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segunda-feira, 2 de setembro de 2019

JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA – CIDADÃO UBERABENSE.

Em pleno amanhecer de um domingo de maio de 1973, três pessoas se apresentam na residência do Prefeito Hugo Rodrigues da Cunha que levantou às pressas para atender o Presidente da Câmara Municipal de Uberaba, Álvaro Diniz de Deus, acompanhado de dois empresários mineiros que, impacientes, esperavam o sol nascer.

Eram eles, Ivan Muller Botelho, proprietário da empresa de energia elétrica “Cataguases-Leopoldinense” e José Alencar Gomes da Silva, presidente da “Coteminas”.

O assunto, importante e urgente, era a possibilidade de transferência de uma indústria de aglomerados já em fase de instalação na cidade de Ubá. A continuidade da implantação havia se tornado inviável pela impossibilidade de se ter um único contrato de fornecimento de madeira. As florestas daquela região era áreas de minifúndio, com mais de 600 proprietários.

Uberaba foi uma das quatro cidades lembradas para sedar esta empresa, concorrendo com Curvelo, Corinto e Uberlândia.

José Alencar - Foto/Reprodução.

José Alencar contava, com ar de seriedade, que Hugo os convenceu que Uberaba era o “centro do mundo” e que, só mais tarde, descobriram que “todo lugar era o centro do mundo já que a terra era redonda”.

Antes de decorrer trinta dias, Uberaba foi escolhida pelos empresários e pelo BDMG, banco financiador deste projeto, para a implantação desta indústria.

A empresa de reflorestamento de Uberaba, “Triflora”, da qual éramos diretor administrativo e tinha como sócios, entre outros, Hugo Rodrigues da Cunha, Joaquim dos Santos Martins, José Miguel Árabe, Leo Derenusson e Ítalo Delalíbera, assinou um contrato de fornecimento de madeira e subscreveu parte do capital da nova empresa.

Assim nasceu a “Minasplac”, a primeira grande indústria a se instalar no DI-I, ocupando uma área de 100.000 m2, com investimentos em torno de 25 milhões de dólares. Na década de 1980 o controle acionário desta empresa foi transferido para o grupo “Formiplac” que, por sua vez, o transferiu para a “Satipel”. Atualmente, sob o controle do Banco Itaú, tem o nome de “Duratex”.

Em setembro de 1990, já como presidente da FIEMG – Federação das Indústrias de Minas Gerais, José Alencar, demonstrando seu carinho por Uberaba, promoveu, na Casa do Folclore, o I Congresso Pró-Modernização das Estradas Regionais, contando com o apoio da ACIU – Associação Comercial e Industrial de Uberaba e da Prefeitura Municipal.

Durante sua gestão na “FIEMG”, de 1988/2004, além de criar o título de “Operário/Padrão”, ampliou a presença do Sesiminas em 220 municípios e a do Senai, em 80.

Elevou o número de Sindicatos de 52 para 130. Uberaba contribuiu com 10% deste acréscimo com a criação de 9 sindicatos patronais, graças aos esforços de seu delegado em Uberaba, José Vitor Aragão. Até então existiam apenas dois sindicatos, o da Mecânica e o da Alimentação.

Neste período, na reestruturação do CIGRA-Centro das Indústrias do Vale do Rio Grande, do qual éramos presidente, José Alencar viabilizou os recursos necessários para que esta entidade tivesse vida própria.

Ainda como Presidente da FIEMG, construiu em Uberaba o “Clube do Trabalhador” através do SESI de Minas Gerais e que leva o seu nome, em justa homenagem.

Através do SENAI viabilizou a construção de uma escola de confecções, fruto do trabalho da diretoria do Sindicato local, liderado pelo então Presidente Tião Silva. Dezenas de turmas com centenas de alunos já se formaram através desta escola.

Foi um período de grande intensidade cultural. Frequentemente Uberaba recebia artistas de todos os segmentos pertencentes ao quadro do SESI em Belo Horizonte. Foi nesta época que se inaugurou na capital mineira, o Teatro “Nansen Araújo”, homenagem prestada ao ex-presidente da FIEMG, oportunidade em que um grupo de catireiros foi por nós enviado à capital, para ter a honra de inaugurar um de seus palcos.

