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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

PRAÇA AFONSO PENA, PRAÇA DA CONCHA ACÚSTICA, OS UBERABENSES MAIS ANTIGOS, VÃO CHAMÁ-LA, CARINHOSAMENTE, PRAÇA DA GAMELEIRA…

Praça da Concha Acústica            



Nos últimos anos Uberaba mudou muito. Para melhor, claro! Deus nos livre se isso não tivesse acontecido. O progresso cobra. Exige, até. Embora o passado deixa marcas profundas para quem quer relembrar fatos, histórias e monumentos da cidade. A bucólica praça Afonso Pena, quase no final da rua Artur Machado, na subidinha que termina em frente a histórica estação da saudosa Mojiana, teve seus momentos de fama. Uma enorme árvore , centenária, afirmam nossos historiadores, vivenciou os grandes e indeléveis momentos da cidade. Frondosa.

 Dificilmente dez homens de mãos dadas, conseguiriam abraçá-la; enorme, acolhedora amiga gameleira. Tanto que se falava, gameleira prá cá, gameleira prá lá, perto da gameleira, subida da praça da gameleira, poucos a conheciam como praça Afonso Pena. Era dizer praça da Gameleira, qualquer garoto de rua conhecia. 

Árvore que ocupava com a sua espessa copa, seguramente, em dias de sol à pino, uma sombra de diâmetro com mais de duzentos metros quadrados. Era na praça da Gameleira que se realizavam as grandes concentrações populares, manifestações, comícios que não podiam ser realizados na praça Rui Barbosa, o dispersar dos estudantes na parada de 7 de setembro, “shows” e eventos, a Gameleira era o “ponto” terminal. A praça era a área escolhida para pensões e hotéis mais simples, pois, logo acima, a “gare” da estrada de ferro, estação de embarque e desembarque de milhares de pessoas que iam e vinham a Uberaba… 

O Hotel “Santos Anjo” e a pensão da “Dona Ema”, eram os mais tradicionais. Como tradicionais as famílias que residiam ao seu redor. Heitor Meireles, Oliveira, Ferreira, os Cardoso, os Boscolo, e, no inicio das Marquês do Paraná e Bernardo Guimarães, os Nabut, Pucci e Rossetti.Na descida, rumo à Artur Machado, a marmoraria do Jonas Braga e , em outros tempos, a cervejaria de Rigoleto de Martino..


A Gameleira tornou-se tão famosa que fundou até time de futebol que chegou a disputar o campeonato amador local, o Afonso Pena Futebol Clube. O “dono” do time, “Didi”Meireles, o treinador , o “Arroba”…A Gameleira sempre teve o seu jeito, costume e tradição.


Foi cantada em verso e prosa pelos repentistas que a freqüentavam, dentre eles uma figura importante que merece o respeito de toda a cidade, o cirurgião-dentista, João Modesto dos Santos, poeta que melhor retratou a beleza da praça.


Não resistindo ao tempo, pudera, mais de 100 anos ! pois viu Uberaba nascer, crescer, progredir, a Gameleira morreu antes de chegar aos anos 70, num fim de tarde cinzento, carrancudo, carcomida pelo tempo, cansada de dar sombra aos homens e frutos aos pássaros que, aos montões, faziam seus maternos galhos, seus ternos e doces ninhos e deixaram num passado saudoso, seus gorjeios maviosos…


A Gameleira ficou na saudade de uma grande cidade !


No mesmo lugar onde nasceu, cresceu, viveu e morreu, ergue-se, a concha acústica. Podia ser bonita, limpa, moderna, palco de maravilhosos eventos culturais-musicais. Um”puxadinho” de construção mal acabada, dá abrigo aos que vão assistir a pequenos eventos de final de semana. Arquitetos de renome e engenheiros consagrados, discutem, até hoje, a posição da concha. Afirmam eles que ela foi construída ao contrário. O palco deveria ser de baixo para cima e a conseqüente arena para o público, na parte superior da praça. Questão de estética e visibilidade… Como não sou engenheiro e nem arquiteto…


Contudo, por mais que se queira chamá-la praça Afonso Pena, praça da concha acústica, os uberabenses mais antigos , vão chamá-la, carinhosamente, praça da Gameleira…



Luiz Gonzaga de Oliveira