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domingo, 7 de junho de 2020

AS FESTIVIDADES DE MAIO EM UBERABA

PASSOU o primeiro de maio, sem alarde de manifestantes; dois de maio, sem comemoração tradicional do aniversário da cidade; três de maio, sem inauguração da Exposição no Parque Fernando Costa, sem baile do governador no Uberaba Tênis Clube, sem Schroden, nem Prieto ou Akira explodindo flashes e tirando fotos de políticos que eram ídolos do país – pasmem, mas naquele tempo existia isso! – acenando para multidões ou levando às pistas de dança as moças mais lindas da cidade, no dois-pra-lá, dois-pra-cá ou nos rodopios embalados pelas melhores orquestras do país e da cidade.

JK com Daça Rodrigues da Cunha, hoje Barbosa, em desfrute no Baile do Presidente, Jockey Club de Uberaba

Mas ainda é dia cinco de maio e, se me permitem, podemos entrar no clima daquelas festividades que se prolongavam até dia 10. Portanto, estamos dentro do período festivo e, usando de artifício – uma janela para a história –, retomamos a época de ouro que fez de Uberaba referência nacional de elegância e savoir vivre.

Adalberto Rodrigues da Cunha com o presidente Getúlio Vargas

Para resumir o período, os anos de 1940, 1950 e até 60 foram fascinantes para a classe média alta uberabense – mulheres de longos e homens de smoking, levando o glamour ao apogeu – e tiveram como ícones dois dos maiores políticos brasileiros: Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Ambos se encontravam em Uberaba durante as exposições de gado, arregimentando profissionais de todas as áreas, da segurança aos bufês, no rigoroso sistema de segurança, no caso do Pai dos Pobres (Vargas).

Tancredo Neves, Celuta Leite Rodrigues da Cunha, Juscelino Kubitschek e o prefeito Antônio Próspero

Para quem os viveu, aqueles momentos foram “coisa de cinema”. Para quem não fez e aconteceu por lá, entre beldades e autoridades, a salvação vem através do acesso que eu tive, e agora o leitor, em versão reduzida, aos álbuns de fotografia de Dadaça Barbosa – guardiã da memória da família. Estas relíquias trazem de volta a memória da casa paterna. Era na residência de seus pais que Getúlio Vargas se hospedava e a magia dos anos 50 ressoa através das imagens congeladas em papel de qualidade.


A residência de Celuta e Adalberto Rodrigues da Cunha - Foto Antonio Carlos Prata.


Elegância dos homens de smoking em jantar chez Celuta e Adalberto

A residência de Celuta e Adalberto Rodrigues da Cunha, presidente por 15 anos da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (leia-se ABCZ), tinha aspecto cerimonioso no período da Exposição, pois lá se hospedava o presidente Getúlio Vargas, amado pelas mulheres, que com ele alçaram o direito a voto, e admirado pelos homens, que, com ele, obtiveram carteira de trabalho e aposentadoria. Tido por vários historiadores como o maior estadista brasileiros de todos os tempos, Getúlio chegava com seu entourage, incluindo militares de destaque, seguranças e a guarda montada, que fazia a ronda, 24 horas/dia, pelo quarteirão compreendido entre Segismundo Mendes, Alaor Prata, praça Manuel Terra e Leopoldino de Oliveira, local da residência.

Três mesas para o banquete; confiram os detalhes

Os hostess se adaptavam muito bem às exigências protocolares do hóspede famoso. Getúlio ocupava a suíte do casal – o quarto, propriamente dito, mais quarto de vestir (closet), banheiro e terraço, com vista para os jardins e para a avenida [não seria boulevard o nome correto?] –, por onde corria o córrego a céu aberto, arborizada por imensas tipuanas. Gregório, o homem de confiança do presidente, depois ditador, hospedava-se no quarto ao lado, dito “das crianças”. No anexo da casa, que, no futuro, seria transformado em boate, se juntavam os vários seguranças.

1956 – Chiquérrimo Adalberto com JK, no Parque Fernando Costa

Crianças, em casa, nem pensar. Antônio Carlos, Soninha, Dadaça, Luiz Carlos e Rosinha (Joãozinho ainda não era nascido) chispavam para a casa da avó, Lídia Leite. As empregadas domésticas entravam com Getúlio e só podiam sair da casa na despedida dele. Nada de entrar pela manhã e sair à noite.


Outro momento de JK e Adalberto no Parque de Exposição

A casa, projetada e construída pelo arquiteto austríaco Carlos Simoneck, em torno de 1942, se adequava, perfeitamente, aos jantares oferecidos a Getúlio Vargas e demais personalidades do mundo político nacional. Às vezes, à mesa de jantar se somavam duas outras, no formato de U, criando o aspecto tradicional de banquete. Sobre o toalhado de linho bordado em richelieu, vindos da Ilha da Madeira, os grandes arranjos de crisântemos, replicados nas corbeilles, ao fundo das salas, ampliavam o requinte da decoração.
Celuta e Adalberto recebiam como poucos e procuravam descontrair o ambiente em momento de cerimonial rigoroso.

