terça-feira, 4 de julho de 2017

O CINEMA DE HITCHCOCK E WOODY ALLEN

O CINEMA DE HITCHCOCK E WOODY ALLEN


                                                                                         NOVO LIVRO DE GUIDO BILHARINHO

O CINEMA DE HITCHCOCK E WOODY ALLEN



SUMÁRIO

Nota Preliminar

O Cinema de Hitchcock e Woody Allen .............................. 11

CRÍTICA HITCHCOCK

ANOS 30

Os 39 Degraus e A Dama Oculta – A Caracterização Tipológica ....................................................................... 15
ANOS 40

Correspondente Estrangeiro - A Trajetória de Hitchcock .... 19
Suspeita - A Imaturidade e a Irresponsabilidade ................... 23
A Sombra de Uma Dúvida - O Perigo Humano .................... 27
Um Barco e Nove Destinos - O Comportamento
Individual ....................................................................... 31
Quando Fala o Coração - A Análise Psicanalítica ............... 35
Interlúdio - Amor De Salvação ............................................. 41
Agonia de Amor - Amor de Perdição .................................... 45
Festim Diabólico - O Exercício da Inteligência.................... 49

ANOS 50

Pacto Sinistro - O Comportamento Psicótico ....................... 53
Disque “M” Para Matar - O Presente e Sua Realidade ....... 57
Janela Indiscreta - A Responsabilidade Social ..................... 61
Ladrão de Casaca - Beleza e Maniqueísmo ......................... 65
O Terceiro Tiro - O Encanto da Existência ........................... 69
O Homem Que Sabia Demais - Estudo de Comportamento .73
Um Corpo Que Cai - O Exercício da Simulação .................. 77
O Homem Errado - Questão de Identidade .......................... 81
Intriga Internacional - Sobreposição do Espetáculo ............ 83

ANOS 60 e 70

Psicose - A Patologia da Mente ............................................ 87
Os Pássaros - O Terror da Natureza ..................................... 91
Marnie, Confissões de Uma Ladra - A Terapia do Amor ..... 95
Topázio, Cortina Rasgada E Trama Macabra - Os Piores Filmes da Maturidade de Hitchcock ............................... 99
Frenesi - Filme Não Autoral ............................................... 103
WOODY ALLEN

ANOS 60

Um Assaltante Bem Trapalhão - Personagem de Si
Mesmo ......................................................................... 111

ANOS 70

Bananas - A Tragicidade do Real ........................................ 115
Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo e Tinha Medo de Perguntar - Comicidade e Inteligência .......... 117
O Dorminhoco - Comicidade Corrosiva ............................. 121
A Última Noite de Bóris Grushenko - A Morte
Surpreendida ................................................................. 125
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa - Autobiografia
Essencial ....................................................................... 129
Interiores - Microcosmo Conflitivo .................................... 133
Manhattan - As Imagens Interessadas ................................ 135

ANOS 80

Memórias - Um Allen Felliniano ........................................ 139
Sonhos Eróticos Numa Noite de Verão - Equação
Cerebral ........................................................................ 143
Zelig - Mimetismo Conformista.......................................... 145
Broadway Danny Rose - O Valor Humano ......................... 149
A Rosa Púrpura do Cairo - Realidade e Fantasia ............... 153
Hannah e Suas Irmãs - O Equilíbrio da Vida ....................... 157
A Era do Rádio - Música e Nostalgia ................................. 161
Setembro - Isolamento Perturbador ..................................... 165
A Outra - Não é o Que Parece ............................................ 167
Crimes e Pecados - O Sentido da Existência ...................... 169

ANOS 90

Simplesmente Alice - O Real e o Irreal ............................... 175
Neblina e Sombras - Ambientes e Interesses ...................... 179
Maridos e Esposas - A Imprescindível Verbalização .......... 183
Um Misterioso Assassinato em Manhattan - Tédio e
Aventura .......................................................................... 187
Tiros na Broadway - Nem Caravaggio Nem Jean Genet ..... 189
Poderosa Afrodite - Altos e Baixos ..................................... 191
Todos Dizem Eu Te Amo - Entretenimento e Inteligência ...193
Desconstruindo Harry - Vida e Trabalho ............................ 197
Celebridades - A Doce Vida Novaiorquina ......................... 201

ANOS 2000

Trapaceiros - Espetáculo Humorístico ................................ 207
O Escorpião de Jade - A Problemática Amorosa ................ 209
Dirigindo no Escuro - Entretenimento Romântico ............. 211
Igual a Tudo na Vida - A Personagem Principal ................. 213
Melinda e Melinda - Engenhosidade e Apelação ................ 217
Tudo Pode Dar Certo - Nem Tudo ....................................... 221
Filmes Recentes de Woody Allen - Convencionalismo e Irrelevância ................................................................... 223
Poucas e Boas, 223; Ponto Final, 223; O Grande Furo,224;
O Sonho de Cassandra,224; Vicky Cristina Barcelona, 225; Você Vai Conhecer o Homem de Seus Sonhos, 226; Meia- Noite em Paris, 227; Para Roma Com Amor, 227; Blue Jasmine, 228; Magia ao Luar, 229; O Homem Irracional, 230; Café Society, 231

ANEXO

Sonhos de Um Sedutor - Um Autêntico Allen .................... 237

ÍNDICES

Melhores Filmes ................................................................. 239

Ilustrações ........................................................................... 241
OBRAS DO AUTOR

Obras do Autor .................................................................... 243

SUMÁRIO


Sumário ............................................................................... 253

domingo, 2 de julho de 2017

A SIMPÁTICA E SEMPRE ACOLHEDORA ÁGUA COMPRIDA, COMPLETOU 60 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

A simpática e sempre acolhedora Água Comprida, completou 60 anos de emancipação política. Antes , pertencia a Uberaba. Às margens do rio Grande, a cidade sempre foi celeiro de bons políticos. Álvaro Barra Pontes, Clóvis Prata, Cleveland Prata e o sempre lembrado médico, dr. Cláudio Moreira de Almeida, prefeito quantas vezes quis, da gostosa cidade. Tempos depois da instalação da comarca, os políticos locais pleitearam a criação do posto policial. Foram designados, depois da força política que tinham com o governo do Estado, para a segurança do novo município, um Delegado “calça-curta” (desses nomeado sem concurso) e um escrivão. Cidade pequena, povo ordeiro. Os dois passavam dias e dias sem que houvesse uma ocorrência sequer. A ordem era pescar, caçar, pegar passarinho, dormir e, de resto, um papo sadio na única barbearia da cidade. Cidade calma, poucos carros, ruas sem calçamento, bailes só os familiares e nenhuma “bronca”. A calma era tanta que os policiais se esqueceram de como era redigir uma “ocorrência policial”. Só que no dezembro de 58, “o bicho pegou”. Numa chacrinha nos arredores da cidade, aparece morto um cabrito gordo, bem criado e de muita estimação do “seo”Zeca Jesuino. O fato causou “auê” na cidade e dado parte na Delegacia. Procura daqui, procura Dalí, pergunta um, pergunta outro e nada de aparecer o autor da façanha. Como a ocorrência teria que ser remetida para a Regional de Uberaba. O escrivão, eufórico pelo primeiro caso acontecido na cidade, relata, pormenorizadamente, o boletim , afirmando “ até agora não conseguimos descobrir o autor do cabrecidio”. O delegado que confiava muito no escrivão. Assinou a ocorrência. Desnecessário dizer que o “calça-curta” e o escrivão, ficaram um bom tempo na “geladeira”, conforme o jargão policial. O certo é que, passado tantos anos,não se conhece, até hoje, o autor do “cabrecidio”.
O delegado “calça-curta” formou-se em Direito, tornou-se Delegado de verdade e, atualmente, é um dos grandes nomes da Policia Civil do Estado…

Luiz Gonzaga de Oliveira              

Projeto Natal no Projeto Natal no Parque Parque Fernando Costa (ABCZ), inaugurado no dia 10 de dezembro de 2015

Foto: Rúbio Marra
Projeto Natal noProjeto Natal no Parque Parque Fernando Costa (ABCZ), inaugurado no dia 10 de dezembro de 2015
Neste ano, mais de 750 mil mini-lâmpadas foram utilizadas para decorar um dos principais cartões postais da cidade, com projeto do arquiteto Demilton Dib. A inauguração do “Projeto Natal no Parque” aconteceu no dia 10 às 19h30, com a presença do presidente da ABCZ, Luiz Claudio Paranhos e o prefeito Paulo Piau. As luzes de Natal ficarão acesas até o dia 1º de janeiro de 2016.

