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segunda-feira, 21 de junho de 2021

Uberaba está em todas` também com Paulo Mesquita

A célebre frase "Uberaba está em todas", atribuída ao jornalista e radialista Ataliba Guaritá Neto, o Netinho, me causa indignação por estar sempre diretamente ligada atualmente a todo tipo de escândalo nacional em que aparece o nome de um uberabense. Sou do tempo em que a frase era usada pelos titulares das colunas Observatório (Netinho) ou Escutando e Divulgando, jornalista Raul Jardim, diretor do vespertino extinto Lavoura e Comércio para referenciar grandes feitos de uberabenses em território nacional ou até no exterior, como, por exemplo, os títulos conquistados pelo atleta Alaor Vilela, o Peixinho, ou mesmo o sucesso alcançado pelo compositor Joubert de Carvalho.

Dr. Paulo Mesquita. Foto/Divulgação. 

Nos primeiros anos de exercício de minha profissão, quando também dava os meus primeiros passos com reportagens publicadas em veículo de comunicação com circulação em todo território brasileiro, encontrei na pessoa do médico Paulo Miguel de Mesquita, o verdadeiro representante de Uberaba na contribuição para estudos sobre diagnóstico da Aids voltados à ciência no país e no mundo. Ao me conceder entrevistas entre os anos de 1984 e1985, em seu consultório, instalado no edifício Chapadão, permitiu-me enviar por longo período suas experiências às páginas de O Globo, matérias sobre o atendimento e estudos do caso de um também ilustre paciente. Dr. Paulo Mesquita havia publicado em julho de 1983, na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, aquele que seria o primeiro relato de um caso de Aids diagnosticado no Brasil. O estilista, figurinista dos mais influentes da moda brasileira, Markito Resende, o havia procurado em seu consultório, em fevereiro daquele ano com queixas de sintomas relacionados à doença. A partir de meu primeiro encontro com o médico e a publicação em O Globo de apenas uma nota de coluna de dez ou 15 linhas, seguiu-se uma série de reportagens, incluídas na pauta diária do jornal, sempre que algo novo era revelado por pesquisadores mundiais sobre a síndrome da imunodeficiência adquirida, a Aids. O médico nascido em Três Pontas, Sul de Minas Gerais, que aqui em Uberaba formou-se na antiga FMTM e constituiu família, casando-se com Sonia Vilela, também do Sul do estado, cuja união nasceram cinco filhos (Paulo Vinícius, Luiz Flávio (também hoje renomado médico), Claudia (em memória), Marcus Vinícius e Renata, levava para entre cientistas do país e do mundo o nome dessas terras de Major Eustáquio.

No início de 1983 instalou-se o pânico em todo o mundo quando cogitou- se que o vírus HIV poderia ser transmitido através da água, ar e utensílios domésticos. A infecção por HIV só foi diagnosticada em 1981, mas pesquisadores acreditam que a transmissão do macaco para o homem tenha ocorrido na década de 1930. De 1960 a 1980 começaram a surgir casos e sintomas da doença que os médicos não sabiam explicar. Dr, Paulo Mesquita trouxe para a publicação na revista especializada, com circulação nacional, seus estudos e pesquisas mostrando a combinação da doença com o já conhecido sarcoma de Kaposi, um tipo de câncer, com erupções na pele, como sintoma e mais uma consequência do mal que abalava o mundo da ciência e trazia também pânico entre os povos, sobretudo com o rótulo de "a peste gay".

( Jornalista Walter Farnezi / Uma primeira versão desse texto foi publicada no Jornal de Uberaba em 07/04/2020)

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

O PIANO ERUDITO DE DINORAH

Corria o mês de julho de 1934 e Uberaba estava em festa. Inaugurada no mês anterior, a Exposição Feira Agropecuária espalhava-se pelo amplo terreno da Santa Casa oferecendo atrações inéditas à população: cassino, shows musicais, circo, restaurante e parque de diversões. Nunca antes a pacata cidade havia visto um evento dessa dimensão. Aberta ao público por mais de 30 dias, o enorme sucesso da Feira animou os pecuaristas uberabenses a fundar a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (antecessora da ABCZ) que desde então passou a realizar as exposições anuais de gado zebu. Mas a agitação não se limitava ao recinto da Feira. Na noite de 11 de julho, a Prefeitura aproveitou a ocasião para receber com pompa uma consagrada artista uberabense, no auge de sua carreira. No salão nobre do Paço Municipal da praça Rui Barbosa, apresentou-se a pianista e compositora Dinorah de Carvalho.

