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quarta-feira, 3 de junho de 2020

EXPLOSÃO MATA 8 NOS ESTADOS UNIDOS, O “BAIRRO VERMELHO”

 “A Explosão do Bar do Antero”

O final de 1968 foi um período marcado por passeatas estudantis e a retomada das mobilizações políticas. Setores mais duros do regime militar decretaram, na noite de 13 de dezembro, o AI-5 (Ato Institucional número 5). O Congresso Nacional foi fechado, recrudesceu a censura e reuniões políticas foram proibidas, entre outras ações autoritárias. A medida conferia ao presidente da República poderes totais para perseguir e reprimir as oposições. Imprensa, teatros, escolas, sindicatos, fábricas, toda a sociedade sentia a ‘mão-de-ferro’ da ditadura.

Numa tarde ensolarada de abril de 1969, uma forte explosão estremeceu o bairro Estados Unidos, parte do Boa Vista e o Centro de Uberaba. Eram 16 horas, do dia 10. Uma nuvem de fumaça, em forma de cogumelo, pôde ser vista à distância. O estouro ocorreu, justamente, em frente à casa onde Prestes hospedara 10 anos antes, na residência do conhecido comunista Babá, da Farmácia Globo, situada ao lado de sua casa, na esquina das ruas Martim Francisco, 43, e Padre Zeferino, 439, onde, em 2008, funcionava a Loja São Luiz Tecidos. 

O fato ficou popular como “A Explosão do Bar do Antero”, devido o estouro ter ocorrido numa loja de armarinhos, ao lado do botequim famoso por seu sanduíche de pão com bife e por ser local frequentado por universitários. Os bairros Estados Unidos e Mercês foram os dois principais redutos comunistas, na cidade, nas décadas de 1940 a 1960. Logo surgiram as suspeitas de que o fato talvez fosse um atentado político. 

Contudo, o inquérito policial contrariou a suspeita de subversão ou de ataque a militantes do partido que frequentavam o bar e também jogavam baralho até de madrugada, ao lado, num depósito de material de construção. Há quem desconfie de que houvera engano ao se armar a “bomba-relógio” que possivelmente deveria explodir às quatro horas da manhã, porém, foi disparada às quatro horas da tarde. Entretanto, a polícia concluiu que a explosão foi acidental, após averiguação assinada pelo delegado regional de Segurança Pública, José Aparecida Vicentini. 

O Ministério Público propôs o arquivamento, em 31 de outubro, do inquérito – com laudo número 171/69, datado de 6 de agosto - considerando impossível esclarecer o fato, devido à morte do estudante de química industrial José Cussi, 26, que estava na loja de armarinhos, em fase de instalação, onde ocorreu o estouro. O comércio pertencia ao seu irmão Vicente Paulo Cussi, 19, que o deixara vigiando o local para ir treinar no Independente Atlético Clube, de acordo com a informação da irmã Rossana Cussi Jerônimo, advogada. Após esse fato, foi instalada uma unidade da Polícia Federal, no Triângulo Mineiro, em Uberaba, dirigida pelo delegado Guilhermino Conceição Corrêa.

A explosão foi provocada, supôs o chefe da perícia Antônio Orfeu Brauna, pela queda de caixas de foguetes carregadas da casa da família Cussi, próxima ao local, até a loja. A empresa estocava pólvora branca para fabricar fogos de artifício com vista às festas juninas, segundo Edem Araujo Borges, balconista da Farmácia Globo. Nada menos que 2.136 foguetes e rojões, apreendidos pela polícia, não explodiram. 

Rossana contestou essa versão e questionou sobre o que teria detonado a explosão, considerando a quantidade de mercadoria recolhida intacta pelas autoridades. Todavia, o perito avaliou que bastaria a queda de 15kg do produto, confeccionado com pólvora branca – de alto poder explosivo -, da altura de l,5m para causar o acidente. Caso semelhante ocorrera em Pinhal (SP), na Fábrica de Fogos de Artifício Santo Antônio, conforme recorte de reportagem de jornal anexado ao processo. 

Foram oito vítimas fatais: José Cussi, as crianças que brincavam no passeio, Edson Curi, 9, e Douglas da Cruz, 10, neto de Antero Antônio Alves, 58, dono do bar; o comerciante Lauro Lombardi, 28, que passava pela rua e ficou com o corpo dilacerado; Izaura de Sousa Cruz, 48, Ivone Alves Martinelli, 29, respectivamente, irmã e filha de Antero, que estavam no interior do estabelecimento; Gilberto Pinto Colares, 25, da Barbearia Colares; e Antônio Paulo Cury, 67. Quatro pessoas ficaram feridas: Tereza Cristina de Freitas, 4, que brincava no passeio; o contabilista da farmácia, Edmo de Oliveira, 23, que atravessava a rua em direção ao bar, foi atingido por estilhaços e ficou internado em hospital por seis meses; Jorge Paulo Cury, do depósito de material de construção; e o dono do açougue, no número 85, José Antônio Cury, 38. 

