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Juca
Pato, ídolo do Uberaba Sport. |
Uma sepultura simples, na longínqua quadra ”R” do Cemitério
São João Batista, em Uberaba, é residência eterna de um dos maiores e mais
polêmicos jogadores do Uberaba Sport em todos os tempos: o “negrinho” Juca
Pato. O túmulo simples é ornamentado por uma bola de futebol esculpida em
granito e uma singela plaqueta, onde se lê: “Jucapato, ídolo de sempre”.
José Antônio da Silva nasceu em 02/11/1910. Habilidoso, de
refinada técnica, chamava a atenção pela visão de jogo, a facilidade em dar
passes, a boa condução de bola e o preparo físico invejável. Foi figura
onipresente no ataque alvirubro nas décadas de 30 e 40. Sua fama ultrapassava
as fronteiras do Brasil Central e o levou a jogar no Corinthians no final da
década de 30. Em São Paulo, tomado pela saudade da sua Uberaba, ficou por pouco
tempo, alegando que “o frio por lá estava de matar”.
Após mais de 60 anos, sua passagem pelo Colorado continua
sendo lembrada, tanto pelas apresentações notáveis quanto pelas enormes
confusões que criava. Mesmo jogando ao lado de atletas como Ayala, Gabardo e
Gabardinho, era apontado pelos torcedores como um dos maiores destaques do
time. Mas o ponta-direita, esperto, driblador e artilheiro notabilizou-se mesmo
pela fama de encrenqueiro, provocando várias brigas em sua carreira.
Ajudou a equipe alvirubra a brilhar em vários momentos,
inclusive na primeira participação do clube em campeonatos mineiros, no
longínquo ano de 1945, quando já era um veterano. Nesse campeonato, fraturou o
tornozelo em um jogo contra o Atlético Mineiro, numa disputa de bola com
Cafunga.
Em 1946, recuperado mas receoso, retornou aos campos na
equipe de aspirantes do Uberaba, mas não jogou mais pela equipe principal e
acabou por transferir-se para o Atlético da Abadia, disputando o campeonato
amador de Uberaba.
A última contusão, mal curada por uma medicina ortopédica
ainda rudimentar, fez com que Juca mancasse para sempre. Encerrou sua carreira
no final da década de 40. Por muitos anos trabalhou no Uberabão, como auxiliar
de serviços gerais, onde servia o famoso “cafezinho da imprensa” nas cabines de
rádio, jornal e TV. Completava a renda fazendo bicos como pedreiro e pintor.
Saindo de cena
E foi trabalhando na reforma de um telhado que Jucapato
encontrou a morte. Por descuido, enquanto trabalhava, deixou escapar uma telha,
que espatifou-se em um berço, no cômodo abaixo. O incidente não passou de um
susto, mas a briga que se sucedeu, entre Juca e seu contratante, causou intensa
emoção e desgosto no velho jogador. À noite, no mesmo dia, caiu vitimado por um
infarto fulminante. Morreu brigando, como brigando viveu toda uma vida de
limitações e dificuldades.
Faleceu em 06/02/1981, deixando viúva a Sra. Zulmira Teodoro
de Sousa e quatro filhos. Seu velório ocorreu no Estádio Boulanger Pucci, com
todas as honras para um dos maiores ídolos do clube em todos os tempos. Hoje é
nome de uma rua no Conjunto Beija Flor II, bairro popular de Uberaba.
Abaixo a transcrição da marcha Juca Pato, composta por
Lourival Balduíno do Carmo, o Barão, co-autor do hino do Uberaba Sport,
publicada no jornal “O Triângulo Esportivo” em 1938. Mais uma evidência de sua
condição de ídolo da torcida.
Juca Pato (Marcha)
Música: Benedicto Nascimento
Letra: Lourival Balduíno do Carmo (Barão)
Bola ao ar, bola no chão
Juca Pato é campeão
Se a bola centra,
O negro entra!
Elle é pão duro!
Que não dá furo
É uberabense
Que chuta e vence
É o intemerato
Az Juca Pato!
Bola ao ar, bola no chão
Juca Pato é campeão
Torcida alerta!
É gol na certa
No pé do pato
Não há desacato
É bravo e audaz!
Heroe primeiro
Grande Ponteiro!
Bola ao ar, bola no chão
Juca Pato é campeão.
Demais fontes:
– Jornal O Triângulo Esportivo, de Uberaba-MG, edição de
22/02/1938.
– Jornal Lavoura e Comércio, de Uberaba-MG, diversas edições
de 1946.
– Jornal da Manhã, de Uberaba – MG, edição de 07/02/1981.