sábado, 5 de agosto de 2017

MÉDICOS QUE UBERABA MUITO DEVE

Uberaba sempre destacou-se pelo pioneirismo de sua gente.Na medicina não foi diferente.Desde os chamados farmacêuticos e suas poções milagrosas, pesquisando e manipulando fórmulas medicinais, os caminhos percorridos por eles, pelos médicos-farmacêuticos, parteiras e benzedeiras, era uma grandeza a atuação das pessoas abnegadas no tratamento das doenças dos seus semelhantes. A história da medicina em Uberaba, é muito rica. Seria penoso ao caro leitor, enumerar os grandes feitos, as fantásticas pesquisas dos profissionais da saúde em favor da santa terrinha e cidades vizinhas.

Tudo começou com a Santa Casa de Misericórdia, onde, hoje, está instalado o magnífico complexo da Universidade Federal do Triângulo Mineiro-UFTM- que teve como grande benfeitor, Frei Eugênio Maria de Gênova, 1º bispo diocesano, nos primórdios do século XIX. A vocação humanitária dos médicos daquela época, que davam guarida aos doentes de qualquer classe social , seja numa internação ou um simples atendimento receituário, a Santa Casa,enquanto existiu, teve a bondosa e desprendida colaboração das “irmãs religiosas”ou de “caridade” como eram conhecidas e a direção de dedicados Provedores.

Na sequência do que escrevi ontem, uma Provedora teve um notável destaque,Da.Maria da Glória Leão Borges,esposa do líder político,Ranulfo Borges do Nascimento.Ela teve efetiva participação para a criação da nossa pioneira Faculdade de Medicina. Conto:Dada a “largada”pelo Presidente J.K.,médicos e lideranças classistas e políticas da santa terrinha, como que por encanto, esqueceram suas divergências políticas, as ojerizas pessoais, deram-se às mãos para a rápida implantação da Escola. Todos irmanados no nobre ideal: realizar o quanto antes, “presente” tão especial...Cito-os, nominalmente, como preito de gratidão dos uberabenses, ao trabalho tão brilhantemente realizado:

Ordem alfabética-Alfredo Sabino de Freitas, Alyrio Furtado Nunes,Antônio Sabino de Freitas Jr., Carlos Smith, Fausto Cunha Oliveira, Hélio Angotti, Hélio Luis da Costa, João Henrique Sampaio Vieira da Silva, Jorge Azor, Jorge Henrique Marquez Furtado, José de Paiva Abreu, José Soares Bilharinho, Lauro Savastano Fontoura, Mário Palmério, Mozart Furtado Nunes, Odon Tormin, Paulo Pontes e Randolfo Borges Júnior. Esses homens, uberabenses de cêpa, despidos de vaidades pessoais, abriram mãos de favores especiais, vantagens políticas e dedicaram tempo, talento e profissionalismo para que Uberaba tivesse a sua sonhada e meritória Faculdade de Medicina !

Com recursos próprios, viajavam por BH e Brasilia, às suas expensas.Nada de dinheiro oficial.Enfrentando os naturais percalços à criação de tão sonhada conquista, esses beneméritos uberabenses, merecem o nosso respeito e nossa eterna gratidão !

Em momento oportuno, conto-lhes mais “coisas” da nossa,hoje, Universidade Federal do Triângulo Mineiro ! Honra e orgulho da sagrada terrinha que nos viu nascer.”


Luiz Gonzaga de Oliveira

Mapa antigo de Sacramento

Mapa antigo de Sacramento
O atual território onde se encontra o município de Sacramento, em Minas Gerais, foi explorado por desbravadores que partiram do povoado do Desemboque, importante centro político e sede de um movimento de garimpos do século XVI. À medida que os garimpeiros retiravam o ouro que se encontrava mais na superfície da área dos córregos, migravam para as áreas mais distantes em busca de mais ouro.

O vigário do Desemboque, Padre Hermógenes Casimiro de Araújo Bruswick, em 1808 partiu com um grupo de exploradores em direção a Goiás. Quando a expedição atingiu o Ribeirão Borá (Rio que corta a cidade de Sacramento), encontrou no local, um significativo número de garimpeiros e mineradores. O padre Hermógenes levantou um cruzeiro e ao seu pé celebrou a primeira missa daquela região, posteriormente fez construir um pequeno oratório dedicado ao Santíssimo Sacramento. Logo quando retornou ao povoado, requereu ao Rei Dom João VI licença para levantar uma capela no local, esse foi o primeiro ato para a criação da freguesia de Sacramento. A Capela construída pelo Cônego Hermógenes foi fundada em 24 de agosto de 1820, sendo esta a data de comemoração da fundação da cidade de Sacramento.

segunda-feira, 31 de julho de 2017

CENAS DA HISTÓRIA DO TEATRO EM UBERABA

(1879 – 1900 )

EPISÓDIO 3 - O TEATRO ABOLICIONISTA EM UBERABA (primeira parte)



As primeiras manifestações (pelo que achei até o momento) de tendência abolicionista em Uberaba começam a aparecer, timidamente, em julho de 1879, no jornal Gazeta de Uberaba.

Dessa data em diante, artigos e notícias sobre o tema vão estar sempre presentes nas páginas do principal jornal da cidade na época.

A ideia da abolição vai ganhando corpo entre advogados, jornalistas, médicos, escritores, comerciantes, escravos e influencia até mesmo alguns fazendeiros escravocratas do município.

Artistas e grupos de teatro da cidade também se engajaram nesta luta.

Em 1882, a Sociedade Dramatica Amor a Arte, formada por artistas de Uberaba, apresentou o drama Os Martyres da Escravidão.

Em seu livro Uberaba: História, Fatos e Homens, Borges Sampaio informa que em outubro de 1883 foi criada a Sociedade Dramatica Abolicionista composta por intelectuais e homens de negócio da cidade, como Salatiel Alves,Tobias Fernandes e Lafayette de Toledo. O primeiro presidente foi o ator e diretor Belmiro Villarouco. Esta agremiação nasceu com a intenção de utilizar o teatro como forma de arrecadar dinheiro e comprar a liberdade para alguns escravos.

E já em de 19 janeiro de 1884, às 9 da noite, no Theatro São Luis, a Sociedade Dramatica Abolicionista, com a presença de grande público, entregou à “Rita, escrava do senhor Luis A. Guimarães Guaritá, a sua carta de liberdade”.

E sinto-imagino que acima de qualquer julgamento sobre a intenção do ato da Sociedade D. Abolicionista , a ex- escrava Rita se inundou naquele dia de uma alegria feito quando a gente abraça um grande amor.

