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terça-feira, 8 de dezembro de 2020

PATRIMÔNIO CULTURAL DE UBERABA: OS LIVROS AS ARTES AS CIÊNCIAS

Guido Bilharinho


O patrimônio cultural de uma comunidade, seja local, regional ou nacional, é representado pelo conjunto de suas manifestações artísticas, científicas e técnicas.

O livro em epígrafe consta dos blogs guidobilharinho.blogspot.com e bibliografiasobreuberaba.blogspot.com e abrange algumas de suas áreas mais relevantes, consistentes na produção intelectual materializada pela elaboração e edição de livros, físicos ou eletrônicos, além de músicas, artes plásticas, filmes e visuais.

Representa, tal cometimento, a primeira tentativa de levantamento dessa produção intelectual, constituindo provavelmente iniciativa pioneira no país, à semelhança de tantas outras promovidas em Uberaba, a exemplo da “História do Futebol” (1922), do “Sistema Fluvial de Uberaba e Região” (década de 1920), do “Dialeto Capiau” (inícios dos anos 30), do vade mecum das leis municipais (1934) – todos da lavra do historiador e polígrafo Hildebrando Pontes – da enciclopédica “História da Medicina em Uberaba”, de José Soares Bilharinho, e de “Periódicos Culturais de Uberaba”, de Guido Bilharinho.

Ao que se sabe, nenhuma outra cidade brasileira possui em seu portfólio cultural, artístico e científico, conjunto de obras e iniciativas dessa jaez.

A esse grupo de realizações intelectuais vem se juntar, agora, o presente inventário de sua produção livresca, artística e científica, setor por setor, área por área, com um mínimo de indicações necessárias a seu situacionamento autoral, temporal e material.

As características mais notáveis dessa produção intelectual são suas extraordinárias multiplicação e diversificação, notadamente de 1960 em diante, apresentando também, e cada vez mais, acentuado aumento de sua qualidade, imposto pelo natural desenvolvimento econômico-sócio-cultural da coletividade, cada vez mais exigente e necessitada de obras e realizações também cada vez mais aprimoradas, intelectual, científica e tecnicamente, aliás, como em todos os setores da vida privada e da administração pública, esta ainda muito enredada nas peias burocráticas, que ela própria se impõe, que não só prejudica e constrange sua eficácia como afeta diretamente toda a coletividade que, por sua atuação e produtividade econômica, a sustenta.

Contudo, apenas essa produção e, agora, seu levantamento e inventariação não bastam.

Necessário também que as duas unidades básicas da formação humana, da aquisição de conhecimento e do saber e da atividade intelectual - o núcleo familiar e os estabelecimentos de ensino - se conscientizem, se empenhem e se dediquem, com deliberação e propósito, metódica, consistente e permanentemente a transmitir, difundir e despertar em crianças e jovens os princípios da valorização e da imprescindibilidade do estudo, da leitura, do conhecimento e do saber, no que, de modo geral, vêm falhando lamentavelmente.

Do mesmo modo, conquanto atuando em esfera diversa, os meios de comunicação também devem ter a responsabilidade de atuar nesse sentido, procurando o mais possível se libertar das imposições da indústria do entretenimento, que privilegia o ter em contraposição ao ser e o descompromisso e o alheamento ao invés da responsabilidade e do engajamento social.

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O citado livro não implica em análises e críticas sobre a produção intelectual uberabense, porém, tão somente em efetuar seu levantamento.

À evidência que, embora se tenha sempre, em cometimentos dessa natureza, a pretensão e o objetivo de se atingir e registrar a totalidade dessas manifestações, sabe-se não ser isso possível, pelo menos inicialmente e mesmo a médio prazo, dada a inexistência desde sempre de órgãos públicos ou particulares preocupados e dedicados à sua reunião e conservação, pelo que, com o passar do tempo, inúmeros livros físicos desapareceram ou foram parar em lugares incertos e não sabidos, além do que nunca houve – e nem se sabe se haverá – acompanhamento e registro, por exemplo, da enorme produção musical e de artes plásticas, submetida que está a permanente dispersão, dissolução, destruição e definitivo desaparecimento, constituindo inominável afronta e ofensa a seus autores e irremediável desfalque e perda para a sociedade, que a não poderá usufruir e dela se beneficiar.

