quarta-feira, 12 de julho de 2017

Correios de Uberaba

                                                                                             

             Correio Geral de Uberaba - Década de 1930              
   Correio Geral de Uberaba, localizava-se na rua Manoel Borges, antiga Farmácia São Sebastião, com algumas pessoas na fachada da frente do prédio.    

 (Arquivo Público de Uberaba)                                                                 
                         

Bloco Carnavalesco – Os Lampeões

Bloco Carnavalesco – Os Lampeões - Data: 1949
Bloco Carnavalesco – Os Lampeões na sede do Independente Atlético Clube, à rua Padre Zeferino esquina com a rua Martins Francisco, bairro Estados Unidos. Terceiro agachado: Domingos Gomes dos Santos, diretor social do Clube.

 (Arquivo Público de Uberaba) 

Banco Hypotecario de Uberaba

Banco Hypotecario 

   Banco Hypotecario de Uberaba, localizado a rua Artur Machado. Foi fundado em 1858 e demolido na década de 1960.

(Arquivo Público de Uberaba)

Banda do 4º Batalhão da Polícia Militar

Banda do 4º Batalhão da Polícia Militar - Data - 24 de julho de 1952
Foto:Akira
Banda do 4º Batalhão aguardando a chegada do Governador do Estado de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, na praça Santa Terezinha no bairro Fabrício. A Banda estava sob a regência do Sub-Tenente Mestre Júlio Martins Teixeira.    
   

(Arquivo Público de Uberaba)

Grupo Escolar Uberaba

Grupo Escolar Uberaba
Década de 1950

Fotógrafo: Prieto

  Grupo Escolar Uberaba, localizado na praça Estevão Pucci, bairro Fabrício. Inaugurado em 1946 e atualmente é denominada Escola Municipal Uberaba. 

(Arquivo Público de Uberaba) 

Devotos d’Abadia veneram imagem de Nossa S. Auxiliadora



Desde 1881 em Uberaba


* Luiz Alberto Molinar


A história de Nossa Senhora da Abadia se iniciou no ano de 883, em Braga (Portugal). Abadia é uma palavra originária de abade, a principal autoridade de comunidade de monges, e significa grupo religioso ou moradia de padres. No Brasil, a devoção à santa chegou por meio de portugueses e começou em 1750 no distrito de Muquém, de Niquelândia (GO).

Nos municípios de Uberaba e Romaria se realizaram as principais festas à Abadia no Triângulo Mineiro, onde é considerada a padroeira, com feriados nas duas principais cidades: Uberlândia e Uberaba. Além de Goiás e Minas, a santa é festejada, principalmente, em Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.

O santuário de Nossa Senhora da Abadia, de Uberaba, se iniciou em maio de 1881, com o capitão Eduardo José de Alvarenga Formiga, após participar de uma missa na então igreja de Santo Antônio e São Sebastião, depois denominada Adoração Perpétua, na pç. Dom Eduardo, Mercês.

Em conversa com amigo, o major Ananias Ferreira de Andrade disse-lhe do seu desejo de construir uma capela dedicada à Nossa Senhora d’Abadia, no bairro então denominado Alto da Misericórdia, que era conhecido assim por abrigar hospital com esse nome na pç. Tomaz Ulhoa, e que integra, atualmente, o complexo de saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Cerca de vinte anos depois, com o crescimento da popularidade da santa, o bairro passou a levar o seu nome.

Ainda em 1881, a Câmara Municipal concedeu ao capitão Formiga a licença para erguer a capela. Ele mesmo ficou encarregado das obras. Quatro dias depois o cônego Santos celebrou, no local da futura igreja, uma missa após a qual foi bento e levantado um cruzeiro para marcar o lugar da construção. No ano seguinte, em 15 de agosto, realizou-se a primeira festa de Nossa Senhora d’Abadia e benzida a imagem da santa que se tornaria a padroeira da cidade.

A capela precisava de água para as obras. Foi então furada uma cisterna, ao lado do cruzeiro, e a água jorrou com fartura. Houve até mesmo quem a considerasse milagrosa por seu líquido curar enfermidades. No entanto, espalhou-se que um indivíduo portador de doença venérea, numa madrugada, tomou banho no poço. Daquela data em diante a água secou e logo depois o reservatório foi aterrado.

Mantida pelo capitão Formiga, a igrejinha ficou pronta. Considerava-se dono do templo, não prestava contas a ninguém de sua administração. Após reclamações, suspeitas e denúncias, o bispo interditou a igreja. Com isto, Formiga trancou o santuário e levou consigo as chaves e a imagem da santa. Em sua casa fazia novenas, rezas e organizava procissões. Depois de disputa judicial, em sentença favorável à Cúria Diocesana, o capitão foi notificado a devolver os objetos retirados da capela.

Fieis d’Abadia em Uberaba vereram N. S. Auxiliadora

Segundo o memorialista e teólogo paulistano e residente em Uberaba desde a década de 1950, Carlos Pedroso, em seu livro intitulado “Padroeira Principal, Tratando da Devoção e da História de Nossa Senhora da Abadia”, a imagem da santa na igreja de Uberaba é de Nossa Senhora Auxiliadora. A diferença foi reconhecida por fiéis que frequentavam o santuário de Romaria, a 130km de Uberaba. Entretanto, devotos locais decidiram manter Auxiliadora em sua igreja. Haviam acostumado com ela...

O motivo da confusão se deu a partir da ida de uma comissão de devotos que foi a São Paulo (SP) para adquirir, na virada dos séculos 19 para 20, a estátua para adornar o altar da igreja. Numa livraria de padres salesianos, a réplica da santa Abadia não foi encontrada. O atendente sugeriu ao grupo que levasse a representação de Auxiliadora por ter, também, manto azul e crianças. A diferença é que enquanto a Abadia tem três crianças na base e uma no colo, a outra possuiu apenas uma no colo.