Dinorah de Carvalho em 1919 – revista "Vida Moderna" (SP).

Segundo sua certidão de nascimento, Dinorah Gontijo de Carvalho nasceu em Uberaba, no dia 1º de junho de 1895 em uma família grande e abastada: era filha do comerciante (e músico amador) Vicente Gontijo e de Dona Julia de Carvalho Gontijo. Residiam em um sobrado no início da antiga Rua do Comércio (atual Artur Machado) onde, décadas mais tarde, funcionou por certo tempo a agência local dos Correios. Com a morte de Vicente, em 1904, a mãe mudou-se com os filhos mais jovens para a capital paulista. No ano seguinte, aos 10 anos de idade, Dinorah foi matriculada no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde teve aulas com o professor Carlino Crescenzo e fez amizade com os colegas Mário de Andrade e Francisco Mignone. Data de 1912 sua primeira composição: uma valsa intitulada "Serenata ao Luar". Diplomada com nota máxima em 1916, seu enorme talento como pianista não tardou a ser notado. Um ano depois, fez sua primeira apresentação profissional em Uberaba.

Programa da apresentação de Dinorah em Uberaba no jornal Lavoura e Comércio, 11/07/1934.

No final de 1920, o Congresso Legislativo de Minas Gerais lhe concedeu uma bolsa de 20 contos de reis para um aperfeiçoamento na Europa. No ano seguinte, Dinorah já vivia em Paris, tendo aulas com o pianista e compositor húngaro Isidor Philipp. A temporada na França impediu que participasse da Semana de Arte Moderna, organizada por seus amigos paulistanos. Em troca, sua música ganhou os ares do Velho Mundo: em dezembro de 1922, Dinorah e a também pianista e cantora Sigrid Nepomuceno (filha do compositor cearense Aberto Nepomuceno) interpretaram Villa-Lobos e outros autores brasileiros em um concerto que foi transmitido ao vivo pelo recém inaugurado “serviço de rádio telefonia” da Torre Eiffel.

Primeiras linhas da música "A Ti Flor do Céu" em partitura manuscrita por Dinorá de Carvalho.

De volta ao Brasil em 1924, Dinorah foi apresentada por Mário de Andrade ao maestro italiano Lamberto Baldi e incentivada a se dedicar à composição erudita – um território quase exclusivamente masculino na época. Nas décadas seguintes, Dinorah escreveu mais de 100 obras para instrumentos solistas, corais, coral e orquestra, conjuntos de câmara, piano e orquestra, orquestra sinfônica, além de música para teatro e canções. Fez arranjos para canções de tradição africana, musicou peças folclóricas e textos de poetas como Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles. Seu pioneirismo abriu as portas para que outras mulheres se dedicassem ao ofício de compor.

Ao mesmo tempo, consagrou-se também como intérprete, regente e professora. Nos anos 1930, organizou audições de piano na Radio Educadora Paulista e criou a Orquestra Feminina São Paulo, sendo a primeira mulher a dirigir uma orquestra no Brasil. Em dezembro de 1936, compôs as músicas e regeu, no Teatro Municipal paulistano, a produção "Noite de São Paulo" – uma fantasia em três atos com versos de Guilherme de Almeida e textos de Alfredo Mesquita e Mário de Andrade. Em 1939, foi nomeada inspetora de ensino superior no Conservatório Dramático e Musical, onde trabalhou até a aposentadoria. Na década de 1940, tornou-se a primeira mulher a integrar a Academia Brasileira de Música. Criadora de um método inovador de ensino musical, montou em casa uma escola particular que formou dezenas de pianistas. Em 1954, recebeu a medalha de ouro do IV Centenário da Fundação de São Paulo por seu trabalho de formação musical das crianças paulistas.

