramos de arroz até hoje presentes em nosso brasão municipal) e em parte comercial por conta do ponto estratégico que nos situamos no Brasil Central, entre três importantes regiões: Minas, São Paulo e Goiás. Destaco também a participação do escravo afro-brasileiro Manoel Ferreira oferecido pelo sargento-mor Eustáquio para contribuir na construção da nova matriz. Não nos esqueçamos que este país foi literalmente edificado por braços negros, aos quais somos tão devedores, e que em nossa igreja matriz não foi diferente. Em 1857 graças a Frei Eugênio a igreja foi dotada de uma grande sacristia, um adro e recebeu paramentos e alfaias. Em 1868 cada uma das duas torres recebeu um sino de cerca de trinta e cinco arrobas cada que permanecem na catedral até hoje. Interessante notar que com o avançar do século e o consequente enriquecimento material da população uberabense, a própria igreja se torna espelho dessa prosperidade por estar sempre em estado de reforma e sempre recebendo melhoramentos. 

No final do século XIX teremos o início de um período de grande prosperidade para as elites uberabenses com o advento da criação do gado de raça zebuína buscado na Índia. No começo do século XX, já sob o regime republicano, e inspirados pelas reformas modernizantes e arquitetônicas baseadas na Europa (o Rio de Janeiro abriu suas primeiras grandes avenidas e Manaus construiu seu Teatro Municipal) os uberabenses receberam a energia elétrica em 1904 e várias reformas urbanas, como na praça Rui Barbosa. Esse rápido avanço conquistado com os capitais excedentes da pecuária zebuína e com a vinda da Companhia Ferroviária Mojiana atraiu para a cidade o bispo de Goiás, D. Eduardo Duarte Silva que acabou por se tornar o primeiro bispo da Diocese de Uberaba, criada em 1907 pela bula Goyaz Adamantina Brasiliana Republica pelo Papa Pio X. Por determinação desta bula o padroeiro da diocese seria o Sagrado Coração de Jesus e D. Eduardo inaugurou deste modo a igreja do Sagrado Coração – atual igreja da Adoração Perpétua ao lado da Cúria Metropolitana – com a prerrogativa de catedral permanecendo a igreja da praça Rui Barbosa como matriz de Santo Antônio e São Sebastião. 

Em 1910 a matriz passou por grande reforma em que se definiu o estilo arquitetônico gótico manuelino e que seria dotada de apenas uma grande torre como até hoje se encontra desde esta data. Finalmente, em 1926 por determinação do bispo D. Luis Maria de Sant’Ana e decreto da Sagrada Congregação Consistorial a catedral seria transladada para a matriz de Santo Antônio e São Sebastião à Praça Rui Barbosa e os padroeiros seriam invertidos, permanecendo assim, em definitivo, como Catedral Metropolitana do Sagrada Coração de Jesus a partir de 20 de maio de 1926. Ainda assim, de modo a manter viva a memória de mais de cem anos que Uberaba permaneceu sob a proteção de Santo Antônio e São Sebastião, decidiu-se que uma estátua de cada santo ladearia a catedral metropolitana, imagens que permanecem até hoje em local de visibilidade e veneração. 


 Vitor Lacerda.



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Cidade de Uberaba

LIVRO: MOVIMENTOS POÉTICOS DO INTERIOR DE MINAS GERAIS VOL. II

Guido Bilharinho




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O VISCONDE DE TAUNAY E O TRIÂNGULO MINEIRO DE 1865 de José Mendonça


Publicada 2ª edição do ensaio que inaugurou a coleção “Cadernos da ALTM” em 1964


O VISCONDE DE TAUNAY E O TRIÂNGULO MINEIRO DE 1865





segunda-feira, 28 de maio de 2018

Estádio Municipal Engenheiro João Guido, mais conhecido como Uberabão

 Estádio Municipal Engenheiro João Guido.

Inaugurado em 1972, o Estádio teve o início de sua construção em 1961. Popularmente chamado de Uberabão - O nome do estádio é uma homenagem posterior à inauguração e ao mandato do Engenheiro João Guido, que quando prefeito tornou o imóvel público e retomou a construção.

Foto: Final da década de 1960


Foto: autoria desconhecida 


Fonte: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba. 