Padres passam a administrar a igreja

Em 1899, padres da ordem religiosa portuguesa de Santo Agostinho, que chegavam ao Brasil oriundos das Filipinas, assumiram a paróquia e imediatamente começaram a construir uma igreja ao lado da capela. Próximo dali ergueu-se uma casa que serviria de morada para os sacerdotes.
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Os agostinianos, anos depois, se retiraram da Diocese de Uberaba e o santuário passou ao cônego César Borges. Em 1921, o bispo dom Eduardo Duarte e Silva, nascido em Florianópolis (SC) e procedente da diocese de Goiás Velho, criou a Paróquia de Nossa Senhora d’Abadia, desmembrando-a da Freguesia de Santo Antônio e São Sebastião, que coordenava a ação da igreja no município.
Posteriormente, o bispo, transferido de São Paulo (SP), frei capuchinho Luís Maria de Santana, italiano de Verona, entregou a paróquia à Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo, ordem religiosa originária da Itália. Procedentes de Rio Claro (SP), os padres Albino Sella, estadunidense, e João Consolaro e o irmão Pedro Bianconi fundaram em Uberaba a nova comunidade dos estigmatinos e assumiram a paróquia d’Abadia, que contava então com 15 mil fieis.

Imagem da torre tem 4,4m e sino de tem 800kg

Os projetos da torre e da nova fachada da igreja estavam concluídos em 1937. O padre José Tondin administrava a obra em 1939, quando o sino maior, com 800kg e confeccionado pela paulistana Casa Angeli, chegou a Uberaba. Porém, somente em 1941 suas badaladas ressoaram pelo bairro.

A imagem d’Abadia instalada acima da torre da igreja, com 4,4m e dividida em três partes, foi inaugurada em 1940 sob o comando do novo bispo, dom Alexandre Gonçalves do Amaral, que assumira o posto há quatro meses. Os anjos da fachada do templo, esculpidos em São Paulo, no entanto, foram instalados em 1945, juntamente com as imagens de São Pedro e de São Paulo, produzidas em Campinas (SP), e colocadas no frontispício do templo.

Iniciou-se em 1946 a construção da abóboda, coordenada pelo padre João Missoni, que se transferiu em seguida para a cidade de Magda (SP). Dois anos depois a cobertura da nave central era revestida com telhas modelo francesa. Dom Alexandre desentendeu-se com a prefeitura e a festa da padroeira não se realizou em 1948. Em protesto, a igreja permaneceu fechada durante os dias destinados à festa e reabriu somente no dia 22 de agosto.

O padre italiano Ângelo Pozzani passou a administrar a paróquia a partir de 1949. Estavam terminados, em 1954, o revestimento interno, as molduras dos arcos, os capitéis - ornamento de gesso no alto das colunas - e suas bases cobertas com granito preto. A pintura da cúpula foi concluída após três anos e o altar-mor inaugurado.

Entre 1968 e 1969 assentou-se o piso de cerâmica, foram realizados acabamentos de mármore e de granito no presbitério, fixou-se os vitrais e cobriu-se as naves laterais. Montaram-se também as três portas da fachada e o altar, trabalho realizado pelo artista Ammeletto Belloni, de Ribeirão Preto (SP).
Dois sinos eletrônicos passaram a integrar o carrilhão da igreja em 1975: um com 380kg e o outro de 240kg, que se juntaram ao antigo de meia tonelada. Os novos foram fabricados pela paulistana Fundição Crespi. A partir de 1977 o santuário passou a contar com um órgão eletrônico.

O padre Vicente Ruy Marot promoveu durante sua gestão, entre 1994 e 2001, a remodelação do santuário que incluiu a colocação de cruz pendente sobre o altar da imagem da padroeira e, em outro, a de São Gaspar Bertoni. A instalação de grandes lustres no vão central da igreja constituiu-se na inovação mais importante, além de pinturas artísticas imitando mármore e granito nas colunas e paredes no entorno, conforme projetos do arquiteto Demilton Dib.

A virada do milênio foi comemorada com a inauguração do quarto sino. Vitrais reformados, bancos de madeira substituídos, remodelação da entrada do santuário e grades para segurança foram afixadas à frente da igreja. Com o galpão para abrigar a festa da padroeira e eventos, ao lado do templo, padre Marot encerrou suas ações na direção da paróquia.

Embora Nossa Senhora d’Abadia fosse conhecida como padroeira de Uberaba desde o início do século 20, inclusive sua data comemorada com feriado municipal, oficialmente somente em 14 de agosto de 2007 que a lei 10.196 a reconheceu como patrona.  

Fontes: santuarioabadia.com.br e Wikipédia

*Luiz Alberto Molinar é jornalista e coautor da biografia www.luciliarosavermelha.blogspot.com,da Editora Bertolucci.

Nossa Senhora d’Abadia de Romaria tem três crianças na base e uma no colo 
     Primeira igreja d’Abadia sem a torre e os anjos no frontispício, nos anos de 1920 
                                   

            O segundo santuário na década de 1960, com a imagem de 4,4m na torre


Nossa S. Auxiliadora no santuário de Uberaba, com apenas uma criança no colo             

terça-feira, 11 de julho de 2017

APARECIDA CONCEIÇÃO FERREIRA – “DONA APARECIDA DO HOSPITAL DO FOGO SELVAGEM”

“Hospital do Fogo Selvagem”

A cidade de Uberaba, além de sua beleza e prosperidade, abriga, em seu seio, importantes personagens do movimento espírita brasileiro. Uma delas, que trabalhou ao lado de Chico Xavier, é Dona Aparecida Conceição Ferreira, que se projetou nacionalmente pela
Fundação do “Hospital do Fogo Selvagem”, especializado no tratamento dos portadores do “Pênfigo Foliáceo”, uma doença cujos sintomas se assemelham a labaredas que percorrem o corpo e deixam na pele verdadeiras marcas de queimadura.

“Dona Cida” começou esse trabalho no ano de 1957, quando trabalhava como enfermeira no Isolamento da Santa Casa de Uberaba. Como o tratamento do Pênfigo era difícil e dispendioso, o hospital acabou por suprimi-lo. A abnegada servidora de Jesus não titubeou: levou os doentes para a sua própria casa.

Pedindo esmolas nas vias públicas e recorrendo aos meios de comunicação, sobretudo com a ajuda dos jornalistas Moacir Jorge e Saulo Gomes, este, através da extinta TV Tupi, e contando com o irrestrito apoio de Chico Xavier, Dona Cida ergueu o grande complexo hospitalar destinado ao tratamento da insidiosa enfermidade.

Depois, com a alteração dos estatutos surgiu o “Lar da Caridade”, que chegou a abrigar mais de trezentos desamparados ao mesmo tempo.