Dinorah casou-se em 1938 com o paranaense José Bittencourt Muricy, que era seu admirador e oito anos mais jovem – uma tremenda ousadia para a época. Viveram juntos por 40 anos, até a morte de Muricy em 1978. Não tiveram filhos, mas a tradição musical da família teve continuidade por meio de um sobrinho (filho de uma irmã mais velha de Dinorah): o também uberabense Joubert de Carvalho.

Em 1960, Dinorah voltou à Europa, dessa vez como convidada do Ministério da Educação e Cultura para uma Missão Cultural, onde apresentou suas obras e as de outros compositores brasileiros. Em 1969, compôs "Salmo XXII do Rei David, o bom pastor", peça para barítono e seis instrumentos, baseada nos versos bíblicos traduzidos por Goffredo Telles. Atuou ainda como crítica musical em periódicos paulistas – dentre os quais a revista Vanitas e os jornais A Noite e Diário de São Paulo – e foi integrante da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). Faleceu em 1980, muito lúcida e ativa aos 84 anos de idade, vitimada por um enfarte.

Após décadas de relativo esquecimento, nos últimos anos suas composições têm sido recuperadas por pesquisadores acadêmicos. Não encontrei registro de que ela tenha se apresentado novamente em Uberaba. Mas o programa daquela noite de julho de 1934 reserva uma curiosidade. Dividido em três partes, na primeira e na última Dinorah interpretou peças clássicas de Brahms, Beethoven, Chopin e outros. Na segunda, mostrou composições próprias e, dentre essas, fez a primeira apresentação de um curioso “Estudo só para a mão esquerda”, (composta, talvez, como homenagem à sua colega Sigrid Nepomuceno). Infelizmente, a partitura manuscrita dessa peça pouco usual perdeu-se no tempo.

Quem tiver interesse em conhecer o repertório da virtuose e compositora erudita uberabense pode encontrar algumas de suas músicas no YouTube (buscando pela grafia atualizada do nome: Dinorá de Carvalho) ou então na página https://www.dinoradecarvalho.com, organizada pelo músico e pesquisador Flávio Carvalho.

(André Borges Lopes – uma primeira versão desse artigo foi publicada originalmente na coluna Binóculo Reverso do Jornal de Uberaba em 29/09/2019)


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Instagram: instagram.com/uberaba_em_fotos

Cidade de Uberaba

terça-feira, 30 de julho de 2019

UBERABA ! Ô DÓ !....

Oi, turma !

( Informação e opinião, valem muito mais que um tiro de canhão ! )


Ando muito sorumbático, irmão gêmeo do macambúzio, quando relato e relembro atos, fatos e boatos da minha Uberaba. Não sei se por ter vivido momentos inesquecíveis da sagrada terrinha, convivendo com uberabenses de personalidade forte, altivos, altaneiros e edificantes, que engrandeceram a terra pátria, certo é que a nossa cidade já viveu grandes épocas. Uberaba, em qualquer setor de atividade, era reverenciada Brasil afora. Uberabenses de proa, pontificaram-se em todas as lutas em que foram envolvidos. Era comum ler na grande imprensa, um filho da santa terrinha recebendo elogios por trabalho realizado. Hoje...

Jacob Palis Júnior, mago na matemática mundial, Ademar Lopes, recebendo honrarias pelo seu trabalho na oncologia, Augusto César Vanucci, detentor de “Gramy’s” internacionais, pela sua atuação na TV brasileira. Embaixador Carlos Alberto Leite Barbosa, dirigindo as maiores embaixadas brasileiras, Romeu Sérgio Meneghello, Diretor de dois dos mais importantes hospitais brasileiros, ” Albert Einstein” e “Dante Pazanezzi”, Murilo Ferreira, ex -Presidente da Vale e um dos maiores executivos do Brasil, Antônio Carlos de Brito, o “Cacaso”, letrista mais poético do Brasil, José Pedro de Freitas, detentor de prêmios como dirigente de TVs.nacionais, Gilberto Salomão, um dos “ construtores de Brasilia”, Wilson Moreira, eleito o melhor Prefeito de cidades brasileiras, na prefeitura de Londrina (PR). Sei que a minha frágil lembrança, omitiu nomes de uberabenses consagrados no Brasil. Perdoem-me. O analfabetismo, ignorância dos atuais dirigentes de Uberaba, é incapaz de conhecer as façanhas desses nobres conterrâneos. Duvido que a imprensa local, conheça a metade desses uberabenses ilustres...

