domingo, 17 de junho de 2018

Obras-Primas do Cinema Europeu


METROPOLIS
Criatividade e Arrojo

Guido Bilharinho

Metropolis


         A ficção-científica nasce com Edgar Allan Poe, que, além de tudo, em 1844, quase um século antes de Orson Welles, agita Nova York com a falsa notícia, publicada no New York Sun em tons sensacionalistas, da travessia do Atlântico por máquina voadora dirigida, entre outros, por um certo Monck Mason. Aliás, Poe é, também, o criador da ficção policial. Na literatura, são gêneros menores ou, na concepção de muitos, nem o são. Apenas, simples entretenimento. Na verdade, com exceções tão raras quanto notórias, entre as quais os contos poescos, não passam disso.

         No cinema, contudo, tanto um como outro adquirem importância e status artístico, assumindo posição destacada.

         Metropolis (Idem, Alemanha, 1926), de Fritz Lang (Áustria, 1890-1976), é talvez, cronologicamente, o primeiro grande filme de ficção-científica. Não simplesmente o primeiro, porque, antes dele, e desde Méliès, com seu Voyage Dans la Lune (França, 1902), o gênero já se instala no cinema. Mas, o primeiro de valor artístico, de arrojada criatividade.

         É filme expressionista. Síntese entre o expressionismo, a inventividade artística e a ficção-científica.

         Impressionam, nele, a convergência e a convivência de concepções futuristas na arquitetura, no urbanismo e na parafernália e infraestrutura mecânicas, abrangendo desde TV, robótica (um perfeito e, segundo consta, primeiro robô do cinema), e complexa combinação de máquinas de toda espécie, função e finalidade com as mais antiquadas e superadas formas de habitação subterrânea, como as catacumbas.

         Lang coloca, pois, lado a lado, modernidade e arcaísmo: a) arranha-céus colossais e coruscantes, entre os quais se insere, insólita, a casa-cabana de cientista genial, porém, estereotipadamente aloucado, vezo expressionista ecoando a tendência preconceituosa do homem comum em relação aos sábios; b) portentosos viadutos e sombrios corredores catacúmbicos cavados na rocha; c) interiores futuristas e cavernas tumulares de ossuários à mostra. Estas, aliás, lembram e remetem àquela descrita por Edgar Allan Poe (EE. UU., 1809-1849), no conto “O Barril de Amontillado” (The Cask of Amontillad), da série Contos de Terror, de Mistério e de Morte. Conto este, aliás, que, fundido com “O Gato Preto”, e ambos alterados em muitos pontos, servem de base ao segundo episódio do filme Muralhas do Pavor (Tales of Terror, EE.UU., 1962), de Roger Corman.

         Antes do Chaplin de Tempos Modernos (Modern Times, EE.UU., 1936), Lang focaliza a robotização do operário pela imposição de movimentos uniformes e constantes.

         Raros são os filmes, proporcionalmente à evolução científica da época de sua feitura, com poder imaginativo tão desenvolvido e marcado por percepção e realização tão avançadas e ousadas como Metropolis. E, ao mesmo tempo, tão terrível em captar a realidade da exploração do trabalho humano e a volubilidade e desorientação das massas amesquinhadas e animalizadas.

         Nem só isso, nem só tudo isso, porém. Além das notórias distorções impostas pelo expressionismo, realçando o mistério, o inaudito e o indizível, o sentimento humano e humanitário permeia o filme do início ao fim. Afinal, suas personagens são seres humanos, malgré tout.

         Como construção cinematográfica e criação artística, Metropolis constitui uma das obras capitais não só da ficção-científica e do expressionismo, mas, do cinema, que nem o exagero e mesmo simploriedade da justaposição antinômica capital x trabalho conseguem empanar. Porém, são justamente excessos, desvirtuamentos e contrastes que Lang quer realçar, mesmo que, nesse passo, incida num maniqueísmo convencional.

         Sob o aspecto da interpretação dos atores, o filme, desde 1926, denuncia o que muitos, à época, inclusive e principalmente Chaplin, não queriam ver e aceitar: a limitação imposta pela falta do som, levando não só nesse, mas, principalmente nele, a demasias interpretativas para conseguirem os atores exprimir e enfatizar as emoções e sentimentos que avassalam as personagens. No caso, é enorme o esforço nesse sentido dos dois protagonistas, o casal de jovens inserido no vórtice dos acontecimentos e neles interferindo com sua ação idealista (e bastante idealizada).

         Por fim, em se tratando, como se trata, de filme expressionista, mesmo que de ficção-científica, é inadmissível (para se ficar num termo civilizado) sua colorização, conforme versão existente. A própria gênese do filme, como de qualquer obra do expressionismo cinematográfico, repele a claridade, a iluminação, o pluralismo cromático. Sob esse prisma, a cópia colorizada que a televisão por vezes exibe, e segundo se sabe, ainda por cima mutilada, é simplesmente anti-expressionista e ofensiva à autoria e à criação artística.

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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, estudos brasileiros, história do Brasil e regional.


Câmara Municipal de Uberaba em Sessão Solene entrega Título de Cidadania ao casal.Sr.e Sra Família Palis

Câmara Municipal de Uberaba em Sessão Solene. 



Vereadores da Legislatura de 1970 a 1972.


Em pé (esquerda para direita)


Sílvio Roberto dos Santos Prata
Eurípedes Soares
Álvaro Diniz de Deus
João Antonio Speridião
Homero Vieira de Freitas
Israel José da Silva (Presidente da Câmara Municipal de Uberaba)
Wirson Rezende da Cruz
Senhor e Senhora Palis
Munir Dib
Sebastião Rezende Braga
Pedro Solé
Valdir Rodrigues Vilela (Secretário Geral da Câmara Municipal de Uberaba)

Foto: Schroden Jr.

(Foto do acervo pessoal de Valdir Rodrigues Vilela).

HISTÓRICO DA MAÇONARIA EM UBERABA

Publicada 3ª edição
do
HISTÓRICO DA MAÇONARIA
EM UBERABA
de Inácio Ferreira


Fartamente ilustrado

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus

Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus 
 Foto: Antônio Carlos Prata

Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus
Foto: Antônio Carlos Prata

A igreja matriz onde hoje se localiza nossa catedral teve o início de sua construção em 1827 (o Brasil já havia se tornado independente) por intermédio de Vigário Silva mas seria apenas em 1854 que seriam realizados ali os primeiros ofícios religiosos. Esses 17 anos de construção de um templo razoavelmente modesto mostra-nos a precariedade econômica da população local nas primeiras décadas do século XIX. Enquanto a região nordeste ainda se mantinha com a produção e exportação de açúcar, a região central de Minas havia se convertido em grande polo econômico por conta do ouro e convertido a própria cidade do Rio de Janeiro em capital pela proximidade de ambas, São Paulo havia se caracterizado pelas atividades bandeirantes e a região sul pela produção de charque, em Uberaba ainda se definia uma economia em parte agrícola marcada pela produção de arroz (vide os ramos de arroz até hoje presentes em nosso brasão municipal) e em parte comercial por conta do ponto estratégico que nos situamos no Brasil Central, entre três importantes regiões: Minas, São Paulo e Goiás. Destaco também a participação do escravo afro-brasileiro Manoel Ferreira oferecido pelo sargento-mor Eustáquio para contribuir na construção da nova matriz. Não nos esqueçamos que este país foi literalmente edificado por braços negros, aos quais somos tão devedores, e que em nossa igreja matriz não foi diferente. Em 1857 graças a Frei Eugênio a igreja foi dotada de uma grande sacristia, um adro e recebeu paramentos e alfaias. Em 1868 cada uma das duas torres recebeu um sino de cerca de trinta e cinco arrobas cada que permanecem na catedral até hoje. Interessante notar que com o avançar do século e o consequente enriquecimento material da população uberabense, a própria igreja se torna espelho dessa prosperidade por estar sempre em estado de reforma e sempre recebendo melhoramentos. 