INAUGURAÇÃO DO PARQUE FERNANDO COSTA EM UBERABA

Palanque Oficial do Parque Dr, Fernando Costa                               
Presidente Getúlio Dornelles Vargas, Presidente da Sociedade Rural de Uberaba, Dr. José de Souza Prata, Ministro Fernando Sousa Costa e o Governador Benecdito Valadares.

 Autoridades recepcionando o Presidente Vargas no aeroporto de Uberaba        

Inauguração do Parque Dr. Fernando Costa

Inauguração do Parque Dr. Fernando Costa

10 de maio de 1941

Foto: Autoria desconhecida

Ministro da Agricultura Fernando Sousa Costa, Presidente Getúlio Dornelles Vargas, Presidente da Sociedade Rural de Uberaba Dr. José de Souza Prata, Governador Benecdito Valadares Ribeiro.

(Foto cedida pela família do Dr. José de Souza Prata de seu arquivo pessoal)                                    

MODERNIDADE E ELEGÂNCIA NA GALERIA COMERCIAL MAIS CHARMOSA DE UBERABA

Galeria Rio Negro
Galeria comercial mais charmosa vista da Av. Leopoldino de Oliveira,"Buraco da Onça" edifício Rio Negro, final dos anos 60 e início dos anos 70.

Foto restaurada por André Borges Lopes

(Foto cedida pela família do Dr. José de Souza Prata do arquivo pessoal)      

VISTA PARCIAL DA CIDADE DE UBERABA

 Edifício Rio Negro


GALERIA COMERCIAL MAIS CHARMOSA DE UBERABA


Galeria comercial mais charmosa vista da Rua Alaor Prata, edifício Rio Negro, final dos anos 60 e início dos anos 70.

Foto restaurada por André Borges Lopes

(Foto pessoal da família do  Dr. José de Souza Prata do arquivo pessoal)      

VISTA PARCIAL DA CIDADE DE UBERABA

Vista parcial da cidade de Uberaba

Década: 1960

Vista parcial da cidade de Uberaba

Em primeiro plano, vê-se o cruzamento das ruas Alaor Prata e Artur Machado; no canto superior esquerdo, o prédio do Fórum Mello Viana; e no canto superior direito, a Igreja São Domingos. No centro, Casa das Meias, Casa Pignataro, consultório do Dr. Boulanger Pucci, 1ª Coletoria Estadual de Pagamentos, 2ª Coletoria Estadual de Recebimentos de Impostos, defronte o Armazém Central. Acima, a residência e escritório do advogado Doutor José de Souza Prata.

Foto: Postal Colombo

 Arquivo Público de Uberaba

HISTÓRIA DA ABCZ - UBERABA

A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) trabalha para ampliar a produção mundial de carne e leite. Sempre atenta às novas tecnologias e exigências do mercado, a ABCZ vem cumprindo sua missão de promover o melhoramento genético e o registro genealógico das raças zebuínas em todo o Brasil. Para isso, conta com uma rede de escritórios regionais, onde atuam técnicos altamente capacitados.

A ABCZ registra em todo o Brasil mais de 600 mil zebuínos por ano e detém o maior banco de dados do mundo sobre o zebu, com mais de 12 milhões de animais cadastrados. Através do PMGZ (Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos), acompanha o melhoramento genético de mais de 3.600 rebanhos em todo o país.

Em sua sede, no Parque Fernando Costa, em Uberaba (MG), a ABCZ promove a ExpoZebu. A feira, que é realizada desde 1935, recebe anualmente mais de 200 mil visitantes que participam de leilões, exposições, palestras, cursos, debates sobre diversos temas relacionados à atividade de pecuária e acompanham os julgamentos de animais e concursos leiteiros. Outra feira promovida pela ABCZ é a ExpoGenética, feira que reúne em exposição os principais programas de melhoramento genético do país.

A ABCZ é a primeira associação de pecuária brasileira a ser certificada pelas normas ISO 9001 e ISO 14001. Além do registro genealógico, do melhoramento genético e da promoção das raças zebuínas, a ABCZ atua também no apoio à pesquisa científica, ensino superior e inovação tecnológica; no fomento ao ambiente de negócios e à prospecção de novos mercados; na articulação da pecuária com os demais elos da cadeia produtiva da carne e do leite; no suporte técnico aos associados e na representação dos produtores rurais junto ao governo e à sociedade.

Confira abaixo um pouco mais da história da ABCZ

1919 – Início das atividades do “Herd Book da Raça Zebu”, sediado em Uberaba, no Triângulo Mineiro, que teve o objetivo de assegurar a garantia de origem dos filhos dos animais importados (dia 16/02).

1934 – Absorção do “Herd Book da Raça Zebu” pela Sociedade Rural do Triângulo Mineiro – SRTM (dia 18/06).

1935 – Oficialização da Exposição Feira Agropecuária do Triângulo Mineiro.
1938 – É firmado convênio com o Ministério da Agricultura para a execução dos Registros Genealógicos das Raças Bovinas de Origem Indiana, em regime de Livro Aberto, em todo o território nacional.

1941 – Inauguração do Parque Fernando Costa, que sedia a ABCZ.

1967 – A SRTM se transforma em ABCZ (dia 25/03).

1975 – O presidente Ernesto Geisel assina o decreto federal nº 75.921, que autoriza o funcionamento da Faculdade de Zootecnia de Uberaba (Fazu), uma das realizações da ABCZ.

1972 – Início das Provas de Ganho de Peso.

1976 – É introduzido o programa de Controle Leiteiro.

1979 – Por sugestão e empenho da ABCZ, o Ministério da Agricultura cria, por meio da Portaria nº 628, a Comissão Coordenadora do Programa Nacional de Exportação de Bovinos e Sêmen de Origem Indiana. A ABCZ apresenta ao Ministério da Agricultura proposta de criação do Conselho Nacional de Pecuária (CNP).

1983 – É criado o Museu do Zebu, no Parque Fernando Costa, por iniciativa da ABCZ.

1993 – Introdução do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ)

1994 – A ExpoZebu passa a ter dimensão internacional, com a realização da Exposição Internacional das Raças Zebuínas.

1997 – Convênio entre a Universidade de Uberaba – UNIUBE, ABCZ, FUNDAGRI e FAZU, permite a criação do curso de Medicina Veterinária.

2003 – Criado o Brazilian Cattle, projeto de divulgação internacioanl do zebu brasileiro e dos produtos pecuários desenvolvidos no Brasil.

2006 – Governo de Minas e ABCZ lançam o Pró-Genética (Programa de Melhoria da Qualidade Genética do Rebanho Bovino) em Minas Gerais.

