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terça-feira, 22 de agosto de 2017

MOCONHÓ, MOCONHÓ

Durante essa semana meu devaneio vai um pouco para a nossa zona rural, detentora de “causos” engraçados e verdadeiros que precisam ser contados. Felizmente, “causos” que não tem nenhum parentesco com aqueles episódios horripilantes de Brasilia e seus políticos podres e mal cheirosos...
O repertório de “causos” e histórias acontecidos na zona rural da região dariam, só eles, um livro bem grosso tamanha as situações engraçadas acontecidas na nossa saudosa roça...

Sabem todos o quanto é simplório o nosso homem do campo, mormente quando os “causos” que vou contar-lhes, remontam há 50/60 anos , época que a luz era lamparina e lampião; rádio, numa ou noutra fazenda, quase não existia, jornal nem chegava lá e televisão era “coisa” da cabeça do Júlio Verne...

Com o progresso no campo,as fazendas são verdadeiras obras arquitetônicas , casas projetadas por arquitetos, decoração primorosa e o bom gosto imperando. A piscina olímpica tomou lugar dos pequenos poços e riachos onde a meninada nadava pelada ... a sauna é parte integrante do conforto da roça, a antena parabólica liga o campo ao resto do mundo; a casa do vaqueiro de ontem, “bau-bau”, não existe mais. Hoje, tem geladeira, fogão à gás, televisão “grandona”, 40 polegadas, radinho de pilha ligado na rádio sertaneja, leite, aliás, não mais tirado pelas mãos do vaqueiro, pois que, as ordenhadeiras fazem o serviço e as vacas, já acostumadas ao novo processo, ouvindo ora o Leonardo, ou então o Daniel e quase sempre Chitãozinho e Xoróró... Vida no campo pouco difere da cidade. As peruas levam e trazem os meninos na escola , onde aprendem tanto quanto os meninos da cidade.

O homem do campo sabe tudo. É muito bem informado... em questão trabalhista, nem se fala! Fim da jornada, não tem que “pegar” ônibus lotado, as vezes até duas conduções, enfrentar aquela enorme fila, o “busão” que atrasa (quando não quebra...), chegar em casa depois do “Jornal Nacional”... Na roça, não. Tudo é mais fácil. Assiste com a família, a novela das 7, vê o William Bonner dar as noticias do dia do Brasil e do mundo , torce no jogo de futebol, ao vivo, acompanha a novela das 9 e os artistas são todos familiares da “patroa” e dos filhos... Os salários? Compensam. Se na cidade, o trabalhador recebe 2 salários, na roça, ganha 2 também. Só que não paga aluguel de casa, nem água, luz, esgoto, nem ônibus e nem bate “ponto”..

Voltemos aos anos 40 do século XX. Serafim Thomé trabalhava na fazenda do Natal Borges, na “casa de Tábua”, indo para Uberlândia. Certa tarde, foi visitar um amigo na fazenda do Otaviano Borges e acabou se perdendo na noite escura a lua nova. Sem “binga”,não fumava, sem óculos, apesar de enxergar pouco, estava “perdidinho da silva”. Lábios leporinos, ficava uma “arara” quando o chamavam “Moconhó”. Lá pelas tantas, avista, mal e mal, uma lamparina perto de 100 metros de distância. De longe, foi gritando:

-“Ô morador, me ensina como eu posso voltar para a casa de Tábua?”
Seu Otaviano ,vendo de quem se tratava, conhecendo bem o empregado do parente, logo gritou:
-“Arrodeia a trilha,por cima ou por baixo,que ocê chega lá.Nego vagabundo,tá atrás da Marcela ,aquela véia papuda, né malandro!..”

Quando Serafim quis responder, caiu dentro do”valo”.Quando conseguiu sair, xingou todo mundo, de Deus à Raimundo e Segismundo, jogando “praga” naquele maldito que lhe ofendeu.
Com o dia clareando, chegou em casa e , rápido, à procurar o patrão,Natal Borges:- “patrão, me empresta aquela carabina “papo amarelo”, sem falta!”

“Moconhó”, só não sabia que os primos já haviam se encontrado e relatada a brincadeira...
Serafim morreu sem ficar sabendo que foi o autor daquela tamanha ofensa.. ”  



Luiz Gonzaga de Oliveira