No final do século XIX teremos o início de um período de grande prosperidade para as elites uberabenses com o advento da criação do gado de raça zebuína buscado na Índia. No começo do século XX, já sob o regime republicano, e inspirados pelas reformas modernizantes e arquitetônicas baseadas na Europa (o Rio de Janeiro abriu suas primeiras grandes avenidas e Manaus construiu seu Teatro Municipal) os uberabenses receberam a energia elétrica em 1904 e várias reformas urbanas, como na praça Rui Barbosa. Esse rápido avanço conquistado com os capitais excedentes da pecuária zebuína e com a vinda da Companhia Ferroviária Mojiana atraiu para a cidade o bispo de Goiás, D. Eduardo Duarte Silva que acabou por se tornar o primeiro bispo da Diocese de Uberaba, criada em 1907 pela bula Goyaz Adamantina Brasiliana Republica pelo Papa Pio X. Por determinação desta bula o padroeiro da diocese seria o Sagrado Coração de Jesus e D. Eduardo inaugurou deste modo a igreja do Sagrado Coração – atual igreja da Adoração Perpétua ao lado da Cúria Metropolitana – com a prerrogativa de catedral permanecendo a igreja da praça Rui Barbosa como matriz de Santo Antônio e São Sebastião. 

Em 1910 a matriz passou por grande reforma em que se definiu o estilo arquitetônico gótico manuelino e que seria dotada de apenas uma grande torre como até hoje se encontra desde esta data. Finalmente, em 1926 por determinação do bispo D. Luis Maria de Sant’Ana e decreto da Sagrada Congregação Consistorial a catedral seria transladada para a matriz de Santo Antônio e São Sebastião à Praça Rui Barbosa e os padroeiros seriam invertidos, permanecendo assim, em definitivo, como Catedral Metropolitana do Sagrada Coração de Jesus a partir de 20 de maio de 1926. Ainda assim, de modo a manter viva a memória de mais de cem anos que Uberaba permaneceu sob a proteção de Santo Antônio e São Sebastião, decidiu-se que uma estátua de cada santo ladearia a catedral metropolitana, imagens que permanecem até hoje em local de visibilidade e veneração. 


 Vitor Lacerda.



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Instagram: instagram.com/uberaba_em_fotos


Cidade de Uberaba

LIVRO: MOVIMENTOS POÉTICOS DO INTERIOR DE MINAS GERAIS VOL. II

Guido Bilharinho




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O VISCONDE DE TAUNAY E O TRIÂNGULO MINEIRO DE 1865 de José Mendonça


Publicada 2ª edição do ensaio que inaugurou a coleção “Cadernos da ALTM” em 1964


O VISCONDE DE TAUNAY E O TRIÂNGULO MINEIRO DE 1865





segunda-feira, 28 de maio de 2018

Estádio Municipal Engenheiro João Guido, mais conhecido como Uberabão

 Estádio Municipal Engenheiro João Guido.

Inaugurado em 1972, o Estádio teve o início de sua construção em 1961. Popularmente chamado de Uberabão - O nome do estádio é uma homenagem posterior à inauguração e ao mandato do Engenheiro João Guido, que quando prefeito tornou o imóvel público e retomou a construção.

Foto: Final da década de 1960


Foto: autoria desconhecida 


Fonte: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba. 

                           

terça-feira, 15 de maio de 2018

Time Uberaba Sport Club (USC) Ano - 1967

Time Uberaba Sport Club (USC)  Ano - 1967

Time do Uberaba Sport Club (USC) - Com um elenco abarrotado de jogadores renomados em 1967. 

Da esquerda para direita: Em Pé - João Batista, Lé, Vadinho, Hermínio, Quincas e Pedro Bala; 

Agachados - Valter Cardoso, Valtinho,Juca,Roberto Peniche,e Carlos Alberto 

Foto: autoria desconhecida 

(Foto do acervo pessoal de Wagner Eustáquio Carvalho) 

terça-feira, 8 de maio de 2018

Obras-Primas do Cinema Europeu


NOSFERATU 

A Arquitetura do Terror 



Guido Bilharinho

A Arquitetura do Terror

Em 1922, na Alemanha, Friedrick Wilhelm Murnau (1889-1931) realiza Nosferatu (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens), baseado no livro de Bram Stoker, conquanto sem dizê-lo e até mudando os nomes das personagens, o que lhe valeu, a ele e ao produtor do filme, processo judicial.

Não obstante ter-se posteriormente várias versões do tema, como as realizadas por Tod Browning (EE.UU., 1932), Werner Herzog (Alemanha, 1979) e Francis Ford Coppola (E.E. UU., 1992), é indispensável - e mesmo inevitável - compará-lo com a refilmagem de Herzog.

Não por ser alemã, mas, porque Herzog não efetua sua versão do assunto, mas, deliberada e meticulosamente, reconstrói o roteiro de Murnau com ênfase na figura de Drácula. Só que o faz modernamente, já com recursos técnicos superiores, além do som e da cor, inexistentes no início da década de 1920.

Esses fatores permitem-lhe poetizar as terríveis existência e práticas mortais de Drácula, realizando filme belíssimo e, como é seu propósito, paralelizando o original cinematográfico de Murnau. Conquanto tudo isso, não supera o paradigma e imprime ao tema orientação diversa e, em alguns casos, contraposta.

Com Murnau, a ação, os atos e fatos que a compõem são apresentados em cenas e sequências breves e cortes rápidos, essencializando-se a exposição temática. Em Herzog, com auxílio da dialogação, explicitam-se mais os significados do conteúdo das imagens e nelas mais se demora.

Nesse modus faciendi, evidente retrocesso. Se na década de 1920, não tendo o cinema nem trinta anos de existência, obtém-se acentuada contenção, que permite entendimento e acompanhamento do sentido imagético, o contrário, cinquenta anos depois, revela diminuição do rigor criativo do cineasta para atendimento do vicioso comodismo das plateias.