2008 – Pecuária sustentável começa a ser preconizada pela ABCZ, durante a ExpoZebu. A ABCZ realiza a 1ª edição da ExpoGenética, exposição que reúne os principais programas de melhoramento genético do Brasil. Após 15 anos de negociações, a ABCZ consegue autorização para que criadores brasileiros possam importar embriões de zebuínos da Índia.

2009 – MAPA autoriza a ABCZ a realizar o registro de animais clonados das raças zebuínas.
2011- A ABCZ recebe as certificações ISO 9001 e ISO 14001. Lançamento da sala virtual “Mário de Almeida Franco”, que integra o Museu Virtual da ABCZ.

2012 – Lançamento do software de gerenciamento Produz, em substituição ao Procan, e da nova versão do PMGZ, durante a ExpoZebu.

Lançamento do Agrocurso, projeto de Educação à Distância realizado em parceria entre a ABCZ, a FAZU e o Canal Rural.

Disponibilização de consulta pública de animais.
2013 – Início da coleta de amostras para o Banco de DNA.
Contratação de núcleo composto por cientistas e técnicos para produzir dentro da própria ABCZ  as avaliações genéticas das raças zebuínas com aptidão de corte do PMGZ.
Realização do 1º Fórum de Seleção em Gado de Corte Fundamentada em Pistas de Julgamento.

Presidentes da ABCZ ao longo da história

Fidélis Reis – 1934/35
Silvério José Bernardes 1935/36
Augusto Borges de Araújo 1936/37
Orlando Rodrigues da Cunha 1937/39
José de Souza Prata 1939/41
Licínio Cruvinel Ratto 1941/42
João Severiano Rodrigues da Cunha 1942/48
Carlos Smith 1948/52
Adalberto Rodrigues da Cunha 1952/62
Antônio José Loureiro Borges 1962/64
Arnaldo Rosa Prata 1964/66 e 1974/78
Edilson Lamartine Mendes 1966/68
Hildo Toti 1970/71
Adherbal Castilho Coelho 1971/72
João Gilberto Rodrigues da Cunha 1972/74 e 1986/90
Manoel Carlos Barbosa 1978/82
Newton Camargo Araújo 1982/86
Heber Crema Marzola 1990/92
Rômulo Kardec de Camargos 1992/95 e 1998/2002
José Olavo Borges Mendes 1995/98, 2002/2004, 2007/2010
Orestes Prata Tibery Júnior 2004/2007
Eduardo Biagi – 2010/2013
Luiz Claudio de Souza Paranhos Ferreira – 2013/2016


Fonte: Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ)

Sarrafo - Pedro Ernesto Nassif de Oliveira - Festival do Chapadão/1966-Uberaba/MG

     Pedro Ernesto Nassif de Oliveira "Nenete"

Pedro Ernesto Nassif de Oliveira "Nenete", natural de Conceição das Alagoas-MG, foi o vencedor do 1° Festival do Chapadão de Música Popular Brasileira, com a música SARRAFO, de sua autoria, tendo a participação do grupo Canto e Cor na interpretação. O festival foi realizado em Uberaba-MG no dia 19 de outubro de 1966, no Clube Sírio Libanês.

(Dina Bessa)


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“FESTIVAL DO CHAPADÃO”, O SEU IDEALIZADOR E PRODUTOR, RECENTEMENTE FALECIDO EM UBERLÂNDIA, JORGE HENRIQUE PRATA SOARES, O PRATINHA

Levanto cedo. Seis da manhã, estou aceso.Roupa trocada.Rosto lavado e destes escovados. Saimos, Wania e eu, para a costumeira e saudável caminha matinal. Praça da Mojiana, o destino.Ha mais de 20 anos. Ainda encontro, quase todos os dias, bêbados que vararam a madrugada, moradores de rua dormindo na platibanda da estação e os costumeiros companheiros de caminhada. Sábado e domingo, não. Quase sempre vou prá roça ouvir o canto dos pássaros, o mugir do gado, o piar das siriemas , o cacarejar das galinhas e o sonoro cantar do único galo do terreiro. Aliado a tudo isso uma moda de viola da raiz, Tião Carrero e Pardinho, Chitãozinho e Xororó, Tonico e Tinoco, Rolando Boldrin, Sérgio Reis, Silveira e Barrinha, Lio e Léo e outros mais expoentes do gênero sertanejo.O tempo passa. Rapidinho…

Hoje,levantei com vontade de ouvir rádio. Liguei numa, evangélica. Outra, um barulhão “toc, toc, toc” e não entendia nada. Outra, o noticiário falava em acidente, roubo,morte, arrombamento, assassinatos e outras desgraças mais. Na outra, um noticiário local só de elogios à administração municipal e na última AM que tentei, só propaganda…Sintonizei a FM. Outro desprazer. Músicas da pior qualidade dessas “sertacamas” modernas…Mudo o dial, a oração de S.Francisco. Insisto, aí vem uma mensagem de um locutor otimista. Quase na “ponta”, uma universitária e músicas de gosto duvidoso. Desliguei o rádio. Pesaroso..

Fiquei a pensar com meus botões:”cadê a música boa?”A verdadeira música popular brasileira?Cadê as músicas com sentido e cantores de voz afinada?Será que tudo acabou?

Lembrei-me do Pratinha (Jorge Henrique Prata Soares) e o seu “Festival do Chapadão”.Festivais memoráveis, diga-se, que não se ouve e nem vê falar mais. Começou em 1968, durou 25 anos, com pequenos intervalos, mercê a burrice de alguns prefeitos que não ajudavam o sonhador (além de competente) Pratinha, na realização do festival. Ah!foram anos inesquecíveis! Ataliba Guaritá Neto, o Netinho, apresentou os três primeiros, 68,69 e 70. Depois a voz bonita, postura de grande apresentador, de Romeu Sérgio Meneghelo, médico conceituado em S.Paulo. Em seguida, a elegância de Reinaldo Rodrigues, engenheiro por esses Brasís afora… As músicas? Letras de “babar” e que marcaram época. “Sarrafo”, ganhou o Festival primeiro.Falava da morte do estudante Edson Luis, no “Calabouço”, restaurante estudantil no Rio de Janeiro. A censura “bobeou” com a letra e… pimba! Lembram-se do Pedro Ernesto, da Engenharia? Pois é, ele foi o grande vencedor.

Em anos seguintes, vieram grandes “clássicos”que só não foram tocados pelas rádios brasileiras pela incompetência, ignorância e falta de conhecimento dos discotecários e donos de emissoras… Outra notável composição vencedora: “Pirulito”, do Marival, contando e cantando a vida dos vendedores da guloseima pelas ruas da cidade… Outra, linda ! “Reencontro”, do Andrézinho Borges Novais, músico exuberante. “De Metal”, de Paulo Edson e Chico Chaves (mais de duzentas letras de músicas . gravadas pelos principais cantores brasileiros).Em 71, foi sensacional;empate de três músicas:”Mensagem”, de Miguel Carlos, “Flores”, de Elias Jabour, de Jardinópolis e “Camila”, interpretada pela Rosana Zaidan( filha do meu saudoso amigo João), de Ribeirão Preto. Até 1993, o Festival do Chapadão monopolizou as atenções do meio artístico interiorano. Infelizmente, por falta de apoio, aconteceu um enorme espaço de sua realização. Apenas mais uma vez, o Festival foi realizado,em 2006. Não mais.

O patrono, cujo nome foi dado ao troféu do vencedor, disse no primeiro ano de sua realização, ter sido a mais gostosa homenagem que poderia esperar:Joubert de Carvalho, um dos uberabenses mais ilustres que esta santa terrinha viu nascer !