Agosto , 06 – a segunda parte.

Por Miguel Jacob Neto

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA ABADIA (1884)

Santuário de Nossa Senhora da Abadia - Foto - década -1920 

Santuário de Nossa Senhora da Abadia - Foto - década - 2000

A história do Santuário de Nossa Senhora da Abadia se destaca das demais igrejas que temos tratado por duas razões específicas: primeiramente por se tratar da padroeira de Uberaba, sede arquidiocesana, historicamente foi um centro de grandes movimentações e muita devoção. E também porque se tratou de uma igreja com diversas obras, expansões e reformas ao longo dos mais de cento e trinta anos em que se localiza no coração do bairro que tem o mesmo nome do título com o qual a Virgem Maria é carinhosamente lembrada não só pelo povo uberabense, mas de todo o Triângulo: Abadia.

O início desta história, todavia está em 1881 por iniciativa do capitão Eduardo José de Alvarenga Formiga. O título militar, longe de indicar que se tratava de um homem de armas, denota que era dos quadros da Guarda Nacional, instituição criada durante a Regência para manter a ordem pública nas diversas regiões do Brasil e composta, sobretudo, por proprietários rurais e homens ricos. Sua devoção à Nossa Senhora da Abadia, provavelmente consequência da colonização portuguesa, o levou a requerer junto à Câmara Municipal autorização para erigir uma capela onde hoje se encontra o gigantesco santuário dedicado a Nossa Senhora da Abadia. Em 15 de agosto de 1881 a primeira missa é celebrada ainda ao ar livre e em 1884 o edifício que estaria, a partir dali, em constante desenvolvimento, já estaria pronto.

Entre 1898 e 1915 a capela esteve confiada aos cuidados dos padres Agostinianos Ricoletos. Em 1921, sob os cuidados do cônego César Borges, tornou-se Paróquia a partir de um decreto do Bispo Diocesano D. Eduardo Duarte Silva. Em 1935 a Paróquia seria definitivamente entregue à Congregação dos Sagrados Estigmas – ditos padres estigmatinos – por decisão do Bispo D. Frei Luiz Maria Sant’Ana, situação que perdura até os dias atuais e que daqui poucas décadas completará cem anos da presença desses religiosos em nossa cidade, período que só fez crescer o patrimônio espiritual e material dos devotos a Nossa Senhora.

No quesito de reformas e expansão material do Santuário destacamos: a) em 1937 iniciou-se a construção da torre central; b) em 1939 foram instalados os sinos; c) em 1940 uma imagem de 4,40 metros foi abençoada pelo Bispo D. Alexandre G. Amaral e colocada no alto da torre; d) em 1943 iniciou-se uma reforma geral da igreja que se estenderia pelas próximas décadas; e) em 1948 finaliza-se a cobertura da nave central; f) em 1954 finaliza-se todo o revestimento interno; g) em 1955 a velha casa anexa a igreja é demolida para mais expansões; h) em 1962 é iniciada a construção de uma nova Casa Paroquial; i) em 1975 são instalados os sinos eletrônicos e em 1977 um órgão eletrônico; j) em 1980 é refeita a partir elétrica e de iluminação; l) em 1982 tem-se a doação de um terreno pela Prefeitura de Uberaba no qual se inauguraria alguns anos mais tarde um Salão Comunitário e Centro de Pastoral.

A presença histórica do Santuário de Nossa Senhora da Abadia contribuiu historicamente para a ocupação demográfica daquela região da cidade e de seu desenvolvimento, tendo como epicentro o templo religioso e sob os cuidados da padroeira, com o surgimento de um intenso comércio em seus arredores. Toda a movimentação advinda pelos festejos do dia da Senhora da Abadia movimenta igualmente toda a economia uberabense e triangulina através de diversas peregrinações e do turismo entre as cidades da região. Em torno desses festejos desenvolveu-se também toda uma cultura popular riquíssima em tradições e fé. Desde as procissões realizadas até a Alvorada com Nossa Senhora, tradicionalmente envolvendo a Banda do 4º Batalhão de Polícia Militar, o envolvimento dos jovens com teatros e apresentações culturais, enfim, tem contribuído para levar o Palavra de Deus a um número crescente de pessoas.

Atualmente o Santuário também sedia o Propedêutico Estigmatino e conta com a presença de três sacerdotes e três seminaristas, a saber: Pe. Jaílson dos Santos (Pároco), Pe. Ruy Félix (Vigário), Pe. Bruno Cunha (Vigário), Sem. Anderson, Sem. Robson e Sem. William.

Vitor Lacerda

HISTÓRIA DE NOSSA SENHORA DA ABADIA

Nossa Senhora da Abadia

História de Nossa Senhora da Abadia é um dos títulos da Virgem Maria. Esta invocação a Maria também é conhecida como Santa Maria do Bouro, pois se originou no Mosteiro (ou Abadia) do Bouro, próximo à cidade de Braga, em Portugal.

A imagem de Nossa Senhora da Abadia A imagem de Nossa Senhora da Abadia representa Maria de pé, segurando nos braços o menino Jesus, que tem uma coroa na cabeça. Maria veste uma túnica branca com flores de cor rosa e azul. Um cinto vermelho passa por sua cintura. Por cima, um manto azul decorado com belas flores completa sua vestimenta. Na mão direita, Maria segura um cetro para guiar os seus filhos. Na cabeça, ela tem uma linda coroa.

Devoção a Nossa Senhora da Abadia

A devoção a Nossa Senhora da Abadia é muito antiga. Ela pertenceu a uma abadia (mosteiro cujo superior é um abade), conhecida como Mosteiro das Montanhas, que ficava na região do Bouro por volta do ano 883. Quando os muçulmanos invadiram Espanha e Portugal, os monges fugiram e esconderam a imagem da Santa. Muito tempo passou.

Redescoberta milagrosa da imagem de Nossa Senhora da Abadia

Mais tarde, por volta do ano 1100, um nobre ancião da corte portuguesa, chamado Pelágio Amado recebeu a graça da conversão. Ele abandonou sua vida de riquezas na corte e foi para a Ermida de São Miguel, perto de Braga. Lá ele viveu com um velho eremita que já vivia ali há muitos anos. Certa noite, os dois viram uma luz diferente que vinha do meio de um vale perto de onde estavam. Na noite seguinte o fato se repetiu. Então, os dois resolveram ir até o local quando se fez dia, para ver o que poderia estar fazendo brilhar aquela luz. Foi então que eles encontraram imagem de Nossa Senhora da Abadia escondida no meio das pedras. Os dois se prostraram agradecendo por esta graça tão especial.

