Desde 1881 em Uberaba
* Luiz Alberto Molinar
A história de Nossa Senhora da
Abadia se iniciou no ano de 883, em Braga (Portugal). Abadia é uma palavra
originária de abade, a principal autoridade de comunidade de monges, e
significa grupo religioso ou moradia de padres. No Brasil, a devoção à santa
chegou por meio de portugueses e começou em 1750 no distrito de Muquém, de
Niquelândia (GO).
Nos municípios de Uberaba e
Romaria se realizaram as principais festas à Abadia no Triângulo Mineiro, onde
é considerada a padroeira, com feriados nas duas principais cidades: Uberlândia
e Uberaba. Além de Goiás e Minas, a santa é festejada, principalmente, em Mato
Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.
O santuário de Nossa Senhora da
Abadia, de Uberaba, se iniciou em maio de 1881, com o capitão Eduardo José de
Alvarenga Formiga, após participar de uma missa na então igreja de Santo
Antônio e São Sebastião, depois denominada Adoração Perpétua, na pç. Dom
Eduardo, Mercês.
Em conversa com amigo, o major
Ananias Ferreira de Andrade disse-lhe do seu desejo de construir uma capela
dedicada à Nossa Senhora d’Abadia, no bairro então denominado Alto da
Misericórdia, que era conhecido assim por abrigar hospital com esse nome na pç.
Tomaz Ulhoa, e que integra, atualmente, o complexo de saúde da Universidade
Federal do Triângulo Mineiro. Cerca de vinte anos depois, com o crescimento da
popularidade da santa, o bairro passou a levar o seu nome.
Ainda em 1881, a Câmara Municipal
concedeu ao capitão Formiga a licença para erguer a capela. Ele mesmo ficou
encarregado das obras. Quatro dias depois o cônego Santos celebrou, no local da
futura igreja, uma missa após a qual foi bento e levantado um cruzeiro para
marcar o lugar da construção. No ano seguinte, em 15 de agosto, realizou-se a
primeira festa de Nossa Senhora d’Abadia e benzida a imagem da santa que se
tornaria a padroeira da cidade.
A capela precisava de água para
as obras. Foi então furada uma cisterna, ao lado do cruzeiro, e a água jorrou
com fartura. Houve até mesmo quem a considerasse milagrosa por seu líquido
curar enfermidades. No entanto, espalhou-se que um indivíduo portador de doença
venérea, numa madrugada, tomou banho no poço. Daquela data em diante a água
secou e logo depois o reservatório foi aterrado.
Mantida pelo capitão Formiga, a
igrejinha ficou pronta. Considerava-se dono do templo, não prestava contas a
ninguém de sua administração. Após reclamações, suspeitas e denúncias, o bispo
interditou a igreja. Com isto, Formiga trancou o santuário e levou consigo as
chaves e a imagem da santa. Em sua casa fazia novenas, rezas e organizava
procissões. Depois de disputa judicial, em sentença favorável à Cúria
Diocesana, o capitão foi notificado a devolver os objetos retirados da capela.
Fieis d’Abadia em Uberaba vereram N. S. Auxiliadora
Segundo o memorialista e teólogo
paulistano e residente em Uberaba desde a década de 1950, Carlos Pedroso, em
seu livro intitulado “Padroeira Principal, Tratando da Devoção e da História de
Nossa Senhora da Abadia”, a imagem da santa na igreja de Uberaba é de Nossa
Senhora Auxiliadora. A diferença foi reconhecida por fiéis que frequentavam o
santuário de Romaria, a 130km de Uberaba. Entretanto, devotos locais decidiram
manter Auxiliadora em sua igreja. Haviam acostumado com ela...
O motivo da confusão se deu a
partir da ida de uma comissão de devotos que foi a São Paulo (SP) para
adquirir, na virada dos séculos 19 para 20, a estátua para adornar o altar da
igreja. Numa livraria de padres salesianos, a réplica da santa Abadia não foi
encontrada. O atendente sugeriu ao grupo que levasse a representação de
Auxiliadora por ter, também, manto azul e crianças. A diferença é que enquanto
a Abadia tem três crianças na base e uma no colo, a outra possuiu apenas uma no
colo.
Padres passam a administrar a
igreja
Em 1899, padres da ordem
religiosa portuguesa de Santo Agostinho, que chegavam ao Brasil oriundos das
Filipinas, assumiram a paróquia e imediatamente começaram a construir uma
igreja ao lado da capela. Próximo dali ergueu-se uma casa que serviria de morada
para os sacerdotes.