O filme de Herzog, sob esse prisma, é linear e, em alguns casos, comete excessos, como nas cenas da longa e morosa viagem do corretor de imóveis (o mocinho da trama), entre a aldeia onde se hospeda e o castelo de Drácula, nos Cárpatos, na mítica Transilvânia.

Em Murnau, não só isso (como tudo o mais) é feito com parcimônia e economia de meios, entre os quais sobreleva o tempo.

Se Herzog é poético e paisagístico, Murnau é plástico, escultural e arquitetônico. Se tudo naquele é banhado por suavidade pictural, neste sobressaem linhas e formas. A cena, esculpida ao vivo, de Drácula no tombadilho do funesto navio que o conduz a Bremen, tendo como ornamento o mastro e o cordalhame marítimo, é de expressiva beleza, tornando-se emblemática.

Talvez dada sua grandiosidade criativa, Herzog não a tenha desejado (ou podido) reproduzir. No navio de seu filme, Drácula não aparece, restando apenas presença referencial induzida, não obstante mortífera.

Em Murnau surge duas vezes, no porão e no tombadilho e, em ambas, de maneira impressionante e aterradora.

Além disso, da linearidade explicativa de um e do rigor e concisão de outro, ocorre outra importante divergência de concepção entre esses filmes.

Como se disse, Murnau, por uma série de razões e exigências técnicas e de produção, contém-se e substancializa-se. Contudo, essa característica é também conceitual e consciente. Seu Drácula não se expõe nem é exposto. Apenas existe, surge e age. Rápida e fulminantemente. Dele mais não se sabe nem se diz. É o perigo e a morte. Impessoais, objetivos, determinantes. Já Herzog humaniza a figura, que exterioriza sua sina eterna e a lamenta. Mas, nem por isso é menos letal.

Nítida, porém, é a semelhança física entre os dois atores, procurando e conseguindo Herzog reconstruir fisicamente a personagem de Murnau. Porém, esta é hierática, esguia, ágil. A de Herzog, dadas sua humanização e maior exposição, mais presente e lenta. Ambas, no entanto, eficazmente concebidas e concretizadas.

No mais, Herzog altera, em vários pontos, alguns fatos, como a volta do corretor inconsciente e dominado pelo contágio do vampiro, enquanto que em Murnau retorna sem esse estigma, reintegrando-se no convívio familiar. Notadamente, altera a perspectiva de Murnau, que encerra a tragédia com a possibilidade de sua continuidade, o que se interpreta como sinal do tempo.

Costuma-se afirmar que Murnau previu Hitler. Não é tão certa essa possibilidade, já que, se há previsão, seria de Bram Stoker e não dele. Ademais, e principalmente, nada induz a isso. O fenômeno vampiresco e a lenda do conde Drácula preexistem ao século XX.

É verdade que em Murnau sai-se desenhando cruzes nas portas das casas onde existem pessoas tomadas pela peste, o que reporta às suásticas apostas nas residências dos judeus pelos nazistas. Todavia, mera coincidência. Nada tem a ver uma coisa com outra. Na Noite de São Bartolomeu, também sinalizaram-se as residências dos huguenotes antes de sua matança, conforme o respectivo episódio em Intolerância (Intolerance, EE.UU., 1916), de D. W. Griffith.

A estória de Drácula, conquanto não esgote seu significado em si mesma, refere-se a temores, anseios e angústias humanas atávicas e milenares, não sendo, por isso, suscetível desse tipo de extrapolação. O fenômeno nazista é de outra ordem, não obstante também amoral e impiedoso.

Em suma, do ponto de vista de construção, inventividade e linguagem cinematográfica, o filme de Murnau é superior ao de Herzog. Sua depurada beleza emerge da própria imagem e sua montagem. No filme de Herzog exsurge do conteúdo da imagem.



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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, estudos brasileiros, história do Brasil e regional.




O COMPUTADOR CHEGA AO SERTÃO


           A possibilidade de comprar num supermercado – por menos de mil reais – um computador mais poderoso do que aqueles que a NASA usava nos anos 1970 para colocar o homem na Lua já é uma coisa assustadora. Mais ainda porque qualquer um de nós pode de sair carregando esse computador no bolso da calça, conectado a uma rede mundial que nos permite buscar informações em qualquer lugar do planeta. Milhões de pessoas fazem isso todos os dias quando compram e habilitam um aparelho celular tipo “smartphone”, ou “telefone esperto” – que reconhecem o seu rosto, entendem a sua voz, armazenam as suas fotos, filmes e músicas. E permitem o uso de programas (ou “apps”) capazes de desempenhar as mais diferentes tarefas.

          Facilidades com que os astronautas das espaçonaves Apollo nem sonhavam. Mas os primeiros computadores pessoais (ou PCs) que podiam ser levados para casa só surgiram nos anos 1980. E o lançamento do primeiro iPhone tem pouco mais de 10 anos. Nos anos 1970, computadores eram coisas misteriosas e um tanto assustadoras. Filmes como “2001 - uma Odisseia no Espaço” e “Geração Proteus” os retratavam como máquinas temperamentais, prestes a assumir o controle do mundo e destruir a humanidade. Na vida real, havia grandes computadores conhecidos como “mainframes”, que ocupavam andares inteiros de prédios e custavam pequenas fortunas: o aluguel mensal de uma única máquina dessas em 1970 dava para comprar 20 fuscas novinhos. Só os bancos, grandes corporações e departamentos de governos tinham bala para ter um. A empresa símbolo dessa época era a norte americana IBM, maior fabricante mundial desses computadores.

O COMPUTADOR CHEGA AO SERTÃO 


         Uma lenda urbana conta que o sigla HAL, o computador enlouquecido do filme “2001”, teria sido inspirada pela sequência das letras anteriores no alfabeto. Se não é verdade é bem contada. Mas em 1971 a IBM anunciou que ia comercializar no Brasil um computador compacto, especialmente projetado para empresas pequenas “que agora poderão ter um computador”: o Sistema/3 modelo 10. Uma novidade mundial, que chegava ao País pouco tempo depois de ser lançada nos Estados Unidos. A máquina só era “compacta” na propaganda. Na verdade era um conjunto de equipamentos que, segundo o fabricante, cabia em uma salinha de 3 por 4 metros. O cérebro do monstrengo tinha o tamanho de uma geladeira grande. Vinha acompanhado de impressoras, uma mesa com teclado e com um monitor “tipo televisão” (opcional) além dos famosos leitores de cartões perfurados – nos quais eram armazenados os programas e as informações (quem viveu os anos 70 conheceu esses cartões ao fazer as apostas na loteria esportiva). Empresas com mais recursos podiam trocar os cartões por moderníssimos “diskettes” de 20 x 20 cm, que armazenavam o equivalente a 3 mil cartões perfurados ou “80 kilobytes de dados”. Uma façanha. Para demonstrar na prática o quanto o seu novo sistema era simples, prático e portátil, a IBM resolveu fazer uma exposição itinerante: um “road show” na linguagem do marketing. Para isso instalou um Sistema/3 numa sala montada dentro de um grande caminhão baú, como esses de mudanças. 