Hoje, para tristeza geral, ninguém sabe ou fala o que foi, o que representou para Uberaba, o “Festival do Chapadão”, o seu idealizador e produtor, recentemente falecido em Uberlândia, Jorge Henrique Prata Soares, o Pratinha e- pasmem ! – muito menos Joubert de Carvalho…


 Luiz Gonzaga de Oliveira

CATEDRAL METROPOLITANA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS (1827)

Acervo Cúria Metropolitana

Os dicionários costumam atribuir à palavra ermida como referente a uma capela rústica construída em lugar ermo, isto é, longínquo ou de difícil acesso. A primeira capelinha construída em Uberaba sob o cuidado de Santo Antônio e São Sebastião se situava próxima ao córrego Lajeado em 1812 e ali permaneceu ate 1818 quando a população decidiu transferi-la para antiga Praça Frei Eugênio por ser mais conveniente e mais próximo do núcleo de povoação daquela região nascente ainda tão desprovida de recursos no coração sertanejo do Brasil central. Antes de prosseguirmos, penso ser conivente refletirmos sobre a escolha pelas pessoas daquela época de Santo Antônio e São Sebastião como padroeiros da primeira ermida uberabense. Longe de ser uma escolha aleatória, ela reflete o projeto  civilizacional em que marcava o  espírito daquela época. Enquanto Santo Antônio, santo português e padroeiro de Lisboa, demonstrava o forte vinculo com a metrópole num período em que o Brasil ainda era colônia portuguesa, São Sebastião, Santo Romano e padroeiro dos soldados, simbolizava a força militar com a qual seria realizada a conquista do sertão Brasileiro. O sargento-mor Antônio Eustáquio que recebeu provisões para desbravar e colonizar essa região foi agente de grande etnocídio contra as populações indígenas aqui previamente estabelecidas, sobretudo da etnia caiapó, hoje com poucos membros e bem longe do Triângulo. A escolha de Santo Antônio e São Sebastião simboliza, assim, a cruz e a espada, usava na conquista e conversão do Brasil como nação católica e portuguesa. Se hoje nossos valores nos fazem enxergar isso de forma crítica, e bem o fazemos, ao ponto do Papa João Paulo ll por diversas  ocasiões pedir perdão publicamente daquilo que ele dizia serem os pecados da Igreja  ao longo dos séculos precisamos tomar o cuidado para não sermos  anacrônicos. É cômodo julgar personagens distantes de nos por mais de séculos; difícil, todavia, é compreender que provavelmente o faziam para por ignorar as modernas teorias relativismo cultural e ecumenismo e que foram motivados por uma convicção autentica de que estavam por fundar uma terra cristã e civilizada neste agreste sertão e nos mais louváveis valores cristãos.


Foto: Antônio Carlos Prata

A matriz onde hoje se localiza nossa catedral teve o inicio de sua construção  em 1827 (o Brasil já havia se tornado independente) por intermédio de Vigário Silva mas seria apenas em 1854 que seriam realizados ali os primeiros ofícios religiosos. Esses 17 anos de construção de um templo de um templo razoável modesto mostra-nos a precariedade econômica da população local nas primeiras décadas do século XIX. Enquanto a região nordeste ainda se mantinha com a produção e exportação e açúcar, a região central de Minas havia se convertido em grande polo econômico por conta do ouro e convertido a própria cidade do Rio de Janeiro em capital pela proximidade de ambas, São Paulo havia se caracterizado pelas atividades bandeirantes e a região sul pele produção de charque, Uberaba ainda de definia uma economia em parte agrícola marcada pela produção de arroz (vide os ramos de arroz ate hoje presentes em nosso brasão municipal) e em parte comercial por conta do pronto estratégico que nos situamos no Brasil Central, entre três importantes regiões: Minas, São Paulo, Goiás. Destaco também a participação do escravo afro-brasileiro Manoel Ferreira oferecido pelo sargento-mor Eustáquio para contribuir na construção da nova matriz. Não nos esqueçamos de que este país foi literalmente edificado por braços negros, aos quais somos tão devedores, e que nossa igreja matriz não foi diferente. Em 1857 graças a Frei Eugênio a igreja foi dotada de uma grande sacristia, um adro e recebeu paramentos e alfaias. Em 1868 cada uma das duas torres recebeu um sino de cerca de trinta e cinco arrobas cada que permanecem na catedral até hoje. Interessante notar que com o avançar do século e o consequente enriquecimento material da população uberabense, própria igreja se torna espelho dessa prosperidade por esta sempre em estado de reforma e sempre recebendo melhoramentos.
Foto: Antônio Carlos Prata
     No final do século XIX teremos o início de um período de grande prosperidade para as elites uberabenses com advento da criação do gado de raça zebuína buscado na Índia. No começo do século XX, já sobe o regime republicano, e inspirado pelas reformas modernizantes e arquitetônicas baseadas na Europa (o Rio de Janeiro abriu suas primeiras grande avenidas e Manaus construiu se Teatro Municipal)os uberabenses receberam sua energia elétrica em 1904 e varias reformas urbanas, como na praça Rui Barbosa. Esse rápido avanço conquistado com os capitais excedentes da pecuária zebuína e com a vinda da Companhia Ferroviária Mojiana atraiu para a cidade o bispo de Goiás, D.Eduardo Duarte Silva que acabou por se tornar o primeiro bispo da Diocese de Uberaba, criada em 1907 pela bula Goyaz Adamantina Brasiliana República pelo Papa PioX .

Por determinação desta bula o padroeiro da diocese seria o Sagrado Coração  de Jesus e  D.Eduardo inaugurou deste modo a igreja do  Sagrado Coração – atual igreja da Adoração Perpétua ao lado do Palácio Episcopal (Cúria Metropolitana ) – com a prerrogativa de catedral permanecendo a igreja da praça Rui Barbosa como matriz de Santo Antônio  e São Sebastião.

       Em 1910 a matriz passou por grande reforma em que se definiu o estilo arquitetônico  gótico manuelino  e que seria dotada de apenas uma grande torre como até hoje se encontra desde esta data.Finalmente,em1926 por determinação do bispo Luís Maria de Sant’Ana decreto da Sagrada Congregação  Consistorial a catedral   seria transladada para a matriz de Santo Antônio e São Sebastião a à Praça Rui Barbosa e os padroeiros  seriam invertidos, permanecendo assim, em definitivo, como  Catedral Metropolitana do Sagrada Coração de Jesus a partir de 20 de maio de 1926.Ainda assim, de modo a manter viva a memória de mais de cem  anos que Uberaba permaneceu sob a proteção  de Santo  Antônio e São Sebastião, decidiu-se que uma estátua de cada santo ladearia a catedral metropolitana, imagens que permanecem até hoje em local de visibilidade e veneração.

Vitor Lacerda

MUSEU DE ARTE SACRA

Igreja de Santa Rita - Foto: Antônio Carlos Prata
MUSEU DE ARTE SACRA

Inaugurado em 13 de maio de 1987, o Museu de Arte Sacra foi estabelecido mediante convênio entre a Prefeitura de Uberaba, por intermédio da Fundação Cultural de Uberaba, e a Cúria Metropolitana para ocupar a igreja de Santa Rita.

Formado por doações e por aquisições, entre aquelas salientam-se as feitas pela Arquidiocese, o acervo do museu compõe-se de diversas peças, entre elas as imagens: de São Sebastião (de 145 x 45 cm., ex-voto consistente em pintura anônima, óleo sobre tela, do século XIX); de Nosso Senhor dos Passos (176 cm. de altura, de madeira entalhada e policromada do século XIX); de São Tarcísio (67 x 42 cm., de terracota, confeccionada em madeira do século XIX); de São Joaquim (do século XVIII ou XIX, de 143 cm.); e brasão de d. Eduardo, primeiro bispo de Uberaba, em ferro fundido; além de sala de indumentária com paramentos específicos de diversas celebrações religiosas.
O espaço do Museu é também utilizado para celebrações do culto, como missas, novenas, procissões e apresentações musicais e teatrais.