A devoção recomeça

Por causa da redescoberta, os dois eremitas mudaram o casebre em que viviam para o local onde encontraram a Santa. Lá, eles ergueram uma pequena e rústica capela e colocaram a imagem de Nossa Senhora da Abadia. A notícia da descoberta correu e chegou aos ouvidos do arcebispo de Braga. Este foi visitar o local e, depois de ver a pobreza em que os dois eremitas viviam, mandou construir ali uma igreja de pedra lavrada, digna de abrigar os dois santos e a imagem de Nossa Senhora. Aos poucos, outros eremitas se uniram aos dois e a fama dos milagres de Nossa Senhora da Abadia se espalhou em Portugal. Peregrinações começaram a acontecer. Fiéis de todos os cantos vinham rezar, pedir e agradecer pelas graças alcançadas. D. Afonso Henriques, rei de Portugal, foi visitar o santuário e deixou ali uma grande doação para o culto e as necessidades daqueles servos de Deus.

A devoção chega ao Brasil A devoção a Nossa Senhora da Abadia chegou ao Brasil através dos portugueses e se instalaram primeiramente na região do Triângulo Mineiro. Nessa região, várias cidades têm como Padroeira Nossa Senhora da Abadia. Com o tempo, a devoção passou para Goiás, principalmente em Muquém e na antiga capital, Vila Boa, que ainda conserva sua Igreja Matriz, construída no século XVIII. Atualmente um dos locais mais famosos pelas romarias é o de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, antigo centro de garimpagem de diamantes. O Santuário de Nossa Senhora da Abadia atrai todos os anos, no dia 15 de agosto, um grande número de devotos e a procissão é famosa. Em Uberaba também é grande a devoção a nossa Senhora da Abadia.
Oração a Nossa Senhora da Abadia

Senhora dos Navegantes, Filha dileta de Deus Pai, Mãe de Jesus, nosso Salvador. Esposa do Espírito Santo, eis-me aqui diante de vossa Imagem, para consagrar-me inteiramente a vós.
Trago-vos, Senhora, minha vida, meu trabalho, os sofrimentos e as alegrias, as lutas e as esperanças, tudo que tenho e sou, para oferecer a vosso Filho, ó Maria. Peço vossa proteção para nunca abandonar a fé Católica sempre fiel a Jesus. Dai-me força para viver de verdade o amor fraterno e assumir minha responsabilidade de cristão no mundo. Ó Senhora da Abadia, aceitai-me como filho e guardai-me sob o vosso manto protetor.


Amém.

O tradicional Bar da Viúva

Bar da Viúva, Rua Arthur Machado .Teve seu início por volta de 1930 como “Confeitaria Vasques”, administrada pelo Sr. Felipe Vasques e sua esposa Maria Ponticcelli Vazques. Na década de 50, com a doença e falecimento do Sr. Felipe, aos 40 anos de idade, sua esposa, conhecida como dona Maria, começou a fazer pizzas e salgados. Como era muito conhecida, os amigos começaram a se referir à Confeitaria como “o bar da viúva do Felipe”, designação que se restringiu, mais tarde, à “Bar da Viúva”. Seus filhos Felipe e Gilberto continuaram ao lado da mãe por mais 40 anos, até o seu falecimento em 1989. O bar ainda manteve as portas abertas até meados de 1994. Além das famosas pizzas, o tradicional chope da Antarctica também era servido.     


                                        Confeitaria Vazques                             

Dona Maria, a Viúva, sempre morou na casa de sua filha France e seu esposo Hélio, que residiam a duas quadras do bar da Viúva. A proximidade dos locais na Rua Artur Machado facilitava a constante presença da pequena senhora em seu estabelecimento. Seja na cozinha, com as mãos na massa, ou atrás do balcão, administrando o bar, ela se revezava com os filhos Felipe e Gilberto, cotidianamente.
Dona Maria era incansável: ia para o bar antes das 6 da manhã, não se importando se estava chovendo, fazendo frio, etc.. Fazia as pizzas de manhã até à tarde, tomava banho - nas dependências do próprio bar -, trocava de roupa e ia para o caixa, lá ficando até às 19:00 horas, nos dias em que Felipe assumia o comando, e até às 22:00 horas, nos dias do Gilberto. Chegando em casa, ainda fazia crochê até a meia-noite, sempre sorridente, calada e serena. Religiosamente dona Maria seguia sua rotina.

O tradicional bar da Viúva
Nem mesma uma erisipela na perna a segurava na cama. Ao acordar pela manhã, como diariamente saía de casa sem fazer barulho algum, sua filha teve, por orientação médica que dar um sonífero à noite, disfarçadamente, para ela perder a hora no dia seguinte e ficar de repouso absoluto. A incansável e sábia senhora foi ludibriada por apenas dois dias: logo descobriu os planos da cuidadosa família sobre o sonífero e não mais o tomou.

Dona Maria Ponticcelli Vazques - Foto: Ricardo Prieto.
                              
A vida da matriarca foi dedicada à família e ao trabalho, e permanece guardada na lembrança dos antigos moradores de Uberaba como a Dona Maria do “Bar da Viúva”, assim como sua inconfundível massa e sabores das pizzas. Receita da massa de Pizza da Dona Maria.

Ao indagar a filha France sobre a receita da massa, ela disse que a "Vó" falava que não tinha segredos e a receita era:

"Um tanto de farinha, um tanto de óleo, ovos, um pouco de água, sovar a massa até dar o ponto... deixar a massa descansar... crescer... cortar e enformar." Pode!!!

Fotógrafo: Ricardo Prieto

Década: 1970


Acervo pessoal da família Prieto Vazques 


(Foto cedida pela família Vasques de seu arquivo pessoal)


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Instagram: instagram.com/uberaba_em_fotos

Cidade de Uberaba

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Carolina Maria de Jesus - Diário de Bitita

Carolina Maria de Jesus



Reportagem sobre a escritora de Sacramento, Carolina Maria de Jesus, realizada pela Rede Integração (Globo), com participação de Audálio Dantas (Jornalista), Vera Eunice (Filha), Marisa (Neta), e Berto Cerchi (Historiador e Escritor), na ocasião do lançamento da re-edição do Livro "Diário de Bitita", pela Editora Bertolucci.

 Vídeo publicado em 26 de maio de 2008.




