Estrada esburacada, carro velho, político mentiroso e normalmente corrupto, administrador preguiçoso, não acabam nunca. Lembro-me como se hoje fosse, numa quarta feira de cinzas de anos passados, um casamento que marcou época em Uberaba. Ele, G.P.S., ela A.G.S., famílias tradicionais e ricas da cidade. Ele, apesar de casado, nunca abandonou a boemia. Ela, coitada, a tudo suportava. Mas, ultimamente, estava meio “cabreira” com as andanças duvidosas do marido, embora ele afirmasse, quando chegava tarde em casa, estar a trabalho. Para que o “caldo não entornasse” e o casamento fosse “prá cucuia”, ela fingia acreditar. Até que aconteceu aquela noite inesquecível, lembra ele. Trágica , comenta ela. Não dava mais. O casamento estava por um fio. Pediu a ele que saísse de casa. As famílias, dela e dele, contornaram a difícil situação. Incômoda a não mais poder. Até que naquela terça feira gorda, chegando à quarta feira de cinzas, madrugada alta, sem saber o que dizer em casa, passou no bilhar do Manogra ( Monagrasse Honório Campos, de saudosa memória), espalhou pela calça e camisa, aquele pó azul do giz dos tacos e foi prá casa. A mulher, acordada, depois de cansada em ver desfile de carnaval pela televisão, firme a esperá-lo. –“Hoje ele me paga, não agüento mais”, vociferava interiormente.
Pé ante pé, o maridão abre a porta, devagarinho, atravessa a salae entra no quarto. Ela de pé. Impassível, espumando pelo canto da boca. –“On’cê tava?”, pergunta prá lá de raivosa.
-“Tava com as puta lá na casa do Dentinho de Ouro. E daí?”, respondeu calmamente.
Ela olha o marido dos pés a cabeça. De cima em baixo, De trás prá frente, de lado e esbraveja:
“Seu mentiroso !
-“Que foi, mulher”, prá que isso”…
Ela, com os olhos marejados de lágrimas, abraço-o, ternamente e com muita intensidade.
-“Cê tava jogando sinuca, né amor?”
Dalí prá a eternidade, foram felizes para sempre…
Luiz Gonzaga de Oliveira