          O caminhão, que tinha ar condicionado e gerador próprio, viajaria pelo Brasil para mostrar que a informática agora estava ao alcance de todos. O roteiro de shows começou em outubro de 1971, na então moderníssima Capital Federal em Brasília, onde o novo sistema foi apresentado às autoridades. De lá, o “road show” tomou a BR -050 rumo ao sul, parando em Uberlândia, Uberaba, Ribeirão Preto, Campinas e daí para São Paulo. O computador finalmente chegava ao sertão brasileiro e Uberaba – por uma infelicidade da geografia – acabou em segundo lugar, atrás da vizinha e rival. Nos dias em que ficou estacionada na cidade, empresários uberabenses, políticos, estudantes e todos aqueles que tiveram a graça de receber um convite da IBM puderam ver com seus próprios olhos o funcionamento daquela máquina fantástica. Que comandava submarinos e naves espaciais no cinema, mas era vendida aos homens de negócio para cuidar de coisas tão prosaicas quanto a emissão de notas-fiscais, gestão das folhas de pagamento e cadastro de clientes. Ninguém imaginava que, 50 anos depois, centenas de milhões delas estariam sendo usadas para ouvir música e colocar fotos de aniversário das crianças nas redes sociais.


 (André Borges Lopes)




quinta-feira, 26 de abril de 2018

UM PRATA PARA SANEAR O RIO

      Durante anos, o governo federal e a prefeitura do Rio de Janeiro torraram dinheiro público para embelezar a cidade, fazer obras controversas de grande impacto visual e preparar a capital para um evento internacional. Terminado esse período, a cidade do Rio passava por uma crise financeira que colocava em risco o funcionamento dos seus serviços. Foi quando um presidente da República, impopular e com a legitimidade questionada, decidiu colocar no comando da cidade um administrador de pulso firme, homem da sua estrita confiança.

      Essa história lhe parece familiar? Pois saiba que ela aconteceu no Rio de Janeiro há quase cem anos. Nessa época, o Rio era Capital Federal e o prefeito era nomeado diretamente pelo Presidente. Entre 1918 e 1922, o presidente Epitácio Pessoa e o prefeito Carlos Sampaio deram início a um arrojado programa de reformulação do centro antigo da cidade. A reforma incluía a remoção do Morro do Castelo – na época decadente e ocupado pela população pobre – para construção de uma enorme esplanada onde, durante o anos de 1921 e 1922 , foram construídos os palacetes cenográficos “Exposição Internacional do Centenário da Independência”.

      Essa fabulosa exposição tinha estandes de todos os estados da federação e de diversos outros países. Era coisa mais faraônica e suntuosa que o Brasil já havia visto em toda sua história. Um evento “padrão FIFA”, para usar um termo da moda. No final de 1922 chegou a hora de pagar a conta da festa. Para piorar, a situação econômica do Brasil não andava boa em função de uma crise persistente nos preços internacionais do café. Boa parte dos recursos federais haviam sido comprometidos por Epitácio Pessoa para garantir os interesses dos cafeicultores, o que lhe permitiu eleger seu sucessor – o mineiro Artur Bernardes – apesar de uma forte oposição dos militares e das classes médias urbanas, insatisfeitas com a situação. 

     A velha política do “café com leite” começava a desmoronar, e isso só iria piorar nos anos seguintes. Artur Bernardes, ex-governador de Minas Gerais, assumiu em 15 de novembro de 1922. Um mês depois nomeou para o cargo de prefeito da maior cidade do País o deputado federal Alaor Prata Soares, seu amigo pessoal e aliado fiel. Quase desconhecido para a população carioca, Alaor Prata tinha 40 anos e era uberabense. Havia se formado engenheiro na conceituada Escola Politécnica de São Paulo, mas se destacara como político e homem de imprensa no Triângulo Mineiro. Fora diretor dos jornais O Triângulo e Gazeta de Uberaba e colaborador do Lavoura e Comércio.


      Começou a carreira como vereador em Uberaba e, em 1909 elegeu-se deputado federal. Para os cariocas a nomeação foi um choque. A situação piorou quando Alaor anunciou, já no discurso de posse, que o principal objetivo da sua gestão era o de sanear as finanças do município, com um corte profundo nos gastos públicos. Para os uberabenses, nenhuma surpresa: a família Prata era conhecida na cidade pelos hábitos econômicos controlados e uma folclórica avareza. Sua primeira providência foi suspender todo o programa de reformas urbanas em andamento na capital (deixando muitas obras inacabadas) cancelar contratos com empresas fornecedoras e demitir um grande número de funcionários municipais. 

Alaor Prata Soares

     A insatisfação foi imediata, e agravou-se por conta do autoritarismo do presidente Artur Bernardes, que governou quatro anos sob estado de sítio e reprimiu com mão de ferro as diversas revoltas tenentistas que explodiram durante seu mandato. A imprensa oposicionista não perdia uma chance de castigar o prefeito, como forma de atingir o presidente. Alaor Prata era acusado de ser um interiorano caipira, que odiava o Rio de Janeiro. Há uma certa injustiça nas acusações. Na falta de recursos para obras, Alaor concentrou-se em elaborar projetos, legislações urbanas e códigos de obras que, mais tarde, foram importantes para o desenvolvimento do Rio. No final do seu mandato, já com as finanças em melhores condições, chegou a fazer até algumas obras de vulto, como a reconstrução da orla marítima (destruída por uma tempestade em 1925) e a duplicação do Túnel Velho, ligando Botafogo e Copacabana, que hoje leva o seu nome. Em 1926, deixou a prefeitura e retornou ao Congresso. 



(André Borges Lopes)



quarta-feira, 25 de abril de 2018

sábado, 21 de abril de 2018

A história do automóvel em Uberaba


      “ O Automóvel, cuja generalização pelo mundo verificou-se a partir de 1900,só teve entrada em Uberaba sete anos depois.

     Em sessão de 10 de março de 1906 a Câmara Municipal desta cidade sancionou a lei nº191, concedendo ao Sr.Dr.Alberto Cerqueira Lima privilégio, por 25 anos, para trafegar na cidade e município, linhas de automóveis para o  transporte de cargas e passageiros.

Foto do acervo pessoal  de Demilton Dib - década:1930
Praça Rui Barbosa

     O concessionário, em sociedade com os Srs. Major Domingos José da Silva Prata e Coronel João da Silva Prata, organizou-se a Empresa Motorola Uberabense Auto-”, adquirindo em seguida, por 12 contos de réis, na Inglaterra primeiro automóvel, chegando a 30 de maio de 1907,e,solenemente,inaugurado a 7 de junho seguinte.

     Este automóvel teve o nome de “Nossa Senhora da Conceição das Ala-goas”. Trafegou cerca de um mês na cidade, indo uma única vez ao Garimpo de Conceição das Ala-goas,em uma estrada especialmente construída pela Empresa.