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                Quarto de despejo, o interesse pela obra da escritora Carolina Maria de Jesus continua se desdobrando. Carolina hoje é revisitada sob diversos ângulos, dada a riqueza de sua produção inédita e de sua vida de altos e baixos. No vídeo produzido pela equipe de Pesquisa Fapesp, a historiadora Elena Pajaro Peres fala sobre aspectos da vida e obra da escritora, ressaltando a importância de verificar aspectos que vão além dos livros e do período em que a autora viveu em São Paulo. Veja como seu trabalho continua a instigar pesquisas. http://www.elfikurten.com.br/2014/05/carolina-maria-de-jesus.html

CENAS DA HISTÓRIA DO TEATRO EM UBERABA

(1879 A 1900)


Segundo Episódio: EMPREZA VILLAROUCO CHEGA A UBERABA

Empreza Villarouco

Em junho de 1879, chegou a Uberaba, a companhia dramática, Empreza Villarouco, sob o
comando de Belmiro A. Villarouco, ator, diretor, empresário e o que mais fosse necessário.

Depois de um longo e santificado descanso, Villarouco reuniu seu pessoal e foi visitar o Theatro São Luiz ,futuro palco de suas representações .

A alegria de nosso protagonista durou até a porta principal do edifício. Entrando no salão, sua aura ganhou uma tonalidade negra degradê. Partes da construção ameaçavam ruir, cair, desabar.

Belmiro poderia ter dado um treco, um troço, um trem. Mas, homem operário do teatro, acostumado com terremotos e enchentes, respirou fundo e logo pensou em como iria resolver o problema.

Por Miguel Jacob Neto

Paróquia da Imaculada Conceição – Conceição das Alagoas (1878)


Surgimento de Conceição das Alagoas

Muito já falamos sobre como se desenvolveram a maioria dos municípios do interior do Brasil durante o século XIX quando aqui se vivia o período imperial. Em geral este processo se dava sobre a égide da “cruz e da espada”: ainda que o tempo de auge dos bandeirantes – esses conquistadores do sertão responsáveis pelo etnocídio indígena que foram elevados pela crônica historiográfica como heróis nacionais – já tivesse terminado e não mais se procurassem indígenas para escravidão, surgia uma procura crescente por terras para uma expansão agrícola que atendesse à demanda de uma urbanização insipiente. O Triângulo Mineiro foi povoado durante o século XIX após um traumático processo de eliminação dos habitantes indígenas aqui residentes. Apesar de Sacramento ser uma das mais antigas povoações e Araxá ter sido o primeiro município a ser juridicamente constituído, coube a Uberaba a primazia de se tornar o verdadeiro centro econômico, político e religioso da região naquele tempo, justificando assim o título ainda hoje a ela atribuído de “Princesa do Sertão”.

O território do município de Uberaba no século XIX era tão considerável que poderia se equiparar ao de alguns países europeus da atualidade. Muitos povoados foram surgindo e se desenvolvendo em seu interior e, na medida que conseguiam certa influência política e econômica, conseguiam sua emancipação. Assim se deu em 1878 com Conceição das Alagoas. Nos primeiros tempos chamava-se este lugar “Garimpo das Alagoas” em referência tanto à atividade econômica que ali se tinha – o garimpo – quanto à grande quantidade de lagoas ao redor da povoação – Alagoas. Com a emancipação, o município passa a trazer consigo o nome de sua padroeira: Nossa Senhora da Conceição.

Imaculada Conceição

Quando ouvimos hoje o termo catolicidade logo nos vem à mente a ideia de uma igreja universal, espalhada pelo mundo inteiro, diversa em carismas e serviços, inculturada em diversos países e regiões mas, apesar e graças a tudo isso, capaz de manter sua unidade com o Papa e com Cristo que é a Cabeça desta Igreja. Um sinal desta catolicidade em nossa arquidiocese pode ser percebido na devoção aqui criada por diversos santos e santas bem como por títulos marianos pouco tempo depois de seu surgimento (os leitores assíduos vão se lembrar de quando falamos de Santa Teresinha, devoção quase imediatamente trazida a Uberaba).

O dogma da Imaculada Conceição foi promulgado pelo Papa Pio IX através da Bula Ineffabilis Deus em 1854. Pouco mais de duas décadas depois nossa catolicidade se manifestava na criação da Paróquia da Imaculada Conceição em 1878.

A Paróquia

Atualmente a egrégia e centenária Paróquia da Imaculada Conceição – Senhora de Conceição das Alagoas – às vésperas de seus cento e quarenta anos de devoção à Virgem Santíssima e de serviço ao povo daquela cidade por meio da evangelização de seus filhos se encontra em período de vistoso progresso. Para além das reformas estruturais que se fez na igreja matriz e no salão de festas atualmente em construção, destaca-se a construção da Casa do Pão, com auxílio financeiro da CEI – Conferência Episcopal Italiana. Em funcionamento já fazem dois anos a Casa do Pão possui atualmente vinte equipes de voluntárias e abriga todas as pastorais sociais. Oferece sopa todos os sábados, lanche comunitário todos os domingos, jantares uma vez por mês. A Pastoral da Educação vem se organizando para oferecer reforço escolar de Português, Matemática e Alfabetização. A Pastoral da Criança em Conceição das Alagoas recentemente foi listada pelo Pastoral Nacional da Criança como uma das melhores do país. Tudo isso se deve ao esforço daquela comunidade paroquial conduzida pelo Revmo. Pe. José dos Reis Naves, conhecido por todos como Pe. Zezinho.

Vitor Lacerda

Filmes de Hitchcock dos Anos 30


OS 39 DEGRAUS E A DAMA OCULTA


A Caracterização Tipológica

                                                                                                          
                                                                             Guido Bilharinho                                                     

                             OS 39 DEGRAUS E A DAMA OCULTA

          O conhecimento dos filmes Os 39 Degraus (The 39 Steps, Grã-Bretanha, 1935) e A Dama Oculta (The Lady Vanishes, Grã-Bretanha, 1938), de Alfred Hitchcock (1899- 1980), realizados anteriormente à sua transferência para os Estados Unidos, demonstra que o cineasta britânico nessa fase (segunda metade da década de 1930), ou, pelo menos, nesses dois filmes, está mais ou tão só para Agatha Christie do que para cinematografia consistente e autoral.

Ambos os filmes perdem-se em meio às peripécias, correrias e simulações de espionagem internacional, uma das fortes características da época, vésperas da eclosão da Segunda Guerra Mundial. Nesse mundo absurdo, mas, plenamente explicável e explicado, no qual países lançam-se em fúria mortal contra seus vizinhos, a espionagem é de suas facetas menos cruéis e perversas, conquanto também frequentemente letal, embora restrita à esfera individual.

