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terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

FLAGRANRE INDIGESTO...

(Toda experiência deve e precisa ser vivida..)

Contei essa história verídica e personagens com nomes fictícios, acontecida na santa terrinha há uns 50 anos. Uberaba, sempre foi uma cidade boêmia. Sua fama ultrapassou fronteiras . Responsável por grandes “ programas” de maridos que aproveitam as férias da família e caiam na “gandaia”. Era mulher e os filhos viajarem, em férias de janeiro, e o “ capeta corria solto” no grupo dos (des)casados. A frequência nas casas da Deide, Lêda, “Dentinho de Ouro”, Ivete, Sônia e Vailda, aumentava de forma assustadora . A mulherada vinha dos “ fundões” do Triângulo, Goiás e Mato Grosso, atraídas para “fazer a vida” na cidade grande.

“Putas novas na praça”, era a senha. Pequena fase de “solteiro”, dinheiro no bolso, a alegria era total. Combinava um grupo de amigos e a “farra” varava noites. A casa da Zenilda, a mais frequentada, por razões óbvias... Certa noite, comeram, beberam, dançaram, treparam e tudo mis que tinham direito. Divertiram- se a valer. Zenilda, nada cobrou. Apenas deu uma “cantada” no Astrogildo, gerente do banco onde ela tinha conta. Queria um pequeno empréstimo... -”Vai lá amanhã. Sem problemas”, disse ele, devidamente “trolado”....

Dito e feito. No outro dia, Zenilda, lá estava. Roupa discreta, sem pintura, lenço nos cabelos, sandália “rasteirinha” e, humildemente, senta-se à frente do gerente. Ele, ar sério, terno e gravata, meio sem graça, abre a gaveta da mesa e mostra à Zenilda, um telegrama do banco “suspendendo a carteira de empréstimos”. Desculpou-se e a “dama da noite”, decepcionada, deixa a agência. Abatida, volta prá casa.

“Bolou” um plano diabólico. Semana seguinte, toda “ produzida”, cabelos alinhados, rosto maquiado, lábios borrocados de um reluzente batom, bem vermelho, sapatos de salto alto, saia provocante, colante, deixava à mostra suas lisas e roliças coxas. “ bustiê” generoso, destacava parte dos seus seios . Ás mãos, uma nota fiscal. Dirige-se ao caixa, o Calixto, velho de casa. Do fundo, Astrogildo, gelado . –“Por favor, pague-me esta nota’”, disse sorrindo.

Calixto, quis saber a origem do débito. –“Foi a despesa do seu gerente, lá em casa, com as minhas periguetes”...O “caixa’, foi direto ao gerente. Ele, sem olhar, deu o seu sonoro visto, “pague-se” . Dinheiro na bolsa, Zenilda, deu-lhe uma piscadinha marota e rebolando, deixou a agência. Querer armar “pé de briga” com o Astrogildo depois do acontecido, é convidá-lo à ir dar um ligeiro passeio na “ zona”...

Uma reverência aos boêmios casados de ontem, com o alerta aos que, hoje, se aventuram nas escapadelas das férias.


(Luiz Gonzaga Oliveira)


Cidade de Uberaba

FIO DE BIGODE

(O povão quando pende para um lado, é fogo de morro acima, água de morro abaixo...)

Às vezes penso que vivo no tempo em que “ fio de bigode” era o selo, assinatura de compromisso que não pode ser desfeito”. Ouví histórias sobre a dignidade e lealdade de homens que tinham no fio de bigode, sua palavra de honra. Hoje, homens usam pouca barba e bigode. Os que usam são adeptos de Fidel Castro. É preferível esse uso, barba e bigode densos que esses brinquinhos nas orelhas ... Não sou puritano, nem machista. Talvez, retógrado... .Cada um usa os brincos onde lhe aprouver. Quanto a honradez do “fio de bigode” que os antigos marcavam posição, apesar de não existirem mais, o meu respeito. De corpo e alma.

Atualmente o cidadão assina cheque sem fundos, promissórias que não vão pagar nunca, dão sua palavra de “ homem” que jamais cumpre, mente com a cara mais deslavada do mundo... A falta de seriedade chegou a tal ponto que os homens não mais se respeitam, compromissos não são levados a sério. Palavra de homem, antigamente, era cumprida. Hoje, é motivo de chacota. Uberaba, não foge à regra. Basta ler o “Diário do Judiciário” e constatar essa veracidade.

Casamentos feericamente realizados, com pompas, galas e brasões de rainha, champanhe e coloridas páginas sociais, meses depois, sem constrangimento e espanto de outrora, desfeitos e a indefectível desculpa das famílias:- “ houve incompatibilidade de gênios; daí a separação.. E o longo período da paquera, namoro, noivado, nada adiantou para que os noivos se conhecessem? Custa-se a acreditar, mas, é a rotina dos mal casados...

Na política, a falta de seriedade, decência, desfaçatez, compromissos não cumpridos, “ puxada de tapete”, o “canga macaco”, a mentira, o cinismo, a “cara de pau”, são somente triviais... Não tem explicação ? Tem sim ! Esses malandros que usam essas artimanhas , são conhecidos, carinhosamente pelos colegas, com “ gente inteligente”... Pode ? Como se “inteligência” fosse sinônimo de mau caratismo, safadeza, sem-vergonhice e desonestidade!

