O saudoso e sempre
lembrado “coronel” Randolfo Borges, pai de um dos grandes “galhos” da frondosa
árvore genealógica dos Borges, de Uberaba, entre eles o saudoso”seo” Valdemar,
o caçula Romeu , o inesquecível dr.Randolfo,ex-Prefeito da terrinha; era um
homem valente e de têmpera. Seu neto,meu amigo Arnaldo Nogueira Borges(“Rato”),
filho do dr.Randolfo, contou-me há algum tempo, que seu avô comprou uma
“partida”de gado em Goiás,ali pelas bandas de Camacuã, Bela Vista, Rio Brilhante.
Reuniu a peonada d a fazenda ,Chimite,Clarindo, Martiniano, Taquara e Clareano
e foi buscar a boiada. O negócio realizado com um conhecido fazendeiro daquela
região que todos chamavam apenas de “Domingos Gato Preto”. Diziam, os que o
conheciam, apesar de ser um homem rico, “Domingos Gato Preto”, não era muito
“xará” de cumprir compromisso e muito menos honrar a palavra. Quem já tivera
negócio com ele, afirmava que “Domingos Gato Preto”, era useiro e vezeiro em
mandar “para o outro mundo”quem ousasse a fazer-lhe qualquer tipo de cobrança.
Mandava matar sem dó ou piedade.
Não sabendo da triste
fama de quem havia adquirido o gado, os amigos do velho Randolfo ao ficarem
sabendo que ele havia negociado com o “Domingos”e, por cima, tinha mandado o
dinheiro adiantado, foram logo alertar o negociante uberabense.-“Olha aqui,
coronel, vai com muito jeito, pois o goiano é fogo na roupa. Não gosta de
cumprir compromisso assumido, ainda mais já com o dinheiro na mão...”
Caladão,sem dizer sim ou
não, “seo” Randolfo, acompanhado da comitiva, tomou o rumo de Goiás. “Berrado”,
isto é, “treisoitão” na cintura e com ele, Chimite,Clarindo,Taquara, Martiniano
e Clareano. Três dias depois, estava em Bela Vista de Goiás, quase divisa de
Rio Brilhante. Lá, ouviu de amigos goianos a mesma recomendação:-“Cuidado com o
Gato Preto”...
Para o “coronel”Randolfo,
era matar ou correr, ou melhor dizendo, matar ou morrer...Armou, então, a
estratégia de trazer o gado que comprara ,adquiro do “Gato Preto”,a qualquer
custo.O goiano quando soube que o mineiro estava na cidade, pronto para trazer
a manada para Uberaba, “Domingos” mandou chamá-lo na fazenda, como costumava
acontecer com outros, não tinham um destino muito bom...
“Seo” Randolfo,escolado
nessas situações, combinou com seus homens que, a essa altura, em razão do
perigo que todos corriam, viraram “jagunços do coronel”:- “Vocês ficam na
entrada da fazenda..Passadas umas duas horas da minha chegada na casa do “Gato
Preto,armem uma briga feroz de rolar no chão.O Chimite vai até à sede e me dá
ciência do que está se passando.O resto deixa comigo”. Assim foi feito. Passado
o tempo combinado, estoura a “briga de mentirinha” entre os peões do “seo”
Randolfo.
Enquanto isso, na sede da
fazenda, “Gato Preto” insinuara ao “coronel” que não poderia cumprir a promessa
de entrega do gado conforme o combinado. –“Ocê entrega sim, Domingos, ‘cê num é
bobo e nem dois”...Nesse exato momento da prosa, Chimite chega correndo à casa
e relata o “fato” ao patrão.
“Peraí.Eles me pagam.Vem
comigo, Domingos”, pediu. Minutos depois , “seo” Randolfo chega ao local da
“briga”, disparando tiros para todo lado e pedindo calma aos peões.- “Pelo amor
de Deus, não nos mate, coronel. Faremos o que o senhor mandar!”, gritou, quase
chorando o Martiniano. – “ O primeiro que fizer arruaça aqui no Domingos, vai
morrer !”,gritou,raivoso.
“Briga” separada,Randolfo
e Domingos”Gato Preto”, retornam à sede da fazenda. Em questão de minutos
,Domingos, que estava sem os seus jagunços por perto, libera, rapidinho, o gado
que vendera ao “coronel”.
“Prá valente, valente e
meio”, disse o “seo”Randolfo quando retornava com a tropa para a sua fazenda em
Uberaba, uma nelorada da melhor qualidade...”Gato Preto”? Perdeu...
Luiz Gonzaga de Oliveira