José Alencar é cidadão uberabense. Em 17 de outubro de 1976, então com 45 anos, por iniciativa do vereador Homero Vieira de Freitas, a Câmara Municipal de Uberaba lhe outorgou este título no dia de seu aniversário.

Nascido em Muriaé, MG, em 17 de outubro de 1931, em uma família de 15 irmãos, José Alencar era o 11º. Começou a trabalhar aos 7 anos de idade, ajudando o pai na loja.

Aos 14, em 1945, anos saiu de casa e foi trabalhar em outras lojas nas cidades de Mirai e Caratinga. Foi nesta última cidade que, aos 18 anos, em 1950, com a ajuda financeira de seu irmão Geraldo Gomes da Silva, consegue criar sua própria loja, a “Queimadora” e que durou até 1953, época em que criou uma indústria de macarrão em sociedade com outros três parceiros.

Com o falecimento de seus pais e de seu irmão Geraldo, mudou-se para Ubá em 1960. Em 1963 cria a empresa “Cia. Industrial de Roupas Cometa” que mais tarde tem seu nome alterado para “Wembley”. Uberaba chegou a ter uma loja desta empresa.

Em 1975, inaugurou em Montes Claros, a “Coteminas”, localizada na área da Sudene. Em 1984 comprou a Seridó, a maior indústria de confecções do Nordeste.

Entre 1992 e 2004, a produção têxtil pulou de 15.000 toneladas para 170.000 toneladas e o faturamento aumentou 20 vezes, de 35 milhões de dólares para 700 milhões de dólares.

Na década de 2000 José Alencar, industrial por talento e vocação, surge como o maior empresário do ramo têxtil da América Latina. Com 11 fábricas esparramadas por Minas, Paraná, Nordeste e, com cerca de 17.000 funcionários, é um dos poucos empresários que consegue vender confecções até para a China.

Sua carreira política começou em 1993 quando se filiou ao PMDB e logo assumiu a Vice-Presidência do Partido. Embora vencedor da Convenção de 1994 que o indicou para candidato à governador, não contou com o apoio do Partido em sua campanha. Voltou à luta em 1998 como candidato ao Senado, disputando com Hélio Garcia e Júnia Marise. Embora aparecendo inicialmente com 2% de intenção de votos na primeira pesquisa, sua campanha foi crescendo tanto que provocou a renúncia de Hélio Garcia.

Foi eleito com expressiva votação, uma das maiores de Minas Gerais até então, tendo como primeiro suplente, Aelton José de Freitas. Tomou posse em 1 de fevereiro de 1999. Candidato a Presidência do Senado, sentiu-se traído pelo PMDB, razão de seu desligamento do Partido.

Por indicação de José Dirceu e certamente de Anderson Adauto, Lula, que havia perdido 3 eleições presidenciais consecutivas, aceitou o nome de José Alencar Gomes da Silva, então filiado ao Partido Liberal, para compor sua chapa como Vice.

Foi uma vitória apertada na Convenção do PT para aceitar José Alencar do PL. Foi aceito com 34 votos a favor, 30 votos contra e 7 abstenções. Em 18 de Outubro de 2002, Lula e José Alencar foram eleitos com 61,17% dos votos.

No primeiro mandato, de 8 de novembro de 2004 até 31 de março de 2006, acumulou o cargo de Vice-Presidente com o de Ministro da Defesa. Renunciou para participar das eleições de 2006.

Em 2005 deixou o PL e ingressou no que é hoje o PRB-Partido Republicano Brasileiro. Vencedor com Lula na eleição de 2006, Alencar, durante os dois mandatos, assumiu a Presidência por 398 dias enquanto o Presidente Lula viajava para o Exterior.

Em 2010 desistiu de sua candidatura ao Senado de Minas por acreditar que não achava certo se candidatar enquanto estava já em tratamento de saúde.

Em 25 de janeiro de 2011, estivemos com alguns companheiros da ACIU, na homenagem que lhe foi prestada pela Prefeitura de São Paulo. Estavam presentes Lula e diversos ministros. Coube a Dilma Rousseff fazer a entrega da medalha “25 de janeiro” ao José Alencar.