(do livro Informação Sobre Uberaba, Fundo
Municipal de Cultura, recém lançado)
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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura (poesia, ficção e crítica literária), cinema (história e crítica), história do Brasil e regional.

Brasão Municipal de Uberaba

Brasão Municipal

Escudo Redondo Português, encimado pela coroa mural, distintivo das cidades. Em capo vermelho (de goles), uma faixa prata ao início do escudo, simboliza o rio de água brilhante, o Y-berab, de onde procede o nome de Uberaba. Uma asna, também de prata, conjugada à faixa, deixa no campo do escudo uma área irregularmente triangular que simboliza o Triângulo Mineiro e onde estampam cinco estrelas de prata, postas em aspa, das quais a do centro, é a maior e uma coroa de príncipe alto próxima ao vértice da asna. – Simbolizam as cinco estrelas as principais cidades da região do Triângulo Mineiro, e a maior recorda a primeira de Uberaba. – Quanto à coroa de príncipe, rememora ela a antonomásia já antiga hoje secular, atribuída a Uberaba: “princesa do sertão”.

Na parte inferior do escudo um touro zebu de ouro, com patas dianteiras erguidas “possante” ou “furioso”, como se diz em tecnologia heráldica – Recorda – papel notável e a riqueza criada pela importação do gado indiano no centro principal de Uberaba, por iniciativa uberabense.

No listal, em letras de vermelho (de goles), sob fundo de prata, se inscreve a divisa escolhida para a cidade: – “indefesse pro brasilia”. – Ao listal enramam hastes de cana de arroz, ao natural, recordando as principais culturas do município.

Como “tenente” do escudo figuram, à “destra”, um oficial de milícia mineira, em princípios do século XIX, e um soldado com o uniforme dos Voluntários da Pátria, na campanha do Paraguai, equipado em ordem de marcha. – O oficial de milícias, envergando o seu uniforme característico, recorda os fundadores do “Sertão da Farinha Podre” e especialmente o sargento-mor Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, o principal fundador de Uberaba.

O soldado do “17 de Voluntários Mineiros” relembra que Uberaba foi o campo de guarnição das forças que fizeram a campanha de Mato Grosso e a Retirada da Laguna, operação de guerra de que comparticipariam muitos de seus filhos e do Triângulo Mineiro com real patriotismo, nas fileiras de “17 de Voluntários” e outros corpos.

Sobre a parte central da coroa mural vê-se um escudete com as pechas simbólicas de São Sebastião e as chagas de Cristo da ordem de São Francisco a que pertenceu Santo Antônio. Relembram estes atributos os oragos da cidade e do município.

PONTES, Hildebrando. História de Uberaba e a Civilização no Brasil Central. Uberaba, Academia de Letras do Triângulo Mineiro, 1970. p. 1.

Lei n. 582 de 11 de maio de 1928                                                             

“ETA FUMINHO BOM”

Mário Palmério
Hugo Prata

Mário Palmério, aos 18 anos, era um latagão meio desajeitado, muito branco, sabido, de pés e mãos enormes, com um bigodinho ralo e uma aparência de cantor de tangos. Caiu nas graças do Cel. João Prata, que sempre o levava consigo quando ia para sua fazenda. Era saber que o varapau estava disponível e lá vinha o convite: “Tranca, vamos passa uns dias na chácara”. Mário apreciava o velho e aceitava o convite. Iam num Fordinho 29. Na frente, Mário guiando, e, ao lado, o coronel que descalçava a botina e ia coçando os dedos. No banco de trás, bem espremido, ia o restante da família, Tuta, Teté e Lolô, esposa, cunhada e filho.

João Prata gostava de um bom cigarrinho de palha e dedicava bom tempo fazendo um. Aliás, o fazer um cigarro já faz parte do prazer. É como um pescador preparando sua tralha, ou uma mocinha se arrumando para o baile. O coronel picava cuidadosamente o fumo e o desfiava com volúpia, antegozando o prazer da fumacinha de daqui a pouco. A palha era alisada, bolinada com o canivete Rogers, e recebia o fumo, espalhado uniformemente com o indicador. Com ajuda dos polegares, o enrolava em um cilindro perfeito. Uma lambida na beirada, para colá-lo, e pronto. Era só acender e sorver a fumacinha cheirosa. Mas isto nem sempre tinha um bom final. Era terminar de enrolar e o Mário, que ao lado a tudo assistia, se babando em elogios, vinha com costumeira lenga-lenga. “Seu João, que coisa impressionante, é o cigarro mais bem feito que já ví. O Senhor é um artista. Dá prá mim esta obra-prima. Quero ter o prazer de fumá-la.” O velho negaceava, mas sempre cedia.

Aquilo foi cansando o coronel, que se esmerava no capricho, mas quem usufria do êxtase era o Mário. Ruminava uma vingança.

Uma tarde, quando Mário voltava de um passeio a cavalo, o veterano coronel começou a lenta operação de fazer um cigarrinho. Só que substituiu o bom fumo goiano por autêntica bosta seca de vaca. Mário chegou no justo momento do arremate e começou a ladainha: “Seu João, o rei do cigarrinho de palha, não vou permitir que fume esta jóia. Ela foi feita para seu amigo aqui que não tem sua maestria, mas tem um paladar apurado. Eu mereço”. O velho matreiro, cheio de baldas, refugou, negaceou, negou estribo, lamuriou e, protestando, cedeu a tão falada obra-prima. O latagão acendeu o cigarro, tragou lentamente, expeliu a fumaça e veio com a lenga-lenga de sempre: “Divino. Manjar dos deuses. Seu João o artista do tabaco. Eta fuminho bom.”

O coronel gozava interiormente a vingança planejada e foi com sorriso cruel que deu sua ferroada mortal: “Mário, seu tranca, você não entende de coisa nenhuma. Nem de bosta de vaca.”
Retirado do livro Causos: “a senhora dona galinha e seus amores”, de Hugo Prata.
Referência bibliográfica

PRATA, Hugo. Causos: “a senhora dona galinha e seus amores”. Uberaba: Martins, 199?. p. 19-20.

Antuza Ferreira Martins

      Antuza Ferreira Martins

Uma das páginas mais luminescentes da Doutrina Espírita em Uberaba e também em toda a vasta região do Triângulo Mineiro, chamava-se Antuza Ferreira Martins.

Filha de Manoel Ferreira Martins e D. Júlia Maria do Espírito Santo, nasceu em uma fazenda nos arredores de Uberaba, no dia 09 de setembro de 1902.

Aos 4 anos, acometida de meningite, foi desenganada por muitos médicos, tendo, em conseqüência, ficado surda e perdido o sentido da fala. Posteriormente, mudou-se com a família para Uberaba.

Antuza, segundo Erenice sua irmã a quem carinhosamente chamávamos de Nice, desde pequena via os espíritos. Cresceu dentro de um clima psíquico que não compreendia, nem mesmo os familiares, posto que ninguém na família era espírita.

Quando completou 15 anos, em 1917, a família transferiu-se para Sacramento, cidade que, desde 1904, se transformara em ponto central do Espiritismo em todo o Brasil, pelo trabalho que vinha desempenhando o inesquecível Eurípedes Barsanulfo.