                           

terça-feira, 15 de maio de 2018

Time Uberaba Sport Club (USC) Ano - 1967

Time Uberaba Sport Club (USC)  Ano - 1967

Time do Uberaba Sport Club (USC) - Com um elenco abarrotado de jogadores renomados em 1967. 

Da esquerda para direita: Em Pé - João Batista, Lé, Vadinho, Hermínio, Quincas e Pedro Bala; 

Agachados - Valter Cardoso, Valtinho,Juca,Roberto Peniche,e Carlos Alberto 

Foto: autoria desconhecida 

(Foto do acervo pessoal de Wagner Eustáquio Carvalho) 

terça-feira, 8 de maio de 2018

Obras-Primas do Cinema Europeu


NOSFERATU 

A Arquitetura do Terror 



Guido Bilharinho

A Arquitetura do Terror

Em 1922, na Alemanha, Friedrick Wilhelm Murnau (1889-1931) realiza Nosferatu (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens), baseado no livro de Bram Stoker, conquanto sem dizê-lo e até mudando os nomes das personagens, o que lhe valeu, a ele e ao produtor do filme, processo judicial.

Não obstante ter-se posteriormente várias versões do tema, como as realizadas por Tod Browning (EE.UU., 1932), Werner Herzog (Alemanha, 1979) e Francis Ford Coppola (E.E. UU., 1992), é indispensável - e mesmo inevitável - compará-lo com a refilmagem de Herzog.

Não por ser alemã, mas, porque Herzog não efetua sua versão do assunto, mas, deliberada e meticulosamente, reconstrói o roteiro de Murnau com ênfase na figura de Drácula. Só que o faz modernamente, já com recursos técnicos superiores, além do som e da cor, inexistentes no início da década de 1920.

Esses fatores permitem-lhe poetizar as terríveis existência e práticas mortais de Drácula, realizando filme belíssimo e, como é seu propósito, paralelizando o original cinematográfico de Murnau. Conquanto tudo isso, não supera o paradigma e imprime ao tema orientação diversa e, em alguns casos, contraposta.

Com Murnau, a ação, os atos e fatos que a compõem são apresentados em cenas e sequências breves e cortes rápidos, essencializando-se a exposição temática. Em Herzog, com auxílio da dialogação, explicitam-se mais os significados do conteúdo das imagens e nelas mais se demora.

Nesse modus faciendi, evidente retrocesso. Se na década de 1920, não tendo o cinema nem trinta anos de existência, obtém-se acentuada contenção, que permite entendimento e acompanhamento do sentido imagético, o contrário, cinquenta anos depois, revela diminuição do rigor criativo do cineasta para atendimento do vicioso comodismo das plateias.

O filme de Herzog, sob esse prisma, é linear e, em alguns casos, comete excessos, como nas cenas da longa e morosa viagem do corretor de imóveis (o mocinho da trama), entre a aldeia onde se hospeda e o castelo de Drácula, nos Cárpatos, na mítica Transilvânia.

Em Murnau, não só isso (como tudo o mais) é feito com parcimônia e economia de meios, entre os quais sobreleva o tempo.

Se Herzog é poético e paisagístico, Murnau é plástico, escultural e arquitetônico. Se tudo naquele é banhado por suavidade pictural, neste sobressaem linhas e formas. A cena, esculpida ao vivo, de Drácula no tombadilho do funesto navio que o conduz a Bremen, tendo como ornamento o mastro e o cordalhame marítimo, é de expressiva beleza, tornando-se emblemática.

Talvez dada sua grandiosidade criativa, Herzog não a tenha desejado (ou podido) reproduzir. No navio de seu filme, Drácula não aparece, restando apenas presença referencial induzida, não obstante mortífera.

Em Murnau surge duas vezes, no porão e no tombadilho e, em ambas, de maneira impressionante e aterradora.

Além disso, da linearidade explicativa de um e do rigor e concisão de outro, ocorre outra importante divergência de concepção entre esses filmes.

Como se disse, Murnau, por uma série de razões e exigências técnicas e de produção, contém-se e substancializa-se. Contudo, essa característica é também conceitual e consciente. Seu Drácula não se expõe nem é exposto. Apenas existe, surge e age. Rápida e fulminantemente. Dele mais não se sabe nem se diz. É o perigo e a morte. Impessoais, objetivos, determinantes. Já Herzog humaniza a figura, que exterioriza sua sina eterna e a lamenta. Mas, nem por isso é menos letal.

