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sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

PARA O MEU PRIMEIRO AMOR:

 Praça Rui Barbosa - Ano 1956



Ah, minha Uberaba

A tarde sem ti

Tão riste se acaba
Não estou mais aí!
Seu filho, amuado
Relembra o que foi…
Passado enterrado
Nas patas de um boi!
Sorvete na Linde
São Bento a vagar
Cerveja gelada
No bar Marabá
Mimando a boneca
A triste Maria
E a Santa assistindo
Do bairro Abadia
Futebol no Fabrício
Nadar no Azulão
Flertar com as meninas
Na Exposição
Abraçar um amigo
Na Arthur Machado
O Zote reclama
Do carro lavado !
Dos que identificam
Restaram pouquíssimos
Roubar uma fruta
Lá nos Felicíssimos!
Verdura fresquinha
Mercado Central
São Luiz lotado
Sessão matinal!
Quermesse levando
O pouco que eu tinha
No arremate de um frango
Santa Terezinha!
Qual veia pulsante
O seu Lajeado
Na Leopoldino
Então libertado!
Ah, doce lembrança
Do teu Carnaval
Vovô lá na banca
Vendendo jornal!
Carroça do leite
Quando nada era caro
Meu clube de campo
Chamado Rio Claro !
Eu vendo, não vendo!
Comprei, não comprei!
O papo animado
Em plena “Enjeitei”
Café do Paulinho
Lá no Mil e Um
Lavoura & Comércio
Tem crime? – Nenhum !
Barrado na entrada
Do teu matinê
Não trouxe gravata
Não entra, não vê !
O tempo ligeiro
Num redemoinho
Levou a Garapa
Levou o Catetinho
Ah, minha Uberaba
A tarde sem ti
Tão triste se acaba
Não estou mais aí!
Seu filho, amuado
Relembra o que foi…


Passado enterrado

Nas patas de um boi!


(Tharsis Bastos Barros)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

O BÊBADO, A SANTA E O CARA DE PAU

O fato vai comemorar 50 anos… Rememoro-o sob a égide do Carnaval que se aproxima.
O local foi aquele trecho da Rua Arthur Machado que hoje tem o trânsito proibido para automóveis e que chamamos Calçadão. O dia, se não me engano, uma sexta (ou um sábado) de carnaval. A hora, estimo, 7 ou 8 da noite. O ano, com certeza, 1963.
Do balcão da banca de jornais de meu avô, assistia deslumbrado o desfilar dos foliões uberabenses. Corsos de carros gerando chuva de confetis. Serpentinas coloridas cruzando a rua. O cheiro inebriante da lança-perfume Rodoro se espalhando no ar…
Era comum naquela época, já numa incipiente ação de marketing, as empresas mais tradicionais da cidade patrocinar blocos caricatos. Não me recordo mais dos nomes “comerciais” desses blocos, com a exceção de um que jamais deixará minha lembrança: O Bloco Carnavalesco do Salão Rex.
Foi justamente nele que o bom baiano, lavador de carros, ajudante de pedreiro, vigia noturno, pau-pra-toda-obra e torcedor fanático do USC, o Marambaia, decidiu extravasar sua euforia. Devidamente fantasiado, convenientemente “abastecido”, nosso folião escolheu um adereço inusitado para complementar a vestimenta: um guarda-chuva onde faltava a seda… E pendurados em cada “barbatana” bonequinhos coloridos.
Porém, abastecido além do necessário, o pobre-diabo custava a evoluir pela rua. Dava dois passos para frente, um para trás, dois para o lado… E seguia naquela marcha tão própria dos borrachos. Atrás dele, gargalhando e soltando assovios, um imenso bando de moleques…
A tentação foi demais para meus nove anos… Saltei o balcão da banca de jornais e corri a me integrar ao grupo dos pestinhas que atazanavam a vida do pobre coitado. Volta e meia, um ou outro molecote mais taludo, chutava os fundilhos do bêbado, que reagia (ou pelo menos tentava) golpeando a esmo seu impagável guarda-chuva.
O que sei a partir daí, naturalmente me foi contado. Em um daqueles volteios, uma barbatana de metal veio se cravar em minha fronte, dois ou três dedos acima da orelha esquerda. Ao me ver cair redondamente no chão, o pobre folião ainda teve um gesto de desespero, puxando para trás seu adereço. Porém, o golpe foi profundo e ele não conseguiu nada além que quebrar a barbatana. Desapareceu correndo por entre a multidão e eu fiquei estirado na calçada com aquele pedaço de metal preso ao crânio.
Um jovem estudante de medicina tentou, na época, num gesto de desespero, arrancar com a mão aquele meu incômodo “acessório”. Mas a resistência foi tamanha que o jovem sentiu-se mal. Passamos a ser dois desmaiados no chão. Foi um sapateiro, cujo nome evaporou-se em minha memória, que conseguiu a proeza de sacar a barbatana tão bem encravada. E gritou desesperado ao ver sair um pouco de massa cinzenta junto.
Com a ajuda de alguns populares e meus parentes aos prantos, fui colocado na ambulância do “SAMDU” e levado até o médico plantonista, Silvério Cartafina, que verificando meu estado, fez toda a assepsia necessária e aconselhou a família buscar ajuda especializada.
Naquele época – e durante muitos anos – o papa da neurocirurgia em Uberaba era o Dr. Guerra, que constatando a gravidade do ferimento optou pela cirurgia, limpeza e fechamento do local. E terminou sua tarefa com um “agora é esperar”, não muito animador.
Foram seis dias de muita angústia para minha pobre mãe, que via o filho naquele estado comatoso, só piorando cada vez mais. Ela não teve dúvidas: correu aos pés de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa e garantiu à Santa que, caso eu sarasse, me faria ler diariamente – e pelo resto da vida – o Livreto da Medalha, orando todas as noites em louvor à Santa!
O meu amigo Padre Prata, que entende mais dessas coisas, certamente saberá o grau do castigo que me caberá, porque não consegui, ao longo da vida, cumprir a promessa compulsória…
Porém, muito matreiro, muito cara-de-pau, me agarrei com toda fé à Santinha. Além de não pagar a promessa, não dou um passo sequer sem pedir-lhe a proteção e bênçãos. Sou obrigado a acreditar que o coração de mãe é realmente maravilhoso. Se um devedor fizesse comigo o que faço com Nossa Senhora, já o teria mandado ir buscar graças e bênçãos em outra freguesia… Ou catar coquinhos lá na esquina da banca de jornais…

THARSIS BASTOS BARROS

domingo, 1 de janeiro de 2017

PEQUENO POEMA PARA NOSSOS DIAS

Eu vi um povo na rua
Não sei como um polvo atua
Tentáculos que se engalfinham
Dedos que surrupiam…
Um brada todo em vermelho,
Outro treme qual coelho
Panelas retinem à noite
Conturbada segue a horda
A polícia estica corda
Ameaça com o açoite
Eu vi um povo na rua
Desorientado, gritando
A sua tristeza vã
Num ir e vir sem destino
Num soluço repentino
De quem não sabe o amanhã
Indigitada nação
Tantos filhos sem leitura
Cavam a sepultura
De seu futuro doentio
Na faixa em diagonal
Do pavilhão nacional
Escreveu-se o desafio:
Ordem! Mas quem diria !
Progresso! Quanta ironia…
O país se corrompeu
O povo que se vendeu
Buscou o inferno nos céus
Os filhos roubaram tanto
Que para o geral espanto
Somos todos tristes réus !
(17/03/2016)
Tharsis Bastos Barros