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terça-feira, 16 de agosto de 2022

TRÁGICO DESTINO

É bem provável que tenha pensado nas palavras do general romano Pompeu, “navegar é preciso, viver não é preciso”, quando empreendeu viagem por mais 18.000 km, distância a separar Uberaba da cidade de Calcutá, na Índia e para onde se dirigiu em 1914. Para tal era preciso vencer o Atlântico, passar pelo Mediterrâneo, atravessar o Canal de Suez, singrar o mar Vermelho, enfrentar a barreira da língua, as exigências sanitárias e longos períodos de quarentena. Tudo isso em busca de um sonho. Era o que faziam os jovens de então ao partir em busca de redenção econômica representada pelo majestoso gado zebu. Vale lembrar que tais viagens chegavam a durar até três longos anos.

Imagens: - 1 e 2 (no alto): os irmãos Virmondes, João e Otaviano; - 3 e 4 (ao centro): 
Virmondes e Otaviano em solo indiano; e - 5 e 6 (em baixo): lápide e cerimônia de sepultamento em Calcutá, Índia (acervo do Museu do Zebu).


E foi assim que ele, aos 27 anos, viajando sozinho e com saúde frágil, saiu em busca de seu destino. Chegou, viu, gostou, selecionou e comprou o mais belo lote de animais que encontrou. Mas, infelizmente, não pode trazê-lo em face da eclosão da Primeira Grande Guerra Mundial. Saudoso de casa, após longa espera, resolveu voltar ao Brasil.

Tempos depois, em 1917, comunicou sua intenção de retornar à Índia para recuperar seu vultoso investimento. Seus familiares impuseram-lhe uma condição, teria que viajar escoltado por dois irmãos. Assim foi feito e, embora fluente na língua inglesa, idioma corrente nas repartições públicas indianas, muito penou ante os inúmeros entraves burocráticos exigidos para a liberação. Como num sonho premonitório ou em uma tragédia anunciada, ele tanto sofreu que acabou falecendo no ano seguinte, 1918, sendo velado e enterrado na distante cidade de Calcutá.

Decorridos quase 60 anos desse infausto acontecimento e reconhecendo a grandeza do empreendimento levado à efeito por um dos primeiros pioneiros na introdução do Zebu no país, a ABCZ resolve transladar, em 1975, seus restos mortais para o Brasil. E o faz com pompa e circunstância pois, na chegada à Uberaba, feita em carro aberto do Corpo de Bombeiros, ladeado por pelotão dos Dragões da Independência da PMMG, foi finalmente sepultado no jazigo da família, no cemitério local de São João Batista.

Ante tão grandioso feito, fazendo minhas as palavras de Kethlene Vanzeler, eu diria que: ... “Tudo bem deixar o tempo passar... / ou viver apenas a espera do que virá... / Tudo bem se afastar, ir bem longe... voar! / Desde que você tenha sempre um lar para voltar!”

Embora trágico, entendo que merece registro e é por isso que incluo os nomes do pioneiro João Martins Borges e de seus irmãos Virmondes e Otaviano Martins Borges nas Coisas e Fatos Antigos de Uberaba.
Moacir Silveira


Para maiores detalhes dessa história clique no Vídeo:



terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Uberaba terá filme sobre a história dos pioneiros uberabenses em busca do Zebu na Índia

A Prefeitura de Uberaba anunciou a assinatura de contrato, entre a empresa Almix Distribuidora de Produtos Alimentícios e a empresa Technoscope Films, para o repasse de R$ 100.876,82 para a produção do curta-metragem “Diários de Uma Vida Sem Fim”. O filme conta a odisseia da busca do zebu na Índia, por jovens uberabenses “destemidos e empreendedores” no início do Século XX, produzido pela Technoscope Films e o Polo de Audiovisual do Triângulo Mineiro (Pátria). 

Segundo a secretária adjunta de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação, Anne Roy Nóbrega, o recurso é oriundo da lei de incentivos fiscais de estímulos econômicos. Esse filme genuinamente uberabense conta a história da grande odisseia de desbravamento do desconhecido, para trazer o desenvolvimento econômico, social e cultural de Uberaba e do Brasil, “já que o Zebu é elemento fundamental no agronegócio nacional e internacional”, salientou. “Participa ainda do fortalecimento do Pólo Regional Pátria que reúne numerosos profissionais premiados do setor audiovisual em geral e cinematográfico, especificamente na região do Triângulo”, disse.