Nítida, porém, é a semelhança física entre os dois atores, procurando e conseguindo Herzog reconstruir fisicamente a personagem de Murnau. Porém, esta é hierática, esguia, ágil. A de Herzog, dadas sua humanização e maior exposição, mais presente e lenta. Ambas, no entanto, eficazmente concebidas e concretizadas.

No mais, Herzog altera, em vários pontos, alguns fatos, como a volta do corretor inconsciente e dominado pelo contágio do vampiro, enquanto que em Murnau retorna sem esse estigma, reintegrando-se no convívio familiar. Notadamente, altera a perspectiva de Murnau, que encerra a tragédia com a possibilidade de sua continuidade, o que se interpreta como sinal do tempo.

Costuma-se afirmar que Murnau previu Hitler. Não é tão certa essa possibilidade, já que, se há previsão, seria de Bram Stoker e não dele. Ademais, e principalmente, nada induz a isso. O fenômeno vampiresco e a lenda do conde Drácula preexistem ao século XX.

É verdade que em Murnau sai-se desenhando cruzes nas portas das casas onde existem pessoas tomadas pela peste, o que reporta às suásticas apostas nas residências dos judeus pelos nazistas. Todavia, mera coincidência. Nada tem a ver uma coisa com outra. Na Noite de São Bartolomeu, também sinalizaram-se as residências dos huguenotes antes de sua matança, conforme o respectivo episódio em Intolerância (Intolerance, EE.UU., 1916), de D. W. Griffith.

A estória de Drácula, conquanto não esgote seu significado em si mesma, refere-se a temores, anseios e angústias humanas atávicas e milenares, não sendo, por isso, suscetível desse tipo de extrapolação. O fenômeno nazista é de outra ordem, não obstante também amoral e impiedoso.

Em suma, do ponto de vista de construção, inventividade e linguagem cinematográfica, o filme de Murnau é superior ao de Herzog. Sua depurada beleza emerge da própria imagem e sua montagem. No filme de Herzog exsurge do conteúdo da imagem.



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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, estudos brasileiros, história do Brasil e regional.




O COMPUTADOR CHEGA AO SERTÃO


           A possibilidade de comprar num supermercado – por menos de mil reais – um computador mais poderoso do que aqueles que a NASA usava nos anos 1970 para colocar o homem na Lua já é uma coisa assustadora. Mais ainda porque qualquer um de nós pode de sair carregando esse computador no bolso da calça, conectado a uma rede mundial que nos permite buscar informações em qualquer lugar do planeta. Milhões de pessoas fazem isso todos os dias quando compram e habilitam um aparelho celular tipo “smartphone”, ou “telefone esperto” – que reconhecem o seu rosto, entendem a sua voz, armazenam as suas fotos, filmes e músicas. E permitem o uso de programas (ou “apps”) capazes de desempenhar as mais diferentes tarefas.

          Facilidades com que os astronautas das espaçonaves Apollo nem sonhavam. Mas os primeiros computadores pessoais (ou PCs) que podiam ser levados para casa só surgiram nos anos 1980. E o lançamento do primeiro iPhone tem pouco mais de 10 anos. Nos anos 1970, computadores eram coisas misteriosas e um tanto assustadoras. Filmes como “2001 - uma Odisseia no Espaço” e “Geração Proteus” os retratavam como máquinas temperamentais, prestes a assumir o controle do mundo e destruir a humanidade. Na vida real, havia grandes computadores conhecidos como “mainframes”, que ocupavam andares inteiros de prédios e custavam pequenas fortunas: o aluguel mensal de uma única máquina dessas em 1970 dava para comprar 20 fuscas novinhos. Só os bancos, grandes corporações e departamentos de governos tinham bala para ter um. A empresa símbolo dessa época era a norte americana IBM, maior fabricante mundial desses computadores.

