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terça-feira, 28 de abril de 2020

Profissionais da saúde

“Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência.

Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra.

Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime.

Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário.”

Eis o juramento lapidar do médico, ditado pelo filósofo grego Hipócrates (460 a.C), considerado o pai da Medicina. Tendo o médico como referência, as palavras que direi a seguir, são dedicadas a todos os profissionais da saúde.

Quando tudo está perdido, vamos encontrar a esperança nas mãos daqueles que, doutrinados para servir, se expõem como se a vida do outro fosse a própria. Não têm o direito de escolher o que querem, se diante de si estiver o semelhante a implorar para que lhe acalme a dor. Doar é a única opção e, na maioria vezes, um segundo de tempo a mais ou a menos pode fazer a diferença. Não têm pressa, mas não podem demorar.

Temos visto médicos e seus colegas correlatos darem suas vidas na batalha contra o coronavírus. Eles e elas se jogam no front sem a menor noção de onde surgirá o inimigo. Ao saírem de seus lares, beijam seus entes queridos, feito o soldado que parte para a guerra, não sabendo se voltará vivo para beijá-los novamente.

Se há uma profissão que vai além, com o perdão das outras, inclusive da minha, é a do profissional da saúde. Ao prestarem o juramento, todos os integrantes da área se disponibilizam em fazer do nosso último momento a chance de não deixar a nossa esperança morrer. Esse é o ir além.

As palavras de Hipócrates, ditas há mais de 2.000 anos, se tornam atualíssimas quando o mundo se curva diante da Covid-19 e os zelosos da saúde, nesse momento crucial, ao contrário, emergem de si mesmos com coragem titânica! Não fossem eles, o que seria de nós?

De talentosas inteligências surgirá o stop ao coronavírus. Em consonância com outros seres iluminados, os profissionais da saúde estarão na primeira fileira dos nossos heróis. Assim eles devem ser reconhecidos.

(*) - João Eurípedes Sabino.
Presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
Uberaba/MG/Brasil.

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Cidade de Uberaba

domingo, 16 de fevereiro de 2020

À beira do abismo (*)

No final dos anos cinquenta, lembro-me de ouvir através da Rádio Sociedade do Triângulo Mineiro-PRE 5-ZWV 37, o programa “Por detrás das grades”. Era também comum ver os adolescentes jornaleiros em desabalada carreira saírem por um corredor lateral do vespertino Lavoura e Comércio, bradando : “Ó o Laaavouuuuura! Deu o crime!”. Nomes eram citados e a seguir não citarei nenhum para evitar problemas. 

Na Rodoviária Velha, tínhamos os Agentes de Polícia, ou “Bate Paus” que, investidos de autoridade prendiam para averiguação. A um deles foi atribuído o fato em que ao pedir os documentos a certo suspeito, foi-lhe apresentada uma receita médica. “Está tudo certo. Só falta você colocar a sua fotografia” disse a autoridade. Um certo investigador ostentava em sua Vespa a legenda: “Polícia Secreta”. 

A Revista O Cruzeiro publicou a foto do veículo. Um soldado destacado no Bairro Santa Maria cortou seu cacetete cumprindo ordens superiores para “cortar a borracha”. Tínhamos os comissários de menores voluntários (não vai longe o tempo) que, exercendo suas atividades particulares recebiam do Poder Judiciário a credencial para agir em cima da infância e juventude. Um deles, que também foi vereador e dono de pensão, se fazia respeitar pelo seu jeito irrepreensível. 

Sensatos e comedidos à parte, muitas autoridades de antão e recentes seriam penalizadas, sujeitas a cumprir de meses até quatro anos de detenção, além de indenizar o ofendido. Por quê? É que, por exemplo: expor o preso ou parte do seu corpo, entrevistá-lo, interrogá-lo durante o período de repouso noturno, perambular com ele dentro de camburão, misturar detidos de sexos diferentes, “constranger”, etc., etc., etc., vai dar cana para quem o fizer. Agora sim; o bandido receberá o trato de excelência e o membro de tribunal, o juiz, o promotor de justiça, o policial, o agente penitenciário e outros ficarão expostos até à perda do cargo e função. Está instalada a ditadura em plena democracia. Alguém duvida? 

Na minha embaçada visão jurídica, considero que houve avanços(a lei menciona as redes socias no Art.38), mas é inegável que os agentes do Estado irão recuar. Vamos pagar a conta com valores astronômicos. O juiz não pede, ele manda. Tanto que a sua ordem é expressa em “MANDADO” que poderá virar “PEDIDO”. Guardemos a “Lei do Abuso de Autoridade” para não nos esquecermos desde quando o Brasil parou à beira do abismo com a lei 13.869, vigorando desde 05/01/2020. 


(*) - João Eurípedes Sabino 
Presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. 
Membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerias. 
Presidente do Fórum dos Articulistas de Uberaba e Região

Cidade de Uberaba