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Os agostinianos, anos depois, se
retiraram da Diocese de Uberaba e o santuário passou ao cônego César Borges. Em
1921, o bispo dom Eduardo Duarte e Silva, nascido em Florianópolis (SC) e
procedente da diocese de Goiás Velho, criou a Paróquia de Nossa Senhora
d’Abadia, desmembrando-a da Freguesia de Santo Antônio e São Sebastião, que
coordenava a ação da igreja no município.
Posteriormente, o bispo,
transferido de São Paulo (SP), frei capuchinho Luís Maria de Santana, italiano
de Verona, entregou a paróquia à Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso
Senhor Jesus Cristo, ordem religiosa originária da Itália. Procedentes de Rio
Claro (SP), os padres Albino Sella, estadunidense, e João Consolaro e o irmão
Pedro Bianconi fundaram em Uberaba a nova comunidade dos estigmatinos e
assumiram a paróquia d’Abadia, que contava então com 15 mil fieis.
Imagem da torre tem 4,4m e sino
de tem 800kg
Os projetos da torre e da nova
fachada da igreja estavam concluídos em 1937. O padre José Tondin administrava
a obra em 1939, quando o sino maior, com 800kg e confeccionado pela paulistana
Casa Angeli, chegou a Uberaba. Porém, somente em 1941 suas badaladas ressoaram
pelo bairro.
A imagem d’Abadia instalada acima
da torre da igreja, com 4,4m e dividida em três partes, foi inaugurada em 1940
sob o comando do novo bispo, dom Alexandre Gonçalves do Amaral, que assumira o
posto há quatro meses. Os anjos da fachada do templo, esculpidos em São Paulo,
no entanto, foram instalados em 1945, juntamente com as imagens de São Pedro e
de São Paulo, produzidas em Campinas (SP), e colocadas no frontispício do
templo.
Iniciou-se em 1946 a construção
da abóboda, coordenada pelo padre João Missoni, que se transferiu em seguida
para a cidade de Magda (SP). Dois anos depois a cobertura da nave central era
revestida com telhas modelo francesa. Dom Alexandre desentendeu-se com a
prefeitura e a festa da padroeira não se realizou em 1948. Em protesto, a
igreja permaneceu fechada durante os dias destinados à festa e reabriu somente no
dia 22 de agosto.
O padre italiano Ângelo Pozzani
passou a administrar a paróquia a partir de 1949. Estavam terminados, em 1954,
o revestimento interno, as molduras dos arcos, os capitéis - ornamento de gesso
no alto das colunas - e suas bases cobertas com granito preto. A pintura da
cúpula foi concluída após três anos e o altar-mor inaugurado.
Entre 1968 e 1969 assentou-se o
piso de cerâmica, foram realizados acabamentos de mármore e de granito no
presbitério, fixou-se os vitrais e cobriu-se as naves laterais. Montaram-se
também as três portas da fachada e o altar, trabalho realizado pelo artista
Ammeletto Belloni, de Ribeirão Preto (SP).
Dois sinos eletrônicos passaram a
integrar o carrilhão da igreja em 1975: um com 380kg e o outro de 240kg, que se
juntaram ao antigo de meia tonelada. Os novos foram fabricados pela paulistana
Fundição Crespi. A partir de 1977 o santuário passou a contar com um órgão
eletrônico.
O padre Vicente Ruy Marot
promoveu durante sua gestão, entre 1994 e 2001, a remodelação do santuário que
incluiu a colocação de cruz pendente sobre o altar da imagem da padroeira e, em
outro, a de São Gaspar Bertoni. A instalação de grandes lustres no vão central
da igreja constituiu-se na inovação mais importante, além de pinturas
artísticas imitando mármore e granito nas colunas e paredes no entorno,
conforme projetos do arquiteto Demilton Dib.
A virada do milênio foi
comemorada com a inauguração do quarto sino. Vitrais reformados, bancos de
madeira substituídos, remodelação da entrada do santuário e grades para
segurança foram afixadas à frente da igreja. Com o galpão para abrigar a festa
da padroeira e eventos, ao lado do templo, padre Marot encerrou suas ações na
direção da paróquia.
Embora Nossa Senhora d’Abadia
fosse conhecida como padroeira de Uberaba desde o início do século 20,
inclusive sua data comemorada com feriado municipal, oficialmente somente em 14
de agosto de 2007 que a lei 10.196 a reconheceu como patrona.
Fontes:
santuarioabadia.com.br e Wikipédia
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Nossa Senhora d’Abadia de Romaria tem três crianças na base
e uma no colo
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Primeira igreja d’Abadia sem a torre e os anjos no frontispício, nos anos de 1920
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O segundo santuário na década de
1960, com a imagem de 4,4m na torre
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Nossa
S. Auxiliadora no santuário de Uberaba, com apenas uma criança no colo
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