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terça-feira, 8 de janeiro de 2019

O SAMBA UBERABENSE DE IBRAHIM SUED

No início dos anos 1950, despontou na imprensa carioca um novo colunista social, que iria fazer grande sucesso nas décadas seguintes. Descendente de árabes, de uma família pobre, Ibrahim Sued iniciou a carreira nos jornais como repórter fotográfico, ainda nos anos 1940. Nesse trabalho, revelou raro talento para infiltrar-se em locais restritos e obter boas informações, além da uma capacidade admirável de relacionamento com a fina flor da alta sociedade da então Capital Federal.

Trabalhou com grandes jornalistas, como Joel Silveira na revista “Diretrizes” e Carlos Lacerda na “Tribuna da Imprensa”, onde começou a escrever os primeiros textos. O sucesso viria a partir de 1954, quando foi contratado pelo jornal “O Globo” para assinar uma coluna social informal e inovadora para a época, com a qual fez fama e fortuna. Criou “bordões” que se tornaram célebres como “De leve”, “Sorry periferia”, “Ademã que eu vou em frente”, “Os cães ladram e a caravana passa”, dentre outros.

Curiosamente, Sued nunca foi escritor talentoso e – segundo seus detratores – tinha dificuldades com a gramática. Além disso, fazia amigos com a mesma velocidade com que colecionava desafetos. Causou surpresa quando, no início de 1956, revelou que estava dando início à carreira de letrista. Sua primeira música era o samba-canção romântico “Decepção”, composto em parceria com um músico também estreante, de família uberabense: Mário Jardim, neto de Quintiliano Jardim – jornalista e diretor do jornal “Lavoura e Comércio”. Mariozinho, como era conhecido, morava no Rio de Janeiro, onde trabalhava no Tribunal de Contas.

Em fevereiro daquele ano, a música foi lançada pela gravadora Sinter, interpretada por Neusa Maria, uma bela e jovem cantora que despontava nos programas de rádio da Capital. Em parte graças à curiosidade e à promoção dada por Ibrahim, o samba fez sucesso e foi incluído no primeiro LP da cantora, lançado meses depois. Uma busca no YouTube nos permite ouvir a gravação original: uma história triste de uma moça apaixonada, traída por falsas promessas de amor, bem ao gosto da época.

No mês de abril Ibrahim e Mário já anunciavam nova parceria no samba “Amor não é brinquedo”, quando uma revelação caiu como um bomba: a jornalista uberabense Iná de Souza reivindicava a autoria da letra e acusava o colunista de plágio. Não faltavam inimigos de Ibrahim na imprensa e a denúncia teve repercussão em diversos jornais e revistas. Iná foi entrevistada e contou sua história: a pedido de Mário, havia escrito a letra no inicio de 1954. O samba, gravado por uma cantora uberabense com arranjo do maestro Alberto Frateschi, teria feito sucesso no carnaval daquele ano. A letra supostamente escrita por Ibrahim tinha poucas palavras modificadas, a maior parte era rigorosamente igual, inclusive o título.

Desconhecida no Rio, Iná de Souza tinha certo prestígio em Uberaba. Filha de uma família de jornalistas que editava o jornal “O Triângulo”, Iná escrevia crônicas e poemas desde a década de 1940. Era também uma das responsáveis pela revista “Graça e Beleza”, de moda e comportamento. Durante a gestão de Antônio Próspero havia trabalhado por alguns anos na Prefeitura, como bibliotecária, diretora do serviço de estatística e chefe de gabinete do prefeito. Nos últimos anos, havia se licenciado do cargo e estava morando com uma irmã na capital de São Paulo – onde foi surpreendida ao ouvir na voz de Neusa Maria o samba que havia composto.