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Guido Bilharinho - Advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/

quinta-feira, 11 de junho de 2020

EPIDEMIAS EM UBERABA

Guido Bilharinho 



Uberaba, no decorrer de sua história, como provavelmente a maioria das cidades brasileiras, foi assolada, ora mais ora menos, por diversas epidemias, afora a atual coronavírus, das quais resultaram mortes e transtornos de toda ordem. 


Cólera (1850)

A epidemia do cólera originou-se na Índia por volta de 1840, espalhando-se pelo mundo, atingindo Uberaba a partir de 1850, segundo informa Borges Sampaio: “na quadra de terror e angústia, por que há pouco passamos, na invasão dessa horrorosa epidemia, desse flagelo do cólera” (“Uberaba: História, Fatos e Homens”, p. 259). 



Varíola (1865) 

Em novembro de 1862 deu-se o primeiro surto epidêmico de varíola no município, que, “em junho de 1863 ainda não desaparecera de todo” (José Soares Bilharinho, “História da Medicina em Uberaba”, vol. III, p. 797). 

Já em junho/agosto de 1865, com a chegada à cidade dos soldados integrantes da Força Expedicionária que iria atacar o norte do Paraguai, irrompeu entre eles epidemia de varíola, “empolgando toda a brigada e grande parte da população da cidade que tinha doentes em cada um de seus cantos [....] Reinava a maior desolação na cidade, por cujas ruas ninguém mais transitava [....] Os roceiros aqui não vinham mais e o comércio paralisou-se inteiramente [....] Morriam, diariamente, 3, 4, 5, 6, 7 e mais soldados. Chegaram mesmo, em certa ocasião, a levar um soldado vivo para enterrar [....] Morreram numerosos soldados e alguns civis, ao todo, talvez, umas trezentas pessoas nos três meses de duração da epidemia” (Hildebrando Pontes, “Vida, Casos e Perfis”, p. 51/52). 



Febre Amarela (1903)

Em 21 de fevereiro de 1903 foram impostas à população de Uberaba pelo agente executivo (prefeito) Antônio Garcia Adjuto medidas preventivas contra a febre amarela que grassava em município vizinho. 

Em 03 de março, a febre amarela atingiu Uberaba trazida por empresário que chegou de viagem à Franca/SP, sendo internado em hospital improvisado, falecendo no dia 06 seguinte. 

Em 10 de março, grande Assembleia Popular convocada pelo agente executivo discutiu e decidiu propostas dos médicos Filipe Aché (futuro fundador dos Laboratórios Aché) e José Ferreira de suspensão da quarentena imposta a todos que chegassem à cidade e de instalação de posto de desinfecção em Jaguara (ainda não existia a linha férrea da Mojiana vinda por Delta), sendo esta aprovada e rejeitada a primeira proposta. 

No dia 12 seguinte, reunião dos agentes executivos das cidades triangulinas servidas pela Mojiana decidiu série de providências contra a proliferação da epidemia. 

Em 30 de maio, o agente executivo comunicou à população de Uberaba não haver mais possibilidade de irrupção da febre amarela na cidade. 



Sarampo (1908) 

Em 1908, Uberaba foi tomada por forte surto epidêmico de sarampo, com casos fatais. 



Varíola (1910) 

Surto epidêmico de varíola assolou a região em junho de 1910, apresentando 12 (doze) casos em Uberaba, todos isolados no Lazareto. A epidemia, no entanto, expandiu-se. “O mal atingira proporções impressionantes. Ia penetrando em todos os lares” (José Soares Bilharinho, “História da Medicina em Uberaba”, vol. III, p. 815), havendo diversas mortes. 



Sarampo (1911) 

Em julho de 1911, “à varíola veio somar-se o sarampo, responsável, ele também, por vários casos fatais” (José Soares Bilharinho, op. cit., p. 815). 



Maleita e Malária (1915) 

Em dezembro de 1915 mais de 80 (oitenta) casos de maleita ocorreram no então distrito de Delta, onde também a malária grassou com intensidade. 