Nunca é demais lembrar aqueles que no século passado, edificaram o mural das nossas conquistas. Mário Palmério, Fidélis Reis, Marcelino de Carvalho, Antenógenes Silva, Joubert de Carvalho, Nina Chavez, Álvaro Lopes Cançado (Nariz) , Pedro Moura, Glycon de Paiva, Avelino Ignácio de Oliveira, Maurilio Cunha Campos Moraes e Castro, Alaor Prata, Urbano Lóes, José Vianna, Wanderley Greifo, glórias uberabenses que cintilaram no Brasil inteiro. Quando lhes perguntavam onde haviam nascido, gritavam a plenos pulmões: Nasci em UBERABA ! Amor com amor se paga; amar a terra da gente, é um preito de gratidão e alegria ! Infelizmente, mais da metade dos nomes citados, não são conhecidos dos nossos atuais analfabetos na vivificante e grande história da sempre amada Uberaba ! É de dar dó!!!!!

A geração atual perdeu o senso de cidadania. A cidade está entregue às traças. Estamos perdendo nossas conquistas, nossos valores. Covardemente ou por total ignorância da importância da nossa cidade, são incapazes de um gesto altruístico em favor da terrinha. Pensam apenas nas eleições de 2020, onde, mentirosamente, com a cumplicidade da imprensa comprometida e servil, mesmo conhecendo a fajutice dos “ 200 anos”, insistem em alimentar tão medíocre mentira. Nunca em tão pouco tempo, Uberaba foi dirigida por gente tão incapaz.

À bênção, Claudio Zaidan, Fábio William, Fernando Vanucci, Jorge Zaidan Jr., Paulo Frange e Alda Marcantônio, únicos uberabenses na atualidade, a “ segurarem” o nome sagrado da imortal e santa terrinha! “ Marquez do Cassú”


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Cidade de Uberaba


sexta-feira, 8 de março de 2019

Joubert de Carvalho

Biografia

Joubert Gontijo de Carvalho (Uberaba MG 1900 - Rio de Janeiro RJ 1977). Compositor e médico. É o segundo dos dez filhos de um fazendeiro mineiro. Desde criança toca piano e se interessa pelas bandas locais. Em 1913, muda-se com a família para São Paulo, onde estuda no tradicional Ginásio São Bento. Tem aulas de música com uma tia pianista e compõe sua primeira canção, Cruz Vermelha, inspirada no hospital infantil homônimo. Conclui os estudos no Colégio Osvaldo Cruz e, em 1920, influenciado pelo pai, vai para o Rio de Janeiro para cursar a faculdade de medicina. Em 1925, defende a tese de conclusão do curso Sopros Musicais do Coração, e passa a conciliar a carreira de médico com a de compositor.

Em 1922, grava o foxtrote Príncipe, pela Orquestra Augusto Lima (Francisco Alves a grava em 1931 e o violonista Garoto, em 1954). Em seguida, Gastão Formenti grava Canarinho e Rolinha (ambas de 1927) e Casinha do Meu Bem (1928); e Francisco Alves, Traição e Castelo de Luar, parceria com Catulo da Paixão Cearense (ambas de 1928), e Dor de Recordar (1929). Nesse período, conhece o poeta Olegário Mariano (1889 - 1958), com quem compõe Zíngara (1931), Tutu Marambá, Hula (ambas de 1929) e De Papo pro Ar (1931), iniciando uma produtiva parceria. Em 1930, compõe para Carmen Miranda a canção Pra Você Gostar de Mim, seu primeiro grande sucesso, que se torna conhecida popularmente como Taí. Carmen grava 28 canções do compositor. Nessa década, Carvalho compõe Pierrot, interpretada por Jorge Fernandes, escrita para a peça homônima de Paschoal Carlos Magno, e Maringá, feita para os flagelados da seca nordestina e gravada por Gastão Formenti, em 1932, com o objetivo de agradar José Américo de Almeida, tendo em vista uma nomeação no Instituto dos Marítimos. Em 1933, Carvalho é nomeado médico do instituto, torna-se diretor e lá se aposenta.