Os problemas de saúde de Alencar começaram em 1997 o que o levou a fazer mais de 15 operações sendo que três delas, em 2006, 2007 e 2009, nos Estados Unidos.

Assim como a presença de Alencar nas eleições foi determinante para a

Vitória de Lula, a sua luta com determinação contra o câncer por quase 15 anos, inspirou várias pessoas que sofrem da doença a terem perseverança.

Alencar faleceu em 29 de março de 2011 deixando viúva Mariza Gomes e os filhos Josué Gomes, Maria da Graça Campos Gomes da Silva e Patrícia Campos Gomes da Silva.

Em Uberaba, “ Dr. José Alencar” é o nome do Hospital Regional.

Alencar foi considerado pela Revista Época dos 100 brasileiros mais influentes em 2009.

Em julho de 2012, foi eleito um dos 100 maiores brasileiros de todos os tempos em concurso realizado pelo SBT com a BBC de Londres.

Gilberto de Andrade Rezende – Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro – Ex-Presidente e Conselheiro da ACIU e do CIGRA.

Fontes – Jornal da Manhã – Cesar Vanucci do livro “José Alencar – Missão Cumprida”4





Cidade de Uberaba


terça-feira, 2 de julho de 2019

SILVÉRIO CARTAFINA – UM PREFEITO REVOLUCIONÁRIO.

Sessenta dias antes das eleições, marcadas para o dia 15 de Novembro de 1976, é que foi criada uma comissão da ARENA II para procurar um candidato que se dispusesse a concorrer com Fúlvio Fontoura, candidato da ARENA I.

Diversos nomes foram lembrados e alguns até convidados. Os nomes mais ventilados eram os de Jorge Dib Neto, Wilson Pinheiro, José Maria Barra, Vicente Marino e, posteriormente, todos se voltaram para o nome de Dr.Paulo Mesquita. Todavia, procurado em sua residência, o ilustre médico declinou do convite.

Chegou-se a uma situação curiosa. Os nomes que eram procurados, não aceitavam. Os que queriam disputar, não eram procurados. Nunca ficamos sabendo se Silvério Cartafina era a preferência do Prefeito Hugo Rodrigues da Cunha mas, inegavelmente, era um nome de peso e com uma vantagem adicional: queria ser candidato. Como era o Secretário da Saúde do governo de Hugo, ficou fácil o acerto político.

Tendo Wagner do Nascimento como vice e o apadrinhamento de Hugo, Silvério partiu para a luta.
Novamente a participação do Jornal da Manhã foi imprescindível para o resultado desta eleição. Desconsiderando a determinação do Juiz Eleitoral, a direção do jornal imprimiu a prestação de contas da administração de Hugo, o que valeu para dois diretores, Joaquim dos Santos Martins e Gilberto Rezende e para o Prefeito Hugo Rodrigues da Cunha, uma condenação que foi posteriormente revogada pelo TER de Minas.

Em compensação, através de centenas de voluntários, cerca de 35.000 lares uberabenses puderam tomar conhecimento, às vésperas da eleição fixada para o dia 15 de novembro de 1976, das realizações do governo de Hugo.

Entre os quatro candidatos, num universo de 60.358 votos válidos, Fúlvio Fontoura, concorrendo pela ARENA I, obteve 42,68%; Silvério Cartafina, concorrendo pela ARENA II, 45,68%; Ivan Cota Barbosa, pelo MDB I, 6,32% e seu parceiro do MDB II, Paulo Afonso Silveira, 5,81%.
Com uma vitória apertada, Silvério e Wagner tomaram posse em 1977 para se separarem irremediavelmente, dois anos após. Eleito para governar quatro anos, teve prorrogação de mais dois em decorrência de reforma constitucional.

Parte da equipe de trabalho de Hugo permaneceu com Silvério, entre eles o Cel. Bracarense, José Paulo Miguel, Geraldo Barbosa e Zilma Bugiatto. Outros foram convidados por Silvério para completar o quadro. Paulo Silva (Turismo), Pedro Humberto Carneiro (Viação e Obras Públicas e Planejamento), Ana Maria Borges (Pró-Árvore), Antonio Bilhrinho (Educação), Silvio Sidnei Pinto (Fazenda), Izidio Barbosa (Saúde) e em revisão de Secretaria, Jorge Dib Neto assumiu Viação e Obras Públicas.