Gripe Espanhola (1918) 

A gripe espanhola chegou ao Brasil em setembro de 1918, pelo navio “Demerara”, propagando-se por todo o Rio de Janeiro. “Eminentemente contagiosa, eram inócuas as medidas sanitárias propostas para impedir sua marcha” (José Soares Bilharinho. “História da Medicina em Uberaba”, vol. III, p. 994). 

Em 20 de outubro foram noticiados os primeiros casos de infecção em Uberaba, sendo o primeiro notificado o advogado Sebastião Fleuri. Com essa gripe, Uberaba se tornou “de súbito um verdadeiro hospital. Raríssimo era o lar onde não existissem um ou mais gripados [....] De início a doença se caracterizou pela benignidade”. A partir de 7 de novembro, “os pedidos de assistência se multiplicavam vertiginosamente. Uberaba se revestira de um aspecto triste [....] Os hospitais já não comportavam os doentes e o número de médicos era insuficiente para atender a todos os chamados. Houve lares onde todos adoeceram [....] No final da primeira semana do mês de novembro era de aproximadamente 2.500 [dois mil e quinhentos] o número de doentes. Devido a esse número exagerado de enfermos, a cidade tornou-se verdadeiramente insuportável. Era absoluta a carência de vida comercial e social” (José Soares Bilharinho, op. cit., p. 1.001). 

Em 10 de novembro, a epidemia atingiu seu ponto culminante, “jungindo ao leito quase toda a população (Idem, p. 1.002). 

Faleceram até 21 de novembro 193 (cento e noventa e três) pessoas, atingindo 215 (duzentas e quinze) na semana seguinte, sendo que 12.000 (doze mil) pessoas foram contaminadas num universo de aproximadamente 14.500 (catorze mil e quinhentos) habitantes. Ao final, conforme relatório apresentado pelo agente executivo Silvino Pacheco de Araújo, Uberaba teve 255 óbitos decorrentes da febre. 



Paralisia Infantil (1924) 

Em 10 de janeiro de 1924, o jornal “Lavoura e Comércio” noticiou a ocorrência em Uberaba de paralisia infantil (como então se denominava), informando já existirem dezenas de casos. O surto, no entanto, não durou muito tempo, desaparecendo paulatinamente. 



Tifo (1925) 

Em 25 de outubro de 1925 foi tornada pública a existência de casos de tifo na cidade, verificando-se nessa ocasião dois casos fatais. 



Varicela/Catapora (1929) 

No decorrer do primeiro semestre de 1929 ocorreram casos de varicela na cidade, sendo os doentes isolados e tratados e intensificada a vacinação. 



Tifo (1935, Anos 40 e 1953) 

Em abril de 1935 surto de tifo ocasionou 03 (três) casos fatais na cidade. 

Em fevereiro de 1940 novo surto de tifo surgiu em Uberaba, recebendo o Centro de Saúde no dia 16 (dezesseis) do referido mês nada menos de 11 (onze) notificações de sua incidência. 

Surtos de tifo se repetiram, com maior ou menor intensidade, nos anos de 1943, 1944, 1948 e 1953. 



Hepatite (1951) 

Série de reuniões, ocorrências e hipóteses marcaram o surto de hepatite que preocupou (e ocupou) Uberaba em 1951. 

Em 20 de junho, a Sociedade de Medicina promoveu reunião extraordinária. No dia 22 seguinte, realizou-se reunião na Câmara Municipal convocada pelo prefeito (e médico) Antônio Próspero, sendo que, até essa data, a hepatite já vitimara quase uma centena de pessoas, das quais sete faleceram. No dia 25, em reunião na Sociedade de Medicina, o médico Madureira Pará, do Instituto Osvaldo Cruz, do Rio de Janeiro, revelou a ocorrência de hepatite causada por vírus, ora benigno ora extremamente grave. 