     A estrutura fílmica e a linguagem cinematográfica de Hitchcock nessas obras pautam-se pelo ritmo e conformação dos incidentes e vicissitudes da espionagem. Seu clima, conteúdo e orientação são os mesmos de alguns dos livros da citada escritora britânica nos quais aborda o tema. São mesmas a leveza, a linearidade e a superficialidade narrativas. Iguais os métodos e a atuação dos protagonistas. Semelhantes algumas situações, em que pessoas estranhas às escaramuças da espionagem e contra-espionagem internacional nelas envolvem-se por força das circunstâncias e acabam por ter atuação capital no desenvolvimento dos fatos e solução dos impasses.  Análogas, também, as próprias resoluções dos affairres ficcionalmente montados.

Cumpre, no caso, apenas verificar se essas obras de Agatha Christie são anteriores, concomitantes ou posteriores a tais filmes. Na última hipótese ela seria a influenciável. Contudo, pelo menos dois de seus livros transcorridos em trens - como no caso de A Dama Oculta - são bem anteriores ao filme, a exemplo de O Mistério do Trem Azul (1928) e Assassinato no Expresso Oriente (1933), simples, e, às vezes, agradáveis leituras digestivas e recreativas, próprias apenas para passatempo de férias. De qualquer modo, são essas a ambiência e a prática da época, das quais qualquer escritor tinha conhecimento e acesso na Grã-Bretanha, então ainda um dos centros decisórios do planeta.

Todavia, o aspecto que menos interessa sob o ponto de vista fílmico, aliás, não interessa nada, é esse da influência e da interinfluência, assunto à parte.

       O que importa no caso - e, por isso, a questão vem a pelo - é a circunstância da ocorrência da analogia apontada e o que isso representa.

Ora, ao trazer a obra de Agatha Christie à colação está-se querendo dizer simplesmente que esses filmes de Hitchcock, sob o prisma artístico, não existem, do mesmo modo que a bibliografia de Christie está fora da literatura. Esse, pois, o significado da comparação, visivelmente desvantajosa para o cineasta que Hitchcock tornou-se depois.

        Contudo, por que, mesmo assim, é convidado a dirigir filmes nos Estados Unidos? Não só pela finalidade comercial do convite, mas, também, pelas qualidades demonstradas nesses e em outros filmes da época. Que vão desde inteligência sagaz e brilhante à segurança e flexibilidade direcionais, além de paulatino e crescente domínio da estruturação fílmica e dos elementos da linguagem cinematográfica. E tanto é claro esse work in progress, que é nítida sua maior desenvoltura em A Dama Oculta do que em Os 39 Degraus, feito três anos antes.

      Ambos são filmes de ritmo célere e ação contínua, principalmente A Dama Oculta. Conquanto comerciais e destituídos em geral de virtualidade artística, apresentam - sempre o último em grau mais elevado - exemplos dos atributos apontados.

Em A Dama Oculta, as figuras ridículas dos dois cidadãos britânicos - que se comprazem em considerar-se súditos - com toda sua gestuação, postura e atitudes, constituem crítica mordaz e ferina de aspectos da índole dos habitantes do reino, notadamente de sua extremada formalidade, aparente seriedade e importância quase transcendental que dão a seus arraigados e tradicionais costumes, concentrando, no caso, em simples jogo de críquete sua máxima preocupação e atenção no momento.
Além da perspicácia e pertinência da crítica, o modo de materializar e conduzir essa manifestação de uma das infindáveis anomalias humanas revela a grande capacidade de Hitchcock, que não poderia passar despercebida, como, aliás, não passou.

Mas, não só. O indivíduo que viaja incógnito com a amante denota comportamento coerente com seu caráter oportunista. É outra personagem também brilhantemente delineada e conduzida, sob forte inspiração dos estudos da psicologia humana que, a partir da Viena de Freud, já se iam disseminando pelo mundo até atingir e ter grande voga nos Estados Unidos na década de 1940, onde lá estava o mesmo Hitchcock para lhe dar respaldo e ainda maior divulgação no filme Quando Fala o Coração (Spellbound, 1945). Além desses, há ainda, o passageiro italiano como outro adequado exemplo biotipológico.

      Já os demais figurantes, em que se incluem os próprios protagonistas, não apresentam tão aguda personalização da observação caracterológica e psicológica como os anteriormente apontados, simplesmente antológicos.

Algo inexistente, pelo menos em seus melhores filmes estadunidenses, exceto, evidentemente, na comédia macabra O Terceiro Tiro (The Trouble With Harry, 1956), é o traço humorístico ocorrente em A Dama Oculta, responsável não só pela exploração e exibição de particularidades insólitas ou jocosas de algumas personagens, como pela articulação mesma de situações cômicas, como a luta do protagonista com o mágico italiano no vagão de cargas do trem.

Nesse filme e no comboio que rápido o percorre tem-se, talvez pela primeira vez na obra do cineasta, a focalização da paisagem através da ampla e envidraçada janela de um trem, numa captação derivada de imposição da trama e ainda não poetizada no alto nível estético ocorrente nos filmes estadunidenses posteriores, Pacto Sinistro e Intriga Internacional.

          Se o progresso de Hitchcock entre Os 39 Degraus e a A Dama Oculta (ou desaparecida, como se a denomina originalmente), é nítido e crescente, seus futuros passos cinematográficos nos Estados Unidos, para onde se dirige em 1940, o conduzem, após período transicional de submissão a seu primeiro contrato de produção no país, à elaboração de umas das filmografias mais brilhantes e instigantes do cinema, conquanto destituída de inovações formais.

(do livro O Cinema de Hitchcock e Woody Allen.
Uberaba, Revista Dimensão Edições, 2017)

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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de Literatura, Cinema e História do Brasil e Regional, publicando atualmente no Facebook os livros Obras-Primas do Cinema Brasileiro e Brasil: Cinco Séculos de História.                                                         

Filmes de Hitchcock dos Anos 40

                                                      SUSPEITA

A Imaturidade e a Irresponsabilidade

Guido Bilharinho   
Mulher Inesquecível (Rebecca), de 1940.            
O primeiro filme estadunidense de Hitchcock é Rebeca, a Mulher Inesquecível (Rebecca), de 1940. Desde então prossegue sua atividade, atingindo o apogeu da carreira no período de 1948 a 1962, ano de Os Pássaros (Birds), em que pesem algumas obras anódinas e convencionais realizadas no período, como o inqualificável Sob o Signo do Capricórnio (Under Capricorn, EE.UU., 1949) ou como A Tortura do Silêncio (I Confess, 1952), mero filme policial apimentado com amor proibido e no qual o vilão, preconceituosamente, é alemão, como será francês em Ladrão de Casaca (To Catch a Thief, 1955) e comunistas soviéticos e cubanos nos últimos filmes.