Em lá chegando Antuza foi levada pela mãe à presença de Eurípedes, o qual, ao vê-la, foi logo dízendo da tarefa que deveria desempenhar no campo da mediunidade.

Tornaram-se, a partir daí, espíritas.

Durante alguns meses, quase dois anos, Antuza trabalhou lado a lado com Eurípedes Barsanulfo, ora ajudando na limpeza da farmácia, ora auxiliando na manipulação dos medicamentos homeopáticos. Com esse “estágio espiritual” junto ao grande Missionário da Caridade, Antuza equilibrou-se, aprendeu a viver dentro de suas limitações,a comunicar-se por meio de sinais e as suas faculdades psíquicas ampliaram-se dando-lhe extraordinária lucidez.

Quando Eurípedes desencarnou, em 1918, ela e a família mudaram-se definitivamente para Uberaba. Mas, antes disso, ainda em Sacramento, Antuza encontrava-se desconsolada com a partida do Benfeitor para o Plano Espiritual e chorava muito. Através da mímica e de algumas poucas palavras que com o tempo aprendeu a articular, conta-nos ela que, certo dia, quando, em prantos, ouviu uma voz a chamar-lhe: – “Antuza, Antuza!..” Ela, assustada, ao voltar-se, percebeu Eurípedes pairando no ar a dizer-lhe ainda: – “Não chore. Você precisa trabalhar muito! . . .”

Quando ainda morava em fazenda, uma criança foi levada pela mãe até Antuza para ser “benzida”. A criança estava muito mal, com o abdome muito dilatado. Antuza conversou com os espíritos (via-se que ela estava ouvindo e respondia, com gestos e com balbucios a alguém invisível), estendeu as mãos com as palmas para cima e da espiritualidade desceu uma quantidade grande de fluido esverdeado e luminoso (a irmã mais velha de Antuza era médium e viu essa massa fluídica). Antuza modelou essa massa com as mãos e colocou sobre o abdome da criança, massageando de leve. O abdome da criança foi diminuindo e em poucos dias ela estava saudável.

Quando a família se instalou em Uberaba, contava ela 17 anos e começou a freqüentar o tradicional Ponto “Bezerra de Menezes”, em casa de Da Maria Modesto Cravo. Numa das reuniões do Ponto Antuza recebeu instruções sobre a sua missão do espírito de Santo Agostinho que seria, durante toda a sua vida, seu protetor. Note-se que através da psicofonia de Da Maria Modesto todos os presentes ouviram a comunicação, inclusive Antuza que, apesar de surda, ouvia os espíritos.

Por essa época, Antuza começou a transmitir passes, cuja mediunidade curadora, coadjuvada pela vidência, audição, desdobramento e efeitos físicos, foi empregada para ajuda aos necessitados com raro discernimento evangélico.

Antes de passar a atender em sua própria casa, num galpão construído nos fundos, trabalhou como médium no C. E. Uberabense, Sanatório Espírita e na Comunhão Espírita Cristã, logo que Chico Xavier se transferiu para Uberaba.

A seu respeito, o nosso estimado Chico já se pronunciou em diversas ocasiões, tendo, inclusive, afirmado trazer Antuza “o remédio nas mãos”. Quando homenageado na Capital do Estado, Chico disse que existia em Uberaba uma senhora que, no anonimato de seu trabalho em favor dos que sofrem, deveria ali estar sendo alvo das homenagens prestadas a ele, que reconhecia não as merecer, de forma alguma, e citou o nome de Antuza Ferreira Martins!

Em sua própria casa e depois no “Barracão”, recebia extensa fila de pessoas, entre crianças e adultos. Quantas vezes, após exaustiva concentração, Antuza nos descrevia o problema orgânico, ou espiritual, de quem lhe buscava o concurso carinhoso e abnegado!

Uma senhor obsedada foi trazida amarrada para a casa onde morava Antuza. Era necessário, mesmo assim que várias pessoas a segurassem, ela se debatia e retorcia constantemente. Antuza entrou em prece e daí a pouco uma médium vidente presente viu uma luz vinda de muito alto descer e tomar a forma de Eurípedes Barsanulfo. Este incorporado na médium disse “boa noite, irmãos” e os espíritos que subjugavam aquela senhora afastaram-se imediatamente. Aí Eurípedes pediu que desamarrassem e soltassem a mulher. Ela se tornou imediatamente lúcida e curada daquela obsessão.

Um moça vinda do estado de Mato Grosso chegou até a casa da Antuza andando de “quatro”, isto é como um quadrúpede, sem falar e sem consciência de si mesmo. A família já havia procurado inúmeros médicos sem resultados. Antuza “conversou” com o espírito que a obsedava, fez gestos indicando a ele que se retirasse, fosse embora e em alguns minutos a moça se levantou e perguntou ao pai que a acompanhava: onde estamos? O que estamos fazendo aqui? Na sessão de desobsessão que ocorria à noite no Barracão, dois espíritos vingadores da moça foram doutrinados: haviam sido torturados e mortos por ordem dela quando eram seus escravos e a perseguiam desde então. Faziam-na ficar como um animal e montavam sobre ela, fazendo-a conduzi-los no “lombo”, entre outras coisas.

Além das atividades mediúnicas Antuza ajudava nas tarefas da casa, ao lado de sua irmã Erenice, irmãos e de seus sobrinhos que vieram morar com eles. Fazia tapete de crochê usando cordões cortados de malhas; esses tapetes eram vendidos e o dinheiro era usado para comprar algumas coisas para seu uso pessoal, presentes, brinquedos e outras necessidades.

Conta-nos Nice (intérprete de Antuza para os que não se familiarizam com a sua maneira de “falar” com as pessoas) que, certa vez. uma mulher, chorando muito e extremamente desesperada, ao receber o passe, é indagada pela médium se tinha bebido alguma coisa corrosiva, pois o interior dela estava parecendo “velho”. Ainda em lágrimas, a infeliz irmã lhe diz que, tempos atrás, havia ingerido soda cáustica (!) e ainda sentia fortes dores, encontrando dificuldade de alimentar-se normalmente.

Para que tenhamos uma idéia da presença dos espíritos na vida de Antuza, vejamos o que ocorreu quando ainda era criança. Ela e a mãe, morando na fazenda foram até a horta colher legumes e sua mãe deixou-a; um pouco para trás; nisto, surge uma cobra prestes a picar a menina. Ela ficou como que hipnotizada e, como não falava, não tinha como gritar por socorro. Eis quando, ao seu lado, um espírito, com aspecto de padre, a pega pelos braços e lhe dá um violento impulso, distanciando-a, assim, do peçonhento réptil. Antuza começa a chorar e sua mãe, correndo, chama alguns lavradores, os quais dão cabo da enorme serpente.

Dr. Henrique Krüger, médico uberabense, Agostinho, Eurípedes Barsanulfo e muitos outros a quem não conhece pelo nome, são os espíritos que lhe assistem o trabalho cristão ao qual devotou a própria vida.

Por volta de 1979, Antuza que ainda enxergava, porém surda e muda, vivia em Uberaba na companhia dos irmãos Euphranor e Erenice; e, aos domingos, como de costume, almoçava na casa do sobrinho Antônio Carlos, o qual possuía um piano francês.

Antuza era capaz de ver dentro do corpo das pessoas, a doença que tinha ou não tinha; fazia curas à distância, especialmente à noite.