Silvério foi um prefeito revolucionário. Abriu novos horizontes para o desenvolvimento de Uberaba com sua arrojada administração. Todos os setores mereceram sua atenção. Numa época em que o orçamento municipal era bem inferior ao da atualidade, soube aproveitar de seu relacionamento com Secretários Estaduais, Governador, Ministros e de todas as oportunidades de investimentos colocados à disposição pelas estatais estaduais e federais como o INDI, BDMG, EBTU, COHAB, INOCOOP, CDI, CEMIG, siglas que representaram muito no progresso da cidade.

Até que em 1979 Fúlvio Fontoura assumisse uma cadeira na Assembleia Legislativa e Hugo Rodrigues da Cunha na Câmara Federal, passando a colaborar com a administração municipal, Silvério era Prefeito e ao mesmo tempo fazendo o papel de Deputado Estadual e Federal.
Foram seis anos de realizações de obras de grande vulto e um governo de muita garra. Podem ser destacados em sua gestão:

A integração de Uberaba com o Distrito de Delta onde está instalado o Distrito Industrial III, via Avenida Filomena Cartafina, com 4 pistas, numa extensão de 24 km.

Aberturas de novas avenidas destacando-se a Avenida Carangola, primeira Av. a contar com uma ciclovia. Outras que foram beneficiadas: Guilherme Ferreira, da rua Padre Jerônimo até a Av. Marcus Cherém; prolongamento da Av. Santos Dumont até o Aeroporto; início da canalização da Av. Santa Beatriz.

Merecem destaques em suas obras, a ligação do Bairro São Benedito com o Santa Maria, via rua Piauí. Construiu ainda a ligação do Amoroso Costa com o Fabrício, Boa Vista e Abadia, via rua José Maria, Osvaldo Cruz, João Alfredo e Saldanha Marinho, permitindo-se chegar a BR-262. Canalizou a Av Leopoldino de Oliveira, Guilherme Ferreira, Santa Beatriz, iniciou a canalização da Av. Pedro Salomãom, terminou a da Av. San tos Dumont e urbanizou a Av. Odilon Fernandes até a Av. Jesuíno Felicíssimo.

O acesso a Uberaba pelo Bairro da Abadia, através da Av. Abilio Borges, Bandeirantes e Saldanha Marinho, até então acanhado e estrangulado, ganhou destaque no governo de Hugo que projetou avenidas largas e urbanizadas, cabendo a Silvério a concretização do referido projeto.
A definitiva solução do esgoto e recapeamento do Parque das Américas representou a quebra de um tabu em Uberaba.

Na área de saúde, construiu 14 unidades sanitárias, entre elas a de Delta, Conjunto Silvério Cartafina, Irmãos Juquinha, no Bairro de Lourdes, Dr. George de Chirié Jardim no Alfredo Freire, Durval Dias de Abreu, Norberto de Oliveira no Conjunto Boa Vista, Waldemar Ribeiro da Silva, elevando o número de unidades em Uberaba para 18. Criou o Pronto Socorro junto à Faculdade de Medicina, na gestão do dr. João Naves Junqueira.

Implantou o Centro Social urbano (Leblon) e criou o CEAPS e o SINE.

Asfaltou cerca de l milhão de m2 no perímetro urbano, além de outro milhão de m2 nos conjuntos residenciais. Fato inédito - conseguiu, em apenas uma noite, asfaltar toda a rua Artur Machado.
No Projeto Minas-Luz, conseguiu 700 postes que beneficiaram milhares de residências da periferia.
Duplicou a área do Cemitério São João Batista, construiu a sede do Corpo de Bombeiros, do COMBÉM, da EMATER. Construiu o Tiro de Guerra com o compromisso do General Walter, comandante do Planalto, de não levar mais uberabenses para Brasilia.