Na década seguinte, suas canções são gravadas por Orlando Silva (Em Pleno Luar, Maria, Maria) e Silvio Caldas (Minha Casa, Nunca Soubeste Me Amar). Nos anos 1950, torna-se membro e diretor da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (Sbacem) e membro do Conselho Federal da Ordem dos Músicos. Participa, em 1969, do 4º Festival Internacional da Canção (FIC), com Fragrância (parceria com Mario Rossi), interpretada por Francisco Petrônio. Em 1970, a canção A Flor e a Vida vence o 2° Festival da Seresta na voz de Antônio João. Carvalho a registra em piano em gravação de 1971 para o fascículo História da MPB, da Editora Abril. É autor do romance Espírito e Sexo.

Paulo Tapajós grava o disco 10 polegadas Melodias Imortais de Joubert de Carvalho, com arranjos de Léo Peracchi, em 1956. No ano seguinte, Alexandre Gnattali lança outro 10 polegadas, A Música de Joubert de Carvalho. Em 1959, o maestro Carlos Monteiro de Souza grava com orquestra e coro o LP Olegário Mariano (o Príncipe dos Poetas) e a Música de Joubert de Carvalho, um songbook dessa parceria. Carlos Galhardo grava em 1962 Joias Musicais de Joubert de Carvalho. Dez anos depois, é lançado o LP Maringá, a Cidade que Nasceu de uma Canção, no jubileu de prata da cidade paranaense, só com composições de Joubert, nas vozes de Agnaldo Rayol, Jairo Aguiar, Ângela Maria, Cyro Monteiro, Ataíde Beck e Silvio Caldas. Dentro da série Grandes Autores, Grandes Intérpretes, a Copacabana lança em LP, em 1978, só composições de Joubert cantadas por José Tobias.


Comentário Crítico


Joubert de Carvalho é um daqueles casos em que se consegue conciliar produção musical com outra profissão. Conclui curso universitário, situação rara entre os artistas populares da primeira metade do século XX, forma-se em medicina e exerce a profissão, até se aposentar, simultaneamente à vida artística. Apesar da formação educacional formal, não estuda música de maneira regular. Tem aulas em São Paulo com sua tia, a pianista e compositora Dinorah de Carvalho, e, no Rio de Janeiro, estuda com o maestro Paulo Silva. Suas composições obedecem à intuição presente nos músicos populares, que o próprio compositor identifica como "escutar o ouvido interno". Acompanhado desse tipo de experiência intuitiva, Carvalho cria vários sucessos. Pode-se dizer que ele soube operar com essa realidade ao compor, por exemplo, o foxtrotePríncipe. De relativo sucesso no Brasil em 1922, ele é musicado em francês e apresentado em Paris, é gravado na Europa, circula em diversos países a ponto de, segundo o autor, ser considerada música originária da Tchecoslováquia. Também compõe tangos, como Zezé e Agonia, este gravado, em 1926, por Pedro Celestino, irmão de Vicente Celestino.

Mas as criações que recebem mais reconhecimento do público e da crítica são as identificadas com os chamados "gêneros nacionais". Com o poeta Olegário Mariano, ele forma inventiva dupla que compõe uma série de canções de sabor sertanejo, entre elas Cai, Cai Balão, Zíngara, Tutu Marambá e De Papo pro Ar. Estas duas integram definitivamente o imaginário sonoro brasileiro, chegando algumas vezes a ser confundidas com o folclore. Ainda nesse universo, compõe outra música importante, a toada Maringá. A canção tem história complexa e curiosa. Ela expõe ao mesmo tempo as relações clientelistas existentes na sociedade brasileira, a eficácia de penetração dos meios de comunicação no período e a força criativa da canção de Carvalho. Ambicionando um posto de médico no Instituto dos Marítimos, recomendam-lhe que faça uma música com o objetivo de agradar o poeta e político paraibano José Américo de Almeida. O resultado é a composição que conta a história da migrante paraibana Maria do Ingá (cidade paraibana), que foge da seca, e a consequente nomeação de Carvalho no posto pretendido. A fusão dos nomes, Maringá, batiza a canção, que fica famosa. Ela alcança tamanho sucesso que por vias oblíquas acaba influenciando na decisão do nome de uma cidade recém-inaugurada no norte do Paraná.