O COMPUTADOR CHEGA AO SERTÃO 


         Uma lenda urbana conta que o sigla HAL, o computador enlouquecido do filme “2001”, teria sido inspirada pela sequência das letras anteriores no alfabeto. Se não é verdade é bem contada. Mas em 1971 a IBM anunciou que ia comercializar no Brasil um computador compacto, especialmente projetado para empresas pequenas “que agora poderão ter um computador”: o Sistema/3 modelo 10. Uma novidade mundial, que chegava ao País pouco tempo depois de ser lançada nos Estados Unidos. A máquina só era “compacta” na propaganda. Na verdade era um conjunto de equipamentos que, segundo o fabricante, cabia em uma salinha de 3 por 4 metros. O cérebro do monstrengo tinha o tamanho de uma geladeira grande. Vinha acompanhado de impressoras, uma mesa com teclado e com um monitor “tipo televisão” (opcional) além dos famosos leitores de cartões perfurados – nos quais eram armazenados os programas e as informações (quem viveu os anos 70 conheceu esses cartões ao fazer as apostas na loteria esportiva). Empresas com mais recursos podiam trocar os cartões por moderníssimos “diskettes” de 20 x 20 cm, que armazenavam o equivalente a 3 mil cartões perfurados ou “80 kilobytes de dados”. Uma façanha. Para demonstrar na prática o quanto o seu novo sistema era simples, prático e portátil, a IBM resolveu fazer uma exposição itinerante: um “road show” na linguagem do marketing. Para isso instalou um Sistema/3 numa sala montada dentro de um grande caminhão baú, como esses de mudanças. 

          O caminhão, que tinha ar condicionado e gerador próprio, viajaria pelo Brasil para mostrar que a informática agora estava ao alcance de todos. O roteiro de shows começou em outubro de 1971, na então moderníssima Capital Federal em Brasília, onde o novo sistema foi apresentado às autoridades. De lá, o “road show” tomou a BR -050 rumo ao sul, parando em Uberlândia, Uberaba, Ribeirão Preto, Campinas e daí para São Paulo. O computador finalmente chegava ao sertão brasileiro e Uberaba – por uma infelicidade da geografia – acabou em segundo lugar, atrás da vizinha e rival. Nos dias em que ficou estacionada na cidade, empresários uberabenses, políticos, estudantes e todos aqueles que tiveram a graça de receber um convite da IBM puderam ver com seus próprios olhos o funcionamento daquela máquina fantástica. Que comandava submarinos e naves espaciais no cinema, mas era vendida aos homens de negócio para cuidar de coisas tão prosaicas quanto a emissão de notas-fiscais, gestão das folhas de pagamento e cadastro de clientes. Ninguém imaginava que, 50 anos depois, centenas de milhões delas estariam sendo usadas para ouvir música e colocar fotos de aniversário das crianças nas redes sociais.


 (André Borges Lopes)




quinta-feira, 26 de abril de 2018

UM PRATA PARA SANEAR O RIO

      Durante anos, o governo federal e a prefeitura do Rio de Janeiro torraram dinheiro público para embelezar a cidade, fazer obras controversas de grande impacto visual e preparar a capital para um evento internacional. Terminado esse período, a cidade do Rio passava por uma crise financeira que colocava em risco o funcionamento dos seus serviços. Foi quando um presidente da República, impopular e com a legitimidade questionada, decidiu colocar no comando da cidade um administrador de pulso firme, homem da sua estrita confiança.

      Essa história lhe parece familiar? Pois saiba que ela aconteceu no Rio de Janeiro há quase cem anos. Nessa época, o Rio era Capital Federal e o prefeito era nomeado diretamente pelo Presidente. Entre 1918 e 1922, o presidente Epitácio Pessoa e o prefeito Carlos Sampaio deram início a um arrojado programa de reformulação do centro antigo da cidade. A reforma incluía a remoção do Morro do Castelo – na época decadente e ocupado pela população pobre – para construção de uma enorme esplanada onde, durante o anos de 1921 e 1922 , foram construídos os palacetes cenográficos “Exposição Internacional do Centenário da Independência”.

      Essa fabulosa exposição tinha estandes de todos os estados da federação e de diversos outros países. Era coisa mais faraônica e suntuosa que o Brasil já havia visto em toda sua história. Um evento “padrão FIFA”, para usar um termo da moda. No final de 1922 chegou a hora de pagar a conta da festa. Para piorar, a situação econômica do Brasil não andava boa em função de uma crise persistente nos preços internacionais do café. Boa parte dos recursos federais haviam sido comprometidos por Epitácio Pessoa para garantir os interesses dos cafeicultores, o que lhe permitiu eleger seu sucessor – o mineiro Artur Bernardes – apesar de uma forte oposição dos militares e das classes médias urbanas, insatisfeitas com a situação. 