      Se em Rebeca ainda está excessivamente preso ao romance originário, por exigência, segundo consta, da produção, em Suspeita (Suspicion, EE.UU., 1941), se não pela primeira vez, já que se não conhece todos seus filmes britânicos, encontram- se os fundamentos da concepção de futuras grandes realizações. Já há o suspense, que se transformaria em marca registrada, bem como outros elementos de seu fazer cinematográfico, a exemplo de planejamento minucioso do desenvolvimento narrativo, de modo que atos e manifestações das personagens justifiquem, prevejam ou antecipem suas consequências. Não ocorrem, pois, gratuidades, improvisações e, muito menos, desperdício ou excesso de atos e diálogos. Não há demasias, mas, também, não são obstaculizadas a espontaneidade e a iniciativa das personagens conforme sua contextualização. Ao contrário, tais atributos não só são preservados, como, mais importante, cultivados e expostos, articulando-se a trama que, sem embargo de sua concentração sobre determinados fatos, apreende o núcleo nodal da natureza humana.

    Além disso, o que se tem de mais antecipador dos grandes filmes do futuro, representando verdadeira linha diretiva do cineasta e ponto central de sua concepção artística, é a focalização de viés, falha ou qualidade da natureza humana, de suas manifestações e possibilidades. No caso desse filme, a inconsequência, a imaturidade emocional e intelectual e a irresponsabilidade do indivíduo.
      Desse modo, como em suas grandes obras, a estória e o próprio suspense não constituem (e nem assim devem ser considerados) os aspectos mais importantes da realização.

      Trama e suspense não passam de meio ou de ambiência ficcional. Por trás ou além disso, o que se configura e se constrói é o modo de ser das personagens pautado de conformidade com sua constituição biotipológica, originando e derivando seus atos da índole de cada um.

      A partir daí arma-se o enredo, que mais não é do que a demonstração fática da natureza humana individualizada. O que se enfatiza não é o crime ou a ação, seu resultado e viabilidades, mas, causas comportamentais e genéticas, já que da motivação socioeconômica não se cogita. A trama emana e se organiza a partir desses ou sobre esses componentes e não o inverso.

                O indivíduo em ação, não conforme circunstâncias e conjunturas, mas, de acordo com íntimas e pessoais tendências e modo de ser.

     Ao invés da personagem situada (e sitiada) na e pela realidade, conformada a estritos limites, o indivíduo criando e desencadeando outra realidade, uma realidade para si, provocada pelos elementos preponderantes de sua estrutura biopsíquica.

      Em Suspeita, o protagonista concebe, organiza e desenvolve fantasia, não só sem fundamento na realidade, como, principalmente, em frontal conflito e oposição a ela.

    Na conexão desse choque, em muitos casos irreconciliável, baseiam-se alguns dos principais filmes de Hitchcock, que o são justamente por esses e outros atributos e características.

  Entre eles, perfeito domínio e dosagem dos recursos e possibilidades da linguagem cinematográfica, que se ainda não plenamente exercitados em Suspeita - que contém claras limitações técnicas e de produção – como posteriormente em obras futuras, evidenciam-se, porém, tão nitidamente nesse filme, que é possível considerá-lo o predecessor de todos os demais, por nele se encontrar, como lembrado, a matriz ou diretiva central da grande obra do cineasta.

(do livro O Cinema de Hitchcock e Woody Allen.
Uberaba, Revista Dimensão Edições, 2017)
               
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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema e história do Brasil e regional, publicando atualmente no Facebook os livros Obras-Primas do Cinema Brasileiro e Brasil: Cinco Séculos de História.          

quarta-feira, 26 de julho de 2017

As peripécias do taxista Zucarelli

As peripécias do taxista Zucarelli

Flagrante peculiar do taxista Zucarelli subindo as escadas da Igreja Catedral de Uberaba, o que chamava a atenção da população ao presenciar o momento. Provavelmente, o motivo deste feito inusitado era pagar alguma promessa, ou aposta... A imagem é da década de 1940.

Foto:Autoria desconhecida

Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.                  

terça-feira, 25 de julho de 2017

Radialista Lídia Varanda Lopes

Radialista Lídia Varanda Lopes   

Baluarte do rádio, foi comandante de programas como: A Noite é Melhor Com Música e Sociedade em Revista na Rádio PRE5 (Rádio Sociedade).

Essa fera era considerada a "Rainha do Rádio" e a mais antiga profissional da radiofonia de Minas Gerais. Mais de 60 anos no "ar". Ela fez história e deixou sua marca.


Agradeço ter aprendido um pouquinho com essa que foi um ícone na comunicação Uberabense. SAUDADES!!!

Radialista Marcos Vinícius            

terça-feira, 18 de julho de 2017

O triste fim de uma mangueira


 Aos poucos, as mangueiras e outras árvores desaparecem dos quintais, das ruas, das avenidas, da cidade... Vitória da sociedade de consumo. Triste vitória!            


     O quintal era bem grande, uma imensidão poética, sem muros, apenas uma cerca fajuta de arame, três fios, alguns postes desmilinguidos pra todo mundo saber que ali era o território de um casal de avós, que se levantava bem cedo, costume antigo, pra cuidar da hortinha e de algumas galinhas. Aos domingos, o casal recebia os filhos e netos para um almoço gostoso. As crianças se esbaldavam no quintal enquanto os homens conversavam na varanda e as mulheres na cozinha, uma estranha e arcaica divisão sem sentido. Nessa época, alguém plantou um caroço de manga Sabina num canto daquele quintal mágico, não se sabe quem, quando e que relevância isso tinha naqueles tempos.

O tempo passou, o pé de manga cresceu, o velho morreu, mas a casa continuou com a família. Apesar de contrariada, a avó aceitou diminuir o quintal, concordou em vender uma parte para pagar as despesas do inventário e, inconformada, viu um muro ser erguido para separar o terreno. Teve a sensação de que seria aprisionada no seu próprio universo. Pediu que a mangueira ficasse do lado de “dentro”.

Os filhos e netos continuaram alegrando os almoços de domingo. A sombra da mangueira serviu de abrigo para muitas festas, para encontros e tardes agradáveis, onde as divisões, sexuais, de idade e outras hierarquias, foram mudando de significado. As cadeiras eram colocadas ao redor, as quitandas vinham da cozinha, o chão ainda de terra, porém sem a horta e as galinhas.