Questionado pela imprensa, a primeira explicação de Mario Jardim tinha cara de confissão de culpa: alegava que, na realidade, a letra era dele e Ibrahim Sued – que não sabia nem batucar em caixa de fósforo – havia composto a música. O próprio Ibrahim, então passando uma temporada na Europa, preferiu não se manifestar. Enquanto isso, Iná de Souza chegava ao Rio disposta a contratar um advogado para processar a dupla e garantir seus direitos. Dizia que tinha inúmeras provas e testemunhos do que afirmava. Mas que, infelizmente, a única gravação em acetato da música feita em 1954 havia sido subtraída de uma rádio uberabense pelo poderoso avô jornalista do coautor.

O que se seguiu nunca ficou muito claro. Aparentemente, a gravadora Sinter intermediou um acordo entre as partes. O fato é que assunto sumiu da imprensa, e ninguém tocou mais no assunto. Mário e Ibrahim continuaram a compor em parceria e Iná voltou a Uberaba, onde tornou-se uma conhecida agitadora cultural. Mas isso já é uma outra história.


(André Borges Lopes)



Cidade de Uberaba

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Asas para a Juventude Uberabense.

Baile no Jockey, publicada na revista "O Cruzeiro"   

1941. Com a Europa já em plena II Guerra, começa no Brasil a Campanha Nacional de Aviação com o objetivo de estimular a formação de novos pilotos em todo o País. Parte importante desse esforço passava pela fundação de aeroclubes nas cidades do interior, uma iniciativa que foi apadrinhada pelo presidente dos Diários Associados, Assis Chateaubriand – o famoso "Chatô", um dos homens mais poderosos do Brasil na época – e recebeu os slogans marqueteiros "Dê Asas para o Brasil" e "Dê Asas para a Juventude".

                          Baile no Jockey, publicada na revista "O Cruzeiro"                          

Uberaba não ficou de fora nessa iniciativa. No dia 25 de maio, o Aeroclube da cidade ganhou um avião de treinamento, doado pelo industrial Severino Pereira. Os jornais da época não informam o modelo mas, pelas fotos, parece ser um Piper J3 Cub (um pequeno monoplano de asa alta norte-americano, com motor de 65 HP) ou sua cópia nacional, o CNNA HL-1, montado no Rio de Janeiro. O avião recebeu o nome "Pandiá Calógeras" em homenagem ao geólogo e engenheiro carioca que começou sua carreira profissional em Uberaba e foi o único civil a ocupar o Ministério da Guerra na República Velha.

   Notícias dos preparativos para a recepção, publicada no jornal uberabense "O Triângulo”  
       
A entrega do avião em Uberaba deu ensejo a uma enorme festa aérea: o ministro da Aeronáutica Salgado Filho veio pessoalmente até cidade liderando uma esquadrilha com dezenas de aeronaves civis e militares. Chatô e Dario de Almeida Magalhães, diretores dos Diários Associados, acompanharam a comitiva. A famosa aviadora Ada Rogato exibiu-se saltando de paraquedas e outros pilotos revezaram-se em exibições de acrobacias aéreas. Ao final, o grupo foi recebido para um jantar no restaurante do Grande Hotel seguido por um baile de gala no Jockey Club e por uma festa dançante no Cassino da Exposição.


"Pandiá Calógeras"
Avião HL-1, fabricado no Rio de Janeiro pela fábrica CNNA, do industrial Henrique Lage. É uma cópia do avião norte-americano Piper J-3 Cub. Muito provavelmente, o "Pandiá Calógeras" era um avião como esse.


O bapthismo "Pandiá Calógeras"em Uberaba.

Nos dias seguintes, como de costume, os vários jornais do grupo Diários Associados e a revista semanal "O Cruzeiro" deram grande destaque ao evento. O método usual de Chatô de ganhar ainda mais poder político e conseguir patrocinadores.


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Um detalhe curioso: em diversas publicações consta que o Aeroclube de Uberaba teria sido fundado só em 1942, um ano depois do recebimento desse avião.

 (André Borges Lopes).


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