No dia 04 de julho, por solicitação de diversas entidades de classe, o jornalista Quintiliano Jardim promoveu reunião no auditório da PRE-5 para debater a situação da cidade face à poluição de suas águas, conforme verificada por exame procedido dias antes pelo Instituto Osvaldo Cruz, do Rio, notícia que causou grande impacto na cidade. Dessa reunião, os presentes dirigiram-se ao Paço Municipal, onde a Câmara estava reunida, sendo suspensa a sessão, falando Quintiliano Jardim em nome de todos, aceitando o prefeito a incumbência de contatar Juscelino e Getúlio. 

No dia seguinte (5 de julho), foi publicado no “Lavoura e Comércio” comunicado do Centro de Saúde, assinado por seu dirigente, médico Manuel Benjamin Pável, afirmando, com segurança, que na maioria dos casos a propagação da hepatite se deu por meio de agulhas e seringas insuficientemente esterilizadas, havendo também transmissão pelo contágio direto de pessoa doente à pessoa sadia, ponderando, ainda, que não se poderia subestimar o papel propagador de água poluída. 

No dia 06, a Sociedade de Medicina lançou manifesto afirmando não se poder imputar à água fornecida na cidade como elemento transmissor da enfermidade, já que a água clorada é isenta de germes. 

Segundo José Soares Bilharinho (op. cit., p. 1.019), “de janeiro até fim de agosto foram 69 casos (de hepatite infecciosa), dos quais 51 causados pelo uso de seringas mal esterilizadas e 18 pelo contágio direto. 

Dos primeiros 51, em 32 casos, um único enfermeiro, dedicado à prática de injeções a domicílio, foi o culpado. 

Sobre o assunto, Benjamin Pável escreveu a monografia “Surto Epidêmico de Hepatite Infecciosa em Uberaba”. 



Gripe Asiática (1957) 

Em setembro e outubro de 1957, epidemia de gripe asiática assolou a cidade, suspendo a comemoração do dia 7 de Setembro e aulas em alguns estabelecimentos de ensino. 


Dengue (2006) 

Em março de 2006 forte epidemia de dengue, transmitida por um tipo de mosquito, espalhou-se pela cidade com índices de infestação de residências de 5,3%, muito acima do 1% tolerável segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, tendo alguns bairros índices próximos a 19% (!), conforme constatado pelo órgão de controle de endemias e zoonoses. 

À época, noticiou-se que no período de 1º de janeiro a 31 de março desse ano, só num laboratório da cidade, em 3.314 testes foram detectados 2.159 confirmados. Houve superlotação dos hospitais da cidade, ocorrendo até final de abril pelo menos duas mortes por dengue. 

Órgãos da área de saúde atribuíram essa alta incidência de dengue ao descumprimento nos anos anteriores dos protocolos e medidas indispensáveis ao combate e eliminação do mosquito transmissor. 



Outras Moléstias 

Hidrofobia, Tuberculose e Hanseníase estiveram presentes em Uberaba, como nas demais cidades do país, por décadas desde o século XIX e no decorrer de toda a primeira metade do século XX, eliminando dezenas e dezenas de pessoas anualmente, conforme exposto na “História da Medicina em Uberaba” acima citado, e em “Uberaba: Dois Séculos de História”, de nossa autoria.

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Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/

sexta-feira, 29 de março de 2019

Cem anos de José Bilharinho

Hoje, cedo o meu espaço ao acadêmico Guido Bilharinho para que nos brinde com a síntese curricular do irrepreensível aniversariante que, ontem, completaria cem anos de meritória existência. Ei-la:

“José Soares Bilharinho nasceu em Uberaba, no dia 13 de dezembro de 1918. Formou-se em Medicina, em Belo Horizonte, em 1943, e clinicou em Uberaba, a partir de 1945, na Casa de Saúde e Maternidade São Lucas, na avenida Presidente Vargas, posteriormente transferida a outros médicos. Militando na política, nas fileiras do antigo Partido Social Democrático (PSD), foi eleito vereador, compondo a legislatura de 1951/1954. Participou e atuou no Rotary Club de Uberaba, do qual foi presidente no biênio 1960/1961 e governador do antigo Distrito 453. Exerceu durante alguns anos o magistério médico, lecionando Fisiologia, na Escola de Enfermagem Frei Eugênio e na Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro, e Farmacologia, na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, da qual foi um dos fundadores. Integrou, também, a Comissão Fundadora da Unimed/Uberaba, sendo seu primeiro presidente.