O tempo é implacável. As crianças cresceram, a mangueira também, e muito! Deu frutos, caíram folhas... Alguém sugeriu que o chão de terra fosse cimentado para dar menos trabalho à avozinha, já bem velhinha. Não perguntaram a ela se essa era sua vontade. A mangueira passou a ser cenário de churrascos, de reuniões políticas, com as bênçãos da matriarca, de brincadeiras, cada vez mais raras, pelas poucas crianças que ainda frequentavam a casa, bisnetos de um novo tempo, onde já não se permitia que os miúdos subissem nas árvores.

Um dia, a avó faleceu. A casa foi alugada, virou um estabelecimento comercial, e a família se dispersou mundo afora. A mangueira ficou sozinha, guardiã do passado e das histórias. Uma vizinha reclamou da sujeira das folhas e das mangas que podiam causar um acidente se caíssem na sua cabeça. Então, podaram sem dó, cortaram os galhos, depenaram de forma humilhante a velha mangueira, para azar das maritacas e dos bem-te-vis que ali faziam seu pouso vespertino.

Uma manhã dessas, eu acordei assustado. Um barulho irritante de motosserra assustava o silêncio. Olhei pela janela e vi o tronco indo ao chão. Dias depois, a casa foi demolida e o terreno transformado num estacionamento. De teimosia, fui até o local e, irônico, sugeri um nome: Estacionamento da Mangueira. Vez ou outra, eu passo por lá, para desafiar minhas lembranças.   

Renato Muniz B. Carvalho


Professor universitário e educador ambiental

Domingo (16/07/2017), publicada no Jornal da Manhã.

CENAS DA HISTÓRIA DO TEATRO EM UBERABA

Miguel Jacob Neto
                                                                                   


(1879 A 1900)



por Miguel Jacob Neto

Senhoras e Senhores:


Inicio hoje a publicação de minha humilde, simples e singela pesquisa sobre o teatro em Uberaba.

O texto é inédito e conta com a inestimável contribuição dos redatores do extinto Gazeta de Uberaba.
Iremos “ao ar” sempre aos domingos, vespertinamente, até onde Deus quiser.
Divirtam-se!


A CASA DO THEATRO EM 1879

É duro começar assim. Mas o que fazer?
Há 138 anos, os artistas teatrais em Uberaba já começavam a entender que por aqui as coisas não seriam fáceis.

O Theatro São Luiz, único na cidade, não estava bem das pernas.

No Jornal Gazeta de Uberaba, 18 de maio de 1879, o redator deu um panorama de Uberaba:
“ [...]inumeros negociantes, capitalistas e advogados, tres colegios de instrução, um vasto e bem construido cemiterio[...]. Temos um matadouro publico, uma vasta casa de camara; não temos infelizmente , nem uma casa de theatro. [...] A casa do theatro está em ruina completa formando uma especie de mascara no largo da matriz.”
Engraçado.... Isso lembra a vocês alguma coisa semelhante?


No próximo domingo,dia 23 de agosto de 2017 : Empreza Villarouco chega a Uberaba



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FOLHA DE S. PAULO : ‘Um artigo cirúrgico. Miguel é um neoescritor audacioso: maõs nervosas , estilo cortante”.

REVISTA VEJA : “O autor mergulhou por mais de 20 anos em pesquisas. E agora brinda o leitor com uma pérola. A História do Teatro Brasileiro ganha um presente com essa publicação.”

GILBERTO GIL : “Quanticamente visceral.”

FOLHA DE BAIXADA DA ÉGUA : “Porreta !”


                   José Maria Madureira e Miguel Jacob Neto                        


sexta-feira, 14 de julho de 2017

4º Batalhão da Polícia Militar – 70 anos no Fabrício!

A PMMG, através dos séculos, tem sido uma das corporações que mais têm orgulhado o povo mineiro. Uberaba, Diamantina e Juiz de Fora foram as três cidades do interior primeiro a receberem Batalhões da PM. Uma tropa anterior ao Batalhão atual instalou-se na cidade no período 1890-1903. Após uma luta da sociedade com empenho notório do Jornal Lavoura e Comércio (criou uma coluna chamada “Sem Polícia!) veio para a cidade o 4º BPM atual, aqui se instalando em 25 de novembro de 1909.

As obras do atual quartel, iniciadas em 1936, foram entregues em 11 de julho de 1947. Três dias após, em 14 DE JULHO DE 1947, o engenheiro chefe das obras, Tomas Bawden, e o Prefeito de Uberaba, Dr. João Carlos Belo Lisboa, entregaram o prédio à PM e neste dia aconteceu a mudança do Senai para a nova sede. Convidaram-se todas as autoridades da cidade, o arcebispo D. Alexandre Gonçalves do Amaral, o diretor do Colégio Diocesano, o povo em geral para assistirem à inauguração da nova Unidade da PM. Às 7 HORAS DO DIA 14 teve início a solenidade com as despedidas do bairro S. Benedito. Em nome do bairro falou o Dr. Homero Vieira de Freitas, que disse da tristeza do bairro, mas da alegria da cidade, pois ao Batalhão seriam aumentadas as responsabilidades e melhoria de instalações. O discurso era longo e cheio de emoção. Também falaram o Ten. Pedro Rocha, Delegado Especial da cidade, e o Prefeito. Ao som da Banda desfilaram os PMs, o Tiro de Guerra 59 e a Guarda Noturna, do Senai ao novo quartel. Espoucaram-se fogos na chegada do desfile onde ocorreram hasteamento da Bandeira, palavras pelo representante do bairro, Prof. Alceu Novais, Sargento Teófilo Lamounier, Alfredo Moreira, Superintendente da Guarda Noturna, o Comandante do Batalhão e o Prefeito. Foi um dia inesquecível para Uberaba e o Fabrício.

Como ex-Comandante do 4º BPM, onde frequento desde criança, onde serviu meu pai, Capitão João Araújo, por 30 anos, onde serviu meu irmão Ten. Cel. Marco Polo por 30 anos e onde foi Comandante meu filho, Cel. Sidney Miguel de Almeida Araújo - no centenário do Batalhão -, deixo esta homenagem da família a esta instituição centenária e grandiosa que é o 4º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais, com sede nesta querida Uberaba. Aos companheiros Cap. Gilberto, Cap. Bracarense, Ten. Paulo Constâncio, Sgt. Onofre, Sgt. Niraldo, Cb. Laércio, Sd. Moacir Alves e Sd. Roberto Santos, equipe que tornou realidade o livro MEMÓRIAS DO 4º BPM, que editamos como comandante e de onde retiramos os dados acima, ao ex-Prefeito Hugo Rodrigues e à equipe da Professora Maria A. Manzan – ex-diretora do Arquivo Público –, ao Sec. Educação, Prof. João Batista, ao incansável pesquisador Prof. Coutinho, colabores insubstituíveis na confecção do livro, ao prestativo amigo João Eurípedes Sabino – patriota emérito –, nosso muito obrigado.

