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terça-feira, 8 de janeiro de 2019

André Borges Lopes

Há duas semanas, falei das uvas e vinhos do Padre Zeferino, destruídos pela repressão aos que apoiaram a Revolução Liberal mineira. Mas o movimento de 1842 também trouxe benefícios à região de Uberaba. Um dos mais duradouros foi a transferência do Colégio do Caraça que – para se afastar da agitação política – deixou às pressas as serras ao norte da antiga capital Ouro Preto e se instalou em uma fazenda em “Campo Belo da Farinha Podre”, atual cidade de Campina Verde.

Encravado nas montanhas da Serra do Espinhaço, o “Santuário do Caraça” é um ponto turístico histórico de Minas Gerais. Foi o primeiro grande empreendimento no Brasil da Congregação da Missão – ordem religiosa conhecida como ”lazaristas” ou “Irmão Vicentinos” – que, vinda de Portugal antes da independência, aqui chegou em 1818. Dois anos depois, receberam de Dom João VI as terras onde havia a “Ermida do Irmão Lourenço”, uma capela barroca e uma hospedaria para peregrinos que se aventuravam pela Serra do Caraça.

Em poucos anos, a ermida semiabandonada transformou-se num colégio interno e um seminário, inaugurados em 1921. Famoso pela seriedade e rigidez da disciplina, o Caraça tornou-se referência de ensino para a elite brasileira do século XIX. Ex-alunos fizeram carreira como governadores de estado, senadores, deputados, empresários e autoridades religiosas – entre eles dois presidentes da República: Afonso Pena e Artur Bernardes. Colégios particulares do Rio de Janeiro faziam anúncios destacando que seguiam o “método Caraça” de ensino científico, religioso e moral.

Nos anos após a independência, havia muita desconfiança política em relação a padres estrangeiros vinculados às ordens em que os superiores estavam na Europa. Mas não são claros os motivos que levaram à fuga dos lazaristas durante a Revolução que – por dois meses e dez dias – transformou Minas Gerais num campo de batalha entre liberais e conservadores do Império. Há versões que falam da adesão dos religiosos a um ou a outro lado do conflito, e do temor de retaliações. Fato é que, em 24 de agosto de 1842 – dias depois da derrota do rebelde Teófilo Otoni para forças comandadas pelo Duque de Caxias na batalha de Santa Luzia – o então diretor do colégio, Padre Antônio Viçoso (futuro Bispo de Mariana), transferiu-se para o Triângulo Mineiro carregando alunos, professores, escravos, livros e parte dos equipamentos. Uma viagem de 700 km em carroças e tropas de mulas, pelas estradas precárias da Província.

O colégio instalou-se em três grandes fazendas – Campo Belo, Fortaleza e Paraíso – na região de Campina Verde. Terras que haviam sido doadas aos Vicentinos em 1830 pelo fazendeiro João Batista de Sequeira e sua mulher Bárbara – descendente de índios Caiapós – que não tinham filhos nem herdeiros. Os doadores pediram em troca a construção de uma capela para celebração de missas aos domingos e dias santos, a construção de uma escola de “primeiras letras” e , quando houvesse condições, que fossem ministradas aulas de gramática latina e outros estudos “que o reverendíssimo superior julgar que se estabeleçam”.

A transferência do Caraça cumpriu por algum tempo as promessas. O “Colégio e Seminário de Campo Belo” foi pioneiro na difusão de cultura, educação e religião no Sertão da Farinha Podre – região esquecida do Império, de escassas escolas. Cumpriu também missões de catequese dos índios Caiapós, que ainda habitavam grandes áreas do Triângulo, e ofereceu uma alternativa de educação formal para os filhos dos donos de fazendas agrícolas e de criação de gado de Minas, Goiás e Mato Grosso. Relatos da época dizem que um terço dos alunos estudava gratuitamente, ou “pelo amor de Deus” nos termos de então.

O mais ilustre dos alunos dessa escola foi o escritor Bernardo Guimarães – autor dos romances “Escrava Isaura” e “O Seminarista” – que ambientou em Campo Belo um de seus contos: “Jupira”, história de amor e tragédia entre uma índia Caiapó e um português, publicada em 1872. Também foram alunos do colégio em Campina Verde o político Eduardo Montandom, futuro presidente da Província de Goiás, o advogado e compositor Antônio Cesário de Oliveira Filho (Major Cesário) e diversos intelectuais que fariam carreira como professores e profissionais liberais em Uberaba.

Em 1856, o Caraça retornou definitivamente à sede original, agora tendo à frente padres Vicentinos vindos da França. Foi o início de sua época de ouro como centro de formação da intelectualidade brasileira.



Cidade de Uberaba

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Loja São Geraldo – Miguel Jorge Dib & Irmãos

Loja São Geraldo – Miguel Jorge Dib & Irmãos


Década: 1960

Rua Padre Zeferino

Foto: Autoria desconhecida

 Arquivo Público de Uberaba



domingo, 1 de janeiro de 2017

ANTIGA RUA DO COMÉRCIO, ATUAL ARTUR MACHADO, VISTA AQUI EM SEU PRIMEIRO QUARTEIRÃO, ATUAL CALÇADÃO EM DIREÇÃO À CATEDRAL - UBERABA

ARTUR MACHADO, VISTA AQUI EM SEU PRIMEIRO QUARTEIRÃO        

“Começa na praça Rui Barbosa e finaliza na praça Siqueira Campos, pertencendo à colina da Matriz e aos altos dos Estados Unidos e da Estação da Mogiana. É a mais importante da cidade, inteiramente calçada a paralelepípedos. Dela partem, à direita, a avenida Leopoldino de Oliveira, as ruas Alaor Prata e Dr. Lauro Borges, a avenida João Pessoa, a ladeira dos Estados Unidos, é atravessada pela rua Padre Zeferino; passa ao fundo da praça Afonso Pena. À esquerda, em frente à rua Alaor Prata, dá nascimento à Saldanha Marinho, e em frente a avenida João Pessoa à rua Dr. João Caetano.
Desde os primórdios de Uberaba se conheceu pelo nome de rua do ‘Comércio’. Em meados do século próximo findo* era a rua do ‘Fogo’, onde se cumulava, de preferência, o povo farrista, separado, assim, do que ficava à rua ‘Grande’, de viver pacato.
Em 1889, perdeu a denominação de rua do ‘Comércio’ e tomou a de ‘Barão de Ataliba’. Em 1894 voltou a chamar-se ‘Comércio’ que se mudou, em 1916, para rua ‘Artur Machado’, em homenagem ao coronel Artur Batista Machado, eminente chefe político uberabense.
O trecho de entre as praças Afonso Pena (Gameleira) e Siqueira Campos, se conhece por ladeira da ‘Estação’.”
(PONTES, 1978, p.279).