VOZ MARCANTE
Ela sabe muito bem o tanto que lutou para chegar onde chegou. As esquinas dobradas, os obstáculos enfrentados, os muros de indiferença e discriminação enfrentados. Sobretudo por trilhar por um caminho que, para muitos, é reto, suave e quase sempre bafejado por posição social privilegiada.
Imagens: fotos do álbum de família em sua página no Facebook.
Filha de família humilde, mais velha dentre seis mulheres e um único irmão homem, teve que trabalhar e estudar para ajudar nas despesas da casa. Mulher de fibra, guerreira, ainda jovem prestou concurso para o serviço público, logrando classificar-se entre as primeiras colocadas. Trabalhou quase a vida toda na Prefeitura de Uberaba, até alcançar sua merecida aposentadoria nos quadros da Procuradoria Municipal. Antes disso e, paralelamente, com garra e muita força de vontade, cursou a Escola Normal, hoje Castelo Branco, onde graduou-se com louvor. Mas isso não seria o bastante para ela. Só o emprego público não era o suficiente para ajudar no sustento da família. Foi quando então descobriu ser portadora de um excepcional timbre vocal e dele resolveu tirar proveito profissional. Desde então passou a atuar também como locutora da Rádio 7 Colinas e, posteriormente, como apresentadora de telejornal no extinto Canal 5, TV Uberaba.
Não fora sua personalidade tímida, avessa à badalação dos meios artísticos, poderia muito bem ter alcançado o estrelato nacional só com a força de seu inegável talento e voz marcante.
Ana Amália Matheus me faz lembrar as muitas mulheres guerreiras desse nosso imenso país, aquelas brilhantemente lembradas nos versos da canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, que dizem:
“Maria, Maria, é um dom, uma certa magia / Uma força que nos alerta / Uma mulher que merece viver e amar / Como outra qualquer do planeta / Maria, Maria, é o som, é a cor, é o suor / É a dose mais forte e lenta / De uma gente que ri quando deve chorar / E não vive, apenas aguenta / Mas é preciso ter força, é preciso ter raça / É preciso ter gana sempre / Quem traz no corpo a marca, Maria, Maria / Mistura a dor e a alegria / Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça / É preciso ter sonho sempre / Quem traz na pele essa marca possui / A estranha mania de ter fé na vida” ...
E é por ter lutado com garra, com raça, demonstrando sua inabalável fé na vida é que Ana Amália Matheus merece figurar em Coisas e Fatos Antigos de Uberaba.
Moacir Silveira