Após a refeição, Antuza se dirigia para a sala onde se encontrava o piano, e acomodando-se em uma poltrona, permanecia imóvel por mais de uma hora. Depois, levantando-se, vinha dizer em seu modo característico (gestos e fala precária) que Frederico, um rapaz muito bonito, estava tocando piano para ela; e que sua música era maravilhosa. Tai fato se repetiu por anos, e era de conhecimento de toda a família. Certa vez, em visita a outro sobrinho: Euphranor Jr., que era professor de História e possui uma bela biblioteca em sua casa; este entregou à Antuza um belo exemplar de um livro sobre os maiores compositores da musica clássica (nota-se que tal livro continha fotografias de todos compositores, os quais, já haviam desencarnado). Enquanto Antuza folheava o livro, Euphranor Jr. ia lhe perguntando se ela conhecia as pessoas das fotos, o que lhe era negado: “Não…,não…, não!” Em dado momento, diante da foto do grande músico Frederico Chopin ela se manifestou por gestos: “- É ele! Frederico, o moço que toca piano para mim”.

Como Eurípedes, Antuza igualmente “casou-se com os mais pobres”, doando-se inteiramente ao serviço cristão, na edificação do Reino de Deus no coração das criaturas.

Em seus lábios, a palavra “trabalhar” (uma das poucas que conseguia articular com certa nitidez) soava de maneira diferente: é imperiosa e definitiva!

Por mais de 70 anos ela exerceu seu legítimo “mandato mediúnico”. E não são poucos os que, através de suas abençoadas mãos, receberam o amparo do Mais Alto.

Em seu humilde recanto de trabalho, sobre tosca mesa de madeira, cujos pés estão fincados no piso, um único livro: “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, o qual, de quando em quando, solicitava a um dos colaboradores ler uma página.

Nos últimos seis anos de existência física, Antuza ficou cega, agravando as suas limitações físicas e no dia 30 de julho de 1996, aos 94 anos incompletos, desencarnou em Uberaba, em decorrência de complicações naturais da idade avançada.

Antuza, uma “baixinha” de um metro e alguns quebrados de altura, mas um espírito gigante na seara evangélica foi, sem dúvida alguma, uma das mais legítimas representantes da mediunidade com Jesus!

Um exemplo a ser seguido pelos espíritas de hoje e de amanhã!…

(texto baseado no livro “O Espiritismo em Uberaba”, no “Anuário Espírita” de 1997, em um “Boletim Informativo” da AME Uberaba e em informações pessoais de parentes)

Elizabeth Martins



Cidade de Uberaba

EXPOSIÇÃO AGROPECUÁRIA DE 1934 DE FRENTE A SANTA CASA DA MISERICÓRDIA – HOJE PROPRIEDADE DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFTM

Exposição Agropecuária de frente a Santa Casa da Misericórdia
Exposição Agropecuária de 1934 de frente a Santa Casa da Misericórdia – hoje propriedade do Hospital das Clínicas da UFTM. Neste ano foi inaugurada a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro – atual ABCZ – Associação Brasileira dos criadores de Zebu.
Acervo: Arquivo Público de Uberaba – hoje propriedade do Hospital das Clínicas da UFTM. Neste ano foi inaugurada a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro – atual ABCZ – Associação Brasileira dos criadores de Zebu.

Foto: Autoria desconhecida

Acervo: Arquivo Público de Uberaba

Exposição Agropecuária de 1934 de frente a Santa Casa da Misericórdia,

Exposição Agropecuária - Atual - Santa Casa

Exposição Agropecuária de 1934 de frente a Santa Casa da Misericórdia - hoje propriedade do Hospital das Clínicas da UFTM. Neste ano foi inaugurada a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro - atual ABCZ - Associação Brasileira dos criadores de Zebu

Foto: Autoria desconhecida


Acervo: Arquivo Público de Uberaba

Ex-vereador João Antônio Speridião

Ex-vereador João Antônio Speridião , Presidente  da Fifa João Havelange e prefeito Arnaldo Rosa Prata.

Ex-vereador João Antônio Speridião, 94 anos. Por conta de sua popularidade e participação no sindicato dos barbeiros, foi eleito vereador de 1971 a 1973, em época em que não se recebia salário. Atuou ainda como servidor da Câmara Municipal de Uberaba de 1976 a 2009, época em que conviveu com pessoas de renome nacional.


Jornalista Alexandre Pereira

Aparecida da Conceição Ferreira (Dona Aparecida)

Aparecida da Conceição Ferreira (Dona Aparecida)

Nasceu em Igarapava, no dia 19 de maio, provavelmente no ano de 1914. Casou-se, em 1934, com Clarimundo Emídio Martins e teve oito filhos: Ivone Martins Evangelista, Ivanda Martins Vieira, Evani Martins Evangelista, Boanésio Aparecido Martins, Cosme Dasmião Martins, Antônio Brás Martins, Rita Aparecida Martins e Maria José Ferreira.

Após o casamento, morando na Fazenda Santa Maria, aplicava injeção, fazia partos e mantinha uma escolinha, onde dava aula para os peões e os filhos. Posteriormente, na fazenda Nova Ponte, foi professora do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL).

Em 1956, já em Uberaba, foi convidada a trabalhar na área de isolamento do Hospital das Clínicas, cuidando de pacientes, vítimas da febre amarela. Um ano depois, o hospital começou a receber os penfigosos¹, que ficavam sob seus cuidados. Em 1958, a situação se complicou e as circunstâncias levaram Dona Aparecida a sair do hospital com 12 doentes e instalá-los em sua própria casa. Mais tarde, o diretor da Escola de Medicina e o Diretor da Saúde Pública ofereceram, por um breve período, o necrotério do Asilo São Vicente. Aos poucos, a situação foi melhorando e os doentes em condição de trabalho contribuíam com sua ajuda.

O jornalista Saulo Gomes, após conhecer Dona Aparecida, em São Paulo, veio a Uberaba, registrou e divulgou todo o trabalho desenvolvido por ela. Muitas foram as contribuições e, em 17 de fevereiro de 1962, a pedra fundamental para construção do hospital foi lançada. Sete anos depois, ele foi inaugurado.

A estrutura criada por Dona Aparecida cresceu, chegando a abrigar sapataria, padaria, confecção, marcenaria, fazenda, granja, farmácia, reciclagem de plástico, consultório dentário, espaço para atividades infantis com monitoramente pedagógico e assistência psicológica e ambulatório para atender pacientes com outras doenças de pele.

Nas palavras de Maria Leocádia de S. Silva (Revista do APU – série Memória Viva – agosto de 2004 – nº 3): …Aparecida não conseguiu viver “só” para os doentes, ela começou a recolher os necessitados de comida, os necessitados de afeto. Seu olhar enxerga mais longe, e ela vê os que precisam e do que precisam. Este é o seu diferencial, cuidar das pessoas por inteiro: saúde, educação, profissionalização, família…

Homenagens recebidas por Dona Aparecida:

Nasceu em Igarapava, no dia 19 de maio, provavelmente no ano de 1914. Casou-se, em 1934, com Clarimundo Emídio Martins e teve oito filhos: Ivone Martins Evangelista, Ivanda Martins Vieira, Evani Martins Evangelista, Boanésio Aparecido Martins, Cosme Dasmião Martins, Antônio Brás Martins, Rita Aparecida Martins e Maria José Ferreira. Após o casamento, morando na Fazenda Santa Maria, aplicava injeção, fazia partos e mantinha uma escolinha, onde dava aula para os peões e os filhos. Posteriormente, na fazenda Nova Ponte, foi professora do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL).

Em 1956, já em Uberaba, foi convidada a trabalhar na área de isolamento do Hospital das Clínicas, cuidando de pacientes, vítimas da febre amarela. Um ano depois, o hospital começou a receber os penfigosos¹, que ficavam sob seus cuidados. Em 1958, a situação se complicou e as circunstâncias levaram Dona Aparecida a sair do hospital com 12 doentes e instalá-los em sua própria casa. Mais tarde, o diretor da Escola de Medicina e o Diretor da Saúde Pública ofereceram, por um breve período, o necrotério do Asilo São Vicente. Aos poucos, a situação foi melhorando e os doentes em condição de trabalho contribuíam com sua ajuda.