Construiu, reformou e iluminou cerca de 21 praças. Implantou 83 semáforos e 6.629 metros de galerias para abertura de novas avenidas, além de um emissário de 4 km. no Conjunto Boa Vista.
Doou cerca de 259 há, de terras para a Escola Agro Técnica e instituiu em 1981, o serviço de nova numeração de casas.

No setor educacional, construiu a Escola "Gastão Mesquita" em Ponte Alta e doou terreno para a “Ana de Castro Cançado” em Delta e "N.S. Aparecida". Em 1982, com a inauguração da Escola Rural “Maria Cândida Mendes”, completou 38 unidades rurais no município.

Reformou as Escolas "Prof. Chaves", "Uberaba", "Minas Gerais" e "Paulo Derenusson". Em convênio com o Estado, reconstruiu as Escolas “América”, “Horizonta Lemos”, “Henrique Kruger”, “Rotary”, “Alceu Novais” e “Bernardo Vasconcelos”.

Na área do CODAU implantou 27.000 metros de rede de esgoto e cerca de 12 mil novas ligações de água. Construiu o 1º Castelo do CODAU no Parque das Américas e o 2º na Av. Nenê Sabino.
Em 1982, interpretando os anseios da comunidade, criou a Fundação Cultural de Uberaba, reunindo em um só órgão, a coordenação de todas as manifestações culturais.

O sonho acalentado por muitos anos se transformou em uma realidade. Plantou-se naquela data uma semente em solo fértil. No comando de Antônio Bilharinho, então Secretário de Educação e com a participação de inúmeros companheiros, entre outros, Antônio Carlos Marques, Gilberto Rezende, Guido Bilharinho, Jorge Alberto Nabut, Henri Brandão, Beethoven Teixeira, Décio Bragança, Demilton Dib e Maria Antonieta Borges, nasceu a primeira entidade voltada exclusivamente para a difusão de todos os segmentos de nossa Cultura. Coube ao saudoso Dr. Edson Prata dar o embasamento legal para o seu primeiro Estatuto e a Jorge Alberto Nabut, assumir a primeira presidência desta nova Entidade.

Silvério conseguiu ainda em seu governo, remodelar a Igreja Santa Rita e trocar as torres da Igreja São Domingos.

Seu maior trunfo como administrador foi obtido na construção de conjuntos Habitacionais. Terminou o Conjunto ”Cassio Rezende I”, e construiu os Conjuntos “Cassio Rezende II”, ”Guanabara”, “Frei Eugênio”, “Boa Vista”, “Morada do Sol”, “Alfredo Freire”, “Silvério Cartafina”, “Volta Grande” e “Delta”, mais 30 blocos com 12 apartamentos cada, construída no final da Av. Leopoldino de Oliveira, todos viabilizados pela COHAB e INOCOOP.

Foram no total 11 Conjuntos Habitacionais com cerca de 7.000 residências com área de terreno de 250 m2 e construção de 23 m2 em algumas unidades. Como o terreno era grande, proporcionava ao comprador a possibilidade de ser ampliado na medida de suas possibilidades. Foi uma revolução em termos de construção de casas populares, uma ideia que até o Presidente da COHAB julgava ser uma loucura.

Filho de imigrantes italianos, Silvério e Filomena Cartafina que trabalharam por muitos anos em fazendas de café em Conquista, MG, mudaram-se para Uberaba após o quinto filho e Silvério, um dos doze filhos do casal, nasceu em Uberaba em 31 de dezembro de 1927.

Estudou inicialmente no Grupo Brasil e terminou o primário no Colégio Diocesano em 1937. Ficou com os Maristas até 1945 quando partiu para o Rio de Janeiro para fazer o Científico no MABE e logo prestou vestibular na Faculdade de Medicina, hoje UERJ, no qual passou em 15º lugar.

Formado e já concursado pelo IAPI, se especializou com grandes nomes da Medicina nas áreas de Cirurgia Geral e Urologia.

Voltou à Uberaba em 1954 trabalhando na Beneficência Portuguesa, em convênio com a Faculdade de Medicina onde só tinha 21 professores catedráticos e professores voluntários. Convidado por Hélio Angotti, passou a lecionar na Faculdade até que, com a saída de Dr. José de Abreu, assumiu a cadeira de Urologia. Foi professor da Faculdade de Medicina, por 28 anos. Além de consultório próprio, era também médico do INPS e, pela intervenção do deputado Mário Palmério, foi nomeado para o SANDU em 1958.