Hely Araújo Silveira
Cel. PMQOR

“TERRA MADRASTA: UM POVO INFELIZ”


                Charge do livro “Terra Madrasta - Uberaba

Charge do livro “Terra Madrasta: um povo infeliz”, de Orlando Ferreira, referindo-se à Uberaba da década de 1920.
“A desgraçada Uberaba caminha para o calvário carregando a sua pesada cruz e os seus maiores algozes: a administração, a política, o clero e a empresa Força e Luz.”

(André Azevedo da Fonseca)                      

ORLANDO FERREIRA (DOCA) DENUNCIAVA EM SEU LIVRO “TERRA MADRASTA”

                            Orlando Ferreira (Doca) denunciava em seu livro “Terra Madrasta”

Uma pergunta. O que esperar quanto ao combate às drogas, se o mal se arrasta por quase um século em Uberaba? Há 90 anos, conforme pesquisa do nosso articulista João Sabino, Orlando Ferreira (Doca) denunciava em seu livro “Terra Madrasta”- página 67, o tráfico de drogas em Uberaba. Vejamos: “Está assumindo um aspecto muito grave a venda de tóxicos, cocaína principalmente, nas casas públicas nocturnas da cidade, e mesmo por toda parte, a qualquer hora, nas barbas de quem quer que seja. As victimas dessa exploração são principalmente as decahidas. Os vendedores da morte agem despudoradamente, certos de não serem incomodados”. (Lavora e Commercio nº 2.751, de 16-10-1924).

Jornalista Gê Alves

Matéria publicada no Jornal da Manhã em 21-08-14

“TERRA MADRASTA”

 Orlando Ferreira,”Doca” ao escrever seus livros, teve em “Terra Madrasta”, o de maior repercussão. Seu acendrado amor a Uberaba,sua terra natal, heroicamente, manifestou seu desagrado pelo que a cidade passava mormente a classe política que dominava a então “princesa do sertão”. “Doca” colocou à nu a cidade que tanto amava que, segundo a dedicatória do livro, “está pobre, andrajosa, descalça e maltrapilha”. “É preciso odiar nossos malfeitores , monstruosos e hediondos carrascos que usurpam a boa fé dos uberabenses”, escrevia. Eu, acrescento: Uberaba esperava mais dos seus representantes, desde a esfera municipal. A terrinha cresceu praticamente como uma filha órfã. De pai e mãe. Não fosse a nossa posição geográfica , banhada pelo grande propulsor de nossa economia, o Rio Grande, não sei o que seria da nossa cidade, tão carente de lideranças políticas. Sobre o grande rio, falarei depois das eleições.

Volto ao “Doca”. Agrada-me falar dele. Homem lúcido, audaz, inteligente,nascido sem medo, comunista assumido, espiritualista ardoroso, viajadíssimo e dotado de muito conhecimento.Critico feroz da corrupção, da tirania, da oligarquia.Polêmico para uns, desequilibrado para outros, “Doca” era acima de tudo, autêntico.Sem meias palavras. Os “pseudo-psicólogos” diziam ser portador de distúrbio bipolar, alienado, paranóico. “Doca” era um pensador.Dava vazão o que lhe clamava o espírito. Queria levar ao mundo, suas idéias. À época, não lhe permitia. A “internet”, hoje, mudou aquele conceito…

IMPRENSA LOCAL- “Doca” tecia críticas acerbas . Não suportava o “Correio Católico”, pelo principal fato de estar à serviço da Igreja Católica, religião que não tolerava e o jornal apenas noticiava fatos religiosos, pouco se incomodando com os problemas da cidade. Monsenhor Ignácio Xavier, era o seu “alvo” preferido. Dizia horrores do sacerdote. Sobre o centenário e o falecido “Lavoura e Comércio” escrevia que o jornal era o “órgão oficial do município”.Dizia que a dubiedade de opinião do jornal, chegava às raias do absurdo.Mordia e assoprava”, dizia. Ao mesmo tempo que denunciava fatos da cidade, os encobria se estivessem ligados aos “manda-chuvas” da terrinha…(Obs.minha:se vivesse aos dias de hoje, certamente suas críticas teriam continuado…)

Nunca se viu tanto servilismo pago de diversos setores e comunicação da cidade, como agora, digo eu. Formadores de opinião praticamente não existem. Editoriais desapareceram das páginas dos nossos matutinos. Alguns articulistas , semanalmente, emitem opiniões, ocupando pequenos espaços os nossos veículos como “colaboradores”. Estamos vivendo um momento onde “não mais se vende espaço.Vende-se opinião”.

Nos últimos anos, deixaram de circular na terrinha a “Gazeta de Uberaba”, “Vox”, “Correio Católico”, “Cidade Livre”e o centenário “Lavoura e Comércio”. “Doca”, deve estar remoendo no túmulo que não tem inscrição no cemitério, em saber que os jornais não mais circulam. Se soubesse que as rádios PRE-5, uma das pioneiras do interior do Brasil, a Difusora, que durou 50 anos, a TV Uberaba, primeira geradora de televisão local, desapareceram , por certo, espumaria no canto da boca ao saber que ninguém chorou, nem lágrimas de crocodilo derramou, por mortes tão prematuras… 

As 2 principais redes de televisão do Brasil, instaladas na terrinha, ocupam-se tão somente de pequenos noticiários da cidade, sem aprofundar-se nos nossos problemas e ou no enaltecimento de nossas conquistas. As emissoras de rádio (muitas, por sinal),tanto as “AM”quanto as “FM”, ocupam seus espaços com músicas sertanejas e um modesto noticiário local, extraído dos jornais. Pasmem ! o uberabense gosta de ler nos nossos periódicos , com intensidade e avidez, é o colunismo social. Fotos de uberabenses “correndo mundo”, em festinhas sociais, boates, gestantes mostrando o barrigão do primeiro filho, mansões bem decoradas…ou então, o lado reverso da medalha, acidentes nas ruas , avenidas e rodovias, fotos de bandidos, ladrões, drogados e etecétera.. Assuntos que a cidade precisa conhecer, ó,ó,ó…


 Luiz Gonzaga Oliveira