Um fato verdadeiro ao tempo do “fio de bigode” do século passado. Um dos “coronéis” de um dos partidos, para espanto e decepção dos companheiros, mudou de lado. Em busca de apoio, soube que o Juiz de Paz, de Veríssimo, não o acompanhara na mudança. Procurou o velho Quirino Matheus e saber o “ porquê” da sua rebeldia. O diálogo travado foi severo e ríspido:

-“Porque me abandonou, Quirino? Companheiro de tantas lutas, vitórias e derrotas?
-“Não, coronel, não o abandonei. Vosmecê é que nos abandonou. Continuamos firmes com os “Arara”. Coronel é que pulou o barranco pros lado dos “Pachola”... O “ papo” terminou alí...≥ Qualquer não coincidência com os políticos profissionais de hoje, não se pode falar em mera semelhança...

(Luiz Gonzaga de Oliveira)

Cidade de Uberaba

A VINDA DA FOSFÉRTIL PARA UBERABA

(As coisas andam tão ruins em Uberaba que estou perdendo a vontade de protestar)

1975, auge do regime militar. Prisões acontecendo em todo o Brasil. Uberaba, a nossa terra mãe, o aprisionamento se dava de forma diferente. Um governo estadual ostensivamente hostil , comandado pelo uberlandense Rondon Pacheco, de triste memória, fazia o possível e o impossível, descaradamente, à prejudicar o lento desenvolvimento da cidade . Benefícios maiores, conquistas definitivas, eram carreados, sem dó e piedade, a cidade de Rondon . Indústrias, escolas, estradas, verbas públicas, saneamento, oportunidade de negócios, fluíam numa só direção: exatamente 102 kms. da ex-“capital do Triângulo’...

Uberaba, completamente órfã. Sem representantes aliados ao governo revolucionário, nos restava políticos da oposição(MDB), sem forças que pudessem “brigar” pela santa terrinha. Por mais que se esforçassem, eram tolhidos nos seus preitos. Vivíamos na mais completo abandono, apesar da boa vontade e seriedade administrativa do prefeito Hugo R. da Cunha. Sem apoio nas esferas maiores, era impotente para conter a onda avassaladora de favores colhidos para Uberlândia, cidade do governador Rondon Pacheco.

Luta covardemente desigual. Uma cidade com “ capa e espada”, lâmina afiada, ferina; outra, com uma faca de cozinha, pequena e em corte. Foi quando, luminosamente, a estrela divina se fez presente. Uberaba, pode enxergar uma luz no fim do túnel. Hugo Rodrigues da Cunha, sabia. Embora da elite oligárquica da cidade, aliado da Revolução/64, numa radiosa manhã de abril, recebeu a confirmação da notícia que guardava a 7 chaves : Uberaba ia ganhar uma importante indústria química, produtora de fertilizantes. Mineiramente calado, ele segredou a noticia com receio de Rondon ter ciência e atrapalhar o empreendimento. Ele sempre ódio Uberaba...Era uma “fábrica de fábricas”!

A Valefértil, subsidiária da Petrobras, unidade nitrogenada, seria instalada aqui na terrinha ! Quando soube da decisão governamental, Rondon, “roeu unhas”, “desgrenhou os cabelos”. Quis agir. Era tarde. As jazidas de fosfato de Tapira e Araxá, iriam abastecer a futura planta. Projeto do mineroduto concluído, inicio da construção . A área, às margens do rio Grande, água em abundância. Nada mais poderia impedir a grande conquista ! Uberaba respirava aliviada. Finalmente, a Revolução/64, premiava nossa terra-mãe !

A CDI ((Cia. Distritos Industriais-MG), preparava-se para o levantamento topográfico da área Tecnicos, engenheiros, agrimensores, topógrafos e outros profissionais, foram chegando. Um fato curioso aconteceu. O prefeito de Sacramento(MG)), era homônimo do prefeito de Uberaba. Também Hugo Rodrigue da Cunha...Ao receber uma correspondência endereçada “confidencial” da Presidência da República, extraviada, Hugo sacramentano, exultou de alegria. Ao ler o conteúdo, caiu em perdidas lágrimas, a carta era para o Rodrigues da Cunha, de Uberaba.

Ressalto, por dever de justiça, a atuação do engenheiro Wagner Nascimento, funcionário da CDI-MG, encarregado de acompanhar os técnicos belorizontinos no levantamento preliminar do local da futura fábrica. Wagner, atuou com um profissionalismo exemplar. A equipe de trabalho passou por maus momentos nas barrancas mineiras do rio Grande...

Decidida e sacramentada a instalação da fábrica nas barrancas do rio Grande, o prefeito Hugo Rodrigues da Cunha, com autorização da Câmara municipal ( nos anos 70, vereador trabalhava com espírito de cidadania, não era remunerado e muito menos tinha um bando de assessores), criou o Distrito Industrial 3 para abrigar não só a Fosfértil, como também as demais misturadoras que, inexoravelmente, como de fato aconteceu, alí iriam se instalar. Fosse melhor o trabalho de persuasão e “venda” da fábrica, muitas outras misturadoras, por certo, teriam vindo. Pena...

O programa do Governo Revolucionário/64, o badalado “PoloCentro”, chegava na região dos cerrados, terras extremamente pobres em vegetação, no jargão caboclo onde só florescia “ lobeira e calango”. Uma fábrica de fertilizantes viria cobrir essa lacuna no solo inapropriado para a agricultura, tornando-o mais produtivo. Fator de desenvolvimento para a nossa região, mas, se estenderia em todo o Brasil Central, como de fato aconteceu.