Há duas versões que procuram apresentar as razões para sua escolha. A primeira diz que a esposa do presidente da Companhia de Melhoramentos do Paraná, responsável pela construção da cidade, teria sugerido o nome Maringá, pois é fã da música. A outra variante defende que os pedreiros que trabalhavam na construção da cidade cantavam permanentemente a canção e, por isso, o município teria sido batizado com seu nome. Não resta dúvida de que a música é a inspiração para o nome da cidade e pouco importa a veracidade das versões. O importante, nesse caso, é perceber o alcance da canção de Carvalho, que posteriormente compõe A Cidade que Nasceu de uma Canção, na qual conta essa trajetória.

Compõe inúmeras músicas líricas como Dor, Olha-Me Bem nos Olhos, Nunca Soubeste Me Amar, Não Me Abandones Nunca e, por isso, também é identificado como compositor romântico e seresteiro. Porém, seu maior êxito da carreira é a brejeira e animada marchinha carnavalesca Pra Você Gostar de Mim, gravada por Carmen Miranda, quando a cantora ainda é desconhecida. A canção fica conhecida popularmente como Taí, já que a letra da canção inicia com "Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim". A marchinha é um dos maiores sucessos da época, vende aproximadamente 40 mil cópias e se torna uma referência de marchinha de Carnaval. O compositor cria ainda outros sucessos desse gênero, como Coco Pelado (1929), com Sadi Fonseca, interpretado por Artur Castro; É com Você que Eu Queria (1930), com Carmen Miranda; e Juriti, gravada por Francisco Alves e Ana S. Cabrera, em 1927.

A produção de Carvalho cresce consistentemente até o fim da década de 1940. Em razão de sua capacidade de acumular êxitos, suas canções são gravadas por inúmeros intérpretes, como Francisco Alves, Gastão Formenti, Jorge Fernandes, Carlos Galhardo, Alda Verona e Silvio Caldas. Em sua carreira, faz parcerias com Olegário Mariano, Paulo Roberto, J. Távora, David Nasser e Osvaldo Orico, além de um número surpreendente de colaboradoras - Ana Amélia Carneiro de Mendonça, Ieda Fonseca (A Flor e a Vida, 1967) e Maria Eugênia Celso (C'Est Toi l'Amour e N'Aimez que Moi, ambas de 1932). A música De Papo pro Ar é gravada por Suzana Salles (1994), Inezita Barroso (1998), Ney Matogrosso (2001) e Maria Bethânia (2006 e 2007).


Itaú Cultural

Para quem não conhece a magistral obra musical do compositor uberabense Joubert de Carvalho

Apresento aqui uma coletânea contendo as mais belas canções desse que é um dos grandes, dentre os maiores de nomes de nosso cancioneiro popular.

Entre as mais de trezentas composições devidamente registradas e catalogadas destaco nesse Álbum Especial algumas das quais que foram gravadas pelos maiores ídolos da nossa Música Popular Brasileira.

Joubert Gontijo de Carvalho nasceu em Uberaba, no estado de Minas Gerais, no dia 06 de março de 1900 e faleceu no dia 20 de setembro de 1977 no Rio de Janeiro/RJ. Filho do fazendeiro Tobias de Carvalho e de Dona Francisca Gontijo de Carvalho, casal que teve treze filhos.

Joubert aprendeu a tocar de ouvido o piano que seu pai havia comprado quando ele tinha 9 anos de idade; interpretava os dobrados que ouvia, e que eram tocados pela banda local.