     A velha política do “café com leite” começava a desmoronar, e isso só iria piorar nos anos seguintes. Artur Bernardes, ex-governador de Minas Gerais, assumiu em 15 de novembro de 1922. Um mês depois nomeou para o cargo de prefeito da maior cidade do País o deputado federal Alaor Prata Soares, seu amigo pessoal e aliado fiel. Quase desconhecido para a população carioca, Alaor Prata tinha 40 anos e era uberabense. Havia se formado engenheiro na conceituada Escola Politécnica de São Paulo, mas se destacara como político e homem de imprensa no Triângulo Mineiro. Fora diretor dos jornais O Triângulo e Gazeta de Uberaba e colaborador do Lavoura e Comércio.


      Começou a carreira como vereador em Uberaba e, em 1909 elegeu-se deputado federal. Para os cariocas a nomeação foi um choque. A situação piorou quando Alaor anunciou, já no discurso de posse, que o principal objetivo da sua gestão era o de sanear as finanças do município, com um corte profundo nos gastos públicos. Para os uberabenses, nenhuma surpresa: a família Prata era conhecida na cidade pelos hábitos econômicos controlados e uma folclórica avareza. Sua primeira providência foi suspender todo o programa de reformas urbanas em andamento na capital (deixando muitas obras inacabadas) cancelar contratos com empresas fornecedoras e demitir um grande número de funcionários municipais. 

Alaor Prata Soares

     A insatisfação foi imediata, e agravou-se por conta do autoritarismo do presidente Artur Bernardes, que governou quatro anos sob estado de sítio e reprimiu com mão de ferro as diversas revoltas tenentistas que explodiram durante seu mandato. A imprensa oposicionista não perdia uma chance de castigar o prefeito, como forma de atingir o presidente. Alaor Prata era acusado de ser um interiorano caipira, que odiava o Rio de Janeiro. Há uma certa injustiça nas acusações. Na falta de recursos para obras, Alaor concentrou-se em elaborar projetos, legislações urbanas e códigos de obras que, mais tarde, foram importantes para o desenvolvimento do Rio. No final do seu mandato, já com as finanças em melhores condições, chegou a fazer até algumas obras de vulto, como a reconstrução da orla marítima (destruída por uma tempestade em 1925) e a duplicação do Túnel Velho, ligando Botafogo e Copacabana, que hoje leva o seu nome. Em 1926, deixou a prefeitura e retornou ao Congresso. 



(André Borges Lopes)



sábado, 21 de abril de 2018

A história do automóvel em Uberaba


      “ O Automóvel, cuja generalização pelo mundo verificou-se a partir de 1900,só teve entrada em Uberaba sete anos depois.

     Em sessão de 10 de março de 1906 a Câmara Municipal desta cidade sancionou a lei nº191, concedendo ao Sr.Dr.Alberto Cerqueira Lima privilégio, por 25 anos, para trafegar na cidade e município, linhas de automóveis para o  transporte de cargas e passageiros.

Foto do acervo pessoal  de Demilton Dib - década:1930
Praça Rui Barbosa

     O concessionário, em sociedade com os Srs. Major Domingos José da Silva Prata e Coronel João da Silva Prata, organizou-se a Empresa Motorola Uberabense Auto-”, adquirindo em seguida, por 12 contos de réis, na Inglaterra primeiro automóvel, chegando a 30 de maio de 1907,e,solenemente,inaugurado a 7 de junho seguinte.

     Este automóvel teve o nome de “Nossa Senhora da Conceição das Ala-goas”. Trafegou cerca de um mês na cidade, indo uma única vez ao Garimpo de Conceição das Ala-goas,em uma estrada especialmente construída pela Empresa.

     Esta máquina, a primeira vez que saiu à rua, causou admiração geral pela originalidade: não era o automóvel que toda gente via nas fitas cinematográficas e nas ilustrações dos jornais, mas um pesado locomóvel, a vapor, de marcha lenta.

Na sua única viagem ao garimpo gastou, só na ida, 8 dias sendo necessário abrir-se no chapadão, diversas cisternas para alimentar de agua a máquina.

      Quando saia à rua interrompia o trânsito dos outros veículos, tanto pelo  espaço que ocupava, como pela aglomeração de pessoas atraídas pela curiosidade, e ainda pela constates chuvas de brasas, que escapava da chaminé. Por isso, à sua passagem os negócios fechavam-se para evitar um possível incêndio.