O “casamento” insumos agrícolas e fertilidade das terras em função do “PoloCentro”, resultou no extraordinário desenvolvimento do setor agroindustrial que o Brasil, hoje, experimenta. A chegada dos técnicos mineiros, ciceroneados pelo engenheiro da CDI-MG, Wagner Nascimento, foi acompanhada de peripécias incríveis . Fazendas enormes, terras agricultáveis, proprietários antigos- de pai para filho-, arraigados a velhos costumes, desconhecendo o enorme progresso que estava chegando para Uberaba, e daí a nossa redenção industrial, tentaram impedir, por todas as formas, meios e armas, o levantamento topográfico da área a ser desapropriada...

Os donos das terras, fazendeiros honestos e decididos, acompanhados de seus capatazes e valentes peões, faziam “ piquetes” à impedir o trabalho daquele “pessoal estranho”, invadindo suas terras seculares... –“Onde já se viu, desmanchar os currais, acabar com a nossa roça, desativar os alambiques, onde se fazia nossa inigualável cachaça?”, lamentavam , raivosamente, os donos das terras. Espingardas ”cano longo”, “treizoitão” carregado de balas, azeitado, esparramando tiros prá cima, à afugentar aqueles “ intrusos”...

Conhecendo os fazendeiros, Wagner Nascimento, com seu jeitão simples, humilde, educado, bons argumentos, foi explicando , um a um, o que representava a fábrica para Uberaba. Em curto espaço de tempo, ligeiramente conformados, aquiesceram em fornecer informações, documentos da área, discutiram valores da desapropriação, forma de pagamento e etc...

A terrinha ganhou vida nova ! Comercio, indústria, prestadoras de serviço, passaram a abastecer a obra. Mão de obra local, ganhou fôlego. Os primeiros funcionários da Petrobras, chegavam a cidade. Locação de imóveis, em grande demanda. A primeira residência locada, a do casal Zilma Bugiato-Rubens Faria ,na avenida Santos Dumont. Primeiro locador, o engenheiro George Pedersen, encarregado das primeiras obras no DI- 3.

Uberaba com a Fosfértil, era alegria plena ! Ressurgiu o progresso. Veio a privatização. O ‘slogan” “Fábrica de fábricas”, continuou. O DI-3, realidade saudável. Aumentou o incentivo ao campo, novas tecnologias aplicadas. Sem favor algum, Uberaba tornou-se o maior polo químico da América do Sul ! Graças a Deus, estamos às margens do benemérito Rio Grande. Senão....

Qualquer outra história, não passa de ficção... 


(Luiz Gonzaga Oliveira)


Cidade de Uberaba

A CRIAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA

O curso de Medicina, pioneiro e incorporado à Universidade Federal do Triângulo Mineiro, foi criado ao final da década de 40, do século passado. Mário Palmério, “ pai do ensino superior no interior do Brasil”, tinha instalado as Faculdades de Odontologia, Direito e Engenharia CiviL que funcionavam a pleno vapor, abrindo um novo leque de progresso e desenvolvimento na cidade e região. Uberaba, respirava cultura e dinamismo.

A eterna briga política da cidade, facções que não se entendiam, se juntaram à causa meritória, no episódio que vou lhes contar . PSD e PTB, na “situação”, UDN/PR/PSP, agrupavam-se na “ oposição”, morrendo de inveja da atuação de Palmério. Naquele tempo, a Exposição Nacional de Gado Zebu, promovia a cidade. O Brasil inteiro, voltava suas vistas para o maior evento agropecuário nacional. As presenças das maiores autoridades do país, se encontram na santa terrinha. Na Presidência da República, Juscelino Kubischeck, revolucionava o país, era a figura central.

Simpático, afável, fazia questão de pernoitar na cidade e participar do baile do “Presidente”, no Jockey Club, como, quando Governador, prestigiava o baile em sua homenagem, no Uberaba Tenis Clube. A agenda oficial, reservava o 3 de maio para Uberaba. Com ele, Ministros, Governadores, Deputados, se faziam presentes. A abertura da Exposição de Gado de Uberaba, era manchete nos principais órgãos da imprensa nacional. Hoje... .deixa pra lá...

O PSD, partido de JK, era comandado na terrinha pelo “coronel” Ranulfo Borges, cercado de figuras honradas da cidade. A cadeia pública, defronte ao Mercadão, “caindo aos pedaços”. PSD, em peso, foi à Juscelino, pedir-lhe que reformasse aquele velho pardieiro . JK, ouviu calado, as lamúrias. De pé, ouviu o pedido . Pigarreou, esfregou os pés, sem sapatos e num largo sorriso, disparou:- Não vou reformar cadeia nenhuma nesta cidade que gosto muito”. A “velha guarda” do PSD, emudeceu, esperando pelo pior...Foi aí que...

Juscelino, enfático, completou:- Vou dar à Uberaba, uma Faculdade de Medicina, ouviram?“. Palmas ecoaram na ampla sala da casa de Adalberto Rodrigues da Cunha, presidente da SRTM. Na “esquina do enjeitei”, a “fazendeirada” zombava. Não acreditava. Uberaba, tinha pouco mais de 80.000 habitantes, ganhando uma Faculdade de Medicina! A euforia tomou conta da santa terrinha.

Lideranças políticas, empresariais, classistas, clubes de serviços, agropastoris, esqueceram suas divergências; deixaram de lado suas picuinhas e se juntaram para a grande conquista fosse logo alcançada. Um comboio com as nossas principais lideranças , se agrupou rumo à Brasilia. Uberaba, graças a Deus, estava unida.


A CRIAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA – 2 –

Uberaba, a sagrada terrinha, sempre se destacou pelo pioneirismo de sua gente. Na medicina não foi diferente. Os farmacêuticos e suas poções, pesquisando e manipulando formulas medicinais, experimentando a nossa rica flora, os caminhos percorridos por eles, médicos-farmacêuticos, parteiras e benzedeiras, suas atuações se revertiam de grandeza e abnegação no tratamento das doenças existentes. Uma história muito rica e de inexcedível valor. Penoso enumerar os grandes feitos, as fantásticas pesquisas dos profissionais da saúde, normalmente bem sucedidas e que vieram salvar vidas.

Tudo começou na Santa Casa de Misericórdia, onde é hoje, o complexo da Universidade Federal do Triângulo Mineiro- UFTM. Fundada pelo primeiro bispo de Uberaba, Frei Eugênio Maria de Gênova, a vocação humanitária dos médicos daquela época, atendiam e davam guarida aos doentes de qualquer classe social. A Santa Casa, enquanto existiu, teve a bondosa e desprendida colaboração das “Irmãs Dominicanas”, caridosas por vocação e a segura direção de dedicados e fraternos Provedores.
Uma Provedora de notável destaque, Maria da Glória Leão Borges, esposa de Ranulfo Borges, o “chefão” políticos da cidade. Maria da Glória, teve efetiva participação na criação da Faculdade de Medicina. Dada a largada pelo Presidente JK, médicos e demais lideranças locais, esqueceram suas divergências politicas, ojerizas pessoais , irmanados, visando a concretização de tão grande conquista; o nobre ideal de tão especial presente.

Registro, com muita honra, preito de gratidão aos “ 18 do forte” pelo trabalho realizado: Alfredo Sabino de Freitas, Alyrio Furtado Nunes, Antônio Sabino de Freitas Júnior, Carlos Smith, Fausto Cunha Oliveira, Hélio Angotti, Hélio Luiz da Costa, João Henrique Sampaio Vieira da Silva, Jorge Azôr, Jorge Henrique Marquez Furtado, José de Paiva Abreu, José Soares Bilharinho, Lauro Fontoura, Mário Palmério, Mozart Furtado Nunes, Odon Tormin, Paulo Pontes e Randolfo Borges Júnior, por ordem alfabética, homens de cêpa, despidos de vaidades pessoais, vantagens políticas, dedicaram grande parte dos seus preciosos tempos, trabalho, talento e profissionalismo para que Uberaba tivesse a grande glória: Faculdade de Medicina!

Com recursos próprios, viajaram inúmeras vezes para Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasilia, as suas expensas. Nada de dinheiro público. Enfrentando os naturais percalços de tão nobre empreitada, merecem o nosso respeito, orgulho e gratidão ! Uberaba, é grata aos seus filhos verdadeiros !. Com o tempo, contarei passagens iniciais da nossa Faculdade de Medicina, quando as aulas eram ministradas dentro das celas do antigo “cadeião


(Luiz Gonzaga Oliveira)

Cidade de Uberaba

UBERABA – SEMPRE ELA...

( A vida é bela quando não se tem medo dela...)

I
Aqui nascí, viví na cidade que escolhhi
Meus pais, mulher e filhas também
Plagas outras, trabalhei. Daqui, saudade sentí
Voltei correndo. Não agradei do vai e vem.

II
“Uberaba dos meus amores” disse o poeta
Concordo, Gênero, número e grau.
Viajando sempre, quando a saudade aperta
Volto correndo. Brigando com quem dla fala mal.

III
Ando triste. Preocupado. Não minto.
Malandros dela tomaram conta, eu sinto.
Fantasiados de políticos, só sabem mentir
Faláciass, promessas, querendo nos iludir!

IV
Chegaram ontem. Bons de papo e meneios
Devagar vão enganando os “ trouxas”
Não medem trapaças e outros meios
Acham Uberaba terra de gente frouxa...

V
Vereadores, Prefeitos, Deputados
Temos de tudo um pouco
Eleitos, safados, deixam todos frustrados
Não adianta gritar até ficar rouco...

VI
Conhecidos “ze ninguém”, desclassificados
Uns “caça-dotes” de meia tigela
A política deixou-os abonados
Nadando, sem pressa, no dinheiro “dela”

VII
Uberaba alegre, festiva, sempre dadivosa
Bondosa, acolhe “picaretas” de toda parte
Eles, quando sentem a “rebordosa”
Tchau! Recebe a “longa” do Pedro Malazarte...

Luiz Gonzaga Oliveira



Cidade de Uberaba


quinta-feira, 3 de outubro de 2019

24 ANOS NA FALTA DELE...

Oi, turma!


(Cidadania ! Um bem que se deve conservar.)


Uberaba perdeu Mário Palmério


Em 24/9/1996, a maior personalidade cultural, educacional e política de toda a nossa história. Nascido em Monte Carmelo (MG), a família veio nos anos 20 para Uberaba. Palmério, aqui estudou, formou sua vocação, tanto para o magistério quanto o político. Fim dos anos 40, quando mais acesa era a luta de classe no país, começava a despontar a sua grande visão para os problemas brasileiros e em especial os de Uberaba. Estudou no Colégio dos Maristas, onde desejou e teve cumprido esse desejo, seu corpo foi velado na tradicional capela.