O empresário Diovani Milhorim escolheu fazer o investimento nesse projeto, já que se tratava de contrapartida ao Poder Público em razão da cessão de área no DI-II. Ele optou por transferir os recursos para a produção cinematográfica, considerando que “mais do que gerar empregos e renda, a empresa precisa pensar na comunidade e na cultura da cidade.”

Essa contrapartida “traz esse presente para nós”, afirmou o titular da Pasta, José Renato Gomes, considerando que o filme vai mostrar para a população de Uberaba e o mundo a importância da importação do Zebu. “É um marco! Uberaba é rica em História e esse com certeza é somente o primeiro de uma série de outros filmes que poderão ser produzidos mostrando a saga do Zebu”, afirmou.

Muito satisfeito com o projeto, o prefeito Paulo Piau observou que “Uberaba é uma cidade surpreendente e se o uberabense soubesse pelo menos 50% do que aconteceu na história dessa cidade e ainda acontece, com certeza as pessoas amariam mais esse pedacinho aqui”.

Piau conta que a produtora genuinamente uberabense Technoscope Films e o Polo Audiovisual do Triângulo (Pátria) apresentaram para a Prefeitura de Uberaba, no início do ano, o projeto de produção desse filme sobre o zebu, além de outros dois, que contam a história do Espiritismo e dos Dinossauros. Lembra que é nesse tripé no qual se baseia o Geopark Uberaba - Terra de Gigantes, “é um grande projeto que ainda vai dar muita alegria, empregos, renda e negócios para Uberaba”.

Aldo Pedrosa, junto com Ari Morais e Alexandre Ferreira – que é também presidente do Conselho Municipal de Política Cultural - são os representantes da produtora. Segundo eles, o Pátria é um grupo que reúne, reagrupa e fortalece produtores de audiovisual da região do Triângulo Mineiro.

A proposta é realizar um curta-metragem, com duração entre 10 e 15 minutos, para dar uma amostra de como será o longa para os futuros financiadores. A obra está orçada em cerca de R$ 4 milhões. “Trata-se de um pequeno produto audiovisual que pode ser compartilhado nas diversas plataformas para divulgação, a fim de chamar a atenção e dar a ideia do que virá a ser o filme completo”, destacou Pedrosa.

O cronograma de produção é de 20 meses, e assim que estiver finalizado terá início a fase de captação de recursos. Esse trabalho será feito pela empresa Imposto Ativo, que fica dentro do Instituto Agronelli, visando a despertar interesse, tanto nas pessoas físicas, quanto jurídicas, sobre os benefícios do direcionamento de impostos. 

O responsável pela empresa Imposto Ativo, Terence Melo, informa que Uberaba tem capacidade de captação de recursos da ordem de R$25 milhões por ano, somente através de pessoas físicas. O empresário pode ajudar o Município sem tirar um real do bolso, já que pode direcionar valores devidos ao Poder Público, como fez a Almix.

O empreendimento tem como parceiro o Museu do Zebu, da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). O gerente executivo, Thiago Riccioppo conta que “Diários de Uma Vida Sem Fim” é baseado na história do pioneiro do Zebu, João Martins Borges. Junto com seu irmão Virmondes Martins Borges e o primo Otaviano Borges Júnior fizeram parte de um processo muito rico de histórias e passagens, nas três expedições realizadas por eles à Índia, em 1917. Durante uma das expedições, o protagonista faleceu aos 27 anos e, seus restos mortais, levaram 60 anos para serem trazidos de volta a Uberaba, o que aconteceu somente em 1965. “Mesmo com o falecimento, naquele ano, os pioneiros conseguiram mandar cinco navios de gado para o Brasil, marcando assim definitivamente o rumo da história do país”, concluiu.

Jorn. Maria Cândida Sampaio

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

A Uberaba de Doca Ferreira em 40 fotos

Nascido em 1887, Orlando "DOCA" Ferreira, era filho do comerciante Bento José Ferreira. Seminarista na juventude, tornou-se jornalista, escritor e um opositor ferrenho da Igreja Católica. Criticava acidamente os políticos locais, boa parte das famílias tradicionais da cidade e a Empresa Força e Luz local – identificados por ele como responsáveis pelo precário desenvolvimento do município.

Capa do livro "Terra Madrastra: um povo infeliz", publicado pelo próprio autor e lançado em 1928.



