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quarta-feira, 17 de abril de 2019

Amigo Padre Prata

A vontade de todos era que Padre Prata, tão estimado, permanecesse entre nós. Porém, apesar de ser um imortal da Academia, isso não aconteceu. E, para sempre, ele foi colher os frutos de sua abençoada e proveitosa existência. Quem teve o prazer de desfrutar do convívio com Padre Prata tem muita história para contar. E tenho a felicidade de ser um desses privilegiados. 

Tive a satisfação de manter cordial contato com Padre Prata quando estive na Direção do Jornal da Manhã, de 1972 a 1984. Ele era colunista do Correio Católico e se rendeu ao nosso apelo de continuar colaborando, semanalmente, com suas crônicas geniais no novo jornal.

Com o Jornal da Manhã já em nova sede, Edson Prata me convidou a integrar a Academia de Letras do Triângulo Mineiro e providenciou o documento de minha nomeação assinado por vinte e um acadêmicos, dentre eles, Padre Prata.

Na Academia, minha amizade com Padre Prata se intensificou. Ele e os demais fundadores compareciam a todas as reuniões mensais e isso o deixava animado. Quando estive à frente da Academia, a meu pedido ele me orientava, agraciando-me com generosa atenção: “Precisando, estamos aqui.” E reiteradamente ele me entusiasmava: “Foi uma bela reunião!”.

Ao final de cada gestão minha, requisitei ao Padre Juvenal Arduini que me apontasse um sucessor. E só ao final do meu sexto mandato, ele mencionou Padre Prata como uma possibilidade. Fiquei feliz. Mas por pouco tempo. Tivemos que aguardar, pois Padre Prata estava numa pescaria e, ao retornar, garantiu que nunca pensou nisso. Uma pena. Teria sido formidável!

Foi a convite do nosso Presidente da Academia, o amigo João Eurípedes Sabino, que ele, Padre Prata e eu apreciamos a cidade num circuito de carro, numa prosa animada. Talvez fosse uma despedida, mas Sabino e eu não havíamos imaginado isso.

Depois de minha esposa Carmen e eu sermos atropelados por uma moto, nós nos recuperávamos em casa quando recebemos a visita do amigo Padre Prata - visita que ficou em nossa história: a conversa na sala de visita, o cafezinho e minha chamada para vermos o quintal. Ali, Padre Prata se transformou, revivendo o tempo de menino criado em fazenda, apaixonado pelo que encontrava: a jabuticabeira florida como noiva, pés de canela, camélia, hibisco, manga, urucum, pitanga, pau-brasil, abacaxis ornamentais, orquídeas, e os vasos – renda-portuguesa, alecrim, arruda, jasmim, lírio, azaleia, rosas, miosótis, violetas, picão, erva-cidreira, capim-cidreira, manjericão, hortelã... Ele sabia algo singular sobre cada planta. Era mesmo outra pessoa... Nós o ouvimos extasiados! Ele finalizou instruindo a este leigo cultivador: “Corte o pé de mamão; não dará mais frutos.” Depois desse dia, invariavelmente quando nos víamos, ele perguntava pelas plantinhas e prometia voltar para vê-las.

Sou grato também ao Padre Prata por ele ter feito as últimas orações junto à minha esposa, quando ela faleceu. E a morte de ambos me faz crer que Deus anuncia aos bons, com certa antecedência, quando deixarão esta vida. Ambos sabiam sua hora e estavam preparados. Hoje estão junto de Deus. 

São essas apenas algumas das tantas recordações que tenho do colega Padre Prata, amigo ilustre e imortal na memória de todos nós.

Mário Salvador
Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.


Cidade de Uberaba

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Padre Prata morre aos 96 anos em Uberaba

Dedicamos ao Padre Prata,todo nosso carinho e gratidão.
 Conheça um pouco da história do saudoso Thomas de Aquino Prata
 no Programa História Viva, projeto da Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI)(Uniube) (Universidade de Uberaba) Vídeo créditos: Uniube. 

Cartão créditos:  Uniube - Universidade de Uberaba.
Padre Prata

Com profundo pesar e consternação que comunicamos a triste notícia do falecimento do Padre Prata

Seu passamento ocorreu hoje, 04 de abril de 2019 no período da manhã.

De acordo com a Arquidiocese de Uberaba, velório será na Catedral Metropolitana. Haverá missa às 9h de sexta (5), também na Catedral, presidida por Dom Paulo.