Ocuparia páginas inteiras, lembrando Mário Palmério, o único político que teve a coragem de “peitar” e quebrar as arcaicas estruturas da terrinha e os “coronéis” que a dominavam com mãos de ferro. Aliás, ainda hoje, com roupagens diferentes, os descendentes e afilhados daquela velha oligarquia, contando com o bafejo e comodismo de uma imprensa trôpega, quase sempre, dão as cartas na cidade em que mudaram até a data de sua elevação a condição de cidade e ainda querem mantê-la como “currutela”.

Mário Palmério. Foto/Reprodução.

Palmério, com bravura, força, estoicismo e coragem, evitou que isso acontecesse. Daí, a ira dos ricos e poderosos contra aquele jovem destemido e valente, que não teve medo de enfrentar a opulência, os endinheirados que a tudo e a todos compravam, inclusive seus atos e opiniões. Os velhos caciques da terrinha, sucumbiram ante a vontade indômita daquele “professorzinho”. Sem abandonar seu irresistível desejo de ensinar, fundou o Colégio Triângulo, misto e para todas as classes sociais. Vieram depois, os cursos superiores, Odontologia, Direito, Engenharia, entre outros, transformando a vida cultural e econômica de Uberaba, avariada na metade da década de 50.

Uberaba, era uma cidade “quebrada”, endividada, com a queda do zebu. Foi quando Palmério despontou. Criar a Universidade, seu grande sonho. Concretizou. Na política , venceu os “barões” quantas vezes quis. Escrevo, sem medo de errar, Uberaba, históricamente, deve ser dividida em duas eras. – antes e depois de Mário Palmério.- Na política, teve atuação soberba. Arrebentou os grilhões que emperravam a grandeza de Uberaba. Médicos, advogados, dentistas e engenheiros, eram privilégios dos ricos, em condições de manterem os filhos estudando nos grandes centros culturais.

Formados, eram recebidos na “gare” da Mojiana, com foguetório, passeata e banda de música. Mário Palmério, desmontou essa ostentação. Trouxe as Faculdades onde os jovens podiam ombrear-se aos “ doutores recém chegados”. Sem distinção de classe social, raça, cor ou credo, Palmério, alargou os horizontes da nossa juventude, antes por domínio espúrio, vivendo com vizeiras e tapa- olhos, sem perspectivas de crescimento educacional e profissional. Profetizando Maomé, “ ele trouxe a montanha aos nossos pés”.

Hoje, Uberaba, orgulha-se do trabalho de Palmério. Enfrentando inimigos traiçoeiros, áreas adversas que tentavam manter os privilégios, venceu todos os obstáculos. Como deputado federal, sozinho, fez muito mais que todos os outros políticos de Uberaba, juntos e agrupados. Amigo das maiores personalidades brasileiras da época (JK.Getúlio, Tancredo, Jango, Santiago Dantas, Itamar Franco, entre outros ), teve seu nome indelevelmente marcado nessa, hoje, sofrida e quase órfã de liderança, a nossa muito amada e querida Uberaba.

(Luiz Gonzaga Oliveira)




Cidade de Uberaba

domingo, 28 de julho de 2019

LÍNGUA DE FOGO

Oi, turma!
( Como dizem os políticos “ não tem virgem na zona”... )


Enquanto “teve vida”, a rua São Miguel, foi um dos locais mais seguros de Uberaba. O Delegado Lindolfo Coimbra, designou ao seu “ homem forte”, o escrivão Mário Floriano de Moraes, que por ter uma pinta no canto esquerdo do nariz, tinha o apelido de “ Pinta Roxa”, responsável pela guarda policial da cidade. Este, por seu turno, “nomeou” o cabo Tatá e o sargento Ranulfo, pela segurança, ordem e respeito, da zona do meretrício. Qualquer encrenca, logo era resolvida pela dupla.

Os “gigolôs” das ex-donzelas, tremiam de medo e eram incapazes de achacar a namorada, ou mesmo tentar agredi-la. “Cuidado, que eu chamo o cabo Tatá”, era a senha da mulherada.

 O máximo permitido, era dormir sem pagar o “ michê” das meninas... Fato hilariante que marcou a rua São Miguel, foi protagonizado por um jovem da terrinha, filho de família rica e frequentador assíduo da rua São Miguel. Com seus 20 e poucos anos, bancário, dinheiro no bolso, era querido pela mulherada.
Boa pinta, andava na moda. “Gumex” nos cabelos, barba escanhoada, camisas seda pura, calças de vinco bem passadas, sapatos sempre engraxados, fazia sucesso. Contudo, segundo as putas, tinha um costume estranho para a época, a prática do sexo oral. Seus amigos, quando ficaram sabendo, partiram para a gozação, “ o Cidão ( apelido falso) é um tarado”, diziam.

Apreciador da comia baiana, toda vez que “Cidão” se dirigia ao quarto da “companheira”, sem que ela percebesse, mastigava com gosto, 2 a 3 pimentas “malaguetas”. No auge da prática sexual, a mocinha não se continha e começava a gritar, frenéticamente:-“ai, ai, ai, tá ardendo demais !” ocê tem língua de fogo ! Para ! Para !” “Cidão”, delirava. Ria à cântaros do desespero da pobre coitada...

A fama do bancário correu, célere, em toda a “São Miguel”. Aquelas “sofredoras”, por medo ou vergonha, sei lá, não contavam para a nova parceira do “Cidão” e assim, o “língua de fogo” ia fazendo suas “vítimas”. A queixa das meninas era uma só:- “Credo ! Tô com ardume na perereca, até hoje”, reclamavam quando a “ prática” veio à tona...

