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Joubert Carvalho |
Um dos treze filhos do
fazendeiro Tobias de Carvalho e de Dona Francisca Gontijo de Carvalho, Joubert
de Carvalho nasceu em Uberaba, Minas Gerais, no dia 06 de março de 1900.
Tinha nove anos quando o
pai comprou um piano, onde Joubert passou a tocar, de ouvido, os dobrados que
ouvia na banda local.
Aos doze anos, tendo
terminado o curso primário em Uberaba, Joubert mudou-se com a família para São
Paulo, motivados pela preocupação do pai com a educação e formação dos filhos,
que foram estudar no Ginásio São Bento.
A primeira composição de
Joubert, a valsa Cruz Vermelha, foi inspirada no hospital infantil do mesmo
nome, que havia em São Paulo, e cujas primeiras notas haviam sido tiradas no
piano da infância.
O pai permitiu a Joubert
que vendesse as partituras, desde que o dinheiro revertesse em benefício do
Hospital Cruz Vermelha.
O relativo sucesso
alcançado pela música animou Joubert a compor outras peças, que entregava à
casa editora Compassi & Camin, com autorização de seu pai, desde que o
pagamento se resumisse a alguns exemplares para Joubert distribuir aos amigos.
Durante o curso ginasial
Joubert foi se familiarizando com os clássicos, na casa de uma tia pianista.
Em 1919 Joubert foi para
o Rio de Janeiro, onde o ensino era de melhor nível e, em 1920, entrou para a
Faculdade de Medicina.
Com uma mesada de 500 mil
réis, Joubert continuava a compor e, durante uma de suas visitas a São Paulo, o
editor fez novos pedidos, com a oferta de 600 mil réis mensais.
Como o filho havia obtido
êxito nos exames, o velho Tobias não só se rendeu, como manteve a mesada,
propiciando ao jovem Joubert uma vida de estudante rico, que podia até mesmo
morar em hotel.
Nessa época, influenciado
por ritmos estrangeiros, Joubert compôs diversos tangos, como Cinco de Janeiro,
dedicado ao sanitarista
Osvaldo Cruz.
Sua primeira composição
gravada foi a canção Noivos, lançada em 1921. Mas seu primeiro grande sucesso
viria em 1922 com O príncipe, composta por inspiração da chuva e que seria sua
primeira composição gravada no exterior, em 1931.
No ano seguinte, 1923,
compôs o tango ‘argentino’ Lindos olhos.
Em 1924 Joubert compôs os
sambas O jacaré e Não sou pamonha, os foxes Lira quebrada e Vieni a me, as
marchas A nova Itália, Revelação e Vira a casaca, os tangos Pressentimento e
Sonhos mortos e o maxixe Viva o coronel e, ainda, em parceria com Zirlá, compôs
Aventureiro, Encanto de mulher e Tango venenoso e, em parceria com Zael, compôs
O galo preto.
Em 1925 Joubert se formou
em Medicina, com a tese intitulada “Sopros musicais do coração”, tendo sido
aprovado com distinção, embora o título da tese beirasse à pilhéria. Sabendo
equacionar perfeitamente as atividades de médico e de músico, Joubert
continuava a compor. Desse ano são suas composições Luxo asiático e Vem meu
benzinho.
Em 1926, em parceria com
Sadi Fonseca, Joubert compôs o maxixe Arrepiado e o tango Canção dos mares e,
com Zael, compôs o maxixe Jaquetão. Ainda desse ano são as composições
Manequinho, Mãos de neve, Pobrezinho, Prisioneiro do amor e Agonia, esta
gravada por Pedro Celestino, irmão de Vicente Celestino.
Em 1927 Joubert casou-se
com Elza Faria, que lhe daria o filho Fernando Antonio. Desse mesmo ano são
suas composições Bigodinho, Boca pintada, Canarinho, Eu gosto de você, Juriti,
Mal aventurado, Nhá Maria, Rio de Janeiro, Rolinha, Sabiá mimoso, Os teus
olhos, Traição, As Valentinas e Viva Jaú.
Em 1928 Joubert musicou
dois poemas de Olegário Mariano, Cai, cai balão e Tutu Marambá, dando início a
uma parceria de mais de vinte músicas.
Também de 1928 são as
composições de Joubert de Carvalho Aquele cantinho, Caboquinha, O carinho de
meu bem, A casinha do meu bem, Castelo de luar, Os dois caminhos, Os filhos da
Candinha, O pardal, Saci-Pererê, Sombrinha azul e Um sorriso e um olhar, a
maioria delas gravadas por Gastão Formenti.