Em um almoço em sua casa, recepcionando o Presidente João Goulart em sua visita à Uberaba, Silvério conseguiu transformar o SANDU de Uberaba em classe A e também autorização para criar o SANDU em Ituiutaba.

Filiado ao PTB, em 1958 o seu partido ganhou as eleições municipais com Jorge Furtado na Prefeitura, Mário Palmério na Câmara Federal e Godofredo Prata, na Assembleia Legislativa, além do Juiz de Paz, Juca Inácio.

Com a revolução de 1964, os partidos foram extintos e substituídos pela ARENA, representando a situação, e MDB, pela oposição. O diretório de Uberaba do MDB foi criado por Silvério e Francisco Veludo.

Seu partido, PTB, disputou em 1966 através de Francisco Veludo, que, apesar de ter sido o mais votado dos candidatos, cedeu lugar para João Guido da ARENA, em virtude desta legenda ter obtido maior número de votos.

Voltou à carga concorrendo como vice de Francisco Lopes Veludo na eleição para a Prefeitura em 1970. Eram concorrentes também Arnaldo Rosa Prata, Mário Palmério e Artur Teixeira. Arnaldo ganhou com 44,13% dos votos contra 25,43% atribuídos à Veludo. Silvério reconheceu não ter feito boa campanha e justificou a vitória de Arnaldo pelo bom desempenho do Prefeito João Guido na gestão anterior.

Com a eleição de Hugo Rodrigues da Cunha em 1972, Silvério assumiu a Secretária da Saúde que lhe deu prestígio eleitoral, ajudando a vencer a eleição de 1976/1982, onde fez uma administração primorosa.

Já na eleição de 1983, seu candidato concorrendo pela ARENA, João Francisco Naves Junqueira obteve apenas 13,32% dos votos e Hugo Rodrigues da Cunha, 15,27%. Wagner do Nascimento, do PMDB, foi o vitorioso com 37,37%. Seus companheiros de partido também tiveram expressiva votação como Rene Barsan, 22,66% e Arnaldo Rosa Prata, l0,07%.

Silvério Cartafina Filho, político por natureza, voltou a concorrer nas eleições de 1988, desta vez enfrentando 9 candidatos. Hugo Rodrigues da Cunha foi o vencedor com 29,42% dos votos, contra Silvério, segundo colocado, com 21,09%. O remanescente foi distribuído entre os candidatos, João Batista Rodrigues, 20,04%, José Thomas da Silva Sobrinho, 15,96%, Adelmo Carneiro Leão, 8,52%, Anderson Adauto, 3,13%, Samir Cecílio, 1,09%, Bittencourt Bertolucci, 038%, e Germano Gultzgolf, 037%.

Foi sua última participação como candidato na área política. Nas décadas seguintes, além de respeitado conselheiro de políticos e amigos, se envolveu mais com suas atividades empresariais se destacando como fazendeiro e grande fornecedor de leite.

Nos últimos cinco anos se viu atacado pela Doença de Alzeimer, debilitando sua saúde. Faleceu em 12 de junho de 2019, aos 92 anos, em virtude de complicações renais e foi velado no Centro Administrativo "Ataliba Guaritá Neto", sede da Prefeitura Municipal de Uberaba, cujo Prefeito, Paulo Piau, decretou luto por 3 dias.

Silvério deixa viúva sua grande companheira de política, vereadora em diversas gestões e grande destaque na área social, Terezinha Cartafina, além dos filhos:

1) Ana Keyla, separada de seu ex-marido Eduardo, e seus filhos Franco, hoje deputado federal, herdeiro do avô na área política, casado com Maísa Lemos; Sophia, casada com Tiago Fontes e a filha Isadora.

2) Claudia casada com Evandro Andrade e seus filhos Arthur e Inácio.

3) Maristela, residente no Canadá, casada com Vicente Trius e os filhos João Vicente e Antônia.