“Cidão”, ficou famoso na zona. Chegava cedo. Banho tomado, 8 da noite, já estava na zona. Comia 2 espetinhos do Jaime, esquina da rua com a praça Frei Eugênio e ia para sua habitual aventura. Madrugadão, passava no “Tabu”, comia o delicioso sanduíche de pernil do Shin (alô, Waldir !) e voltava prá casa. Até que um dia...

“Cidão”, começou namorar”firme”, moça rica da terrinha. Casou. Ficou uns tempos, quieto. Não resistiu. Continuou mulherengo. Chegava em casa sempre pela madrugada. A mulher, desconfiada das andanças dele. A desculpa era uma só: estava jogando sinuca no bilhar do Manogra”. (Saudade do Manograsse Honório Campos...) Até que uma certa madrugada...

“Cidão” chega em casa. Pé ante pé, tira a roupa. A mulher acordada, espumando de raiva . Levanta-se e ele espanta:- “quéisso, mulher?!”
-On’cê tava ?” perguntou., séria.
-“Tava na casa do Dentinho de Ouro ! E daí ?”
Ela olhou o marido, de cima em baixo.
-“Mentiroso!”
-“Tá ficando louca, mulher ?”
Olhos marejados de lágrimas, o abraça, ternamente e diz:
-“Ocê tava jogando sinuca no Manogra né , meu amor!”
Daquele noite em diante, foram felizes para sempre! Marquez do Cassú.


Luiz Gonzaga de Oliveira


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Cidade de Uberaba

O ‘’CASINO BRASIL’’...

Oi, turma!

( Em casa de gato, rato não passa perto...)


A fama de Uberaba como cidade boêmia, extrapolou fronteiras e correu mundo. Vir a Uberaba e não conhecer a rua São Miguel , é como se fosse “a Roma e não conhecesse o Papa”... Nem a “casa da Ení”, em Baurú, foi tão famosa quanto a “ nossa rua do santo”...O “Casino Brasil”, era o ponto principal. Seus donos, Paulo e Negrinha, esmeravam no atendimento. Era o ápice das noites boêmias da terrinha. Mulheres lindas com o apelido de “bailarinas” ( hoje, elas são conhecidas como “modelos”...), vindas de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Rio verde, Jataí, Ribeirão Preto e alhures, faziam a festa e enchiam as “bolsas”, alegrando ricos, jovens e velhos fazendeiros que faziam de Uberaba, seu ponto comercial e na folga,agradar seu apetite sexual.

Moças lindas, loiras, morenas, aptas à “atividade sexual”. Corpo “violão”, muito em moda nos anos 50/60, pernas bem torneadas, lábios carnudos e provocativos e um batom vermelho que chamava a atenção; o perfume, a gente sentia à distância. Os puteiros, de um lado e outro da rua, tinham à porta, luzes vermelhas cintilantes, chamando a atenção. A São Miguel, ligava os bairros São Benedito ao d’Abadia. Durante o dia, trânsito normal; à noite, aquele burburinho!

Quando o sol escondia, logo ouviam-se os primeiros acordes da orquestra do “Casino Brasil”; músicos afinando seus instrumentos. As moçoilas de vida nada fácil, começavam a ouriçar ! Era só atravessar a rua e exibir-se para aquele munduréu de homens, ávidos e tarados por belo “programa”... A “pobreza”, coitada ! morria de ciúme, inveja e vontade em participar daquele lauto “banquete”. Ficava tão somente na vontade... 

Quando aparecia a primeira “ex-donzela”, vestido que mal cobria os joelhos, pernas roliças, coxas e bundas apetitosas, bem a gosto da “freguesia”, decotes generosos, seios que quase saltavam dos sutiãs, cabelos bem penteados, caindo nos ombros e começava a desfilar, a homaiada delirava ! Em questão de minutos, em dupla, loiras, morenas, altas e baixas, bonitas e mais bonitas, ia chegando e chamando a atenção do “cabaré” já quase lotado...

No palco, todo iluminado, rebolando a não mais poder, os primeiros travestis da terrinha. Os viados, “Birinha”, um crioulo forte e o branco “Diquinha”, peruca esfusiante, cantando e imitando a Ângela Maria, “Babalú...aiê...Babalú aiê” e o coro de palmas que se seguia...Com o comando do maestro “Docinho”, a voz romântica de Mauricio Silva, um dos mais perfeitos imitadores do maior “seresteiro do Brasil”, Sylvio Caldas. O salão, regorgitava de dançarinos!

As raparigas mais antigas da ”casa”, seguindo ordem do “Centrão”, faziam, no mínimo, dois “programas” por noite. As novatas, “trabalhavam” enquanto houvesse “freguês”. A festa seguia noite a dentro, até que, devidamente acompanhadas, tomavam o rumo de suas casas. As “ex-donzelas”, cansadas da guerra, iam para o seu sono, profundo e reparador, pois que, amanhã, a “luta” recomeçava...

Amanhã, conto-lhes como um jovem da santa terrinha, ganhou o apelido de “língua de fogo”. Vale conhecer. Obrigado pela atenção. Abraços do velho “Marquez do Cassú”.





Cidade de Uberaba

CENTRÃO!

Oi, turma !


( Lé com lé... crê com crê... entendido ?...)


Não resisti a tentação. Relendo antigos textos, deparei-me com esse. Peço vênia para repeti-lo, em homenagem àqueles que não tiveram a oportunidade de lê-lo.

