D. Almir Marques Ferreira |
Paroquiato de D. Almir Marques Ferreira (fev/1941-out/1941)
Conforme apontamos anteriormente, em 1938 se deu a nomeação do 3º Bispo de Uberaba, D. Luiz Maria de Sant’Ana, para a Diocese de Botucatu (SP) e apenas no ano seguinte viria a nomeação de que caberia a D. Alexandre Gonçalves do Amaral ocupar a sede vacante deixada na diocese uberabense. Como de costume em transições episcopais, os primeiros anos são dedicados ao conhecimento tanto da região quanto da cidade em que a diocese está inserida mas também da estrutura governativa eclesiástica e de uma gradual aproximação com o clero local. Exatamente neste período de transição que se dá em fevereiro de 1941 a transferência do pároco da Catedral, Pe. Jacinto Fagundes, que então inteirava seis anos de paroquiato.
Para assumir a importante missão de conduzir a principal e maior paróquia da cidade naquele momento, foi escolhido Mons. Almir Marques Ferreira, que durante o episcopado de D. Luis Sant’Ana havia sido Diretor do Seminário Menor e Juiz Pró-Synodal do Tribunal Eclesiástico de Uberaba, o que demonstrava evidentemente sua profunda formação sacerdotal tanto em direito canônico quanto em teologia. Ele havia nascido na cidade de Patrocínio (MG) em 18 de novembro de 1911 e contava com seus 30 anos no momento em que se tornara pároco – ou cura, como se dizia na época – da Catedral Metropolitana.
No curto espaço de nove meses em que Mons. Almir permaneceu a frente da Catedral, Uberaba se deparou com três importantes inaugurações. A primeira delas foi a do primeiro arranha-céu do Brasil Central, o Grande Hotel na Av. Leopoldino de Oliveira, em fevereiro de 1941, agora na iminência de ser demolido. Em outubro do mesmo ano, a Empresa Telefônica de Uberaba passava a oferecer serviços automáticos de telefonia. Esses dois eventos demonstram o processo de modernização em pleno desenvolvimento no período.
Por fim, no mês de maio, o presidente da República, sr. Getúlio Vargas, veio a Uberaba de modo a participar de eventos da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (entidade que futuramente se converteria na atual ABCZ) e inaugura um monumento-obelisco na Praça Rui Barbosa em homenagem ao governador-interventor de Minas Gerais, sr. Benedito Valadares. Quanto a esta inauguração, escreve Marcelo Prata dos Santos que a praça foi “remodelada, tendo sido demolido o coreto de cimento armado e derrubadas as belas palmeiras imperiais e todas as suas árvores, dando lugar a um novo tema paisagístico”. Não podemos ignorar, todavia, o conjunto simbólico que se inscreve nas entrelinhas deste ato. Se foram não somente as palmeiras imperiais, mas com algumas décadas de atraso, os últimos símbolos de um passado monarquista e confessional que representava o passado, o arcaico, o retrógrado – enfim aquilo que se pretendia superar. Remodelar a praça central retirando-lhe a imagem em bronze do Cristo que hoje figura na escadaria central de nossa Catedral e colocar-lhe no lugar um obelisco em homenagem a uma figura do Estado significa pois este processo lento de laicização que se inicia desde a proclamação da República.
Como muitos que o antecederam e que haveriam de sucedê-lo, Mons. Almir M. Ferreira se viu diante de um tempo em que as mentalidades pareciam estar se transformando e que o conjunto pétreo de valores cristãos não parecia se encaixar diante de tanta modernidade. A fé permanente de que esses mesmos valores é que deveriam conduzir tais transformações é que mantem a Igreja Católica a mais de dois milênios em estreita sintonia com o tempo em que se insere sem abrir mão de seus mais valiosos princípios e sem negligenciar a missão a ela relegado pelo próprio Cristo. Reconhecer esse desafio sempre enfrentado com altivez pela Igreja e pelos homens e mulheres que a compuseram é sinal de confiança e coragem de que permanecemos em comunhão.
Finalmente, em outubro de 1941, Mons. Almir haveria de ser novamente realocado pela autoridade episcopal à qual permaneceria a serviço até o ano de 1961, ou seja, por mais 20 anos. Neste ano, o papa João XXIII, através da bula Animorum Societas, criava a Diocese de Uberlândia e pelas mãos do núncio apostólico no Brasil, D. Armando Lombardi, que o ordenou bispo, D. Almir Marques Ferreira se tornaria o primeiro pastor a conduzir a recém-criada diocese de Uberlândia permanecendo até 1977, quando se tornou bispo-emérito. Em 1 de janeiro de 1984, aos 73 anos, faleceu em Uberlândia retornando definitivamente à morada celeste.
Vitor Lacerda