Folha de Rosto e Dedicatória de "Terra Madrasta", 1928

Rua São Sebastião, provavelmente no trecho entre a rua Irmão Afonso e Praça Dom Eduardo Uberaba, MG – circa 1925

Rua do Comércio, atual Artur Machado. Ao fundo, a Catedral. Uberaba, MG – circa 1925


Rua do Comércio, atual Rua Artur Machado. Uberaba, MG – circa 1925


Praça Comendador Quintino; ao fundo o prédio do antigo Grupo Brasil e, no canto direito, as torres da Igreja de São Domingos. Uberaba, MG – circa 1925


Rua Vigário Silva, trecho não identificado. Uberaba, MG – circa 1925


Rua São Miguel, atual Dr. Paulo Pontes, antiga zona de prostituição da cidade. Ao fundo o Largo da Misericórdia, atual Praça Manoel Terra. Uberaba, MG – circa 1925




Local aproximado, em foto de 2013 do Google Street View





Rua da Constituição, trecho não identificado, Uberaba, MG – circa 1925


Rua do Cotovelo, atual Padre Jerônimo. Ao fundo o Mercado Municipal (esq.) e a antiga Penitenciária (dir.). atual Faculdade de Medicina. Uberaba, MG – circa 1925



Local aproximado, em foto de 2017 do Google Street View.

Praça Cel Aristides Borges, atual Praça Santa Terezinha. Na casa do meio da foto funciona hoje a Padaria Beliske. Uberaba, MG – circa 1925



A casa como está hoje, em foto de 2017 do Google Street View.

Rua Dr. José Felício dos Santos, no alto das Mercês, na época periferia da cidade. Uberaba, MG – circa 1925



Local aproximado, em foto de 2011 no Google Street View.

Rua 15 de Junho (atuais Jaime Bilharinho e Hidelbrando Pontes), no alto das Mercês, na época periferia da cidade. Uberaba, MG – circa 1925


Não consegui descobrir qual seria essa rua na época denominada "Paschoal Totti" Uberaba, MG – circa 1925


Essa antiga Rua Godofredo Rodrigues da Cunha é a atual Rua Cel. Carlos Rodrigues da Cunha (há outra rua no alto do São Benedito que ganhou o nome de Godofredo, provavelmente nos anos 1930).
Esse trecho de subida acentuada pode ser logo acima do cruzamento com a Rua Santo Antônio ou do outro lado da Av. Guilherme Ferreira, entre a Rua do Carmo e a Praça Tomaz Ulhoa. Uberaba, MG – circa 1925



Rua Major Eustáquio, no trecho entre as Rua Manoel Borges e São Sebastião. Uberaba, MG – circa 1925




Trecho aproximado, em foto de 2017 no Google Maps.


Mercado Municipal e, ao fundo, a antiga Penitenciária (atual Faculdade de Medicina da UFTM). Uberaba, MG – circa 1925


Rua Santo Antônio, entre as ruas Paulo Pontes e Carlos Rodrigues. Uberaba, MG – circa 1925





Trecho aproximado, em foto de 2017 no Google Street View.

Praça Dom Eduardo, vendo ao fundo a atual Rua Hidelbrando Pontes. A casa maior, da família Miziara, ainda existe. Uberaba, MG – circa 1925



A casa, em foto de 2017 do Google Street View
Praça Frei Eugênio que, nessa época, ocupava todo o quarteirão do antigo Cemitério São Miguel. Poucos anos mais tarde, foram erguido nesse local o Liceu de Artes e Ofícios (Sesi/Senai) e a Escola Estadual Minas Gerais. Uberaba, MG – circa 1925




Largo da Misericórdia, atual Praça Dr. Tomáz Ulhoa, vendo-se ao fundo o antigo prédio do Colégio Nossa Sra. das Dores. Na década de 1940, foi erguido no local o Uberaba Tênis Clube.Uberaba, MG – circa 1925





Rua do Comércio, atual Artur Machado, vista no sentido do Bairro. Uberaba, MG – circa 1925



Antiga Rua 24 de Fevereiro, atual Rua Olegário Maciel, pouco acima da Praça Rui Barbosa, em direção à Praça Frei Eugênio. Uberaba, MG – circa 1925





Local aproximado, em foto de 2017 do Google Street View.


Antiga Ladeira do Rosário, atual Av. Presidente Vargas, subida para a praça Comendador Quintino. Uberaba, MG – circa 1925




Local aproximado, em foto de 2017 do Google Street View.


Ladeira do Rosário, atual Av. Presidente Vargas. A casa da esquerda ainda resiste. Uberaba, MG – circa 1925

O mesmo local em foto de 2017 do Google Street View.