Embora conhecesse Chico Xavier, e dele recebesse ajuda desde o início, tornou-se espírita somente em 1964. Foi o Chico quem a incentivou a fundar o Centro Espírita “Deus e Caridade”, onde ele comparecia para transmitir passes e receber mensagens psicografadas, grande parte delas assinadas por Maria Dolores e Jesus Gonçalves.

Em visita à abençoada seareira, agraciada com o título de Cidadã Uberabense por seus méritos, a “Folha Espírita” dela obteve longa entrevista, da qual destaca alguns lances de sua maravilhosa existência.

As origens: “De acordo com os assentamentos nasci em Igarapava, Estado de São Paulo, filha de Maria Abadia de Almeida, às 4 horas da manhã, no dia 19 de maio de 1917. Meus avós maternos foram Manoel Inocêncio Ferreira e Joaquina Angélica de Jesus. Pelos registros tenho a idade de 82 anos, mas acredito que tenha 86. Nunca vi meu pai e fui criada por avô e tio. Casei-me em Igarapava, no dia 14 de junho de 1934, com Clarimundo Emídio Martins. Lá fiquei até a idade de 36 anos, onde tive meus cinco filhos. De Igarapava fui para Nova Ponte, onde exerci o magistério na zona rural.”
Em Uberaba: “De Nova Ponte, vim para Uberaba, onde fiz de tudo para manter minha família. Até limpeza de cisternas, porque quando cheguei na chácara onde fui morar não havia o que comer. Então, saía limpando cisternas. Eu descia no fundo dos poços, e eles puxavam o barro. Depois, me dediquei à horta. Os médicos da Beneficência Portuguesa vinham comprar as verduras e com isso não precisava sair vendendo.”

Enfermeira: “O dono da chácara foi candidato a Prefeito e perdeu a eleição. Dizia ele que gostava do meu trabalho, mas não daqueles que vinham à minha casa. Verdade seja dita, eu não trabalhei na campanha dele. E eu lhe falava: “Quem vem na minha casa é melhor que eu”, e procurei um jeito de sair de lá. Foi uma cabeçada, sofri bastante. Certo dia, o Dr. Jorge me convidou para trabalhar no hospital. Relutei muito, porque o quadro que eu presenciei no Isolamento era terrível: doentes com tuberculose, tétano, febre amarela… Mas acabei aceitando porque a oferta ia subindo, subindo… Afinal, me oferecerem três mil e trezentos, enquanto meu marido ganhava cento e oitenta.”

Problemas: “Eu trabalhava no hospital havia dois anos e alguns meses. Venceu o mandato daquela diretoria, e entrou outra. A eleição foi dia 4, e dia 6 eles tomaram posse. Os novos diretores parece que tinham alguma rixa com nosso médico, que era irmão do Pedro Aleixo e partidário da UDN. A turma que ganhou era do PTB. Falaram para mim: “Olha, hoje não tem almoço para os doentes, pode mandar todos pra casa”. “Como?” , eu disse, “eles não têm dinheiro, estão ruins.” “Ordem dada, ordem executada”, replicaram. Ou seja, não havia apelação, os doentes estavam na rua.”

Em busca de socorro: “Eu procurava consolar os doentes dizendo-lhes: “Não chorem, não, nós vamos fazer uma passeata e o povo vai nos ajudar” . Fui a uma rádio pediram-me para “refrescar a cabeça”, noutra, a mesma coisa, no jornal, igual. Eu não sabia que estava brigando com a nata da cidade: Prefeito, Escola de Medicina, Saúde Pública. Me mandaram pra casa e fui muito triste, nervosa, matutando como fazer. Eram doze doentes. Fomos para minha casa.”

Momento de decisão: “Em casa, um de meus filhos me disse: “A senhora escolhe, ou nós ou os doentes”. Não vacilei e respondi: “Hoje, fico com os doentes, porque eles têm Deus e eu por eles, vocês estão crescidos e vão se virar”. Chamei todos eles para dentro, e entraram chorando. E aí os vizinhos me davam um caixote; o outro, um colchão; outro uma tábua; e eu agasalhei os doze. Fui fazer o almoço, eram três ou quatro horas da tarde. A gente estava só com o café da manhã. Enquanto fazia comida, gritava para minhas filhas esquentarem água para eles tomarem banho na lata de querosene e assim permanecemos ali por dois dias.”

Asilo São Vicente de Paulo: “No fim de dois dias, chegaram os diretores da Escola de Medicina e da Saúde Pública para ver as condições, que eram precárias. E aí arrumaram o Asilo São Vicente de Paulo, para que ficássemos dez dias porque, no final de dez dias, como prometiam, iriam arrumar alguma coisa melhor. Foram dez anos, nunca mais vi eles. Foi o tempo que eu levei para construir isso aqui, com a graça de Deus e a ajuda do povo.”

Preconceitos: “Havia muito preconceito para com os doentes. Eu saía para pedir esmolas com três deles. Muita gente nos via e descia da calçada. Eu falava: “Não saiam não, porque se vocês saírem, apanham”. Se nós entrávamos nos ônibus, o pessoal descia. Fomos pedir em uma casa daqui, cuja dona se dizia espírita e os meninos tocaram no portão. Antes que subíssemos, ela mandou passar álcool no portão para desinfetar. A doença do pênfigo é triste, é horrorosa, o doente na primeira fase é um pedaço de carne podre. E o povo tinha medo, porque ninguém conhecia, nós vencemos. Para fazer esta casa aqui foi uma luta, tantos foram os abaixo-assinados para que não fosse feita…”

Oito dias no xadrez: “Aqui não tem um grão de areia dado pela Prefeitura, nem pelo Estado ou a União. Foi o povo quem me ajudou. O pessoal espírita daqui fazia a campanha “Auta de Souza” e traziam as coisas para mim. Mas não dava para manter a casa, porque no final de um mês eu tinha trinta e cinco doentes. Fui para São Paulo e ficava no Viaduto do Chá, em frente da Light. Punha um lençol, as meninas segurando, e eu com um sino dizia: “Me dêem uma esmola pelo amor de Deus, para os doentes do Fogo Selvagem de Uberaba”. E aí o povo ia jogando níqueis. Na época, foram dois vereadores daqui passear em São Paulo: um advogado e um médico. Achando que eu estava desmoralizando Uberaba, fizeram Ofícios para o Chateaubriand (*) e para a Delegacia. Fiquei oito dias no xadrez, até que uma advogada, Doutora Izolda, me tirou. Quem mandou ela me tirar, não sei até hoje, pois ela já morreu.”