4) Viviane Cartafina, casada com Eduardo Barbosa e os filhos Maria Eduarda e Lucas. Maria Eduarda tem uma filha, a Olívia.,

5) Renato, herdeiro de Silvério pela paixão de nosso folclore, casado com Renata.


Silvério Cartafina, além do exemplo de administrador político e empresário, era também violonista e cantador. Deixa muitas saudades entre seus familiares e amigos. Entre seus companheiros do folclore pela suas participações em manifestações culturais que varavam a noite. Onde estiver sabe que tem o reconhecimento da comunidade por tudo que fez pela sua cidade e pelo bem de seu povo.



Gilberto de Andrade Rezende – Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Ex presidente da ACIU e do CIGRA. Ex presidente do PDS.



Fontes – Jornal da Manhã e Pedro Carneiro. – Dados eleitorais – Tião Silva.






Cidade de Uberaba



domingo, 28 de abril de 2019

Renê Barsan – Um legado de realizações

Em plena madrugada de uma segunda-feira de outubro de 1982, recebo um telefonema de um amigo solicitando minha presença na residência de Renê Barsan para tratar de um assunto confidencial e urgente. 

O tema era política, pois estávamos a um mês das eleições municipais e Renê era um forte candidato a prefeito, pelo PMDB. Seus amigos diziam que já poderia mandar confeccionar o terno da posse.

De início, estranhei a solicitação, pois era então presidente do PDS. Partidarismo à parte, fui ouvir as razões desse inusitado convite.

Pelas suas pesquisas, era certa a vitória de Wagner do Nascimento. Renê, em segunda colocação, sugeriu que a única forma de modificar o resultado seria através da renúncia de Hugo, da qual seria o herdeiro natural, mesmo pertencendo a outro partido.

Quem conhecia Hugo Rodrigues da Cunha já sabia da impossibilidade dessa pretensão ser acolhida. Para não deixar dúvidas, ele declarou ao Jornal da Manhã que jamais renunciaria e que acreditava em sua vitória.

Na apuração dos votos, as previsões de Renê se confirmaram: o PMDB teve a preferência de 70% dos eleitores. Wagner, 37,37%; Renê, 22,66%; e Arnaldo, 10,07%. Já o PDS ficou com 29%; Hugo, 15,27%, e João Junqueira, 13,32%. Pouco mais de 1% tiveram os candidatos Henry e Victor.

Foi a primeira e última vez que Renê Barsan participou de um processo político partidário. Foi muito traumatizante o seu desapontamento. Ele se desencantou da política.

Família Taso ou Dasho em Harput: Elias Taso, Meryem Naman, Helani, Melek, Rahel, Aznif, Feride, Samuel e Sake.— Tradução: Rima Dilmener, Lisa Tigno, Nafi Donat,Maria Alice Barsam, Rene Barsam Júnior, Mark Willmann, Fabiana Barsam, Jen Siegelman eJoshua Crandall. Foto: Acervo da família.

Renê Barsan nasceu em 14 de junho de 1930 na cidade de Elasik, na Armênia, com o nome de Henna Barsamian. Fugindo do genocídio provocado pelos turcos e que dizimou mais de 70% da população, ele veio ainda criança com sua mãe, Aznif (Alice) Barsan, para Uberaba, onde, além de existir uma comunidade armênia, seu pai, Kavme Barsan, que já havia antecipado sua viagem, morava nas redondezas, em Uberlândia. Com a chegada da família, Kavme veio também para Uberaba e aqui se estabeleceu com o comércio de calçados e máquina de beneficiamento de arroz.

A família de Kavme residia à rua João Pinheiro, no bairro Boa Vista, e era constituída de cinco filhos: Renê, Henry, Ulisses, Nelson e Ailda (casada com José Bichuetti).

Ulisses, Nelson e Renê se formaram em Medicina. A formatura de Renê foi no início da década de 1950 e em 1956 graduou-se em ortopedia infantil na Europa. Ficou tentado a trabalhar na Legião Estrangeira, na África, mas foi demovido pelo pai. Dominava seis idiomas e fez inúmeros trabalhos acadêmicos publicados em vários países.