O primeiro automóvel de passageiros aqui chegando, 29 de junho de 1908, foi um pequeno, de 2 lugares, importado pelo Sr.Humberto Adamo.

Ao ser inaugurado quebrou-se, pelo que foi devolvido para São Paulo, de onde viera.
O Sr. Antônio da Cunha Campos Júnior, por ocasião da “Exposição Agro-pecuária de Uberaba”, alugou em São Paulo, um automóvel de sete lugares destinado ao serviço de passageiros entre a cidade e o campo da exposição.


Este automóvel que foi o primeiro a trafegar aqui, chegou no dia 4 de maio de 1911,e foi devolvido para aquela capital 15 dias depois. Fora alugado a 100$000 por dia (cem mil réis).

     A 6 de outubro seguinte, entrou em Uberaba o 4° automóvel. Era uma máquina  de 6 lugares, comprada em são Paulo por 10 contos de réis, pelo Sr.Major Quirino Luiz da Costa, destinada ao serviço de passageiros na cidade somente, pois estradas apropriadas no município não havia ainda um plano sequer. A da “Empresa Auto-Motorola Uberabense “há muito fora abandonada.



A inauguração deste automóvel fora no mesmo dia de sua chegada à cidade, percorrendo as esburacadas ruas locais, com lotação constituída por pessoas de mais alto destaque social.
     O segundo automóvel importado pelo Sr.Major Quirino da Costa e 5° introduzido em Uberaba (20 de janeiro de 1912) foi um carro tipo factante,de cinco lugares e custou 9 contos de réis.

     Foi a partir dai que os senhores Rocha e Falcão adquiriram o primeiro automóvel “Ford”, chegando em Uberaba no dia 15 de março de mesmo ano.

Seguiram-se lhes os Srs. Firmino Meirelles, com um automóvel daquele fabricante, e fundador da Garagem “Cruzeiro do Sul”, o Coronel Vicente Alves Arantes Tutuna, com um carro “Maxwuell” e outros.
      Por essa ocasião o Sr.Major Quirino da Costa, ultimava a construção dos primeiros 60 quilômetros de estrada, ligando a cidade à sede distrital de Conceição das Alagoas.
A respectiva inauguração realizou-se festivamente, no dia 6 de abril (1914).

      A 5 de agosto seguinte, a empresa inaugurou o trecho entre Estação do Peregrino e o arraial do Veríssimo.

Afinal, no dia 19 seguinte, inaugurou-se ruidosamente, o trecho de 30 quilômetros de Garimpo das Alagoas e Dores do Campo Formoso, que a população desta localidade construíra e dera de presente à empresa.

     Entretanto, não demorou muito e já um empresa se organizava para o desenvolvimento do novo sistema de viação, levando o progresso a todos os cantos do município.

Foto do acervo pessoal  de Demilton Dib - década:1930
Praça Rui Barbosa

      Então a cidade só contava uns vinte e poucos carros de praça. Os primeiros automóveis aqui chegados, em número reduzido, logo avariavam em consequência da má conservação de nossas ruas.Com a construção das primeiras estradas na área rural e os magníficos  resultados colhidos no trafego de automóveis ,diversos fazendeiros se puseram em ação e numerosas turmas de operários iam pela nossa belíssimas campinas deixando, após a sua passagem ruidosa, o caminho por onde em breve iria a civilização e o progresso, levados nas asas ligeiras das máquina que vence com facilidade as grandes distâncias e nos proporciona a vertigem das grandes velocidades – o automóvel.


Texto na íntegra de Hidelbrando de Araújo Pontes

Copiado por Antônio Carlos Prata

Fonte: ”Vida, Casos e Perfis”



                                                                                                                                                                                            
                                                                                                             
                                                                                                                                        
                                                                                                            
                                

terça-feira, 17 de abril de 2018

Centenário da Loja Maçônica Estrela Uberabense

Centenário da Loja Maçônica Estrela Uberabense

Hoje (17/04/2018) devemos TODOS estar em Loja, PARAMENTADOS, para a Sessão Magna com presença/participação de não Maçons.
Nessa Sessão Magna, COMO TODAS AS OUTRAS, devemos estar presentes, pois, dando prosseguimento à comemoração dos 100 anos da LMEU, os Correios farão o lançamento do Selo do centenário da Loja; a Câmara Municipal de Uberaba Homenageará a Loja, e o descerramento da foto do Venerável Mestre da gestão anterior, Ir:. CARLOS ALBERTO MARTINS VIEIRA, na galeria dos ex-Veneráveis da Loja Maçônica Estrela Uberabense.
Sua presença é indispensável!
TFA:.