No Palácio dos Campos Elíseos com Scheilla: “Um dia, eu e o Lauro (*) estávamos andando na Avenida Rio Branco, nos Campos Elíseos, e eu o convidei para entrar. Atônito, ele disse: “Você está doida, nós estamos sujos, fedendo a suor, entrar aí no palácio do governador?”. Mostrei as fotos dos doentes ao policial da portaria, ele ficou muito revoltado e me mandou segui-lo. … Passamos por saguões, escadas e tapetes vermelhos. Dona Leonor (*) estava conversando com um senhor. Em outra poltrona, estava sentado Don Evaristo e na terceira, nós. Ela acabou de conversar com os dois, e chegou nossa vez. Quando ela ia fazer menção de se sentar eu disse: “A Scheilla quebrou um vidro de perfume”. Entre nós e a Dona Leonor ficou igual neblina e aquele perfume sufocando. Precisamos procurar ar. Quando melhorou, ela perguntou o que queríamos e lhe disse que pedia ajuda para o Hospital do Pênfigo. Ela disse: “Eu não posso ajudar, porque a senhora mora em Minas, e eu sou de São Paulo”. Mas acabou me dando uma máquina de costura, duas peças de cretone e dez contos. Mas fiquei pensando: “O Chico não está aqui, como é que veio aquele perfume?”

O primeiro passe: “No mesmo dia em que estivemos com Dona Leonor, à noite, eu e o Lauro fomos a um Centro Espírita, uma casa velha, com muita gente. Logo que começou, o presidente da mesa falou: “A pessoa do fogo selvagem que estiver aí faça o favor de se dirigir à mesa”. Não fui. Quando acabaram os trabalhos, todos foram saindo, menos aqueles da mesa. O presidente tornou a falar sobre a pessoa do “Fogo Selvagem”. Eu me apresentei, e ele pediu-me desculpas porque não sabia quem eu era e falou que o “Mentor da Casa” tinha dito que era para eu dar um passe na Presidente do Centro, que já fazia três meses estava entrevada. Eu nunca tinha dado passe, mas agüentei firme. Subimos aquela escada de madeira em caracol e lá chegamos. Ela se chamava Mafalda, uma portuguesa. Estava sob um cortinado “chic”, a turma rodeou a cama dela, e me puseram frente-a-frente. Eu iniciei a oração, senti algo estranho e pensei: “Nossa Senhora, agora vai sair bobagens aqui”. Dei o passe e fomos embora. Dizem que em três dias ela andou. Aí, eu falei: “Preciso ser Espírita, porque a coisa está me apertando. A comida, ganhamos do povo espírita, agora a Scheilla me deu essa permissão, esse passe”. Dona Mafalda me ajudou muito, fazia bingos, rifas, jantares, até quando morreu de câncer.”

Chico Xavier: “Tantos e tantos foram os episódios interessantes que pude vivenciar com Chico Xavier. Certa vez, eu estava fazendo campanha em São Paulo, a situação estava difícil, e aquele dia não estava bom para pedir esmolas. Estava na Avenida Paulista, em frente da Televisão, amargurada, fazendo minha oração, triste, porque não estava rendendo nada. De repente, eu olho e vejo o Chico na outra calçada. Até que eu procurasse um lugar para passar e ir de encontro com o Chico, cadê o Chico? Que Chico, nada… Mas, daquela hora em diante, as coisas melhoraram para mim, desci a Brigadeiro e fui para o Anhangabaú, e ali a mina nasceu…

Meu primeiro encontro com o Chico foi quando eu tinha uma doente muito obsediada; na época, eu dizia que ela estava doida. Fazia quinze dias que ela não dormia e nem deixava ninguém dormir. O Chico tinha acabado de chegar aqui. Um acadêmico de Medicina, Aldroaldo, me convidou para levar a doente ao Chico. Eu disse: “Sou católica, não queria ser espírita, porque tinha comigo que para servir a Deus não precisava mudar de seita, em qualquer delas se pode servir”. Então, o Aldroaldo apareceu com uma “chimbica” junto com outro estudante. A doente queria saltar pela janela, a colocamos no meio. Chegamos lá no Chico, o quarto era pequeno e estava repleto de gente. O Chico estava de pé, escrevendo. Mas eu não vi o Chico, eu vi o Castro Alves. Nem me lembrei que Castro Alves tinha morrido. Falei: “Que Chico, que nada, é Castro Alves, com cabelo à ” la garçon”, grisalho”. Por fim, eu disse: “Vamos embora, vamos embora”. Na volta, a doente veio moderada, entrou dentro do carro sozinha e dormiu a noite toda…”

O Espiritismo: “Eu detestava o Espiritismo. Só a partir de 1964 é que me aproximei do Espiritismo, quando estava fazendo a campanha de tijolos para esta casa. Como já disse, fiquei pensando, não é possível, o povo faz campanhas de mantimentos e os trazem para mim, o povo me agrada, me dão dinheiro, a Scheilla me aparece em São Paulo. Naquela noite, eu não dormi, matutando: “Eu vou lá na mulher, nunca tinha dado passe na vida, me mandam dar passe, só virando espírita”. E o Espiritismo não é brincadeira, é coisa muito séria, não se pode brincar com o Espiritismo. Às vezes, você vai em um Centro pensando que vai levar e você volta carregada. Eu não brinco”.

Uma mensagem aos Espíritas: “Aos que buscam desenvolver algum trabalho, a minha mensagem é de que tenham muito amor, muita sinceridade e que façam as coisas para si e não para os outros verem. Porque a maioria faz as coisas para os outros verem. E não importa o que os outros falam, porque todas as pessoas que vão fazer a caridade levam o título de “ladrona”. Meu título era de ladrona. Alguém foi perguntar para o Chico, porque todos diziam que eu estava roubando. Porque quando eu comprava um terreno, diziam: “Comprou mais um terreno para o filho”. Comprava outro, era a mesma coisa. Então, o Chico disse àqueles que foram lhe falar: “Me digam onde ela roubou, que eu vou ajudar ela a roubar”. A partir daí, o povo foi parando de falar que eu roubava.”


PUBLICADA NA FOLHA ESPÍRITA, SÃO PAULO, SETEMBRO/99.

