Acusado de furto, macaco será "julgado" em Minas
O animal é acusado de fazer baderna no parque Mata do Ipê, em Uberaba
Reunião feita ontem para decidir qual seria o destino do macaco-prego Chico, que vive no local há 5 anos, acabou sem solução
Foto: Enerson Cleiton / Jornal de Uberaba.
Terminou em impasse a audiência pública promovida ontem pela Secretaria do Meio Ambiente de Uberaba (MG) que decidiria o futuro de um antigo morador do parque Mata do Ipê. Ele é acusado de promover invasões na vizinhança, em prédio público, furtar e destruir objetos e documentos e de atacar visitantes.
Na reunião que debateria a situação de Chico, macaco-prego que vive no parque há cinco anos com sua irmã, Chica, a única decisão foi que a solução só poderia ser tomada na presença de um biólogo especialista na espécie daquele macaco.
Uma outra reunião foi convocada para segunda-feira. Três possibilidades serão estudadas: o fechamento provisório da Mata do Ipê para a construção de uma área separada com tela, onde Chico ficaria longe dos visitantes; capturá-lo e colocá-lo na natureza; ou recolocação em outro parque.
Será levado em conta se o deslocamento para a mata natural poderia resultar em problemas para o macaco ou se ele conseguiria conviver com outros animais da mesma espécie.
Participaram da audiência mais de 60 pessoas, entre eles o secretário do Meio Ambiente, Ricardo Lima, integrantes da ONG Geasu (Grupo de Estudos de Animais Selvagens de Uberaba) e o promotor de Justiça Emmanuel Carapunarla.
Foi Carapunarla quem argumentou aos presentes que a continuidade de Chico no parque causaria transtornos.
Segundo ele, o comportamento agressivo do animal decorre da própria relação com as pessoas: ao receber alimento, o macaco responde com mordidas, o que assusta as crianças, gera reações nos pais, que agridem o animal. Chico, por sua vez, responde com novas agressões.
Somente no mês de julho, 18 ocorrências de mordidas foram registradas por parte dos freqüentadores da Mata do Ipê.
Com as mordidas, as pessoas podem contrair raiva e precisam tomar soro anti-rábico. Na cidade, o estoque do medicamento já se esgotou e a prefeitura teve de buscar soro em outros municípios.
Vícios
Além disso, há relatos de visitantes que dão bebidas alcoólicas ao macaco, segundo a assessoria da prefeitura. Os "vícios" ensinados pelos visitantes levam Chico a revirar latas de lixo em busca de comida; dia desses, foi flagrado comendo sapólio.
O macaco tumultua ainda o trabalho na Secretaria Municipal da Saúde, vizinha do parque. Pega e danifica objetos. Portas e janelas precisam ficar fechadas durante o expediente.
Na audiência, Cairo Oliveira, 8, que visita o parque todos os dias junto com ambientalistas, leu um texto, escrito por ele mesmo, sobre o "colega" Chico.
Na redação, o garoto disse saber que o macaco-prego não tinha pai nem mãe e, por isso, sempre dava conselhos para ele, como o de cuidar da alimentação. Cairo não deixava o amigo comer doce porque temia vê-lo com cárie.
Texto: Matheus Pichonelli / Folha de São Paulo.
Agosto de 2007.