Sete prédios foram destruídos: na rua Martim Francisco, o nº 42, o depósito de material de construção pertencente à família Cury; na rua Padre Zeferino, o nº 81-A, o Bazar Dominique; o nº 83, a Barbearia Colares; o nº 85, o Açougue do Jorge; o 87, a loja de armarinhos que ainda não tinha nome; o 89, o Bar e Restaurante do Antero; e o 86/88, a Feira das Louças. Vidros de janelas da vizinhança como os da Escola Estadual Castelo Banco, na rua Padre Leandro, foram quebrados até a 500m de distância, conforme o diário Correio Católico, de 11 de abril, em reportagem intitulada “Catástrofe enluta Uberaba”. Vidraças da estação ferroviária, no bairro Boa Vista, foram atingidas. 

Durante cerca de 30 anos os escombros da explosão permaneceram e nem um muro isolando o local foi construído de frente para as ruas. Um prédio com salas comerciais no térreo e três andares de apartamentos foi erguido, no início dos anos 2000, naquela esquina com o endereço indicando para a rua Padre Zeferino, sob o número 415.


Trecho - com foto integrante do inquérito policial - do capítulo "Explosão Mata 8 nos Estados Unidos, o "Bairro Vermelho", do livro "Lucilia - Rosa Vermelha" [2011], de Luciana Maluf e Luiz Alberto Molinar, da Editora Bertolucci.

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Cidade de Uberaba

quinta-feira, 5 de março de 2020

SÁBADO NA UNIUBE, CÂMPUS CENTRO

Fiz a parte sobre a trajetória de Djalma em Uberaba, revisão e edição 

A biografia autorizada do bicampeão Djalma Santos, que morou em Uberaba por mais de 25 anos, será lançada no próximo sábado, 7, às 19h, no auditório da Uniube, no câmpus Centro. A viúva de Djalma, Esmeralda Rodrigues Silva, participará do evento, que contará com exposição defotos, no formato 1m x 0,60m, da trajetória do ex-atleta. A obra tem a apresentação do jornalista Juca Kfouri.

"Djalma Santos: biografia autorizada"

Ao participar da mostra dessas fotografias em 2011, em Sacramento (MG), a 70km de Uberaba, Djalma se tornou amigo do autor da obra, o memorialista Carlos Alberto Cerchi, então presidente da Câmara de vereadores e promotor da exposição. Embora mantivesse amizade com inúmeros jornalistas Brasil afora, o bicampeão mundial escolheu o novo amigo para relatar sua vida dentro e fora de campo.

Corinthiano na infância, com apelido de Nego, quando ingressou na Portuguesa passou a ser conhecido por Santos. Se comunicava em quatro idiomas, consequência de viagens constantes ao exterior e por ter morado em quatro países. Fotos do acervo pessoal, entre outras,integram a obra que relata as passagens de Djalma também pelo Palmeiras e Athetico Paranaense. 

Um capítulo é dedicado ao período em que residiu em Uberaba. As “peladas” aos domingos no Uberaba Country, a escolinha de futebol, o curto prazo como técnico do Uberaba Sport e a época de secretário municipal de Esportes. Uma curiosidade, entre outras, que consta do livro:Djalma morreu no mesmo quatro que faleceu Chico Xavier, no Hospital Hélio Angotti.

O livro de 227 páginas, da Editora Bertolucci, de Sacramento, está à venda a R$ 50, e será lançado também em Curitiba(PR) e em São Paulo (SP). O autor é membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro e secretário de Cultura e Turismo de Sacramento. Outras três obras dele:“Bondes de Sacramento” (1991), “Antologia Poética” (1995) e “Memória Fotográfica de Sacramento” (2004). 


Luiz Alberto Molinar - Matrícula sindical nº 2.509



Cidade de Uberaba

UM VIVA À WILMA CESARINI!


Luiz Alberto Molinar

“Me segura!”, era seu bordão para algo tido como segredo revelado ou assunto constrangedor. Minha professora particular nos anos 70 e companheira de mesa na Choperia do Mário, nos 90. Ao som do Trio Irakitan, Nelson Gonçalves e Orlando Silva, que ela cantarolava junto, com alegria, degustávamos porções e sucos. Gostava de ouvir suas histórias. A levei aos shows de Inezita Barroso e dos Demônios da Garoa.