Uberaba em Fotos presta suas condolências à família e amigos.

Thomaz de Aquino Prata - Arquidiocese de Uberaba.




“Em nome da Arquidiocese de Uberaba venho manifestar os sentimentos pelo falecimento do Pe. Prata. Já com 96 anos de idade, lúcido, inclusive escrevendo uma coluna semanal no Jornal, revelando seu perfeito vigor. 

Pe. Prata vai para a casa do Pai consciente de ter cumprido sua missão. Louvamos a Deus pela sua vida e agradecemos pelos trabalhos prestados na Igreja, especialmente na Arquidiocese de Uberaba. 


Pe. Prata, vai com Deus e interceda por nós, para que enfrentemos com coragem a pastoral dos novos tempos. Obrigado por tudo!”


_*Dom Paulo Mendes Peixoto*_


_Arcebispo Metropolitano de Uberaba_


*Nota à imprensa*:


É com grande pesar, que a Arquidiocese de Uberaba comunica o falecimento do Pe. Thomaz de Aquino Prata, mais conhecido como Padre Prata.

Pe. Prata faleceu na tarde desta quinta-feira, 4 de abril, às 13h30, no Hospital São Marcos, para onde foi encaminhado depois de ter uma parada cardíaca durante consulta médica. Seu velório será na Catedral Metropolitana de Uberaba, com início às 18h. Haverá uma primeira missa de corpo presente neste dia 4 de abril, às 19h, na Catedral. 

Amanhã às 9h será realizada missa de corpo presente, presidida pelo arcebispo metropolitano de Uberaba, Dom Paulo Mendes Peixoto, também na Catedral Metropolitana. 

O sepultamento ocorrerá às 11h, do dia 5 de abril, no cemitério São João Batista. Contamos com as orações de todos! 


_*Pe. Thomaz de Aquino Prata*_

Nascimento: 22/12/1922

Ordenação: 08/12/1946

Falecimento: 04/04/2019


Cidade de Uberaba

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

UM ARCEBISPO E DOIS GENERAIS

Em 1964, um de meus irmãos trabalhava na Sudene, em Recife. O diretor daquela famosa instituição era o Dr. Celso Furtado, economista de nome internacional e autor de vários livros. Como analisava a realidade brasileira em seus aspectos de injustiças e miséria do povo, era rotulado como comunista. Isto, na lógica dos militares e das classes dominantes e reacionárias. Acontece que meu irmão era da equipe de Celso Furtado, por isso foi preso para um posterior julgamento. Depois de quatro meses ficamos sabendo dos acontecimentos e minha mãe entrou em pane.

Fui, então, escolhido para ir a Recife tentar a soltura de meu irmão. A chefia do Serviço Secreto de Informações do Exército estava nas mãos do Coronel Ibiapina, homem duro e sem diálogo. Era apelidado de “o terror do Nordeste”.  Fui procurá-lo, expliquei meu caso, o problema de minha mãe já velha e que vinha a Recife ver se conseguia uma indulgência. O Coronel respondeu friamente: “Seu irmão é comunista e ficará preso até o julgamento”. Por sorte, deu-me permissão pela vê-lo uma vez por semana.

No dia determinado fui ao Quartel. Trouxeram meu irmão até mim, escoltado por dois militares armados de fuzil e baioneta. Estava macérrimo e estranhamente descorado. Dei a ele notícias de casa, de todos. Quanto a ele, quase nada me disse de fundamental, temendo a vigilância grudada entre nós dois.

Comecei a procurar pessoas de influência, tentando ajuda. Fui à residência do Arcebispo de Recife, Dom Helder Câmara. Disse-me que pessoalmente era mal-visto pelos militares. Sugeriu-me procurar o General Muricy. Segundo o Arcebispo, esse general era casado com uma senhora muito religiosa e militante de Igreja. Quem sabe? Muricy recebeu-me educadamente, sem alterar a voz, mas com a afirmação de que nada poderia fazer. Aconselhou-me a procurar o General Bandeira. Este recebeu-me de pijamas, em seu quarto de hotel. Contei-lhe minha história. Começou a chorar (sic), dizendo que nada podia fazer, tinha um filho preso, também acusado de comunista.

Diante dos fatos, decidi voltar para Uberaba. Antes de partir, fui ao Bairro Casa Amarela. Queria ver uma famosa criação de colibris do jornalista Assis Chateaubriand, a maior e melhor do Brasil. Realmente, era de se tirar o chapéu.