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, nela exerceu os cargos de tesoureiro, por quatro anos; secretário, por seis anos, e presidente, em três mandatos consecutivos, de fevereiro/1981 a fevereiro/1987.

Participou, ainda, do Conselho Administrativo e Fiscal da entidade mantenedora do Colégio Dr. José Ferreira, do Conselho Superior do Jockey Clube de Uberaba e do Conselho Deliberativo da Fundação Cultural de Uberaba.

Atinentes a quatro dessas áreas de atuação, escreveu os livros: Planejamento Geral dos Serviços Administrativos Municipais (1954), O Rotary em Ação (1967), Elogio de Clementino Fraga (1971), ampliação de seu discurso de posse na Academia de Letras, e a monumental História da Medicina em Uberaba em nove volumes, cinco dos quais editados a partir de 1980.

Além disso, editou e dirigiu no decorrer de 1952, juntamente com o então diretor-geral da Prefeitura de Uberaba, Iguatimosi Cataldi de Sousa, o periódico mensal Legislação, Organização, Orientação e Planejamento Municipal, distribuído a todas as câmaras municipais do país e o único no gênero editado nas Américas”.

Registro aqui ao aniversariante e a seus familiares as homenagens da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, que o teve como Membro Efetivo e presidente. Na imortalidade, José Bilharinho é para nós, seus confrades, fonte de inspiração e perene referência.


João Eurípedes Sabino

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas.