     Esta máquina, a primeira vez que saiu à rua, causou admiração geral pela originalidade: não era o automóvel que toda gente via nas fitas cinematográficas e nas ilustrações dos jornais, mas um pesado locomóvel, a vapor, de marcha lenta.

Na sua única viagem ao garimpo gastou, só na ida, 8 dias sendo necessário abrir-se no chapadão, diversas cisternas para alimentar de agua a máquina.

      Quando saia à rua interrompia o trânsito dos outros veículos, tanto pelo  espaço que ocupava, como pela aglomeração de pessoas atraídas pela curiosidade, e ainda pela constates chuvas de brasas, que escapava da chaminé. Por isso, à sua passagem os negócios fechavam-se para evitar um possível incêndio.

O primeiro automóvel de passageiros aqui chegando, 29 de junho de 1908, foi um pequeno, de 2 lugares, importado pelo Sr.Humberto Adamo.

Ao ser inaugurado quebrou-se, pelo que foi devolvido para São Paulo, de onde viera.
O Sr. Antônio da Cunha Campos Júnior, por ocasião da “Exposição Agro-pecuária de Uberaba”, alugou em São Paulo, um automóvel de sete lugares destinado ao serviço de passageiros entre a cidade e o campo da exposição.


Este automóvel que foi o primeiro a trafegar aqui, chegou no dia 4 de maio de 1911,e foi devolvido para aquela capital 15 dias depois. Fora alugado a 100$000 por dia (cem mil réis).

     A 6 de outubro seguinte, entrou em Uberaba o 4° automóvel. Era uma máquina  de 6 lugares, comprada em são Paulo por 10 contos de réis, pelo Sr.Major Quirino Luiz da Costa, destinada ao serviço de passageiros na cidade somente, pois estradas apropriadas no município não havia ainda um plano sequer. A da “Empresa Auto-Motorola Uberabense “há muito fora abandonada.



A inauguração deste automóvel fora no mesmo dia de sua chegada à cidade, percorrendo as esburacadas ruas locais, com lotação constituída por pessoas de mais alto destaque social.
     O segundo automóvel importado pelo Sr.Major Quirino da Costa e 5° introduzido em Uberaba (20 de janeiro de 1912) foi um carro tipo factante,de cinco lugares e custou 9 contos de réis.

     Foi a partir dai que os senhores Rocha e Falcão adquiriram o primeiro automóvel “Ford”, chegando em Uberaba no dia 15 de março de mesmo ano.

Seguiram-se lhes os Srs. Firmino Meirelles, com um automóvel daquele fabricante, e fundador da Garagem “Cruzeiro do Sul”, o Coronel Vicente Alves Arantes Tutuna, com um carro “Maxwuell” e outros.
      Por essa ocasião o Sr.Major Quirino da Costa, ultimava a construção dos primeiros 60 quilômetros de estrada, ligando a cidade à sede distrital de Conceição das Alagoas.
A respectiva inauguração realizou-se festivamente, no dia 6 de abril (1914).

      A 5 de agosto seguinte, a empresa inaugurou o trecho entre Estação do Peregrino e o arraial do Veríssimo.

Afinal, no dia 19 seguinte, inaugurou-se ruidosamente, o trecho de 30 quilômetros de Garimpo das Alagoas e Dores do Campo Formoso, que a população desta localidade construíra e dera de presente à empresa.

     Entretanto, não demorou muito e já um empresa se organizava para o desenvolvimento do novo sistema de viação, levando o progresso a todos os cantos do município.

Foto do acervo pessoal  de Demilton Dib - década:1930
Praça Rui Barbosa

      Então a cidade só contava uns vinte e poucos carros de praça. Os primeiros automóveis aqui chegados, em número reduzido, logo avariavam em consequência da má conservação de nossas ruas.Com a construção das primeiras estradas na área rural e os magníficos  resultados colhidos no trafego de automóveis ,diversos fazendeiros se puseram em ação e numerosas turmas de operários iam pela nossa belíssimas campinas deixando, após a sua passagem ruidosa, o caminho por onde em breve iria a civilização e o progresso, levados nas asas ligeiras das máquina que vence com facilidade as grandes distâncias e nos proporciona a vertigem das grandes velocidades – o automóvel.


Texto na íntegra de Hidelbrando de Araújo Pontes

Copiado por Antônio Carlos Prata

Fonte: ”Vida, Casos e Perfis”



                                                                                                                                                                                            
                                                                                                             
                                                                                                                                        
                                                                                                            
                                

terça-feira, 17 de abril de 2018

Centenário da Loja Maçônica Estrela Uberabense

Centenário da Loja Maçônica Estrela Uberabense

Hoje (17/04/2018) devemos TODOS estar em Loja, PARAMENTADOS, para a Sessão Magna com presença/participação de não Maçons.
Nessa Sessão Magna, COMO TODAS AS OUTRAS, devemos estar presentes, pois, dando prosseguimento à comemoração dos 100 anos da LMEU, os Correios farão o lançamento do Selo do centenário da Loja; a Câmara Municipal de Uberaba Homenageará a Loja, e o descerramento da foto do Venerável Mestre da gestão anterior, Ir:. CARLOS ALBERTO MARTINS VIEIRA, na galeria dos ex-Veneráveis da Loja Maçônica Estrela Uberabense.
Sua presença é indispensável!
TFA:.

Wagner da Cruz .`. M .`. i .`. -Membro da Comissão Para Maçônica da ARLS ESTRELA UBERABENSE N°0941-GOBMG - CRUZ DA PERFEIÇÃO MAÇÔNICA

domingo, 15 de abril de 2018

O Selo em comemoração aos 100 anos - Loja Maçônica Estrela Uberabense.

                                     
CONVITE
O Selo em comemoração aos 100 anos - Loja Maçônica Estrela Uberabense.

Meus Irmãos, na terça-feira, dia 17/4/18, às 20h, na sede da ARLS Estrela Uberabense, daremos lugar a uma seção magna admitida a presença de não maçons. Na ocasião, ainda como atividade do ano do centenário da Loja, será lançado, pelos Correios, o selo em comemoração aos 100 anos da Loja Maçônica Estrela Uberabense. A Câmara Municipal de Uberaba prestará homenagem à Estrela Uberabense. E haverá o decerramento da fotografia do ex-venerável, Carlos Alberto Martins Vieira, na Galeria dos Ex-Veneráveis da Loja. O Eminente Grão Mestre do GOB-MG, Ir.: Cláudio William, confirmou presença nos trabalhos. Contamos com a presença dos irmãos!


Wagner da Cruz .`. M .`. i .`. -Membro da Comissão Para Maçônica da ARLS ESTRELA UBERABENSE N°0941-GOBMG - CRUZ DA PERFEIÇÃO MAÇÔNICA

terça-feira, 10 de abril de 2018

NOVA PÁGINA NO FACEBOOK: OBRAS-PRIMAS DO CINEMA EUROPEU


Ensaios de crítica cinematográfica




 NOVA PÁGINA NO FACEBOOK:https://www.facebook.com/opcineuropeu/                                                                                   


Afrânio de Almeida e Hikio Okotozawa

Afrânio de Almeida e Hikio Okotozawa


O japonês “Ozawa” é o pioneiro do judô em Uberaba, onde morou entre 1965 e 1969. Hikio Okotozawa veio ao Brasil em 1963 para divulgar a modalidade esportiva no país e se fixou cidade. 