As mais belas canções de Joubert de Carvalho

Joubert Gontijo de Carvalho (Uberaba MG 1900 - Rio de Janeiro RJ 1977)
Quando se mudou com a família para São Paulo/SP, (pois o Sr. Tobias fazia questão de uma excelente educação e formação dos filhos que foram estudar no Ginásio São Bento), Joubert chegou a compor uma valsa intitulada “Cruz Vermelha”, a qual teve a renda revertida para a instituição homenageada. Estava no início da adolescência e o relativo sucesso obtido incentivou o menino para a música.

Em 1919, mudou-se para o Rio de Janeiro/RJ, onde estudou Medicina e também fez sucesso com o fox “Príncipe”, composição gravada em 1922, que foi o ano do Centenário da Independência do Brasil. Concluiu o curso universitário em 1925 e defendeu a tese intitulada "Sopros Musicais do Coração"; foi aprovado com distinção, apesar do título humorístico da tese. E, mesmo com o exercício da profissão, continuou com as composições musicais ao piano e a publicação das mesmas, as quais faziam sucesso entre os editores.

Sua versatilidade e talento musical podem ser dimensionados através da imensa obra que ele nos legou, dentre as quais destaco a seleção baixo:
1 – MARINGÁ

2 – BOM DIA MEU AMOR (c/ Olegário Mariano)

3 – OLHA-ME BEM NOS OLHOS (c/ Adelmar Tavares)

4 – AMOR, AMOR

5 – ZÍNGARA (c/ Olegário Mariano

6 – DE PAPO PRO AR (c/ Olegário Mariano

7 – DIA FELIZ 8 – NUNCA SOUBESTES AMAR (c/ Olegário Mariano)

9 – TABUADA (c/ Adelmar Tavares)

10- DOR (c/ Cleómenes Campos)

11- NÃO ME ABANDONES NUNCA

12- MINHA CASA

13- PIERRÔ (c/ Pascoal Carlos Magno)

14- CANTIGA DA MINHA TERRA

15- CANÇÃO DE ANIVERSÁRIO

16- TAÍ


(Moacir Silveira)


Cidade de Uberaba

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Acorda Uberaba!

E o imbróglio prossegue com o Colégio Dr. José Ferreira ocupando lugar de destaque entre as perdas que Uberaba tem experimentado. Se não o tirarmos dessa esteira, seu destino será sombrio. Quanto é triste ver o impávido colégio que formou a tantos, hoje na alça de mira de um canhão para ser abatido. Acorda Uberaba! 

Pelo que vi ao assistir à assembleia do dia 30/07/2018, no auditório Joubert de Carvalho, a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, gestora da rede, tem só um objetivo: levar definitivamente as decisões locais para Brasília e tornar o colégio, mais um daqueles que foram fechados Brasil afora. O abraço dado ao “Zezão” por alunos, ex-alunos, professores, funcionários, pais, amigos e admiradores da escola no dia 01/08/2018, nos dá a noção de um povo indignado com tamanha brutalidade. O Colégio Dr. José Ferreira não pertence só a Uberaba! Ele é regional. 

Conclamo aqui: o Sr. Prefeito de Uberaba, o Presidente da Câmara Municipal e seus, Prefeitos e Vereadores de outras cidades, Entidades de classes, Sindicatos, Associações, Clubes de Serviços, Confrarias, Correntes Filosóficas, Seguimentos culturais e a Imprensa para cerrarem fileiras e assim possamos reverter essa situação imposta goela baixo ao histórico colégio Dr. José Ferreira. Uma vez liquidada como “Brasília” pretende, a escola fará falta a todos nós. O abalo sísmico de hoje já está sendo sentido na região. 

Uma mensagem especial aos senhores deputados estaduais e federais eleitos por Uberaba, além dos filhos desta terra que, alhures, ocupam ou não cargos em governos: empunhem essa bandeira façam valer o poder que têm. Mostrem a que vieram, justifiquem as posições que ocupam e externem o amor pela terra onde nasceram, ou para ela um dia se transferiram. O mundo cibernético é nosso! 

O Colégio Dr. José Ferreira não pode morrer como fizeram em Campo Grande/MS. Uma escola não merece ser tratada como coisa e seus alunos idem, sem ser representados por números ou códigos de barras. 