Na volta, vi uma casa de dois andares com a inscrição: Casa Leão XIII, residência dos padres idosos. Desci do ônibus e fui ver, de perto, aquela instituição. Conversando com vários padres, todos muito simpáticos, contei minha história. Um deles deu-me a seguinte informação: “Você não vai conseguir nada com as autoridades. Só há uma possibilidade, muito longínqua. Reside aqui um padre espanhol, muito amigo do Ibiapina. Todos os domingos eles se reúnem na Igreja, pois são da Sociedade de São Vicente. Esse padre vem para o almoço. Não deve demorar.” De fato, quinze minutos depois eu já estava conversando com ele. Era um padre  miudinho, de fala mansa, um pinguinho de gente. Ao vê-lo, pensei: Estou perdendo tempo com esse velhinho… Pelo sim ou pelo não, contei a ele a minha história. Ele ouviu com carinho e disse que ia conversar com a fera.

Na segunda-feira, voltei ao Quartel. O Coronel Ibiapina não me recebeu, mas deixou-me um bilhete na portaria: “Padre Prata, pode voltar para Uberaba. Diga à sua mãe que seu irmão será libertado na próxima quarta-feira. Garanto-lhe. Coronel Ibiapina.” E assim aconteceu.

É assim na vida: uma informação certa vale mais que um arcebispo e dois generais.

Padre Prata

sábado, 31 de dezembro de 2016

Diante das adversidades


Os seres humanos somos limitados. Incompletos. Quebradiços. Frágeis. 


Diante disso, nunca sabemos o que se esconde por detrás de um rosto. Raimundo Correia nos diz em seu soneto, Mal secreto: “Quanta gente que ri, talvez existe / Cuja ventura única consiste / Em parecer aos outros venturosa!” 


É a história da máscara que esconde a verdade num sorriso aberto, numa expressão constante de felicidade, quando, no interior da alma, a tristeza, a infelicidade, as decepções, os desenganos, as frustrações estejam instaladas. 

Muitos pensam que é preciso disfarçar. Evitar que os outros tomem conhecimento das adversidades que afligem a vida, no sofrimento isolado, tumultuado, desesperado na solidão. 

Muitas vezes, os momentos adversos é que nos dão a dimensão exata dos momentos felizes, que precisam ser saboreados na alegria intensa. 

Diante das adversidades, em minha ótica, temos duas alternativas: cair no desespero e na revolta, contra Deus e o mundo. Culpar o universo inteiro, assim, numa lógica estropiada, não encarar os problemas. Ou, na serenidade, na paciência, no compartilhamento com a família e os amigos, e, principalmente na fé, enfrentar as intempéries, como tenho feito. 

Crer que Deus e Nossa Senhora estão sempre ao nosso lado. Crer que os entes queridos que nos precederam, de onde estiverem, estarão intercedendo por nós. 

Crer, ainda, que a vida é o dom maior, e cada dia vivido, um milagre que se renova. Por isso a importância de viver um dia de cada vez. Com fé, esperança, aceitando as palavras do Mestre: “Basta a cada dia sua própria aflição”. Sem preocupação com o amanhã. Amanhã, como diz a música, será um novo dia. Não devemos apressar nem antecipar os fatos. 

Assim tem sido minha vida. Graças a Deus e aos médicos, vencendo o linfoma que, inesperadamente, me visitou. Caminho ótima, com a saúde revigorada, nos caminhos do Senhor, no aconchego da família e no carinho dos inumeráveis amigos que me confortam e rezam por mim: tudo na serenidade, na paciência e na fé. 

Meu querido amigo/irmão, Pe. Prata, me disse: “Peço ao Espírito Santo que lhe dê o dom da Fortaleza.” Estou com esse dom o tempo todo. 

Cada um de nós pode ser maior que suas adversidades, sejam elas quais forem. Cada um de nós pode enfrentar e vencer seus problemas, sejam de ordem psíquica, interior, sejam de ordem física. Cada um de nós precisa ter força suficiente para mostrar-se corajoso diante de qualquer pedra que surja no caminho. E Deus, que é Caminho, nos ajudará a remover a pedra, assim afastando o que nos aflige. É o que tem acontecido comigo. Amém! 



21 de janeiro de 2014




Terezinha Hueb de Menezes