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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O TREM DA MOGIANA

Há mais de 20 anos minha mulher e eu, caminhamos, matinalmente, na praça da Mojiana. A saudosa Mojiana, mais tarde FEPASA, hoje, VLI-Atlântica, antigas são as recordações. Custa-me acreditar que acabaram com o”trem de passageiros”, daqui para Campinas. As viagens até quase o fim do século passado, não dá para esquecer tão cedo. A Mojiana, chegou no final do século XIX e foi de capital importância para o progresso da nossa região, trazendo e levando riquezas, transformando a vida e os costumes de uma cidade em estágio avançado de crescimento. “Viajar” de trem de ferro, era o sonho de toda criança, como é, hoje, visitar e brincar na Disneylândia...

A implantação das rodovias, o asfalto, as fábricas de carros, ônibus e caminhões, acabou tornando obsoleto o transporte de passageiros por via férrea. É como burro de carga; depois de trabalhar a vida inteira, o dono o despreza e o deixa morrer em qualquer canto da fazenda, onde um dia, prestou inestimáveis serviços. O brasileiro como sempre, sem memória, abandonou a ferrovia, tão usada nos países desenvolvidos e civilizados; berços de humanidade, cultura, história e progresso. Nos países da Europa, é o meio principal , o mais turístico e alegre, além de seguro e rápido. No Japão, apenas para lembrar, “viajar no trem bala”, é privilégio e lembrança que não se apaga. No Brasil, infelizmente, suprimiram o “trem de passageiros”, sonho imorredouro da minha infância...

A descaracterização do trem de ferro, em mais de 90% no país, deveria receber a repulsa enérgica da sociedade, das lideranças classistas, empresariais e políticas. Aceitou-se, pacifica e covardemente, uma decisão governamental para atender interesses escusos, que contraría princípios, violenta nossa história e depõe contra os nossos foros de civilização e cultura. Uma simples “ canetada”, uma argumentação frágil, “matou” o “trem de passageiros”, com a esdrúxula desculpa que ele não era mais rentável às empresas . E o Brasil, aceitou...

Nos primórdios da civilização regional, as estradas de ferro, “Mojiana” e “Paulista”, cobiçavam o rico potencial do Triângulo. Uberaba, era o alvo preferido. A “Paulista”, oferecia melhor condição de “frete”. A “Mojiana”, com o bafejo dos “barões do café”, de Ribeirão Preto, levou a melhor. A ânsia de chegada do progresso, foi tão expressiva que os uberabenses, proprietários do trajeto onde iam correr os trilhos, nada cobraram de indenização pelas áreas e pedreiras necessárias à construção da linha...

A “velha” Mojiana, do “tronco” ao “ramal” , duas linhas que saiam da terrinha, iam, uma via, Igarapava, Aramina, Ituverava, S.Joaquim da Barra, Orlândia , Ribeirão Preto. A outra ,o “ramal”, servia Conquista, “cipó”(Sacramento), Rifaina, Igaçaba, Pedregulho, Franca, Batatais e Ribeirão Preto. Quem, da “velha guarda”, não viajou até “ Barrinha” e de lá, em trecho eletrificado, desembarcou na estação da Luz, em São Paulo ?...

Foi marcante o episódio de um gavião que sabia o horário infalível da sua “refeição”. O cozinheiro do “carro restaurante”, religiosamente, lhe guardava a comida. À hora aprazada, o gavião lá estava como se tivesse relógio para receber a sua ração... O gavião, morreu. O “carro restaurante”, também. Os vagões de 1ª. E 2ª.classes, idem. O “ chefe” da estação, o apito do trem e o “conferente”, acompanharam. Restou a “303”, a “Maria Fumaça”, na praça da Mojiana. Está moribunda, suja, furada, maltrapilha, mato alto ao seu redor, servindo de vaso sanitário e mictório aos vândalos e de motel das estrelas, aos mais apressadinhos. Quando passo e olho aquele espectro de progresso de ontem, custo a conter as lágrimas... “ Marquez do Cassú”.



Luiz Gonzaga de Oliveira




Cidade de Uberaba

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

LUÍS FILIPE MARIA FERNANDO GASTÃO DE ORLÉANS, CONDE D’EU EM VISITA A UBERABA

LUÍS FILIPE MARIA FERNANDO GASTÃO DE ORLÉANS, CONDE D’EU EM VISITA A UBERABA


Ainda a Mojiana. A visita do Conde d’Eu a Uberaba para a inauguração da Mojiana, ensejou a fundação do Partido Republicano- “Clube 20 de março”-, que agrupava os opositores do regime imperial e tinha como adeptos figuras ligadas às atividades comerciais da cidade. A estrada de ferro Mojiana, marcou o apogeu do comércio, deixando traços profundos na vida econômica da cidade. Como se tratava de uma empresa paulista, a dependência de Uberaba à São Paulo tornou-se evidente. A Mojiana foi o ponto de confirmação das relações comerciais entre Minas e São Paulo. Em verdade, isso já foi cantado em verso e prosa . Uberaba sempre manteve pouco contato com Belo Horizonte, a bela capital mineira, restringindo apenas às comunicações oficiais, embora o contato nas últimas décadas tenha melhorado, não muito…Os interesses econômicos divergentes, meios de comunicação apenas razoáveis e, diga-se, pouco confiáveis. Por essas e outras razões, não é de hoje que,” vira e mexe”, surgem movimentos visando separar o Triângulo Mineiro do resto de Minas…A história conta que um dos grandes incentivadores desse movimento foi o Dr.Henrique Desgenetes e os poucos jornais da época a defender a separação do Triângulo e, inclusive, dando “nome ao novo estado: Província Entre Rios”. Em 1906,devido a posição francamente hostil do governo de Minas para com a nossa região, vários uberabenses, liderados por Lauro Borges, acirraram na defesa da separação. A vinda da Mojiana, o movimento comercial da cidade multiplicando-se, a população do município aumentando com a chegada de imigrantes, principalmente os italianos, nem a Proclamação da República, mesmo com a vinda da Mojiana, provocou mudanças no cotidiano da cidade. Uberaba desenvolvia-se sob a égide do comércio, embora a atividade agropastoril, extensiva e criatória, fosse , em parte, responsável inicialmente pelo apogeu comercial da cidade e continuasse a canalizar os interesses de uma grande camada da população. O comércio acelerado pela facilidade das transações comerciais, tanto as capitalistas, quanto as bancárias, pela melhoria dos transportes e crescente ampliação do mercado consumidor, concentrou, momentaneamente, as atenções e o interesse da população. A implantação da ferrovia, o comércio avolumou-se de tal forma e tornou-se o elo interiorano e o mundo capitalista. A visão, felizmente, dos nossos antepassados, era bem maior que muitos dos de hoje. Assim é que não havia interesse do nosso empresariado, que a ferrovia terminasse em Uberaba. Era necessário seguir os trilhos. Assim em dezembro de 1895, alcançava a então pequena São Pedro do Uberabinha e, no ano seguinte, 96, Araguari. Se o progresso por um lado pedia, o prolongamento dos trilhos fez com que o comércio de Uberaba, entrasse em crise. Relato da historiadora Eliana Mendonça Marquez de Rezende, que, em detalhada exposição explica o porquê dessa queda e a razão que os comerciantes uberabenses fundaram o seu jornal que tinha um nome esquisito: “Lavoura e Comércio”.




Luiz Gonzaga de Oliveira