Uma audiência Pública na Câmara Municipal de Uberaba, ainda que não resolva sozinha a questão do CJF, será o foro competente para que os “políticos” do poder central, mesmo com seus ouvidos moucos, possam nos ouvir. Disse certa vez uma “raposa” da política mineira: “O político sabe o que significa a população nas ruas”. Ou não sabe? 

Em abril de 1952, de tanto pagar escorchantes tributos e não ser ouvido pelo Estado, o povo do Triângulo Mineiro agiu por conta própria. O córrego da Av. Leopoldino de Oliveira recebeu o resultado da reação popular. Desta vez, não sei até onde irá a paciência dos cenecistas. 

João Eurípedes Sabino-Uberaba/MG. 

Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas. 

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

DOR com JOSÉ TOBIAS, edição MOACIR SILVEIRA

DISCOS: Grandes Compositores, Grandes Intérpretes -- 1978 -- Discos Copacabana. Esta gravação do paraibano José Tobias foi feita na gravadora Copacabana para o primeiro álbum da série "Grandes autores, grandes intérpretes", dedicado a Joubert de Carvalho, em 1978. Joubert de Carvalho (Uberaba, 6 de março de 1900 — 20 de setembro de 1977) foi um médico e compositor brasileiro, autor de canções como "Maringá", "Ta-hi", “Pierrô”, de “Papo pro ar”, “Minha casa”, “Não me abandones nunca” e “Dor”, dentre outros grandes sucessos, aqui na magistral interpretação de José Tobias.

DOR com JOSÉ TOBIAS

Ficha técnica do álbum: Radamés Gnatalli - arranjos,orquestra e piano Chiquinho – acordeon Hélio C. Bastos e Dario M. Lopes – violões Lenir Siqueira – flauta Moacyr M.da Silva - flauta e clarone Braz Limonge Filho - oboé e corne-inglês Michel Bessler e Walter G.Souza – violinos Frederick Stephany – viola Iberê Gomes Grosso – violoncelo Maurício A. Scarpelli – contrabaixo Luciano Perrone – bateria Geraldo da Silva Barboza – percussão Marcus Pereira - concepção e direção geral

De: Joubert de Carvalho e Cleómenes Campos Dor Que trucida minh'alma E que faz-me chorar Sufocas na garganta Meu soluçar És companheira sombria

Também do amor que não se esquece Disse alguém que não tens morada Que andas aqui e acolá Tal qual uma abandonada Onde moras dor cruel, pungente É na casa da saudade Onde vive tanta gente Onde moras dor cruel, pungente É na casa da saudade Onde vive tanta gente




sexta-feira, 3 de agosto de 2018

MINHA CASA com JOSÉ TOBIAS, edição MOACIR SILVEIRA

DISCOS: Grandes Compositores, Grandes Intérpretes -- 1978 -- Discos Copacabana. Esta gravação do paraibano José Tobias foi feita na gravadora Copacabana para o primeiro álbum da série "Grandes autores, grandes intérpretes", dedicado a Joubert de Carvalho, em 1978. Joubert de Carvalho (Uberaba, 6 de março de 1900 — 20 de setembro de 1977) foi um médico e compositor brasileiro, autor de canções como "Maringá", "Ta-hi", “Pierrô”, de “Papo pro ar” e “Minha casa”, dentre outros grandes sucessos.

MINHA CASA com JOSÉ TOBIAS


Minha Casa Joubert de Carvalho Foi num dia de tristeza Que a cidade abandonei Sem saber o que fazer Na esperança de encontrar Pela vida, algum prazer Alegria em algum lugar Lá no alto da Tijuca Tem um sítio bem florido Onde agora estou morando Com os pássaros em festa De galho em galho cantando Lá dentro, pela floresta Minha casa é tão bonita Que dá gosto a gente ver Tem varanda, tem jardim Ainda agora estou esperando Uma rede para mim A embalar de quando em quando Minha casa é uma riqueza Pelas joias que ela tem Minha casa aqui tem tudo Tanta coisa de valor Minha casa não tem nada Vivo só, não tenho amor