O jornalista Saulo Gomes, após conhecer Dona Aparecida, em São Paulo, veio a Uberaba, registrou e divulgou todo o trabalho desenvolvido por ela. Muitas foram as contribuições e, em 17 de fevereiro de 1962, a pedra fundamental para construção do hospital foi lançada. Sete anos depois, ele foi inaugurado. A estrutura criada por Dona Aparecida cresceu, chegando a abrigar sapataria, padaria, confecção, marcenaria, fazenda, granja, farmácia, reciclagem de plástico, consultório dentário, espaço para atividades infantis com monitoramento pedagógico e assistência psicológica e ambulatório para atender pacientes com outras doenças de pele. Nas palavras de Maria Leocádia de S. Silva (Revista do APU – série Memória Viva – agosto de 2004 – nº 3): …Aparecida não conseguiu viver “só” para os doentes, ela começou a recolher os necessitados de comida, os necessitados de afeto. Seu olhar enxerga mais longe, e ela vê os que precisam e do que precisam. Este é o seu diferencial, cuidar das pessoas por inteiro: saúde, educação, profissionalização, família…

Homenagens recebidas por Dona Aparecida:

Cidadã Uberabense – CMU (1968), Destaque 1997 – PMU (1997), Cidadã Osasquense – CMO (1999), Homenagem especial – Dia da Consciência Negra – PMU (1999), Troféu Chico Xavier – PMU (2001), Comenda da Paz Chico Xavier – Governo do Estado de Minas Gerais (2001), Ordem do Mérito da Saúde no Grau “Grande Medalha do Mérito da Saúde” – Governo do Estado de Minas Gerais (2004)


Fonte- Acervo Público de Uberaba

ANTUZA FERREIRA MARTINS E DR. JARBAS VARANDA - UBERABA

Antusa e Dr. Jarbas Varanda

Nossos queridos: Antuza e Dr. Jarbas! Saudade e gratidão
Antusa, uma linda página no exercício da mediunidade, a iluminar os nossos espíritos e nos projetar ao tempo das práticas simples do cristianismo primitivo. Vídeo narrado pelo Dr. Jarbas Varanda.

(Vídeo: Jarbas Varanda de seu arquivo pessoal)              

Ponte que divide os estados de Minas Gerais e São Paulo

      Ponte que divide os estados de Minas Gerais e São Paulo

A ponte que divide os estados de Minas Gerais e São Paulo, em Delta, no Triângulo Mineiro.
Quando o primeiro tronco caiu sobre um pequeno riacho e suas extremidades ocuparam as margens opostas, estava inaugurada uma nova maneira de se ultrapassar obstáculos em busca de alimento e de abrigo. Esse jeito natural de interligar, no mesmo nível, pontos separados por rios, vales ou outros impedimentos foi prontamente imitado pelo homem e, na época dos etruscos, recebeu o nome de “pont” (estrada). Desde as primeiras, de troncos de árvores ou pranchas de pedra, a evolução de suas construções levou a humanidade a conceber estruturas duradouras diversificadas: em arcos, em ferro fundido, com treliças ou cabos, em aço ou suspensas em extensos vãos (sob água ou meio seco) e à criação, na França, da primeira escola superior de engenharia civil, a École de Ponts et Chaussées, do século XVII.

Existem as mais famosas (Ponte 25 de abril, suspensa, liga Lisboa à margem sul do rio Tejo; Ironbridge, primeira ponte inglesa de ferro fundido; Ponte de Londres, sobre o rio Tâmisa; Golden Gate Bridge, americana, sobre a Baía de São Francisco; Ponte do Brooklyn, sobre o rio Hudson; Ponte Hercílio Luz, em Santa Catarina, a maior ponte pênsil do Brasil; Ponte Rio-Niterói, com 13,9 km de extensão, e a ponte JK, cartão postal do principal centro político-administrativo do país) e as nem tão famosas, mas brilhantes em sua tarefa de conectar lugares e pessoas, como a nossa Ponte de Delta.

Paradoxalmente, essa ponte que desde 1915 une paulistas e mineiros foi campo de batalha para separá-los, na época da chamada Revolução de 1930. O movimento armado liderado por Minas, Paraíba e Rio Grande do Sul, culminou no golpe de estado que depôs o presidente da república Washington Luís, impediu a posse do eleito, Júlio Prestes, e pôs fim à Republica Velha. Há muitos relatos históricos sobre a árdua batalha, principalmente por conta da estrada de ferro, e quem pôde, como eu, conviver com um avô morador do outro lado da ponte, na época, ouviu casos e histórias de corpos de combatentes descendo o rio.

A estrutura de ferro foi construída para atender à malha ferroviária da Cia. Mogiana que – nascida em berço paulista – cresceu cortando o Triângulo Mineiro e aportou em Uberaba, por volta de 1889. Alguns dizem que as peças vieram da Inglaterra, outros afirma que a ponte tem nacionalidade alemã. O certo é que a partir da década de 1910, a travessia do rio deixou de ser feita com barco ou canoas, para as gentes do lado mineiro (Delta, Sacramento e Conquista, pacatas cidadezinhas que vão devagar, como diria Durmmond), da banda paulista (Aramina, Igarapava) e outras, vindas de estados mais distantes. Quando inaugurada, as pessoas chegavam de todas as localidades para contemplar a beleza. Hoje, o que resta de uma das principais rotas de ligação entre São Paulo e Minas é um conjunto de sustentações, de 324 metros de ferro importado, que guarda marcas históricas importantes, mas que se encontra desgastado, sucateado, cheio de rachaduras, com grades de proteção distorcidas, sinais de infiltração e desprovido de possibilidades de investimentos em sua restauração.
Lenine canta: “A ponte é até onde vai o meu pensamento\ A ponte não é para ir nem pra voltar\ A ponte é somente pra atravessar\ Caminhar sobre as águas desse momento…” e penso que as águas do momento de alguns, quando muito turvas ou turbulentas não oferecem outros caminhos senão os da entrega dolorida. Se muitos se atiraram, e ainda o fazem, da famosa, Golden Gate, ou de outra, sob um céu azul de nuvens fiapentas, não há relato de que isso tenha ocorrido na de Delta, encoberta pelo mesmo céu azul, mas foi sob ela que muitos mergulharam, na profundeza das águas, um futuro inteiro, ao se transformarem – pela bala do inimigo – em corpos correnteza abaixo.

O que, provavelmente, não se passa por nossas cabeças, na vã correria diária, é pensar em como pontes foram e são construídas, em quantos morreram e morrem, durante o processo, deixando nas armações e concretagens, sonhos de um dia atravessá-las e contar que ali tinha seu braço, e no quanto, por mais modernos que estejam as práticas de engenharia e os equipamentos de proteção, haverá sempre momentos de suspensão e, sob os pés, só a forte correnteza da monumental e gorda serpente líquida que, na pressa, de atingir o mar, engole vigas, cabos, roldanas e almas.

Texto: Iara Fernandes   

DESFILE DE 7 DE SETEMBRO 1960 – ALUNOS DO COLÉGIO. GINÁSIO N. SRA DAS GRAÇAS.

Alunos do colégio Nossa Senhora das Graças
Desfile de 7 de setembro 1960 – alunos do colégio Nossa Senhora das Graças

(Foto do acervo pessoal de Maria Luisa Jô Andrade)