Embora as composições de
Joubert de Carvalho já viessem sendo gravadas por cantores de destaque na
época, como Gastão Formenti e Francisco Alves, a novata Carmen Miranda é que
foi a responsável pelo grande sucesso de Ta-hi, lançado em 1930 com o título
“Prá você gostar de mim”, que alcançou uma vendagem de 35.000 discos, numa
época em que os grandes cantores vendiam, no máximo, até 1.000 discos.
Ainda em 1930 Joubert
compôs Dá-se um jeitinho, É com você que eu queria, Escrita errada, Esta vida é
muito engraçada, Gostinho diferente, Kalatan, Neguinho, Pelo teu pecado,
Saudade danada, Vai recolher, Vestidinho novo e Vou recolher e, ainda, em
parceria com M. Fonseca, compôs Cadeirinha; com Ana Amélia Carneiro de
Mendonça, com os Canção do estudante e Tarde dourada; com Olegário Mariano,
Loiras e morenas e com Gastão Penalva, Para o amor.
Em 1931, em parceria com
Pascoal Carlos Magno, Joubert compôs Pierrô, um de seus maiores êxitos e que
foi interpretado por Jorge Fernandes, na peça teatral de mesmo nome, de autoria
de Pascoal Carlos Magno.
Ainda, neste ano, compôs
Amor, amor, Eu sou do barulho, Não me perguntes, Napoleão, Quero ficar mais um
pouquinho, Quero ver você chorar, Se não me tens amor, Tem gente aí, Venenoso,
História de uma flor, Monte Carlo; com Paulo Roberto, compôs a marcha Foi … foi
ela; com Criso Fontes, o samba-canção Gostar de alguém; com Luiz de Góngora, a
canção Por que choro; com Célia Benatti, a marcha Que m’importa; com Osvaldo
Orico, a canção Se ela te oferecer um grande amor; com Luiz Gonzaga, o baião
Trovas de amor; e, com Olegário Mariano, compôs Absolutamente, A carícia de um
beijo, De papo pro á (em algumas fontes ‘De papo pro ar’)” e Zíngara. De papo
pro á foi lançado, com sucesso, por Formenti, em 1931, e revivido por Inezita
Barroso, em seu LP ‘Canto da saudade’.
Em 1932 Joubert compôs
Cabecinha de vento, Coisas de amor, É de trampolim, O gatinho, A glória de São
Paulo, Lenita e Lição de Cristo; e, ainda, em parceria com Osvaldo Orico,
compôs Horas de amor; com Luiz Martins, O índio do Corcovado; com J. Távora,
Teus olhos… o outono; com Olegário Mariano, compôs Beduíno, Caboclinho,
Galanteria e Se você quer e com Cleómenes Campos, compôs Dor.
Mas o grande êxito de
Joubert em 1932 foi a canção Maringá que, gravada por Gastão Formenti, fez sucesso
também no exterior, rendendo direitos autorais a Joubert durante muito tempo.
Como Joubert queria um lugar de médico dos Marítimos e, sendo amigo do ministro
da Viação, José Américo de Almeida, fez, para agradá-lo, já que este era
nordestino, a música “Maringá”, que surgiu de ‘Maria do Ingá’; Ingá era um
município do nordeste, onde a seca havia sido mais rigorosa.
“Maringá” era cantada por
operários que construíam uma nova cidade no norte do Paraná e que, ao ser
fundada oficialmente em 1947, recebeu o nome de Maringá. A canção “Maringá” é
considerada uma das mais expressivas.
Em 1933 Joubert foi
nomeado médico do Instituto dos Marítimos, onde fez carreira, chegando a ser
diretor do hospital. Mas não deixou de compor e, nesse mesmo ano, surgiram as
músicas Coisinha boa, melhor que há no mundo, Devolve os meus beijos,
Estilizada, Ficou um beijo em minha boca, Flor que ninguém colheu, Foi você
mesmo, Há nos teus olhos… um luar, Lágrimas de Pierrô, Marilena, Melhor amor,
Meu amor chegou, Olá, Que bom que estava, Redenção e Sossega o teu corpo,
sossega e, ainda, Arlequim, em parceria com Fortes Malta; Boca bonita, com
Narbal Fontes; De madrugada, com Catulo da Paixão Cearense; A doce palidez de
Maria, com A. Freitas; Bom dia, meu amor, Canção do abandono, Felicidade e
Moreninha brasileira, com Olegário Mariano; C’est toi, l’amour e N’aimez que
moi, com Maria Eugênia Celso; Eta caboclo mau e Garota errada, com Luiz
Martins; Felicidade… é quase nada e Se um dia pudesse, com Gilberto de Andrade;
A lenda das rosas vermelhas e Moleque sarará, com Murilo Fontes; e Tabuada, com
Adelmar Tavares.
