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quinta-feira, 16 de novembro de 2017

SONHO DE CARNAVAL

Era uma noite enluarada, quase se escondendo, pois o sol, estava chegando. Estrelas mil cintilavam pelo azul anil; a madrugada quente, fervilhava meu coração. Sei lá, estava muito alegre. Levantei-me apressado.Rosto lavado,roupa trocada, barba feita. Vestí a minha melhor “farpela”.Meus sapatos engraxados,brilhavam.Tanque cheio, lá vou eu para a passeata no velho e bem conservado “carango”,uns dez anos de uso, só na minha mão...Fogos espocavam por toda a cidade. Dos rincões do “São Benedito”, ouviam-se os rojões que vinham do “Abadião”.Entrei no querido “carango”, ouvindo o barulho dos fogos nas bandas das “Mercês”,que ecoava no “Fabricio”, passando pelo “Boa vista” e terminando nos “Estados Unidos...

A terrinha estava em festas! Festa,não! Festão !A “ sagrada”, tinha acabado de ganhar uma espetacular e sonhada “planta de amônia”! Minha santa ignorância quis saber do que se tratava essa grande conquista que arrebatara de tanta alegria, a nossa cidade. Amônia?Planta?Na mesma hora um competente secretário municipal, foi me ensinando:-Planta é a fábrica ! Dois mil empregos,diretos!Amônia é o produto que está em falta no Brasil e absoluto componente para compor os nossos nitrogenados (?).Será produzido em Uberaba, entendeu, seu burro !”Fiz sinal com a cabeça que havia entendido.-“Ah! muito bom”...

A carreata, com dezenas de carros,percorria ruas e avenidas da santa terrinha.Um barulhento “trio elétrico” tocava o hino da cidade,depois o hino do Uberaba Sport,seguido do hino do Nacional,vindo depois o hino do Independente, do Conservatório,o samba”Uberaba-bão” tema de campanha do Chico Veludo.Um locutor de voz forte e eufórico ( se não me engano era a do Eustáquio Rocha...), bradava com toda a força dos pulmões ,que chegara a redenção de Uberaba !O Brasil estava à salvo com a “planta de amônia”!O governo municipal,auxiliado pelos nossos deputados, estaduais e federais, venceram, depois de luta indômita, a batalha consagradora! A “ planta de amônia” era de Uberaba e ninguém tasca !

O gás necessário para implantação da indústria,estava resolvido ! O governo de Minas, tão “amigo” e puxa-saco da nossa região, já tinha dado a “ ordem de serviço” para o gasoduto de Queluzito (região de Betim) “abastecer” a “planta de amônia de Uberaba”..empreendimento que iria multiplicar outra indústrias instaladas e por se instalar no trecho...De dez a quinze cidades, cresceriam com a passagem do “duto” pelas suas cidades. Euforia !Beleza !

O “trio elétrico” da Prefeitura ,tocava música do”gás total”. A Escola de Samba do Cabuçu (“c” cedilha,viu...)estava com o “enredo” pronto para o próximo carnaval:-“Uberaba na era do gás total”!Alguns carros alegóricos,desenhados:Chico Xavier,montado num boi zebu; Mário Palmério,ao piano,dedilhando em marcha-rancho, a sua “Saudade”, Antenógenes Silva, na sanfona,tocando em ritmo de samba-batucada,”Saudade de Uberaba”,Fidélis Reis,altivo,à porta de uma maquete do SENAI, Joubert de Carvalho,faceiro,a vontade..”De papo pró á...”

A “Marquez do Sapucaí,apinhada e uberabenses, delirava ! “Que cidade maravilhosa, quanta coisa linda meu Deus !Essa fábrica (planta)será a redenção do Brasil, em insumos e fertilizantes”, cantava a massa ignara, dependurada nas arquibancadas da Sapucai”. O locutor do desfile (não era mais o Eustáquio Rocha...)anunciava:-“Uberaba cumpre o que promete !”

Acordei ! Olhos remelentos e nariz escorrendo.A bruma seca,chegou !              

Luiz Gonzaga de Oliveira