Luiz Carlos, Renato e Soninha, Rosinha, Juscelino e Dadaça no Baile do Presidente, Jockey Club de Uberaba

Vargas não era homem de pista de dança, mas, numa das exceções, enlaçou Vitória Helena pela cintura, no salão do Jockey Club, no embalo de alguns ritmos da época; um bolero, possivelmente.


Rodney, fi lho de Maria Alice e o médico Carlos Smith

Os filhos de Celuta e Adalberto só tiveram acesso aos bailes quando, já grandinhos, Juscelino Kubitschek, que antes se hospedava na mansão de Marico Rodrigues da Cunha (Hotel Tamareiras), ocupou a Presidência da República, num dos períodos mais vertiginosos da vida brasileira. JK, sim, era pé-de-valsa, e queria dançar, de preferência a noite toda, com todas as belas do baile.

Estatueta do presidente Getúlio Vargas: coleção historiadora Sônia Fontoura

Que seja agradável a viagem do leitor ao futuro do pretérito desta história! Eu gostaria... eu poderia... Mas não pode mais. Uma pena! Viajar neste futuro somente Woody Allen, em “Era uma Vez em Paris”. Pois vamos às fotografias e desfrutemos delas, com agradecimentos à Dadaça!

(Jorge Alberto Nabut _Uma primeira versão desse texto foi publicada no Jornal da Manhã, em 05/05/2020 )






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TAPETE VOADOR

• Preservação - A residência de Celuta e Adalberto foi salva da destruição ao ser comprada, restaurada e adaptada para atender à Boticário. Um dos raros exemplos bem-sucedidos de utilização do patrimônio arquitetônico da cidade.

• Uma árvore de lembrança - Como lembrança da avenida de sua infância e juventude, Dadaça plantou em sua residência uma tipuana. Nada mais coerente com sua história de vida.

• Caindo na real - Agora, sim, podemos fechar o álbum, respirar fundo e retomar a realidade, tão exasperadora do período em que nos encontramos, dominados por um inimigo comum e invisível, possivelmente criado para nos devastar da face da Terra e denominado Covid-19.

• Choradeira – O amor do brasileiro por Getúlio Vargas era tamanho que, no dia em que ele se suicidou – 24 de agosto – a confeiteira que fazia o bolo para um aniversário saiu chorando e foi um custo para trazê-la de volta ao ofício.

• Bonequinho – Paixão por Getúlio levava brasileiros a colocarem foto dele na sala de visitas e a adquirir imagens do presidente, como fizeram os pais da historiadora Sônia Fontoura, que a conserva como preciosidade.

• Morte de Getúlio – O país praticamente entrou em pânico com a morte de Getúlio Vargas. As revistas traziam na capa a inumerável multidão que acompanhou seu corpo até o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Minha mãe guardou o exemplar da Manchete como relíquia.

• Getúlio no carnaval – Getúlio Vargas foi tema de várias marchinhas de carnaval e uma delas o leitor poderá se deliciar na nossa edição online de hoje. Trata-se de “A Menina Presidência” (1937), de Nássara e Cristóvão Alencar, na interpretação de Sílvio Caldas.

• A Menina Presidência - A marchinha brinca com as idas e vindas da campanha eleitoral de 1936/37. No momento em que a música foi gravada, duas candidaturas pareciam destinadas a polarizar a disputa: a do paulista Armando Salles, seu Manduca, pela oposição, e a do gaúcho José Américo de Almeida, seu Vavá, um dos principais nomes da Revolução de 30, pelo governo.




** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do JORNAL DA MANHÃ e UBERABA EM FOTOS

O conteúdo é de responsabilidade exclusiva do autor.


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Cidade de Uberaba



sábado, 1 de fevereiro de 2020

UMA DAMA NA BARBEARIA

Já falamos aqui sobre os “anos dourados” da pecuária do zebu durante o início da década de 1940. Com os grandes países do mundo envolvidos numa guerra interminável, a demanda e o preço da carne bovina no mercado internacional foi às alturas.

Capa do jornal "Lavoura e Comércio" do dia 19 de abril de 1944

O governo brasileiro, por meio do Banco do Brasil, oferecia crédito fácil e barato a qualquer interessado em investir na criação de gado. O resultado foi uma “bolha especulativa” com o boi indiano: milhares de pessoas, muitas sem nenhuma familiaridade com o negócio, tomavam empréstimos ou aplicavam suas economias na criação de zebu, em busca de fortuna rápida. Como era de se esperar, o preço dos reprodutores disparou.

Um detalhe da foto de capa, tirada pelo fotógrafo Prieto.

De um momento para o outro, os pecuaristas do Triângulo Mineiro tornaram-se celebridades nacionais. A imprensa contava histórias e lendas sobre os novos milionários e seus touros transformados em verdadeiras minas de ouro. Dizia-se que, em Uberaba, havia estábulos com ar refrigerado – na época, um luxo que pouquíssimas casas dispunham – e que algumas reses tomavam banho com champanhe. Num tempo em que andar de avião era um sonho, divulgavam-se fotos de touros sendo transportados em aeronaves para fazer coberturas. Alimentando a fama, grupos de “zebuzeiros” fechavam bares e cassinos no Rio de Janeiro, em festas onde comentava-se que charutos finos eram acesos com notas de dólar americano.