Rua Frei Paulino, alto da Abadia, nas imediações do atual Hospital de Clinicas da UFTM. Uberaba, MG – circa 1925


O primeiro prédio da Santa Casa de Miséricordia – construído por Frei Eugênio Maria de Gênova na décadas de 1860 a 1880 – foi destruído em um incêndio em fevereiro de 1921.
Antes mesmo do incêndio, em função da decadência do prédio, a instituição já havia sido transferida "provisoriamente" para a Casa de Frei Eugênio, que se vê nessa foto, de onde só saiu em 1935 – quando foi inaugurado o prédio novo na Praça Thomaz Ulhoa. Essa Casa de Frei Eugênio ocupava o terreno de esquina onde hoje se encontra a Reitoria da UFTM.


Uberaba, MG – circa 1925

Seu livro "TERRA MADRASTA: um povo infeliz", lançado em 1928, é especialmente incisivo contra o grupo político "bernardista" (apoiadores de Artur Bernardes, ex-Presidente da República e líder do Partido Republicano Mineiro) a quem Doca culpa pelo atraso do Estado de Minas Gerais em comparação com a relativa pujança de São Paulo – que nessa ocasião já alcançava Minas em número de habitantes. Doca defendia a anexação do Triângulo Mineiro ao estado vizinho.


Rua Vigário Silva, trecho não identificado. Uberaba, MG – circa 1925


Escadaria da antiga Igreja do Rosário (demolida no final dos anos 1920) que ficava na esquina da Rua do Comércio (atual Artur Machado) com a Ladeira do Rosário (atual Av. Presidente Vargas). A casa ao fundo ainda resiste. Uberaba, MG – circa 1925


Antiga Rua Godofredo Rodrigues da Cunha (atual Carlos Rodrigues da Cunha). As duas casas da esquerda estão onde hoje fica o Hotel Tamareiras. Uberaba, MG – circa 1925

Rua Manoel Borges, no cruzamento sobre o Córrego da Manteiga, hoje canalizado sob a avenida Santos Dumont. Uberaba, MG – circa 1925



Praça Comendador Quintino, provavelmente vista da frente do antigo Grupo Brasil. Uberaba, MG – circa 1925


Rua São Sebastião, esquina não identificada. Uberaba, MG – circa 1925

Rua da Constituição, provavelmente no cruzamento do vale do Córrego do Capão da Igreja (canalizado sob a atual Av. Guilherme Ferreira) em direção ao alto da Abadia. Uberaba, MG – circa 1925

Antiga Escola Normal de Pirassununga, SP – inaugurada em 1921.


Mapa do "futuro Estado de São Paulo", anexando o Triângulo Mineiro e algumas cidades do Sul de Minas.



Os algozes de Uberaba nos anos 1920, segundo Doca Ferreira: a Administração, a Política, o Clero e a Empresa Força e Luz.



Antigo prédio do Fórum de Uberaba, situado na subida da Rua Lauro Borges, demolido nos anos 1960. Uberaba, MG – circa 1925




O mesmo local em foto de 2017 do Google Street View.




Rua São Sebastião, esquina não identificada. Uberaba, MG – circa 1925





No dia-a-dia, acusava os gestores municipais de desviar os impostos arrecadados, que não eram devidamente empregados em melhorias urbanas e serviços públicos de qualidade. E criticava os moradores ricos e poderosos por seu descaso com o aspecto da suas moradias e por não se preocuparem com a aparência das ruas da cidade.

Denuncia, ainda, que em Uberaba havia corrupção, assassinatos, espancamentos, compra de votos, suborno e registros em atas falsas, nos pleitos eleitorais.

Há no livro cerca de 40 fotos e ilustrações que mostram uma Uberaba que não aparecia nos cartões postais de então. Feitas durante a década de 1920, as imagens mostram ruas e praças de uma cidade feia, pobre e decadente – incompatível com a alegada "fortuna" que havia sido amealhada pelos criadores de gado Zebu e com o pretensioso título de "Princesinha do Sertão". As legendas são originais do autor.

Doca ainda publicou "Forja de Anões" (1940) e "Pântano Sagrado" (1948). Esse último foi recolhido e queimado em praça pública como resultado de um processo movido pelo bispo Dom Alexandre Amaral. //

(André Borges Lopes, baseado em informações recolhidas por Marise Soares Diniz)


Cidade de Uberaba