Tremendamente velho. Incapaz de fecundar.
Sinto-me enjaulado no sudário escuro de palavras gastas
e envelhecidas.
Esclerosadas. Algemadas à linha etimológica da origem.
Quero falar a língua virgem das palavras inexistentes,
mas as vestes macias e empoeiradas dos vocábulos desgastados efeminam minha força, castram minha masculinidade.
Sinto as dores do parto da noite que tenta dar à luz a
aurora e pare apenas uma candeia bruxuleante.
A fosforescência da palavra gasta dissolve em estilhaços
a força luminosa do relâmpago. Queria falar a língua do raio
e da borrasca e apenas balbucio a linguagem medrosa da brisa.
" Novo-velho, velho-novo", aspirando ao futuro mas algemado ao passado, garanhão castrado, viril efeminado, vivo a contradição e o absurdo.
Quero ser a verdade e dissolvo-me na mentira.
A austeridade é meu programa, mas o luxo me fascina.
Fiz da liberdade a minha deusa, mas a escravidão cômoda me alicia.
Quero assumir mas a responsabilidade me amedronta.
Quero viver perigosamente mas o risco me apavora.
Quero-me livre mas sinto-me algemado.
Sado-masoquista, quero perfurar e ser perfurado.
Sou eu, e não sou eu.
Sinto-me singular e múltiplo, uno e dividido, inteiro e fraturado.
Não me auto-identifico. Já sou, já não sou. Apenas existo.
Eu sou a ideia-contradição. A lógica. A irrealidade do real,
sou apenas o dever de pensar.
Sou o paradoxo - Sou o HOMEM.
( Poeminha do saudoso prof. Paulo Rodrigues, da antiga Fista, em plena crise existencialista, em 1979)
Cidade de Uberaba