Wagner da Cruz .`. M .`. i .`. -Membro da Comissão Para Maçônica da ARLS ESTRELA UBERABENSE N°0941-GOBMG - CRUZ DA PERFEIÇÃO MAÇÔNICA

domingo, 15 de abril de 2018

O Selo em comemoração aos 100 anos - Loja Maçônica Estrela Uberabense.

                                     
CONVITE
O Selo em comemoração aos 100 anos - Loja Maçônica Estrela Uberabense.

Meus Irmãos, na terça-feira, dia 17/4/18, às 20h, na sede da ARLS Estrela Uberabense, daremos lugar a uma seção magna admitida a presença de não maçons. Na ocasião, ainda como atividade do ano do centenário da Loja, será lançado, pelos Correios, o selo em comemoração aos 100 anos da Loja Maçônica Estrela Uberabense. A Câmara Municipal de Uberaba prestará homenagem à Estrela Uberabense. E haverá o decerramento da fotografia do ex-venerável, Carlos Alberto Martins Vieira, na Galeria dos Ex-Veneráveis da Loja. O Eminente Grão Mestre do GOB-MG, Ir.: Cláudio William, confirmou presença nos trabalhos. Contamos com a presença dos irmãos!


Wagner da Cruz .`. M .`. i .`. -Membro da Comissão Para Maçônica da ARLS ESTRELA UBERABENSE N°0941-GOBMG - CRUZ DA PERFEIÇÃO MAÇÔNICA

terça-feira, 10 de abril de 2018

NOVA PÁGINA NO FACEBOOK: OBRAS-PRIMAS DO CINEMA EUROPEU


Ensaios de crítica cinematográfica




 NOVA PÁGINA NO FACEBOOK:https://www.facebook.com/opcineuropeu/                                                                                   


Afrânio de Almeida e Hikio Okotozawa

Afrânio de Almeida e Hikio Okotozawa


O japonês “Ozawa” é o pioneiro do judô em Uberaba, onde morou entre 1965 e 1969. Hikio Okotozawa veio ao Brasil em 1963 para divulgar a modalidade esportiva no país e se fixou cidade. 

Juntamente com Afrânio de Almeida, dono do Judô Oriente, Ozawa formou a principal equipe mineira desse esporte na década de 1970, integrada por “Sansão”, Ataíde, Tranquilo, Iraci, Dilmar, Nilo, entre outros judocas. 


Foto: Autoria desconhecida


(Foto do acervo pessoal de Tranquilo Baliana)



Rua Governador Valadares, 486. Fabrício - Uberaba /MG 38065-065. (34) 3333-4231

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Memorial Chico Xavier em Uberaba recebe acervo raro descoberto após mais de 50 anos


Um acervo raro com vários jornais, revistas, fotos, livros e manuscritos datilografados sobre o médium Chico Xavier e a doutrina espírita, que foi encontrado em setembro de 2017 em Uberaba, passa por restauração. O material estava trancado em um cômodo de imóvel da Comunhão Espírita Cristã – o primeiro centro que Chico fundou em 1959, quando chegou à cidade mineira. 

Para os responsáveis pelo trabalho e pela descoberta, o achado já pode ser considerado um patrimônio para o município e para a religião espírita, já que guarda informações de todos os tipos da década de 1960.


Planta de Museu por Niemeyer 

Um dos materiais mais importantes é a planta de um “museu” que está carimbada com o nome do arquiteto Oscar Niemeyer. A surpresa para os pesquisadores em relação a este projeto foi descobrir que na época Chico Xavier e outros adeptos da doutrina já pensavam em construir algo bem parecido com o atual Memorial, que seria chamado de “Exposição Espírita Permanente”. 

Dentro de uma pasta foram encontrados documentos com registros do que teria e como funcionaria o espaço, como também a quantidade de material para a obra.