Entrevista por Ismael Gobi

Foto: João Eurípedes Araújo      

CASARÃO FOI A PRIMEIRA SEDE DA FUNDAÇÃO CULTURAL DE UBERABA

O quadro é da pintora angolana Filipa Simão
         *Luiz Alberto Molinar

Década de 1980

O quadro é da pintora angolana Filipa Simão, radicada em Uberaba desde o início dos anos 80. A obra pertence ao acervo da Fundação Cultural. Esta casa é tombada como patrimônio histórico de Uberaba, e localiza-se na esquina das ruas Segismundo Mendes e Lauro Borges, em frente à igreja São Domingos, bairro Estados Unidos - Uberaba -Minas Gerais

 *Luiz Alberto Molinar é jornalista e coautor da biografia Lucilia – Rosa Vermelha.     

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segunda-feira, 10 de julho de 2017

GODOFREDO SANTOS


         Godofredo Santos 
        

Nasceu em 21/10/1903 em Uberaba, filho de José dos Santos, guarda-livros (contador) e Altina Lucas dos Santos (do lar); teve como irmãs Maria José dos Santos (professora), Julieta Lucas dos Santos, Maria de Lourdes Santos Del Papa e Altina Santos Martinelli.

Ainda criança, o quarto ano primário concluído no Grupo Escolar Brasil, foi levado por uma tia para trabalhar, como “vassoura” (office boy) e aprender ofício, na Empresa Gráfica Século XX, em Uberaba, onde se interessou e desenvolveu habilidades específicas na área gráfica. Trabalhou na empresa do Jornal Lavoura e Comércio, de Quintilhano Jardim, criativo e habilidoso recebeu, em certa ocasião, reconhecimento: “A arte de Gutenberg não tem segredos para Godofredo Santos”.
Na juventude, motivado pelo ídolo futebolístico da época, Arthur Friedenreich, Godofredo dedicou seus tempos de folgas jogando futebol; de estatura mediana se valia de forte impulsão para as disputas de bolas altas.

Na busca de novos conhecimentos e oportunidades relativos ao trabalho gráfico, tinha como propósito transferir-se para São Paulo Capital; permaneceu, entretanto, em Ribeirão Preto integrando-se, à época, às Indústrias Gráficas Barilari; em 1930 decidiu retornar a Uberaba, instalando-se em pequena área, na entrada do prédio recém-construído por Gabriel Totti, na Rua Arthur Machado nº 113. Instalou uma máquina de impressão manual e algumas fontes de tipo, iniciando seu trabalho por conta própria. Transferiu-se, para espaço maior, ainda no prédio de Gabriel Totti, edifício arrojado para época, três pavimentos, térreo, pavimento superior e subsolo, paredes grossas de alvenaria e pisos estruturados com assoalho sobre vigas de madeira e forro falso, também em madeira. Permaneceu por décadas com a Papelaria, a Tipografia e a Fábrica de Carimbos.

Neste cenário e tendo por vizinhos, de um lado, Italo de Biagi (fábrica de botas, botinas, chuteiras) e do outro, Alfaiataria Parreira; em frente Sapataria Molinar, Ourivesaria Aprile, Bar da Viúva (Vásques), Alfaiataria Caldas, Tecidos Piva, Fotos Zuza, deu início a nova fase da edição do jornal O SORRISO, de 1930 a 1933, com participação de redatores e colaboradores intelectuais: Alceu de Souza Novaes (A. Luce), Egydio Fantato, Quirino Pucci, Solon Fernandes, Gabriel Totti, José Tiradentes de Lima, Odilon Paes de Almeida, Sebastião Guimarães, Lucio Azevedo, Paulo Bandeira de Mello, José Vicente de Souza Netto (redator esportivo) e outros. Na sequência editou O JORNAL, de 1933 a 1938 e o UBERABA-JORNAL, de 1938 a 1944, fechando um período de 14 anos de edições semanais, no mesmo endereço onde continuou trabalhando com serviços gráficos por mais 25 anos.
Godofredo Santos foi casado com Ordália da Costa Magalhães Santos, tiveram quatro filhos: Leila Magalhães Santos (professora – funcionária pública, aposentada em Brasília-DF), Ayrton Magalhães Santos (arquiteto em Brasília-DF), Adilson Magalhães Santos (aposentado) e Lenita Magalhães Santos (professora, funcionária pública, aposentada em Brasília-DF); faleceu em Uberaba em 14 de Agosto de l986, com 83 anos.

Fonte: Arquivo Público de Uberaba                       

Jorge Henrique Prata Soares

Pratinha e Molinar

     APRECIAVA MÚSICA E CULTURA. ASSIM, PIONEIRO PROMOVEU E ORGANIZOU O CHAPADÃO EM 1966, ANTES DOS FESTIVAIS DA TV RECORD.

JORNALISMO FOI SUA PROFISSÃO. TEVE SEU JORNAL, O "UAI", QUE CIRCULOU NOS ÔNIBUS, NO MEIO DA MASSA, FALANDO SUA LÍNGUA. FOI CANDIDATO A VEREADOR E DIRIGENTE SINDICAL. SEMPRE À ESQUERDA. MAS, SEU PRAZER ERA SER BUTEQUEIRO. TEVE TRÊS BARES NOS QUAIS SERVIA CULTURA À LA CARTE.

DESCOBRIU-SE PESQUISADOR E ESCRITOR AO REVELAR AS IMAGENS E A IMPORTÂNCIA HISTÓRICA PARA O BRASIL CENTRAL, DO SÉCULO 19, DE SEU BISAVÔ MATERNO, O FOTÓGRAFO JUCA SEVERINO.

CURTIA A UBERABA DOS FESTIVAIS DE MÚSICA E OS AMIGOS, MAS FOI VIVER SEUS ÚLTIMOS TEMPOS EM UBERLÂNDIA. DESCOBRIU AOS 56 ANOS SUA APTIDÃO, SEU TALENTO: JARDINAGEM. AMANTE E ESTUDIOSO DAS FLORES, DO VERDE, DA NATUREZA. REFUGIADO, SEMEOU SEU PARAÍSO NO CONDOMÍNIO DE CHÁCARAS MANSÕES AEROPORTO.