Avenida Leopoldino de Oliveira, no final dos anos 1940. No canto esquerdo, o prédio da Associação Comercial, que tinha no térreo o Restaurante Ribamar.

Certamente havia excessos de novos-ricos deslumbrados com o dinheiro fácil, mas boa parte dessas lendas era simples invenção, ou exagero em cima de fatos reais. Houve, de fato, alguns casos em que reprodutores vendidos para regiões distantes do Brasil foram levados de avião – até porque eram poucas as opções de transporte. Mas a especulação com o preço dos animais gerou situações inusitadas. Algumas delas podem ser resgatadas nos jornais da época, como o velho “Lavoura e Comércio” de Uberaba.

Tantos eram os interessados na Exposição de Gado Zebu em 1944, que a SRTM solicitava à população que recebesse os visitantes em suas casas.

Em abril de 1944, a euforia estava no auge e nossa cidade se preparava para a abertura de mais uma Exposição. Eram tantos os interessados em conhecer “a Meca do Zebu” que os hotéis e pensões não davam conta. A Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, antecessora da ABCZ, publicou anúncios nos jornais pedindo às famílias uberabenses que se dispusessem a alugar quartos em suas casas para alojar os visitantes. No dia 19, o “Lavoura” estampou na capa uma grande notícia com direito a foto, onde se via uma jovem bezerra sendo atendida em uma barbearia no centro da cidade. E contava em detalhes a história.

O Salão Rex continua em funcionamento, mas desde os anos 1970 está na Galeria do Edifício Rio Negro. O cabeleireiro Vasco, veterano do estabelecimento, confirmou algumas das informações dessa história. Foto: divulgação Galeria Rio Negro

O criador José Campos, filho de uma família de fazendeiros da vizinha cidade de Veríssimo, contou que estava almoçando no restaurante Ribamar – na época um dos melhores da cidade, no lugar onde mais tarde funcionou o Bar Tip-Top – quando viu passar pela calçada da Avenida Leopoldino de Oliveira um homem conduzindo uma bezerra zebu. Largou os talheres, correu atrás do moço e disse que queria comprar o animal. O dono, José de Paula, relutou em vender – alegando que a havia ganho de presente, que a bezerra chamava-se “Boneca” e era criada em casa, como bicho de estimação. Mas não resistiu a um cheque de 10 mil cruzeiros oferecido pelo pecuarista.

Capa do jornal "Lavoura e Comércio" do dia 19 de abril de 1944

Criador experiente, José Campos achou que Boneca – uma Indubrasil bem puxada para o Gir – estava maltratada, que a aparência descuidada e os pelos longos escondiam suas boas qualidades. Sem muitas alternativas nas imediações, Campos levou a bezerra ao Salão Rex – tradicional barbearia que ficava na própria Av. Leopoldino, próximo à esquina da Rua Artur Machado, onde hoje há uma loja de celulares – e convenceu o proprietário Artur Riccioppo a “dar um trato” na menina. A cena foi flagrada pelo fotografo Prieto.

De banho tomado e com a toilette feita, Boneca despertou a cobiça de quem passava pelo local. Teve início na calçada um leilão improvisado, onde o novo proprietário teria “enjeitado” uma oferta de 40 mil cruzeiros pela nova estrela do seu plantel. “Boneca tem qualidades excepcionais” – dizia – “bem tratada, dentro de pouco tempo estará figurando entre as bezerras mais cotadas de região, e seu preço superará a casa dos 100 mil cruzeiros”. Para se ter uma ideia, com esse valor comprava-se na época um pequeno apartamento com vista para o mar no Rio de Janeiro.

Já no ano seguinte, com o fim da guerra e o corte nos financiamentos, a “farra do boi” terminou de forma trágica. O preço do gado despencou, inúmeros fazendeiros e investidores perderam tudo o que tinham e a classe dos pecuaristas passou uma década pendurada em dívidas e penhores – até conseguir um generoso perdão do governo em 1954.

(André Borges Lopes_Uma primeira versão desse texto foi publicada da na coluna "Binóculo Reverso”do Jornal de Uberaba, em 19/01/2020

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

INÍCIO DA CONSTRUÇÃO DO GINÁSIO DO JOCKEY CLUB - UBERABA

 Início da Construção do Ginásio do Jockey Club de Uberaba




Década: 1970


 Início da Construção do Ginásio do Jockey Club de Uberaba

Praça Rui Barbosa

Foto: Prieto

(Acervo pessoal de Valdir Rodrigues Vilela)



sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Residência da família Ângelo Prieto

 Residência da família Ângelo Prieto em 1937



Residência da família Ângelo Prieto em 1937 – Bairros Estados Unidos - Uberaba.

Esquina das Ruas Marques do Paraná com Professor Terra.

Foto: Ângelo Prieto

(Foto da família Prieto de seu acervo pessoal)