Médico por vocação, Renê instalou sua clínica na rua Olegário Maciel, no Centro, era exemplo de cidadão por devoção à cidade que o acolheu. Dedicava parte de seu tempo ao Hospital da Criança, ao lado dos médicos Humberto Ferreira e Ézio De Martino.

Dotado de espírito associativista, Renê se juntou com De Martino para criar a Sociedade de Medicina do Triângulo Mineiro (SMTM). Revezando-se na presidência e contando com o apoio de toda a classe, os dois conseguiram em quatro gestões entregar a sede própria da entidade.

Seu empenho em trabalhar por Uberaba não tinha limites. Desde 1966, a cidade tinha o sinal da TV Tupi. Todavia, não tinha emissora. Renê arregaçou as mangas para suprir essa lacuna. Como a concessão era dos Diários Associados, Renê, com captação de recursos junto à comunidade, criou uma empresa local para, em sociedade com a concessionária, implantar a emissora.

Em junho de 1972, em área doada pelo governo municipal Arnaldo Rosa Prata, foi inaugurada a TV Uberaba, com a presidência de Renê Barsan.

Renê nutria também um grande amor pelo Uberaba Sport Clube, no qual começou como assistente de jogadores com fraturas e acabou como presidente em 1978. Para dar sustentabilidade ao USC, criou o Cascata Club. Em sua gestão ficou registrada a façanha de ter sido o primeiro e único presidente do USC a vender um jogador para o exterior, Henrique Pires de Barros, que foi transferido para o Canadá.

Não era menor seu amor pelas crianças. Participou ativamente do Conselho do Bem-estar do Menor (Conbem), no qual os meninos trabalhavam fardados, por meio período, dedicando o outro intervalo para o estudo.

Sempre repetia que toda pessoa precisava exercer uma profissão, independentemente de sua renda. Sabendo das dificuldades de grande parte da população mais carente de ingressar nas poucas faculdades existentes, Renê estimulou o prefeito Hugo Rodrigues da Cunha a criar, em 1975, a FETI – Fundação de Ensino Técnico Intensivo. Ele abriu um espaço na área pública para formação de profissionais técnicos em variadas atividades. Quando assumiu a sua presidência, fez toda uma reorganização, que provocou uma grande expansão da entidade, dentro dos moldes que preconizava.

Além de atuar na Medicina, ele também agiu no setor empresarial. Tinha expressiva participação nas empresas de ônibus Líder e São Geraldo. Criou também a Itemel, uma fábrica de para-raios que concorria com a Eletrotécnica.

Foi presidente da ACIU no período de 1980/1981. Conseguiu, em sua gestão, a aprovação do curso de Ciências Contábeis para a FCETM – Faculdade de Ciências Econômicas do Triângulo Mineiro. Promoveu diversos cursos, seminários e palestras visando aquisição de novos conhecimentos técnicos para os associados. Participou da elaboração do projeto municipal de consolidação do novo Código Tributário. Informatizou o SPC para agilizar o atendimento. É também em sua gestão que a diretoria da entidade fez campanha para a instalação de um centro coletor para tancagem de álcool.

Renê, falecido em 22 de setembro de 1988, era casado com Maria Beatriz Furtado e teve 3 filhos - Marcelo, médico, casado com Fabiana; Renê Júnior, administrador, casado com Ana Lúcia; e Maria Alice, odontóloga.

Em suas declarações, o filho Marcelo disse que seu pai não admitia intolerância. “Na minha casa não tem isso, porque sofremos isso fora”, explica.

Intérprete fiel do que pensava a comunidade, Luiz Gonzaga de Oliveira, que o assessorou na TV e na ACIU, disse que Renê era, além da elegância e educação, um homem decente, um líder de caráter, de dignidade e de seriedade absoluta.

“Dr. Renê Barsam” é o nome da FETI (Fundação de Ensino Técnico Intensivo) e da Unidade Básica de Saúde instalada no bairro Santa Marta. 



Gilberto Rezende
Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro e ex-presidente e conselheiro da ACIU e do CIGRA
Fontes: ACIU, Marcelo Barsan e Luiz Gonzaga de Oliveira
Os dados eleitorais são de Tião Silva




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