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segunda-feira, 10 de julho de 2017

O DIA EM QUE UBERABA FOI DESTAQUE NO NEW YORK TIMES

O dia em que Uberaba foi destaque no New York Times
26 de abril de 1952

O dia em que Uberaba foi destaque no New York Times.

Em 26 de abril de 1952 o mais importante jornal dos EUA estampava em suas páginas:
TUMULTOS EM PROTESTOS CONTRA IMPOSTOS LIDERADOS POR COMUNISTAS CAUSA PREJUÍZO DE US$ 6.000.000

Coletorias de impostos e outros prédios foram depredados em cidade de Minas Gerais
De fato, ocorrera uma importante revolta em Uberaba, iniciada por uma greve de caminhoneiros e protestos de pequenos comerciantes contra um arrocho na fiscalização e o aumento dos impostos estaduais, ordenado pela gestão do então governador Juscelino Kubitscheck. Havia na cidade uma crescente animosidade contra o governo mineiro, que recolhia os impostos mas pouco investia na região do Triângulo.

Em 24 de abril de 1952, a tensão explodiu na forma de violentos protestos e quebra-quebra. O edifício das Coletorias Estadual e Federal foram vandalizados, assim como os postos de cobrança de impostos nas entradas da cidade e outros prédios públicos. Arquivos e equipamentos da coletoria foram queimados ou atirados no canal do Córrego das Lajes.

O 4º Batalhão de Polícia não deu conta de controlar a multidão e temia-se que as manifestações se espalhassem por outros municípios mineiros. A revolta só terminou com a chegada em aviões de tropas enviadas de Belo Horizonte, que ocuparam as ruas do centro de Uberaba portando fuzis e metralhadoras com munição real.

No pesado clima de Guerra Fria dos anos 1950, a culpa pelos protestos foi jogada nas costas dos suspeitos de sempre: os terríveis comunistas. No rescaldo, a polícia abriu inúmeros processos e dezenas de pessoas – muitas delas identificadas pelas fotografias dos tumultos – foram presas por subversão e vandalismo. Um dos meus tio-avôs, irmão de minha avó Guiomar, passou uma temporada na velha cadeia defronte ao Mercado.

De quebra, inúmeros comerciantes da cidade se livraram de recolher impostos vencidos, alegando que seus livros-caixa haviam sido destruídos nos protestos. Juscelino, velha raposa política, reconciliou-se com a cidade alguns anos depois quando – num gesto de grande simbologia – transformou o antigo prédio da cadeia na sede da federalizada Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro.

A reportagem publicada nos EUA está disponível nos arquivos do NYT, onde é possível comprar e baixar uma cópia PDF da edição histórica por módicos U$ 3.95


(André Borges Lopes)