NO SEU ÚLTIMO DIA, SUAS CRIAS, EXIBINDO INÚMERAS CORES, VITALIDADE E A DOÇURA DAS FRUTAS, AGRADECIAM AO JARDINEIRO FIEL A DEDICAÇÃO AMOROSA ADUBADA E CULTIVADA SOB SOL ESCALDANTE, DIARIAMENTE, NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS. AS CACHORRAS COMPANHEIRAS, ARATI E BELA, NÃO MAIS OUVIRAM AS BRONCAS. SENTIRAM E CELEBRARAM EM SILÊNCIO A AUSÊNCIA DO AMIGO FIEL.



12 de dezembro de 2010



OBS: As cachorras morreram logo depois...



Jornalista Luiz Alberto Molinar

Outras igrejas, abandono e urbanização levaram à derrubada da Igreja do Rosário



83 anos – 1841-1927

*Luiz Alberto Molinar

            Escadaria de acesso à Igreja do Rosário, fundada em 1841 e derrubada em 1924       
      
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Uberaba foi derrubada, em 1924, por não haver manutenção por parte da Cúria Metropolitana. Estava em ruínas. Uma restauração seria dispendiosa. A demolição ocorreu a pedido do então agente executivo (prefeito à época),o progressista Leopoldino de Oliveira (Coligação Uberabense), também deputado federal no período. Nos últimos anos de sua existência, se realizava na igreja somente a comemoração do Dia da Abolição, o 13 de Maio, relatou o memorialista e religioso católico Carlos Pedroso.

Era usual, durante o Império, ao se iniciar um vilarejo a construção de duas igrejas: uma para brancos e outra para negros. Portanto, a principal foi erguida no Largo da Matriz, a pç. Rui Barbosa na atualidade, onde surgiu o primeiro povoamento do lugar e se concentrou comércio, prestadores de serviço e moradias.

As ruas Coronel Manoel Borges e Vigário Silva, que eram a mesma via e conhecidas como rua Grande por se iniciarem próximo da av. Deputado Marcus Cherém e ir até a av. Alexandre Barbosa. A r. do Commercio, hoje Artur Machado, existia, por volta de 1880, até seu terceiro quarteirão. Dali em diante era deserto.

A “Igreja dos Pretos” localizava-se três quadras à frente em área afastada do burburinho da vila. Sua construção realizou-se com mão-de-obra escrava, como era comum em relação aos santuários de devoção de negros, aberta em 1841. Era no Alto do Rosário, agora bairro Estados Unidos, no Largo do Rosário, atualmente av. Presidente Vargas, no meio do morro, com sua frente direcionada para o então final da r. do Commercio.

                             Foto do final do século 19, do alto do Morro da Onça, autoria de José Severino Soares                                

Santa Rita, São Domingos e Mogiana “ajudaram” a derrubar Rosário

Com o surgimento da Igreja Santa Rita em 1854, a três quarteirões da do Rosário, e da São Domingos 50 anos depois, a duas quadras, o santuário do povo negro foi perdendo frequentadores. Por isso, a Cúria deixou de mantê-lo, provocando sua decadência.

O início da operação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em Uberaba a partir de 1889, com a estação instalada no alto da r. do Commercio, provocou a urbanização no entorno da Igreja do Rosário, que se encontrava em ruínas. Consequentemente, o então “prefeito” Leopoldino de Oliveira se viu obrigado a propor a demolição do templo. A via, portanto, passou a ter passeios largos. Em meados do século 20, uma ilha foi construída com jardim e palmeiras imperiais. Desde 2006 há no local monumento de reverência a Zumbi dos Palmares, importante líder negro abolicionista.

Imigrantes sírios e libaneses ajudaram a erguer a Igreja São Benedito

As comunidades síria e libanesa, nos anos 1930 e 1940, concentravam suas atividades comerciais no bairro Estados Unidos, na r. Padre Zeferino, desde seu início até a r. Artur Machado. Era conhecida como a “Rua dos Turcos”.

Por utilizarem, praticamente, somente o idioma árabe, esses imigrantes se fecharam e havia dificuldade em se relacionar com a sociedade. Além disso, sírios e libaneses eram falados na cidade por moças: elas tinham medo deles. Diziam que presenteavam suas namoradas e esposas com joias caras, mas que batiam nelas, revelou o memorialista Pedroso.

Como forma de romper o isolamento, propuseram à Cúria Metropolitana ajudar a edificar a Igreja São Benedito, outro santo de devoção por povos de descendência africana. Seria uma forma de compensar a demolição da igreja do Rosário. A pç. da Bandeira, que depois denominou-se Dr. Jorge Frange, foi o local escolhido. A inauguração se deu em 1961, 34 anos após a derrubada da do Rosário. Nova basílica foi implantada no local em 1978, em formato circular, em substituição à primeira que tinha arquitetura tradicional.

O bairro, que passaria a levar o nome da igreja, já era reduto das duas nacionalidades e de seus descendentes. Até então a região era conhecida por Colina da Matriz. No local também estava instalada, na r. Major Eustáquio, desde 1927, a Sociedade Sírio Libanesa, que passaria, nos anos de 1990, a denominar-se Clube Sírio-libanês.


*Luiz Alberto Molinar é jornalista e coautor da biografia Lucilia – Rosa Vermelha.
  
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Lucília, 90 Anos de Memória

      Lucília Rosa

Lucília Rosa (Uberaba-MG, 1912-2011), filha de alfaiate anarquista, foi feminista e atuou no movimento popular desde os anos de 1930.

Filiou-se ao PCB aos 18 anos e elegeu-se aos 35 anos uma das 16 primeiras vereadoras de Minas, em 1947, no município de Campo Florido.

Exerceu as profissões de professora, costureira, faxineira e cozinheira. Em São Paulo, ajudou a cuidar, em 1962, dos filhos de Luiz Carlos Prestes, dirigente do PCB, e morou clandestinamente com Anita, filha de Prestes com Olga, de 1970 a 1972, nos anos duros da Ditadura Civil-Militar. A vida dela está registrada no livro Lucília - Rosa Vermelha, de autoria do jornalista Luiz Alberto Molinar e da historiadora Luciana Maluf.  
                                  

PONTE SOBRE O CÓRREGO DAS LAJES

                                                              Década de 1960/70  
                                                              

Foto: Autoria desconhecida

Ponte sobre Av.Leopoldino de Oliveira com a Rua Senador Pena - Uberaba - Minas Gerais

 Arquivo Público de Uberaba                     

PONTE SOBRE O CÓRREGO DAS LAJES

PONTE SOBRE O CÓRREGO DAS LAJES
Ponte sobre o (Córrego das Lajes), que é o principal córrego da cidade na Av. Leopoldino de Oliveira com a Rua Artur Machado.