Na década de 50/60, as donas dos bordéis da rua São Miguel, estavam preocupadas em perder a hegemonia e a liderança da vida noturna e boêmia da santa terrinha. Rumores corriam fortes que um “novo tempo” estava chegando, aparecendo “focos ”de outras casas, em meio às casas familiares, portanto, fora da zona, à atrapalhar o “rentável negócio” que a elas, pertencia.

Essas casas recebiam casais descasados, mulheres e homens casados e comprometidos e mocinhas “regateiras”, que não se sabe as razoe$$$, estavam também frequentando. As “cafetãns”,~ reuniram-se num lauto jantar no amplo salão do “casino Brasil”. Lá estavam: a Negrinha, Tubertina, Amelinha, Tia Moça, Nena, Sudária e Isolina e decidiram associar-se num amplo “ centrão” para barrar a investida que ameaçava o rentável negócio delas. Em “convenção”, sairiam as decisões das “ mandonas”do pedaço do pecado...

Primeiro, era necessário superar algumas “divergências” entre elas. Cínicamente, foram dados os “abraços de tamanduá” e a conhecida amabilidade da “troca de falsidades”... Afinal, diz o ditado que quando “o navio está afundando, não existem inimigos. Todos devem unir-se para salvar a embarcação”. A Negrinha trocou beijos com Tia Moça; a Nena deu um comovido abraço na Tubertina; de braços dados saíram Isolina e a Sudária. O pacto estava consolidado e recebeu o nome “Centrão da Putaria”. O “comando”, seria “ colegiado” .As casas com mais kengas, teriam o maior número de votos( desculpe, decisões...).

Vieram as primeiras, pois, não poderia perder tempo. O “inimigo” avançava. As “novatas ”não poderiam, por hora, mudar de partido,( perdão ! de casa)... Teriam que permanecer; ,caso contrário, perderiam o “bônus do rateio” da propaganda eleitoral (desculpem-me, outra vez !), quero dizer, sua parte no “michê”, controlado pelo ”Centrão” . Afinal, o “Centrão”, precisava frear o avanço dos” rendez-vous” e dos recentes motéis, que incomodavam bastante o velho e tradicional puteiro da rua São Miguel...

O que fizeram elas ? Passaram a exigir a mais absoluta higiene e fidelidade às casas, das putas recém chegadas. A obediência a essas determinações eram imprescindíveis a otimização dos futuros resultados. Aquela que fugisse às regras, seria levada ao conhecimento do “cabo Tatá” e do seu homem forte, o sargento Ranulfo, paras devidas reprimendas. Negrinha, Nena, Isolina, Tia Moça, Amelinha Sudária e Tubertina, comandantes do “Centrão”, não poderiam perder o controle dos seus filiados ( hi! Perdão outra vez...), do dinheiro, do poder e das negociatas, que exerciam na rua São Miguel. Era preciso ”trabalhar” para não perder o poder!

Só que as putas iniciantes queriam conhecer novos lugares, puteiros de luxo. A velharia não mais seduzia as ex-donzelas. Mesmo com todo o esforço do “Centrão”, ele não prosperou. Os motéis, cada um mais chique que o outro, as chácaras” especializadas”, tomaram conta do pedaço, sepultando,de vez, a saudosa e lendária rua São Miguel...

Segundo conta a história recente, muitos filhos daquelas distintas damas, mudaram-se para Brasilia e juntando às filhas e netas(os) das “damas da noite”, formaram um novo “Centrão”, voltado à política brasileira .É a fase que estamos vivendo... Abraços do “ Marquez do Cassú".


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Cidade de Uberaba



segunda-feira, 18 de junho de 2018

Ramon Franco Rodrigues

Lembrando nomes que fizeram história na crônica esportiva da terrinha, trago hoje, a figura emblemática, simpática e folclórica do inesquecível Ramon Franco Rodrigues. Pelas mãos do não menos famoso, Raul Jardim e o incomparável Ataliba Guaritá Neto, o Netinho, Ramon começou a escrever no falecido ‘ Lavoura e Comércio”, em 1952, ao tempo em que colaborava com o semanário esportivo “ A Bola”, dirigido pelo grande Raimundo Sarkis. Se o saudoso Sebastião Braz, depois o correto Rui Miranda, mais tarde a pena brilhante de netinho, foram os primeiros responsáveis pela página de esportes do jornal, a chegada de Ramon Rodrigues, o “Lavoura “ ganhou um novo colorido noticioso opinativo.
Ramon, tinha “ tiradas” que só pertenciam a ele. “Adiós mariquita linda”, referindo-se a derrota , ou do Uberaba ou Nacional, além de outras frases espirituosas, fizeram dele, o mais lido jornalista da cidade. Ao sentir a versatilidade do companheiro, Netinho, titular dos esportes da saudosa P.R.E.-5, viu nele o parceiro ideal. Inteligente,versátil, atualizado, palavra fácil, suas intervenções ficaram além , com frases inteligentes e bem humoradas. Em determinada transmissão, jogo dos rivais, USC e Uberlândia, num ataque do time visitante, a defesa colorada ficou em polvorosa. O sempre lembrado, Leite Neto, o “ locutor metralha”, quis saber a opinião de Ramon. Sem maldade, nenhum resquiscio de obscenidade, “ soltou”, sem cerimônia, a resposta:-“Leite, ainda bem que o Uberaba safou-se daquele cu de boi na área”...

O cronista esportivo Ramon Franco Rodrigues, o jornalista Luiz Gonzaga de Oliveira e o colunista Ataliba Guaritá Neto

Foto:Autoria desconhecida - Década de 60.