Cidade de Uberaba

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

José Soares Bilharinho


José Soares Bilharinho

José Soares Bilharinho nasceu em Uberaba (MG), em 13/12/1918.
Era filho de Jaime Soares Bilharinho, vice-cônsul espanhol para o Triângulo Mineiro e Goiás, e de Luíza de Oliveira Bilharinho.
Aos sete anos de idade, foi estudar na Escola Particular de Dona Maria Áurea de Faria, na Rua Manoel Borges, onde cursou os dois primeiros anos. 
Alfabetizado, foi para o Colégio Marista Diocesano, onde permaneceu até a quinta série ginasial. Por ser um excelente aluno, aos oito anos foi colocado para dar aulas de reforço aos próprios colegas que chegavam de Goiás com pouca base.
Aos 17 anos, foi para Belo Horizonte para fazer o vestibular de Medicina. Porém, o Presidente da República, Getúlio Vargas, fez uma reforma de ensino, obrigando a todos os candidatos a Universidade fazerem dois anos de um curso chamado Pré-Universitário ou Curso Complementar. Após os dois anos, fez o vestibular, passando em 1º lugar e ingressando na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.
Na Faculdade, foi monitor de Biofísica e apresentou uma pesquisa científica muito elogiada, sobre “Medição da Iluminação Artificial em Bibliotecas e Residências de Belo Horizonte”.
Dotado de uma excelente memória, principalmente para línguas, Dr. José Soares Bilharinho uma vez citou, numa prova de Histologia, o nome e parecer de 15 autores estrangeiros diferentes.
Foi o fundador do Centro Acadêmico Carlos Chagas, sendo seu primeiro presidente.
Fez pós-graduação no Rio de Janeiro, em Cirurgia Geral e Ginecologia.
Em 1943, voltou a residir em Uberaba. Em 1945, fundou o Hospital São Lucas, hoje Hospital São Paulo. Nele, instalou sua suíte particular e seu consultório. Operava e atendia 24 horas por dia. Apenas cerca de 30% dos clientes eram particulares. Os outros eram pessoas que não podiam pagar e ele os atendia com o maior zelo e dedicação, sem diferenciação. Chegou a atravessar o Rio Grande em balsas e caminhar léguas, para socorrer doentes ou fazer partos. Foi diretor do hospital por 20 anos.
Fez cursos de aperfeiçoamento em cirurgia nos Estados Unidos da América e na Argentina.
Foi diretor técnico da Fundação Frei Eugênio, um dos fundadores da FMTM (Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro), onde também lecionou, e presidente da comissão da fundação da UNIMED. Foi membro do Colégio Internacional de Cirurgiões e da Academia Mineira de Medicina, sócio da Associação Médica Brasileira, sócio honorário e ex-governador do Rotary.
De 1950 a 1954 foi vereador. Nesse período, começou a se dedicar à leitura sobre Administração Pública. Montou uma vasta biblioteca sobre o assunto e começou a escrever um trabalho denominado ”Planejamento Geral dos Serviços Administrativos Municipais”. Em 1954, o IBGE lançou um concurso nacional de monografias sobre administração municipal. Ele se inscreveu e mandou os originais. A seleção e premiação dos trabalhos eram feitas pela Fundação Getúlio Vargas. Tirou o primeiro lugar e, como prêmio, teve a publicação e a distribuição de seu trabalho pelo país inteiro.
Em 1966, casou-se com Joana Bilharinho, com quem teve um filho, Marcelo Franco Bilharinho, também médico em Uberaba.
Em 1971, foi empossado na Academia de Letras do Triângulo Mineiro como Membro Fundador, ocupando a cadeira nº 38. Exerceu o cargo de presidente da Academia por 6 anos.
Publicou os livros “O Rotary em Ação”, “Elogio de Clementino Fraga” e “História da Medicina em Uberaba”.
Este último foi motivado pela sua preocupação em registrar a história da Medicina em Uberaba. Fez uma paciente e difícil pesquisa nos jornais locais durante doze anos, ouviu histórias e anotou experiências, resultando em nove volumes da “História da Medicina em Uberaba”, tendo editado três volumes. O Arquivo Público de Uberaba publicou os volumes 4 e 5, em 1993 e 1995, respectivamente, dando continuidade aos três volumes que haviam sido publicados anteriormente.
Entre seus trabalhos, estão vários artigos em revistas médicas, outras revistas e jornais, conferências, palestras e temas livres em Congressos, discursos e entrevistas.
Brilhante médico e cidadão, faleceu em 01/12/1993, aos 75 anos, no momento em que Uberaba se preparava para lhe prestar uma homenagem pelo seu cinqüentenário de formatura e dedicação à medicina.
Fonte: Edição Especial do Arquivo Público de Uberaba, Ano IV, nº 01. Acervo Cultural de Uberaba, 1993.
BRAGANÇA, Décio. O Pensamento Vivo de José Soares Bilharinho. Jornal da Manhã, Uberaba (MG), 24 out. 1993. Coluna Encontros.
PAOLINELLI, Sônia Maria Rezende. Coletânea Biográfica de Escritores Uberabenses. Uberaba (MG): Sociedade Amigos da Biblioteca Pública Municipal “Bernardo Guimarães”, 2009. 122 p

domingo, 1 de janeiro de 2017

SANATÓRIO SMITH – ERA UM HOSPITAL DO MÉDICO CARLOS SMITH -- UBERABA

Hospital sanatório Smith              


Funcionou onde hoje é o edifício Manhatan, ao lado da Praça Frei Eugênio na Rua Tristão de Castro. Segundo descrição da obra “História da Medicina”, de José Soares Bilharinho, o edifício era composto da seguinte maneira:
“Na parte térrea do novo pavilhão ficaram localizados os consultórios médicos, gabinete de raios X e de eletricidade médica, capela, seção de quartos, copa e cozinha. Na parte superior, 14 quartos, 2 apartamento, salas de operação e anestesia, quarto para enfermeiras de plantão, 2 ante-salas, sala de jantar, instalações sanitárias e dois terraços. Os corredores do pavilhão mediam 1 metro de largura. O serviço de vigilância foi fornecido pela General Eletric. Até mesmo a geladeira especial foi importada. O Sanatório Smith, onde trabalharam, além do proprietário, os Drs. Djalma Smith, Duarte Tomás Miranda, José de Paiva Abreu, Vicente Nesi e João Jorge Miziara, funcionou de 9 de novembro de 1933 a novembro de 1961, quando foi adquirido pela Santa Casa de Misericórdia, pela importância de seis milhões de cruzeiros. (BILHARINHO,1983, p. 1637)