Foto: Autoria desconhecida


 Arquivo Público de Uberaba

Córrego das lajes – Av. Leopoldino de Oliveira

Córrego das lajes – Av. Leopoldino de Oliveira
Década de 1930

Foto: Autoria desconhecida

Arquivo público de Uberaba

“CHOFERES DE PRAÇA ”

Praça Rui Barbosa

Hoje, eles tem uma alcunha pomposa: taxistas ou motoristas condutores de táxis… Na minha juventude, eram conhecidos como “choferes de praça”. Tinham pontos fixos; estacionavam nas principais praças e avenidas da cidade. Tinham “ponto” na Leopoldino, na Presidente Vargas, Rodoviária “velha”, praça do Grupo “Brasil” e Rui Barbosa. Excelentes e exemplares chefes de família, homens sérios e compenetrados de suas funções, gozavam de inteira confiança da sociedade uberabense. Nos anos 50, não tínhamos a profusão de carros que temos hoje.Na pressa ou “corrida” mais longe… vai de táxi. Córrego das Lajes à descoberto, pista em direção ao mercado e a outra vinda de lá, em demanda à rua senador Pena. Do lado direito, para a praça dos Correios, em frente a Farmácia do “Nico” e à banca de jornais do “seo”Ferraz, praticamente, dia e noite, estavam o Michel, seu irmão Alfredo, Ernesto Vilela, Euclides, Sebastião Lucas, os irmãos Onésio, Farnezi e Saul, Benedito, Filhinho, Sebastião Fonseca, Lamounier, Benedito Ferreira, Arnaldo, Benicio, Orlando e Agnelo. Muitos estão no plano superior, outros vivos e sãos, desfrutando os bons momentos de uma merecida aposentadoria.Do outro lado da avenida, outro “ponto” que deixou saudade: ficava ao lado da banca de jornais do “seo” Wilmondes Bastos, na esquina do “enjeitei” e avô dos nossos queridos Tharsis e Thales (Talinho) Bastos, o primeiro jornalista e empresário de sucesso em BH e o irmão, professor, compositor e músico consagrado. “Milionário”, Pedro Staciarini , José de Castro, João Borges e o filho Leopoldino, “Fazendeiro”, Joaquim Borges e “Barba Azul. Não existia taxímetro e a “corrida” combinada na hora, dependendo da cara do freguês…

Outros “pontos”, repito, tinham enorme tradição. Da praça Modelo (av.Presidente Vargas), era liderado pelo Benedito, da praça do “Grupo Brasil”, o “chefão” era o “Bené”(?). Na praça Jorge Frange (rodoviária antiga), os mais conhecidos e antigos, o Jesus Prata e Luiz Batistuta.
Os motoristas da praça Rui Barbosa tem história independente dos demais “pontos” da cidade.Ali, na fundação da cidade, os carros de bois foram os primeiros meios de transporte que Uberaba conheceu. Depois, a carroça, a charrete (coberta e descobertas), até a chegada dos primeiros “fordecos” que serviam de condução para mercadorias e/ou pessoas. Os quadros à óleo, inicialmente e, mais tarde, os primeiros retratos, mostram o cenário de comercialização dos primórdios da nossa civilização. Como não lembrar das figuras simpáticas e prestativas dos choferes da praça Rui Barbosa? Os irmãos Roil e Jorge Cussi, Zezeca e o filho Jaime Matheus, “Zé Gasolina”, “Bahia”, “Rola”, Olimpio Fonseca, Loreto Palioti, Hugo Trida, Ninío, Wilson Nomelini, “Pachola”, os Olimpio Fonseca, Loreto Palioti, Hugo Trida, Ninío, Wilson Nomelini, e Massa e outros de saudosos e áureos tempos…

Era uma Uberaba com pouco mais de 60 mil habitantes, pacata, onde todos conheciam quase todos, os bairros eram bem próximos do centro da cidade, sem a correria e atropelos dos dias atuais, córregos à céu aberto, onde as pessoas se cumprimentavam, a amizade era sincera, os prefeitos eram nascidos na santa terrinha e Uberaba tinha muito amor prá dar…


Luiz Gonzaga de Oliveira

O DIA EM QUE UBERABA FOI DESTAQUE NO NEW YORK TIMES

O dia em que Uberaba foi destaque no New York Times
26 de abril de 1952

O dia em que Uberaba foi destaque no New York Times.

Em 26 de abril de 1952 o mais importante jornal dos EUA estampava em suas páginas:
TUMULTOS EM PROTESTOS CONTRA IMPOSTOS LIDERADOS POR COMUNISTAS CAUSA PREJUÍZO DE US$ 6.000.000

Coletorias de impostos e outros prédios foram depredados em cidade de Minas Gerais
De fato, ocorrera uma importante revolta em Uberaba, iniciada por uma greve de caminhoneiros e protestos de pequenos comerciantes contra um arrocho na fiscalização e o aumento dos impostos estaduais, ordenado pela gestão do então governador Juscelino Kubitscheck. Havia na cidade uma crescente animosidade contra o governo mineiro, que recolhia os impostos mas pouco investia na região do Triângulo.

Em 24 de abril de 1952, a tensão explodiu na forma de violentos protestos e quebra-quebra. O edifício das Coletorias Estadual e Federal foram vandalizados, assim como os postos de cobrança de impostos nas entradas da cidade e outros prédios públicos. Arquivos e equipamentos da coletoria foram queimados ou atirados no canal do Córrego das Lajes.

O 4º Batalhão de Polícia não deu conta de controlar a multidão e temia-se que as manifestações se espalhassem por outros municípios mineiros. A revolta só terminou com a chegada em aviões de tropas enviadas de Belo Horizonte, que ocuparam as ruas do centro de Uberaba portando fuzis e metralhadoras com munição real.

No pesado clima de Guerra Fria dos anos 1950, a culpa pelos protestos foi jogada nas costas dos suspeitos de sempre: os terríveis comunistas. No rescaldo, a polícia abriu inúmeros processos e dezenas de pessoas – muitas delas identificadas pelas fotografias dos tumultos – foram presas por subversão e vandalismo. Um dos meus tio-avôs, irmão de minha avó Guiomar, passou uma temporada na velha cadeia defronte ao Mercado.

