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sexta-feira, 12 de abril de 2019

MEUS CABELOS COR DE PRATA

Abro a “ caixa dos Correios” e deparo com uma mensagem a mim dirigida. Aliás, depois que a nuvem passa, não trocaria meus amigos de fé, irmãos camaradas, minha vida maravilhosa, minha amada família, minha terrinha sagrada , por nada, nada desse mundo, imundo ... Muito menos por uma vasta cabeleira loira, uma barriga de “ tanquinho”, saliente e lisa...Enquanto envelheço, torno-me mais amável comigo mesmo, menos crítico de mim mesmo...

Acabei tornando-me meu melhor amigo. Não avexo-me de comer biscoito de polvilho na padaria do Xisto Arduini, de bebericar minha saborosa cachacinha no bar do Filó, a cervejinha gelada do “bar cotovelo” do Luizinho, na agradável companhia do Zé Roberto. Não dispenso de ir prá chácara , com o Juca Tomé e o Sabino, degustar a costelinha de porco, caprichada, feita pelo Arnaldo. 

Acostumei-me a arrumar a minha cama, comprar “boboseiras” quando vou ao centro da cidade. Sei que apesar das broncas da Wania, ao meu lado, vigiando o tempo todo, quase há 60 anos, continuo roncando em sono profundo, meio “ lambão”, confesso. Extravagante ? sei lá... Assistí, com lágrimas nos olhos, a “partida” cedo demais, de amigos fraternos, antes que conhecessem o que é uma boa velhice...

Ninguém à censurar,depois de velho, ficar “ grudado” no computador, horas e horas, querendo saber coisas que não sabia e só ouvia dizer...Lembrar dos idos tempos que dancei ao som das lembradas orquestras da terrinha e muitas outras famosas de todo o Brasil e, digo-lhes, sem ter chorado nenhum amor perdido...Se nas férias, ia à praia , calção comprido, esticado sobre um corpo quase decadente, “ furando ondas de araque”, sob olhares complacentes de jovens de corpos sarados, “ vocês vão também envelhecer, seus putos! “... conversava eu com meus botões... 

A memória ainda é boa; a vista? Nem tanto. Sou péssimo fisionomista, confundo ”Zé” com “Mané”. Recordo coisas importantes e as” desinportantes” também. O coração enternece quando lembro-me dos “ meus” que já se foram. Coração que nunca sofreu, não conhece a alegria de ser imperfeito. Sou abençoado por isso. Vivo o suficiente por meus cabelos brancos e o riso da juventude que, nas rugas, navegam nas avenidas do meu rosto...

Quanto mais se envelhece, mais fácil é ser autêntico. Nem para peidar, peço licença. Preocupo-me pouco com que os outros (adversários, sempre inimigos, nunca) pensam a meu respeito . Enquanto viver, não vou perder tempo, lamentar o que poderia ter mais feito . Aos jovens, que tem a paciência e a delicadeza de lerem os meus humildes textos, histórias e pensamentos, deixo um recado que aprendi com o excepcional Nelson Rodrigues:

Quando um grupo de universitários cariocas, ao visitá-lo para uma longa entrevista sobre a sua atividade na crônica brasileira, abordando os mais variados temas,o inquiriram que mensagem deixava aos estudantes brasileiros, Nelson, era míope, fumante inveterado, ajeitou-se na poltrona, olhos esbugalhados, cigarro no canto da boca, óculos com lentes parecendo vidro, na ponta do nariz, respirou fundo e soltando uma enorme baforada, disse apenas :- “ Jovens ! Sabeis envelhecer ! “ Marquez do Cassú “. 


Luiz Gonzaga de Oliveira


Cidade de Uberaba

terça-feira, 19 de junho de 2018

MEUS CABELOS COR DE PRATA

Abro a “ caixa dos Correios” e deparo com uma mensagem a mim dirigida. Aliás, depois que a nuvem passa, não trocaria meus amigos de fé, irmãos camaradas, minha vida maravilhosa, minha amada família, minha terrinha sagrada , por nada, nada desse mundo, imundo ... Muito menos por uma vasta cabeleira loira, uma barriga de “ tanquinho”, saliente e lisa...Enquanto envelheço, torno-me mais amável comigo mesmo, menos crítico de mim mesmo...

Acabei tornando-me meu melhor amigo. Não avexo-me de comer biscoito de polvilho na padaria do Xisto Arduini, de bebericar minha saborosa cachacinha no bar do Filó, a cervejinha gelada do “bar cotovelo” do Luizinho, na agradável companhia do Zé Roberto. Não dispenso de ir prá chácara , com o Juca Tomé e o Sabino, degustar a costelinha de porco, caprichada, feita pelo Arnaldo. 
Acostumei-me a arrumar a minha cama, comprar “boboseiras” quando vou ao centro da cidade. Sei que apesar das broncas da Wania, ao meu lado, vigiando o tempo todo, quase há 60 anos, continuo roncando em sono profundo, meio “ lambão”, confesso. Extravagante ? sei lá... Assistí, com lágrimas nos olhos, a “partida” cedo demais, de amigos fraternos, antes que conhecessem o que é uma boa velhice...

Ninguém à censurar,depois de velho, ficar “ grudado” no computador, horas e horas, querendo saber coisas que não sabia e só ouvia dizer...Lembrar dos idos tempos que dancei ao som das lembradas orquestras da terrinha e muitas outras famosas de todo o Brasil e, digo-lhes, sem ter chorado nenhum amor perdido...Se nas férias, ia à praia , calção comprido, esticado sobre um corpo quase decadente, “ furando ondas de araque”, sob olhares complacentes de jovens de corpos sarados, “ vocês vão também envelhecer, seus putos! “... conversava eu com meus botões...

A memória ainda é boa; a vista? Nem tanto. Sou péssimo fisionomista, confundo ”Zé” com “Mané”. Recordo coisas importantes e as” desinportantes” também. O coração enternece quando lembro-me dos “ meus” que já se foram. Coração que nunca sofreu, não conhece a alegria de ser imperfeito. Sou abençoado por isso. Vivo o suficiente por meus cabelos brancos e o riso da juventude que, nas rugas, navegam nas avenidas do meu rosto...

Quanto mais se envelhece, mais fácil é ser autêntico. Nem para peidar, peço licença. Preocupo-me pouco com que os outros (adversários, sempre inimigos, nunca) pensam a meu respeito . Enquanto viver, não vou perder tempo, lamentar o que poderia ter mais feito . Aos jovens, que tem a paciência e a delicadeza de lerem os meus humildes textos, histórias e pensamentos, deixo um recado que aprendi com o excepcional Nelson Rodrigues:

Quando um grupo de universitários cariocas, ao visitá-lo para uma longa entrevista sobre a sua atividade na crônica brasileira, abordando os mais variados temas,o inquiriram que mensagem deixava aos estudantes brasileiros, Nelson, era míope, fumante inveterado, ajeitou-se na poltrona, olhos esbugalhados, cigarro no canto da boca, óculos com lentes parecendo vidro, na ponta do nariz, respirou fundo e soltando uma enorme baforada, disse apenas :- “ Jovens ! Sabeis envelhecer !


Luiz Gonzaga Oliveira