Juntamente com Afrânio de Almeida, dono do Judô Oriente, Ozawa formou a principal equipe mineira desse esporte na década de 1970, integrada por “Sansão”, Ataíde, Tranquilo, Iraci, Dilmar, Nilo, entre outros judocas. 


Foto: Autoria desconhecida


(Foto do acervo pessoal de Tranquilo Baliana)



Rua Governador Valadares, 486. Fabrício - Uberaba /MG 38065-065. (34) 3333-4231

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Memorial Chico Xavier em Uberaba recebe acervo raro descoberto após mais de 50 anos


Um acervo raro com vários jornais, revistas, fotos, livros e manuscritos datilografados sobre o médium Chico Xavier e a doutrina espírita, que foi encontrado em setembro de 2017 em Uberaba, passa por restauração. O material estava trancado em um cômodo de imóvel da Comunhão Espírita Cristã – o primeiro centro que Chico fundou em 1959, quando chegou à cidade mineira. 

Para os responsáveis pelo trabalho e pela descoberta, o achado já pode ser considerado um patrimônio para o município e para a religião espírita, já que guarda informações de todos os tipos da década de 1960.


Planta de Museu por Niemeyer 

Um dos materiais mais importantes é a planta de um “museu” que está carimbada com o nome do arquiteto Oscar Niemeyer. A surpresa para os pesquisadores em relação a este projeto foi descobrir que na época Chico Xavier e outros adeptos da doutrina já pensavam em construir algo bem parecido com o atual Memorial, que seria chamado de “Exposição Espírita Permanente”. 

Dentro de uma pasta foram encontrados documentos com registros do que teria e como funcionaria o espaço, como também a quantidade de material para a obra.


 
Livro dos Médiuns, por Allan Kardec, foi um dos materiais raros encontrados
 (Foto: Fundação Cultural de Uberaba/Ruth Gobbo)

A ideia do Memorial Chico Xavier foi concebida em 2003, um ano depois da morte do médium. O museu fica no Parque das Américas e foi inaugurado em 2016. A estrutura tem mais de 8.000m², conta com obras escritas pelo médium, fitas e livros sobre a história de Chico Xavier. 

"O que mais nos chamou atenção foi o projeto do 'Exposição Espírita Permanente', que foi uma surpresa para nós identificarmos que em Uberaba, na década de 60, houve uma tentativa de construção de um espaço de memória dedicado à doutrina espírita. E vários anos depois surge o Memorial Chico Xavier, que além de contar histórias, quer contar também a história guardada nestes materiais encontrados", observou o museólogo do Memorial, Carlos Vítor.



A descoberta e a restauração 

Foi em um cômodo trancado de um imóvel da Comunhão Espírita Cristã que o material ficou guardado por mais de 50 anos. O tesouro foi descoberto por acaso pelo pedreiro Lourencildo Gonçalves, que foi fazer um serviço no local à pedido de um amigo. 


Em seguida, o acervo foi entregue por comodato ao Memorial Chico Xavier que, em parceria com a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), deu início aos trabalhos de restauração. 

Com a supervisão do museólogo do Memorial, três estudantes do curso de História da UFTM fazem a higienização do acervo, além do arrolamento - que é o processo de identificação, numeração e pesquisas de informações básicas sobre o conteúdo de cada arquivo que são registradas em um programa de computador. 

“A gente recebeu este material deteriorado, já que estava em um espaço insalubre. Assim que recebemos a informação, imediatamente em dois dias conseguimos retirar todo este acervo no cômodo que estava e levar ao Memorial para fazer este trabalho de higienização e identificação”, disse Carlos Vítor. 


Cerca de 20% do material encontrado já foi trabalhado pela equipe. Também já foram encontrados cartas, dossiês de viagens e diversos documentos. 

“É um acervo inédito da década 1960 que tivemos a honra de receber da Comunhão Espírita Cristã. Foi um privilégio para nós termos o acesso e trabalhar com este material tão rico e com informações do médium e da doutrina espírita. A cada material, uma surpresa é encontrada e uma história aprendida", acrescentou o museólogo. 


“Depois que a gente viu o acervo e começou a limpá-lo também encontramos documentos de algumas viagens que Chico e os parceiros fizeram para a disseminação da doutrina espírita pelo país e pelo mundo. Foi aí que percebi que essa documentação em nossas mãos é muito importante para pesquisa sobre a vida do Chico em Uberaba”, acrescentou o universitário Tomaz Gomes. 
Conclusão e divulgação 

O trabalho de arrolamento deve ser concluído em pouco mais de um ano e seis meses, segundo Carlos. “É um processo muito delicado e minucioso porque há muitos papéis que ficaram fragilizados. Depois disso, vamos avaliar qual será a melhor metodologia para catalogação e finalmente disponibilizá-lo para pesquisas e ao público”, explicou. 

O museólogo ainda informou que depois de pronto o material será armazenado no Memorial, no espaço “Centro de Pesquisa e Documentação do Patrimônio Cultural do Espiritismo”, que já está sendo criado. 

“A importância deste material é suscitar novos conhecimentos e novas pesquisas na área para que depois possamos retroalimentar nosso setor de comunicação para realizar exposições, publicações e divulgar o trabalho do espaço, bem como a história da doutrina espírita e do Chico Xavier, que são referências em Uberaba", concluiu o museólogo mineiro. 





"Exposição Fotográfica Serra da Canastra"

 "Exposição Fotográfica Serra da Canastra"

A Fundação Cultural de Uberaba, por meio do Memorial Chico Xavier, convida para a abertura da "Exposição Fotográfica Serra da Canastra", nesta sexta-feira (6), a partir das 10h, com o fotógrafo e pesquisador Alessandro Abdala. A exposição encerra o calendário das atividades alusivas aos 108 anos de Chico Xavier. Prestigie, é imperdível! 

Alessandro é autor do livro “SERRA DA CANASTRA: Refúgio das Aves do Cerrado”, obra que foge do modelo tradicional de livros de fotografia de natureza e alia belíssimos registros fotográficos a valiosas informações histórico culturais sobre a região da Serra da Canastra. 


(Fotos: Ruth Gobbo/ imprensa FCU)


Crispiniano Tavares, primeiro proprietário da famosa chácara, conhecida como Quinta da Boa Esperança

Quinta da Boa Esperança

Localizada na Rua João Modesto dos Santos – Bairro Estados Unidos.

Crispiniano Tavares, primeiro proprietário da famosa chácara, conhecida como Quinta da Boa Esperança, localizada no Bairro Estados Unidos, em Uberaba, nasceu em Ilhéus, na Bahia, em 28 de outubro de 1885. Fez seus estudos iniciais no Rio de Janeiro e diplomou-se como engenheiro pela Escola de Minas de Ouro Preto. 