De quebra, inúmeros comerciantes da cidade se livraram de recolher impostos vencidos, alegando que seus livros-caixa haviam sido destruídos nos protestos. Juscelino, velha raposa política, reconciliou-se com a cidade alguns anos depois quando – num gesto de grande simbologia – transformou o antigo prédio da cadeia na sede da federalizada Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro.

A reportagem publicada nos EUA está disponível nos arquivos do NYT, onde é possível comprar e baixar uma cópia PDF da edição histórica por módicos U$ 3.95


(André Borges Lopes)                                                                                 

PANORAMA DE UBERABA NOS ANOS DE 1900

Foto: Autora desconhecida

A história de Uberaba inicia-se no século XVIII, a partir da exploração do interior brasileiro, na busca do ouro. A Estrada do Anhanguera, localizada entre o Rio Grande e o Paranaíba, foi a primeira entrada, no Triângulo Mineiro, comandada pelo bandeirante Bartolomeu Bueno. Aberta em 1722, tornou-se, por ordem régia posterior, o único caminho permitido para o transporte do ouro até Goiás.
Bem próximo ao local onde hoje está Uberaba, iniciou-se a extração do ouro, num lugarejo conhecido como Desemboque e, mais de meio século depois, ocorreu o esgotamento das minas.

o início do século XIX, Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, o Major Eustáquio, morador do local, resolveu explorar a região e encontrou água em abundância e pastagens naturais do cerrado, condições muito propícias para a criação de gado e, consequentemente, uma saída econômica para o fim da mineração.

No Império, o governo doava as terras não cultivadas, num sistema conhecido por sesmarias. Após o extermínio e a expulsão dos caiapós, acompanhando o Major Eustáquio, algumas famílias estabeleceram-se na região, depois de receberam terras por esse sistema. Assim, formou-se o Arraial de Santo Antônio e São Sebastião.

O registro da vida do Arraial se dava na Igreja Matriz, instituição que documentava nascimentos, batizados, casamentos ou quaisquer outros acontecidos. Em 1836, o governo imperial determinou que se construísse o prédio da Câmara Municipal e o primeiro agente-executivo (termo equivalente à palavra “prefeito”) foi Capitão Domingos, irmão de Major Eustáquio.

No início, a atividade econômica mais relevante era a criação do gado chamado “pé duro” ou “curraleiro”. Como um dos importantes componentes da alimentação desse gado era o sal, rotas salineiras foram estabelecidas. Carros-de-boi traziam o sal e outras mercadorias, oriundas de São Paulo e Rio de Janeiro e levavam produtos da região, do Mato Grosso e de Goiás. Uberaba transformou-se em um entreposto comercial e surgiu uma outra atividade, fundamental para o desenvolvimento da cidade: o comércio. Tanto movimento justificou a chegada do trem de ferro, em 1889. Os trilhos vinham de Ribeirão Preto e acompanhavam as fazendas de café.

A cidade se desenvolveu e passou a abrigar – além das casas comerciais – bancos, livraria, cinemas, teatro, hotéis e escolas. Vieram os imigrantes e, dentre eles, arquitetos cujos estilos marcaram uma época de grande desenvolvimento.

Como é próprio do sistema capitalista, a estrada de ferro prosseguiu e seus trilhos alcançaram Goiás, Mato Grosso e outros centros comerciais. O comércio na cidade perdeu um pouco sua força e iniciou-se a criação de gado zebu. Uberabenses foram até a Índia buscar os animais e aqui aprimoraram a raça, com trabalho genético e exposições do zebu que evidenciam o município no cenário nacional.
Hoje, na cidade, a diversidade econômica que engloba a pecuária, a indústria, o comércio e a agricultura com igual nível de importância é fator essencial. Vale salientar também que a produção de grãos se destaca, em números, em toda Minas Gerais.

Uberaba organizou seu espaço a partir da Praça Rui Barbosa. A principal avenida, a Leopoldino de Oliveira, localiza-se na parte baixa (sobre o córrego das Lajes) e dela se ramificam as colinas que formam os bairros. Por isso costuma-se falar “vou descer para o centro.” ou “vou subir para casa”. As antigas colinas eram: Boa Vista, Estados Unidos, Misericórdia, Matriz, Cuiabá e Barro Preto, destacadas pelo escritor Borges Sampaio, agente executivo de 1878 a 1883.

Fonte: Acervo Público de Uberaba         

MAPA DA ÁREA URBANA DE UBERABA EM 1956

Mapa da área urbana de Uberaba em 1956        

      Mapa da área urbana de Uberaba em 1956, publicado numa revista comemorativa do centenário da cidade. Reparem que toda a região do Jardim Alexandre Campos abaixo da Rua Major Eustáquio sequer existia como cidade – e a Av. Santos Dumont ainda era apenas o pacato “Córrego da Manteiga”. Ou seja: para aquele lado da cidade, o pasto e a zona rural começavam a pouco mais de um quarteirão da Catedral.

São muito interessante os nomes dos riachos: “Córrego dos Olhos d’Água” (sob a Leopoldino de Oliveira, na região do Mercadão), “Córrego do Barro Preto” (Guilherme Ferreira), “Córrego da Estação” (Fidélis Reis) e “Ribeirão das Lajes” (Leopoldino, na região do Centro).
Poesia gratuita, que a cidade perdeu ao enterrar os seus rios sob o asfalto.

(André Borges Lopes)   

quinta-feira, 6 de julho de 2017

LUCÍLIA ROSA (UBERABA-MG, 1912-2011), FILHA DE ALFAIATE ANARQUISTA, FOI FEMINISTA E ATUOU NO MOVIMENTO POPULAR DESDE OS ANOS DE 1930.


    Filiou-se ao PCB aos 18 anos e elegeu-se aos 35 anos uma das 16 primeiras vereadoras de Minas, em 1947, no município de Campo Florido.

Exerceu as profissões de professora, costureira, faxineira e cozinheira. Em São Paulo, ajudou a cuidar, em 1962, dos filhos de Luiz Carlos Prestes, dirigente do PCB, e morou clandestinamente com Anita, filha de Prestes com Olga, de 1970 a 1972, nos anos duros da Ditadura Civil-Militar. A vida dela está registrada no livro Lucília – Rosa Vermelha, de autoria do jornalista Luiz Alberto Molinar e da historiadora Luciana Maluf Vilela.