Ramon tinha três paixões esportivas: Fabricio, Uberaba e Botafogo (RJ) .No “morto” estádio “Boulanger Pucci”, qualquer jogo, o árbitro marcasse falta contra o Uberaba, microfone na mão, o estádio inteiro ouvia:-“ Juiz Ladrão ! Sem vergonha ! Pega esse soprador de apito” , ”Safado”... tá roubando contra o Uberaba! “... Xingatório que não acabava...

Com o advento da TV-Uberaba ( também virou cinzas...), Ramon, era um dos comentaristas, ao lado de Netinho, Farah e Jorge Zaidan, equipe que tive a honra de dirigir. O programa “ Papo de Bola”, era a coqueluche dos telespectadores. O Papo” ir ao ar, ao vivo, (não tinha chegado a época do “vídeo-tape”), após o grande sucesso de audiência que era “ Nico Trovador” ,de saudosa memória...

Certa vez, começamos o programa. Sem Ramon. Apenas Farah Zaidan e eu. De repente, passos apressados, entra Ramon, esbaforido, quase ofegante e senta-se ao nosso lado. Perguntei-lhe:- “Tudo bem, mestre ?”

-“Bem nada!”, respondeu nervoso, semblante carregado. “Desculpe o atraso. Alí na general Osório, um caminhão bateu num carro e embucetou todo o trânsito e eu atrasei”, desculpou.

Farah Zaidan, ao ouvir a “ explicação”, escorregou da cadeira, foi para debaixo da mesa e saiu de “fininho”, rindo escancaradamente. Fiquei “firme”, “segurando” o programa. Quando olhei, ”Zé do Socorro”, cenógrafo,” Alemão”, o câmera e o Wanderley Alves, que dirigia o programa do “switch”, sumiram dos seus postos.... Ramon , quando percebeu a balbúrdia no estúdio, tentou “ consertar”:- “Calma pessoal, quando eu falei embocetar, foi no bom sentido!”....

A TV ficou quase 5 minutos com o “slide” e a equipe em gargalhadas homéricas ...
Ramon Franco Rodrigues, descansa no céu, à direita de Deus Pai Todo Poderoso .


Luiz Gonzaga Oliveira

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Uma das memórias mais lúcidas de Uberaba

Luiz Gonzaga Oliveira e Janaína Sudário
          
     Querido Luiz Gonzaga Oliveira! São tantas felicitações neste SEU dia, mas preferi transformá-las em agradecimento. Conhecer você e ter desfrutado da sua inteligência, além da maravilhosa companhia, foi e será muito importante para mim. A sua história, tão bem contada e vivida, é um exemplo. Mais que textos muito bem escritos, aos quais você dá o seu toque peculiar de humor, sarcasmo e realidade, você escreve belíssimos capítulos que traduzem o homem, o marido, o pai, o profissional e o amigo que você é. Feliz aniversário, meu ídolo, meu amigo, minha inspiração: GONZAGA!

Jornalista Janaína Sudário 
                                

domingo, 1 de janeiro de 2017

HOJE, O “CAUSO” É INTERNACIONAL…

O médico Antônio Sabino de Freitas Júnior, educado, competente e muito simpático, além da profissão inicial, dividia-se como gerente da única – até então – gerência da Caixa Econômica Federal – onde aposentou-se – e a presidência do Uberaba Tênis Clube. Membro atuante do PSD, “véio de guerra”, sua filha residindo em Miami (EE.UU.), comprou um carro último modelo e precisava trazê-lo para o Brasil e, mais propriamente, para Uberaba. Documentação emperrada, burocracia mais ainda, estava difícil regularizar a papelada, além de outros impedimentos legais. Dr,Antônio Sabino recorreu ao amigo e correligionário, prefeito Artur Teixeira, de quem Nenê Mamá, era motorista. Conhecendo as matreirices e competência do amigo, pediu-lhe que “entrasse no circuito”, tentasse resolver a situação e trouxesse o carro para o Brasil.
Dinheiro no bolso, lá se vai Nenê Mamá. Primeiro, no Rio de Janeiro, onde afirmava “ter amigos prá quebrar qualquer galho”. Depois, era tirar o passaporte, avião, Miami e …trazer o carro. Nenê, sempre teve uma filosofia muito prática e própria “dinheiro é como azeite; onde passa, tudo amolece”, Sem falar um “ok” em inglês, mas com dólares no bolso, nosso herói está em Miami…
“- Foram 10 dias de muito sofrimento”, lembrava sempre. –“Com fome eu fazia gestos com as mãos e a boca, mostrava o dólar e eles me davam um “hot-dog”. Dava sede, a mesma coisa”.
Passado período, conseguiu regularizar a documentação, “louco” de vontade em retornar ao Brasil. Malas prontas, no elevador do hotel onde estava hospedado, Nenê Mamá percebeu, constrangido, uma senhora de meia idade, a fitá-lo com insistência. Por todo lado que se mexia, a mulher não tirava os olhos dele. “Saco cheio”, contou depois, não se conteve e soltou num bom português:
-“Véia feia, chata, enjoada, nojenta, manqueba, que será que ta me olhando assim, uai”.
A mulher arregalou os olhos de espanto e num misto de decepção e surpresa, respondeu:
-“O senhor e muito mal educado, viu? Sou brasileira, de Ribeirão Preto e conheço o senhor lá de Uberaba”…
Nada mais foi dito e nem lhe perguntado…. 


Luiz Gonzaga de Oliveira