     Casou-se com Antônia Paula Felicíssimo e, em viagem de núpcias ao Rio de Janeiro, visitou o Imperador D. Pedro II e o agradeceu pelo custeio de seus estudos. 

Profissionalmente redigiu relatórios técnicos sobre riquezas minerais e tipos humanos e de animais. Foi agrimensor, topógrafo, fiscal da empresa Catalão, conhecida como Estrada de Ferro Mogiana, em Uberaba. Escreveu contos e retratos do homem sertanejo. Realizou experiências no campo da fitologia e da zoologia, além de estudos de geologia e mineração no Estado de Goiás. Professor de física e química agrícola no Instituto Zootécnico, de Uberaba, primeira escola de ensino superior no Brasil Central. Combateu as queimadas dos campos. Publicou artigos na revista de Engenharia do Rio de Janeiro. Seus trabalhos serviram de modelo ao geógrafo norte-americano Orvilhe A. Derby, ao tratar dos picos mais altos do Brasil. Editou o jornal Minas Ativa. Foi poeta e primeiro contista do Brasil Central. Estudou folclore, exerceu o jornalismo e era um administrador capacitado. 


Em Uberaba, sob o auspício de amigos locais, a Livraria Século XXeditou sua obra Contos Inéditos. Seus contos abordam temas regionais, narrativas de fatos reais, autobiográficos, temáticos de nítida produção e inspiração religiosa. 

Em sua homenagem foi editado o livro Crispiniano Tavares, por Basileu Toledo França, na cidade de Goiânia. 


Em 1900, foi eleito como 2º secretário do Partido Monarquista de Uberaba. 

Crispiniano residiu muitos anos em Uberaba, exercendo o cargo de engenheiro fiscal da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro. 


Contribuiu com seus conhecimentos técnicos e atuação profissional para o progresso geral da cidade, tanto no Instituto Zootécnico de Uberaba, onde foi professor, quanto como proprietário rural da Quinta da Boa Esperança. Esta era considerada modelo em Minas Gerais, pela sistemática avançada no tempo, tanto pela criação do empreendimento quanto pela administração adotada. 


Em 1887, Crispiniano Tavares iniciou a construção da chácara Quinta da Boa Esperança, situada nas nascentes de um dos córregos que banham Uberaba e à margem do traçado da via férrea Mogiana, distante 1.500 m do centro da cidade. 


A chácara era de grandes dimensões, cujo embrião ficava no final da Rua Marquês do Paraná, descendo, contornava a pequena chácara de Carlos Carrara, atualmente Instituto de Cegos do Brasil Central, descia a rua até a Praça da Gameleira e contornava a antiga chácara do Padre Zeferino – esquina da Rua Artur Machado com Odilon Fernandes – e chegava até a Rua da Pinga – atual Rua João Pinheiro –, depois subia até a atual Mogiana, dobrava a direita, contornava a Chácara dos Eucaliptos, que também a integrava, e finalmente, em direção a Rua Professor Terra e voltava ao ponto de saída. 


O projeto da Quinta da Boa Esperança foi elaborado pelo proprietário Crispiniano Tavares, seguindo rigorosas normas técnicas conhecidas por ele. Traçou intermináveis avenidas de mangueiras, que se estendiam até a Rua Marquês do Paraná, onde se localizava a entrada social e comercial. A outra entrada da chácara era perto da Gameleira, utilizada pelos carros de bois e carroças. 


O construtor responsável pela edificação do chalé foi o italiano João Magne. 


Mais tarde, Manoel Marinho, português, artista que construiu muitos passeios e edifícios da cidade, modificou o chalé dos Tavares. 


Para combater as erosões na propriedade, Crispiniano Tavares construiu muros de arrimo de pedra tapiocanga por toda a extensão das áreas cultivadas, que iam da chácara de Miguel Laterza e Carlos Carrara até o estradão que hoje é a Rua Professor Terra. 


Em seu vasto pomar que formava um bosque, continha uma infinidade de espécies de árvores frutíferas como mangueiras, laranjeiras, jabuticabeiras, cajueiros, pessegueiros, damasqueiros, pinheiras, figueiras, abacaxizais, etc. Destacavam-se as plantações de vinheiras que permitiram a produção de grande quantidade de suco de uva; havia quarenta e quatro qualidades de parreiras, inclusive as enxertadas, como Moscatel Preta de Alexandria, a melhor de todas; a Chasselat Dorée; a Franquenthal; a Sabacknskoy, e muitas outras, excelentes para mesa. Para o vinho cultivavam as Delaware, Cynthiara, Tenerou, Olivette, Fernando Lesseps, Niágara, Colden Queen, Grass Colman e muitas outras. A qualidade da uva Isabela era a mais apreciada para a mesa, de sabor agradabilíssimo e o vinho se igualava aos melhores estrangeiros que existiam no comércio. As videiras recebiam tratamento especial. Em pequena escala fabricavam o vinho de caju, considerado delicioso. 


Além das frutas, cultivava cana-de-açúcar, arroz, algodão e café. O cafezal se destacava com muitos pés, cuja safra era muito produtiva. Produzia-se também grande variedade de horticultura. 


A pastagem abrigava muitos animais e o engenho de ferro era movido à tração animal e não utilizava a água como força motriz. Ali fabricavam pinga, rapadura e açúcar redondo. 


A Quinta da Boa Esperança faz parte dos elementos que muito têm concorrido para o progresso e desenvolvimento da Nossa Princeza do Sertaneja. (...) tem crescido e desenvolvido extraordinariamente, tanto em produção agrícola como industriais, conquistou devido aos esforços e a inteligência de seus ilustres e dignos proprietários, um logar saliente entre os estabelecimentos agrícolas do nosso Estado.[1]


Crispiniano Tavares aproveitou as três nascentes d’água e edificou a fábrica de farinha, de vinho, a sede da chácara e a casa dos funcionários. 


Havia um grande manancial de água que gerava a vida na chácara e irrigava as jabuticabeiras, as hortas e jardins. As minas de água forneciam água para moradores do Alto dos Estados Unidos. 


O jardim da frente do requintado chalé em que habitavam Crispiniano Tavares e sua família era pequeno, porém lindo, composto de variadas flores, sobressaindo as camélias, os belíssimos cravos, os ranúnculos, as anêmonas, os crisântemos, as magnólias, as tulipas e diversas espécies de rosas e palmeiras. As paineiras enfeitavam a avenida principal da chácara que era considerada uma maravilha e valorizada como um dos mais luxuosos jardins de Uberaba. 


Os leões, estátuas que guardavam a entrava da casa foram esculpidos por Crispiniano Tavares e as colunas do chalé foram feitas de ferro fundido na fábrica de Sorocaba, no Estado de São Paulo. 


Na chácara se localizava o campo de futebol dos ferroviários da Mogiana. 

A serraria denominada Santos Guido se localizava onde hoje é o Jardim Sete Colinas, isto porque, Jesuíno cedera o terreno a Santos Guido e a Gustavo Rodrigues da Cunha. 