 
Livro dos Médiuns, por Allan Kardec, foi um dos materiais raros encontrados
 (Foto: Fundação Cultural de Uberaba/Ruth Gobbo)

A ideia do Memorial Chico Xavier foi concebida em 2003, um ano depois da morte do médium. O museu fica no Parque das Américas e foi inaugurado em 2016. A estrutura tem mais de 8.000m², conta com obras escritas pelo médium, fitas e livros sobre a história de Chico Xavier. 

"O que mais nos chamou atenção foi o projeto do 'Exposição Espírita Permanente', que foi uma surpresa para nós identificarmos que em Uberaba, na década de 60, houve uma tentativa de construção de um espaço de memória dedicado à doutrina espírita. E vários anos depois surge o Memorial Chico Xavier, que além de contar histórias, quer contar também a história guardada nestes materiais encontrados", observou o museólogo do Memorial, Carlos Vítor.



A descoberta e a restauração 

Foi em um cômodo trancado de um imóvel da Comunhão Espírita Cristã que o material ficou guardado por mais de 50 anos. O tesouro foi descoberto por acaso pelo pedreiro Lourencildo Gonçalves, que foi fazer um serviço no local à pedido de um amigo. 


Em seguida, o acervo foi entregue por comodato ao Memorial Chico Xavier que, em parceria com a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), deu início aos trabalhos de restauração. 

Com a supervisão do museólogo do Memorial, três estudantes do curso de História da UFTM fazem a higienização do acervo, além do arrolamento - que é o processo de identificação, numeração e pesquisas de informações básicas sobre o conteúdo de cada arquivo que são registradas em um programa de computador. 

“A gente recebeu este material deteriorado, já que estava em um espaço insalubre. Assim que recebemos a informação, imediatamente em dois dias conseguimos retirar todo este acervo no cômodo que estava e levar ao Memorial para fazer este trabalho de higienização e identificação”, disse Carlos Vítor. 


Cerca de 20% do material encontrado já foi trabalhado pela equipe. Também já foram encontrados cartas, dossiês de viagens e diversos documentos. 

“É um acervo inédito da década 1960 que tivemos a honra de receber da Comunhão Espírita Cristã. Foi um privilégio para nós termos o acesso e trabalhar com este material tão rico e com informações do médium e da doutrina espírita. A cada material, uma surpresa é encontrada e uma história aprendida", acrescentou o museólogo. 


“Depois que a gente viu o acervo e começou a limpá-lo também encontramos documentos de algumas viagens que Chico e os parceiros fizeram para a disseminação da doutrina espírita pelo país e pelo mundo. Foi aí que percebi que essa documentação em nossas mãos é muito importante para pesquisa sobre a vida do Chico em Uberaba”, acrescentou o universitário Tomaz Gomes. 
Conclusão e divulgação 

O trabalho de arrolamento deve ser concluído em pouco mais de um ano e seis meses, segundo Carlos. “É um processo muito delicado e minucioso porque há muitos papéis que ficaram fragilizados. Depois disso, vamos avaliar qual será a melhor metodologia para catalogação e finalmente disponibilizá-lo para pesquisas e ao público”, explicou. 

O museólogo ainda informou que depois de pronto o material será armazenado no Memorial, no espaço “Centro de Pesquisa e Documentação do Patrimônio Cultural do Espiritismo”, que já está sendo criado. 

“A importância deste material é suscitar novos conhecimentos e novas pesquisas na área para que depois possamos retroalimentar nosso setor de comunicação para realizar exposições, publicações e divulgar o trabalho do espaço, bem como a história da doutrina espírita e do Chico Xavier, que são referências em Uberaba", concluiu o museólogo mineiro. 





"Exposição Fotográfica Serra da Canastra"

 "Exposição Fotográfica Serra da Canastra"

A Fundação Cultural de Uberaba, por meio do Memorial Chico Xavier, convida para a abertura da "Exposição Fotográfica Serra da Canastra", nesta sexta-feira (6), a partir das 10h, com o fotógrafo e pesquisador Alessandro Abdala. A exposição encerra o calendário das atividades alusivas aos 108 anos de Chico Xavier. Prestigie, é imperdível! 

Alessandro é autor do livro “SERRA DA CANASTRA: Refúgio das Aves do Cerrado”, obra que foge do modelo tradicional de livros de fotografia de natureza e alia belíssimos registros fotográficos a valiosas informações histórico culturais sobre a região da Serra da Canastra. 


(Fotos: Ruth Gobbo/ imprensa FCU)