Wilma Cesarini

Wilma Cesarini (18/12/1929-4/3/2020), desde a década de 1930, morou na rua Artur Machado. No final de tarde, ficava debruçada sobre seu portãozinho, vigiando a vizinhança e cumprimentando comerciários que voltavam do trabalho.

Afilhada do líder espírita e psiquiatra Inácio Ferreira, era também adepta da mesma doutrina. Se sentia ofendida com convites a missas e festas católicas. Solidária, contribuía com casas assistenciais. Ranzinza, vez ou outra entrava em conflito com vizinhos.

O marido de Wilma, Alaor Araújo, adquiriu da viúva do memorialista Hildebrando Pontes seu acervo de jornais. Com a morte do companheiro, ela doou a mim esse tesouro. Parte dele, edições dos anos 1960 do “Lavoura & Comércio”, decorou paredes do primeiro endereço da Choperia do Mário.

Gostava de sua casa na qual permanecia 24 horas por dia. Guardava orgulhosa móveis antigos e porcelanas de seus pais. Um incêndio destruiu tudo em 2017, quando ela já morava em hotel geriátrico. Por sorte a casa foi apagada de sua memória, nunca quis voltar lá ou sequer perguntava por ela. 

Restou um banco de jardim e um suporte de vaso, de madeira entalhada, e com pernas curvas, que ficavam no alpendre. Os bombeiros retiraram para combater as chamas e deixaram no passeio. Ficaram lá, abandonados...

Além das lembranças, foi o que ficou da minha vizinha – desde 1964 -, estão no meu jardim, e bem guardados! 


*Paixão pelo Uberaba Sport*


Aos domingos à tarde, quando se ouvia – em alto e bom som - a “Marcha Uberaba Sport”, no quinto quarteirão da rua Artur Machado, principalmente nos anos 1970, época áurea do clube, era o anúncio e comemoração de gol do USC. Antes do hino, o grito do narrador esportivo da rádio já prenunciava a música. 

Nas manhãs vitoriosas de segunda-feira, a vitrola lembrava comerciantes e comerciários da vizinhança o êxito do dia anterior, principalmente se havia torcedores do arquirrival Nacional Futebol Clube por perto. E se o triunfo fosse sobre o Naça, a música era tocada inúmeras vezes.

Os ruídos de alegria partiam da residência número 615, da Wilma. Apaixonada, acompanhava o seu Uberaba desde a década 1940 pela Rádio PRE-5, a Sociedade do Triângulo Mineiro. Do programa diário às 10h, o “Parada Alvi-rubra”, nos anos 1970, era ouvinte cativa. Gazeteiro do “Lavoura” entregava todo dia o exemplar da torcedora, que buscava mais informação sobre o USC.

Aos 90 anos, residia no Recanto Hotel Geriátrico, na rua José de Alencar, 184, São Benedito, há cinco anos. A incomodava morar no bairro do Nacional. Ficava contrariada, quando passeava pelas redondezas, ao ver o comércio mais ativo que o da sua Artur Machado. Continuava firme, por rádio e pelo “Jornal de Uberaba”, acompanhando a paixão de uma vida. A alegrou ao ler, em 2017, a revista “Replay” comemorativa do centenário do USC.

Cidade de Uberaba


sábado, 16 de março de 2019

Grêmio no Diocesano em meados de 70.

Grêmio no Diocesano em meados de 70.

Em pé: Márcio, Carlos Alberto Cardoso, Carlos Henrique, Macaco e Carlos Alberto Moura, agachados: Junin, Élcio, Cebolinha e Luiz Alberto Molinar.
(Foto do acervo pessoal de Luiz Alberto Molinar)


Cidade de Uberaba

Fu Manchu alegrou o centro anunciando jogos de Uberaba no anos 80

No Bico da Chanca

Toque de Primeira

 Fu Manchu /Coluna de Carlos Ticha - JM


Ele morou num corredor na r. Manoel Borges, próximo da esquina com a r. Major Eustáquio

(Luiz Alberto Molinar)

Cidade de Uberaba

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

ANATÓLIO MAGALHÃES, IMPORTANTE ARTISTA PLÁSTICO DE UBERABA, ENTRE 1920 E 1960

Tela em bico de pena de autoria de Ovídio Fernandes

Ovídio foi amigo do meu pai, e tive certa convivência com ele. Um cara "bon vivant e humoradíssimo. Tenho quadro de bico de pena de meu avô paterno, de autoria dele. 