O interior da casa era muito requintado e utilizavam porcelana francesa. 

O chalé recebeu homens ilustres da época, como: conde D’Eu, Dr. Rebouças, Afonso Rato, João Teixeira, conde Afonso Celso e outros. 


Os primeiros loteamentos em Uberaba foram feitos por Crispiniano Tavares nos terrenos da chácara, seguindo as normas técnicas exigidas. 


Na chácara havia três casas de funcionários. Uma ficava perto da porteira da atual Avenida Jesuíno Felicíssimo. A outra, um barracão que era um rancho muito grande que abrigava em torno de dez famílias, parecia uma senzala; e a outra casa ficava perto de um bosque. 



Os empregados da chácara, em sua maioria, eram imigrantes italianos, muitos baianos e poucos negros. Estes trabalhavam uma jornada em torno de onze horas por dia. 


Os trilhos da Mogiana cortavam pelo interior da chácara em longo trecho, pois saíam da atual Rua Menelick de Carvalho em direção da Estação Amoroso Costa. 


A chácara era administrada e seguia um projeto técnico, o que resultou em enorme produção e fama. A produção agrícola foi muito significativa, com hortas, pomares, enormes cafezais e vinhedos. A produção industrial era de grandes variedades de vinho e doce, pingas, rapadura e laticínios. Dessa forma, conquistaram um lugar de destaque entre os estabelecimentos agrícolas do Estado de Minas Gerais. Os vinhos produzidos na Quinta da Boa Esperança tornaram-se famosos em grandes centros, como o Rio de Janeiro, São Paulo e demais lugares. Também produziam álcool para o consumo. 


Margeando o córrego da chácara encontrava-se espesso bambuzal, contendo magníficas espécies: comuns, indiano, imperial e africano. 


Havia dois bosques de árvores de lei, como jequitibás, aroeiras, cedros, amburanas, todos formando um pequeno patrimônio ecológico. 


Após a morte de Crispiniano Tavares, em Rio Verde, Goiás, no ano de 1910, ficaram muitas dívidas em Minas Gerais e Goiás e sob a ameaça de insolvência, a chácara foi a leilão por volta de 1910. Entretanto, o cunhado Jesuíno de Paulo Felicíssimo a arrematou e permitiu que a viúva de Tavares, Antonia Paula Felicíssimo, continuasse a administrar a famosa Quinta, onde impôs um regime matriarcal continuando a funcionar como no tempo do seu marido, isto é, a mesma estrutura administrativa, as produções caseiras e industriais. 


Após a morte da viúva de Crispiniano Tavares, se extinguiu o período de esplendor de uma época com requintes, o gosto por hábitos nobres e o modismo da Corte. 


A Quinta continuou a ser administrada por seu proprietário Jesuíno de Paulo Felicíssimo, que aproveitou os recursos das fontes d’água, dinamizando o abastecimento de água na cidade, construindo tanques e caixas d’água em níveis que permitam o abastecimento em bairros distantes. Depois a Prefeitura montou seu serviço de água e não quis aproveitar a tubulação de ferro. Consequentemente, Jesuíno arrancou-a e a vendeu em São Paulo. 


Em 1936, Jesuíno faleceu na cidade de São Paulo. 



Assumiu a direção da Quinta, José Crispiniano Pupo Felicíssimo, conhecido popularmente como “Bacuri”. Este apelido ganhara quando era jogador de futebol. Fez demolir o engenho, a fábrica de vinho, a casa de farinha; perderam-se as videiras e um dos bosques naturais desapareceu. Os loteamentos idealizados por Crispiniano Tavares, no Alto da Boa Vista, se intensificaram, entre pastos, capinzal, bosque e área cultivada. 

Com o falecimento de “Bacuri” os herdeiros da chácara transfere o imóvel para dois dos dez irmãos de Felicíssimo. Um deles foi Jesuíno Felicíssimo Júnior, geólogo, ex-presidente do Instituto de Geologia de São Paulo, autor de obras importantes. 


Depois a chácara foi vendida para José Elias que faleceu no ano de 2002 e atualmente os herdeiros são os proprietários. 



OS ANTIGOS VINHEDOS DE UBERABA 



Segundo Hildebrando Pontes, Uberaba foi um centro viticultor bastante adiantado. 



Inicialmente, as vinhas foram cultivadas na antiga vila de Desemboque, onde cultivou a casta “Izabel”. 



Em 1828 ou 1830 o padre Zeferino Batista plantou em sua chácara as primeiras mudas de vinha cuja sede ficava na antiga Rua do Comércio – atual Rua Arthur Machado, João Pinheiro, Praça da República – atual Praça Afonso Pena, Estação da Mogiana e Quinta da Boa Esperança. Foram fabricados milhares de litros de vinho tinto, do qual algumas garrafas foram levadas à Corte Imperial, onde era muito apreciado. 


Posteriormente, o capitão Thomaz José de Miranda Porto e, depois, sua viúva Sebastiana Maria do Espírito Santo, cultivaram vinhedos na Rua Major Estáquio. 


Também era cultivada pelo alferes Marinho da Silva Oliveira na chácara Marinhão, depois Dore, e finalmente, Manteiga. 



Em 1877, era raro o quintal em Uberaba em que não houvesse um plantio de vinhedos. 


O major Joaquim José de Souza Maurício transferiu-se para Uberaba e iniciou o seu vinhedo na Rua Direita, hoje Rua Vigário Silva, e industrialmente iniciou a fabricação de vinho e fornecimento das frutas aos vinicultores que produziam superior vinho comparado ao nacional. 


Um fato interessante ocorreu em 1895, quando um inseto, ophilloxera vastatrix acometeu as paineiras e só foi exterminado após destruir as vinheiras de fraca resistência, só salvando as parreiras da espécie Isabel, mais resistentes a philloxera. Após isso, muitos viticultores desanimaram e abandonaram por completo esse lucrativo ramo da agricultura. 


Pesquisa e texto: 

Marta Zednik Casanova 

Superintendente do Arquivo Público de Uberaba 




BIBLIOGRAFIA 


ALMANAQUE UBERABENSE. Uberaba, 1903. Livraria século XX, Uberaba, organização: Diocléciano Vieira e Arédio de Sousa. 

ALMANAQUE UBERABENSE. Uberaba, 1904. Livraria século XX, Uberaba, organização: Diocléciano Vieira e Arédio de Sousa. 

JORNAL LAVOURA E COMÉRCIO. Uberaba, 07/03/1985, p. 5. 

JORNAL LAVOURA E COMÉRCIO. Uberaba, 08/03/1985, p. 5. 

PONTES, Hildebrando. Manuscritos. Departamento Privado. Arquivo Público de Uberaba. Pasta nº- 101. 

PONTES, Hildebrando. História de Uberaba e a Civilização no Brasil Central. Academia de Letras do Triângulo Mineiro, 1970. 


[1] Almanaque Uberabense. 1904, p.171.