De 1934 são as
composições de Joubert de Carvalho Deixa-me beber, Eu quero te dar um beijo, Um
pouquinho de amor, Sapatinho da vida, Uma vezinha só e, também, Pela primeira
vez. Em 1940 Joubert compôs as valsas Ainda hei de te beijar, Maria, Maria, Por
quanto tempo ainda e Rosi e o fox-canção Em pleno luar. Maria, Maria e Em pleno
luar foram gravadas por Orlando Silva, com grande sucesso. No ano de 1941 traz
a marcha de Joubert de Carvalho, Avante, companheiros.
De 1943 são suas valsas
Ninguém esquece…, A vida é um sonho e Visão de outro amor. O ano de 1946 foi o
de maior sucesso para Joubert: Gilberto Milfont lançou a canção Geremoabo e
Sílvio Caldas gravou a canção Minha casa e a valsa Nunca soubeste amar. Minha
casa foi um dos últimos grandes sucessos de Joubert de Carvalho.
O romântico seresteiro
ainda lançaria outras composições, mas nenhum de seus trabalhos posteriores
alcançou a projeção popular de Minha casa.
Em 1948 Joubert compôs a
valsa Noite de estrelas; em 1949, em parceria com R. C. Lisboa, compôs a canção
Reminiscência; em 1950, compôs Flor de esperança, Gostoso e Picadinho; em 1951,
Baía da Guanabara, É carinho que falta, Felicidade… e nada mais, Um grande
amor, Paris, Paris, Sabe lá o que é isso e Quando se vai o amor, esta última em
parceria com T. Malta.
Em 1952 Joubert compôs
Festa de formatura, Flamboyant, Fogueira, Mamãe Dolores, No tempo da valsa e
Perto da lareira e, ainda, em parceria com David Nasser, compôs o bolero
Silêncio do cantor, que era uma homenagem ao cantor Francisco Alves, morto
nesse ano, em acidente automobilístico.
Em 1953, com Adelmar
Tavares, Joubert compôs Olha-me bem nos olhos. Ainda nesse ano compôs Mande um
beijo, Quando eu partir, Tes yeux, A vida por um beijo e Feliz aniversário, com
a qual venceu um concurso, sendo gravada por Neide Fraga.
De 1954 são as
composições Apresse o passo, Dia feliz, Marcha das bandeiras, Viva São Paulo e
Voltei, voltei.
No período de 1955 a
1960, Joubert de Carvalho passou a dedicar-se a estudos filosóficos, não
publicando nada e produzindo apenas para uso interno.
Em 1959, foi homenageado
pelo povo de Maringá, que deu seu nome a uma das ruas da cidade.
Em 1961 Joubert compôs
Hino ao Presidente e Marcha da vitória.
Em 1962 o cantor Carlos
Galhardo lançou novas composições de Joubert de Carvalho: O amor e o sol,
Florista, Mundos afora, O tempo que ficou e Desde sempre, esta em parceria com
Mário Rossi.
De 1969 são suas
composições Além da vida e Esta noite não e, ainda, Fragrância, em parceria com
Mário Rossi e Sol na estrada, com I. Maria.
Em 1970, participou do V
Festival Internacional da Canção da TV Globo, com a valsa A flor e a vida,
composta em parceria com Ieda Fonseca, não conseguindo classificação.
Pouco depois, venceu, com
a mesma composição, interpretada por Antonio João, o Festival Brasileiro de
Seresta.
Em 1971 Joubert compôs O
Rio é Carnaval; em 1972, A cidade que nasceu de uma canção e Hora de despedida;
e, em 1973, A voz e o violão.
Joubert de Carvalho nunca
bebeu, nunca foi boêmio; bares e botequins jamais o atraíram. Homem culto e
refinado, chegou também a escrever um romance: Espírito e sexo, que se aproxima
do ensaio social.
Como médico, também foi
muito talentoso e um dos pioneiros no Brasil em Medicina Psicossomática.
Autor de mais de
setecentas composições editadas, no final da vida Joubert se afastou do mundo
musical, pois os novos estilos surgidos deixaram pouco espaço ao romantismo do
seresteiro que, de certa forma, ele foi.
Joubert de Carvalho
morreu no dia 20 de setembro de 1977, vítima de pneumonia, deixando importante
legado para a Música Popular Brasileira.
Foto:Autoria desconhecida
Fonte – Joubert de
Carvalho Letras