Fiz uma pesquisa, no ano passado, sobre as celebridades culturais de Uberaba. Esse é o perfil dele:

Ovídio Fernandes {Uberlândia, distrito de Sobradinho, 14 de fevereiro de 1925-Uberaba, 10 de agosto de 1998}. Em 1949, executou a cenografia do recém-fundado Teatro Estudantil, ligado à UEU (União Estudantil Uberabense).

Foi um artista profissional por toda a vida. Graças à cessão – a título de uso e fruto - de um conjunto de imóveis, entorno do Hotel Modelo, localizado entre as ruas Artur Machado, João Caetano e a av.Dr. Fidélis Reis, Centro, se mantinha com a renda obtida por meio de aluguéis. Por volta de 1970, manteve a boate Barroco, com decoração produzida por ele alusiva ao nome do local. 

Grafite e nanquim predominam em seus trabalhos. Mas há também pinturas e murais em parede, como a “Parábola do Rei Salomão” executado no Salão do Júri, do Fórum Melo Viana, na r. Lauro Borges, Centro. 

Outros painéis de autoria dele foram realizados nas paredes do hall de entrada da ex-sede social do Jockey Club, na pç. Rui Barbosa, Centro. Retratou, por meio de finos traços pretos, negros tocando instrumentos musicais em alusão ao Carnaval. Essa pintura exemplifica sua irreverência e crítica social presente em algumas de suas obras. 

O Jockey havia sido condenado, judicialmente, por ter impedido o acesso ao salão de festas do clube do famoso jogador de basquete Rosa Branca [Carmo de Sousa – 1940-2008], que foi campeão mundial com a seleção brasileira em 1959 e 1963. O fato ocorreu entre 1956 e 1958, quando o vice-campeão paulista São Carlos Clube, pelo qual jogava, enfrentou a equipe do Jockey. 

Após a partida, realizava-se um baile e o time visitante foi convidado a participar do evento. Entretanto, Asa Branca foi barrado na portaria por sua condição de negro. Seus companheiros de equipe, em protesto, abandonaram o local em solidariedade ao colega. A pena judicial determinou a suspensão do funcionamento da sede, que, assim, passou por “reforma”. Contratado pelo clube para participar da nova decoração do local, o irônico Ovídio fez pinturas em alusão à festa carnavalesca e “vingou” por Asa Brancas e sua raça menosprezada. 

Ovídio é autor – anônimo - da ilustração da capa do livro “O Pântano Sagrado” (1948), do jornalista Orlando Ferreira, o polêmico e destemido “Doca”. A imagem apresenta um homem moribundo, aparentando ser um religioso devoto, observado por urubus que, por terem penas pretas, induzem à lembrança de batina usada por membros da igreja católica. Entre as 365 páginas da publicação estão 15 charges do artista, ironizando situações envolvendo o clero de Uberaba. A obra foi proibida pelo Judiciário e 900 cópias das mil produzidas foram incineradas. 

A grade que circunda o Parque Fernando Costa, da ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu), instalada em meados de 1970, com contornos de exemplares da raça zebuína, é projeto de Ovídio. Ele também decorava vitrines de lojas e criava logomarcas. Uma delas foi para o jornal “Lavoura e Comércio”, na década de 1970, na qual as letras iniciais l e c se fundem. Há uma praça, no final da r. Quinze de Novembro, no bairro Estados Unidos, que leva seu nome.

(Luiz Alberto Molinar)


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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Seu Mário, o rei da vitamina por meio século

Em 1947, Mario Toitio chega a Uberaba e abre o Mercadinho de Verduras N. S. Aparecida,
 na r. Cel. Manoel Borges    

Laeco Muranaka casou-se, em 1952, com seu Mário, e teve seis filhos que deram-lhes 11 netos e um bisneto


Muda-se para a pç. Rui Barbosa e instala casa de vitamina, em 1954. Três anos após, o bar atende
no segundo quarteirão da r. Artur Machado, por 11 anos.
Inauguração, em 1968, na Galeria Rio Negro, loja 13, na av. Leopoldino de Oliveira, o Rei da Vitamina. 

Seu Mário, o rei da vitamina inigualável por meio século


Agraciado, em 2000, com o título de cidadão de Uberaba. Morre aos 86 anos, em 2011
Herivelto, empregado há 26 anos, aprendeu a receita com seu Mário e mantém a tradição de 64 anos no primeiro “shopping” da cidade, com a primogênita de seu Mário, Regina e seu filho Pedro.
Texto e edição

Antônio Carlos Prata e Luiz Alberto Molinar  
    


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