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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

O PIXULECO ERA O PODER MAIOR E, POR ELE, ERA TUDO EXERCIDO…

Estou no finzinho das histórias folclóricas do saudoso José Formiga do Nascimento (Zote). Começou ajudando o pai Sinomar em parquinho, depois virou consertador de bicicletas, até tornar-se num dos maiores empresários de Uberaba. Ônibus, postos de gasolina, motel, usineiro, fazendeiro e outros “eiros” mais. Se bom ou mau patrão, respeitador ( ou não) dos direitos trabalhistas aos seus funcionários, dúvidas foram colocadas (alô Olimpio !) não ouso comentar por absoluta falta de conhecimento. Atenho-me às “tiradas” dele. Engraçadas e espirituosas, por sinal. Lembro-me que, entre Ribeirão Preto (SP)a Catalão (GO), o primeiro motel sério, construído no trecho foi o de Uberaba. Quem construiu? Zote…
Para que os seus motoristas não atrasassem em escalas, Zote construiu algumas casas no “fundo” do posto. A vida rolando, os ônibus rodando, o dinheiro entrando, a empresa prosperando, Zote enriquecendo… tudo ia às mil maravilhas ! Um senhor de meia-idade, sempre bem vestido, calça de tergal com vinco bem feito, camisa de linho, manga comprida, olhos esverdeados, cabelos lisos sempre bem penteados, entrada para a calvície, Malaquias Pontes, era o “lugar tenente” de Zote. Tomava conta do “caixa”, “olheiro” dos empregados, era de uma fidelidade canina ao patrão. Com as casas construídas trás do posto, “seo” Malaquias começou a perceber que os motoristas do Nacional Expresso, estavam tendo demasiadas regalias. Começou a observar e não gostou do que viu. Certa entrada de noite, findo o expediente, Zote se preparando para ir à fazenda, foi abordado pelo Malaquias:
-“Zote, estou preocupado. Não queria falar, porém o dever me obriga. Seus motoristas estão lhe passando prá trás. Tão lhe roubando, homem !”. Zote espantou e quis saber mais.
-“Sabe, Zote, o “Zé Comprido comprou televisão novinha em folha. O “Quinca” reformou toda a mobília da sala, sofá novo, cortinas nas janelas, o “João Chicoso”, tá de fogão à gás, ocÊ num há de ver que o Chicão, tá com rapariga por conta,sô! A moçada está lhe metendo a mão, Zote!”. José Formiga, esboçou um leve sorriso no canto da boca, puxou Malaquias para um canto do pátio e, calmamente, falou baixinho no ouvido dele:
-“Incomoda não, Malaca. Tô vendo tudo, mas vou lhe dizer uma coisa: esse pessoal meu é tudo porco gordo, come pouco. ‘Cê imaginou se eu troco e coloco uma porcada magra, o que vai virar isso aqui?” O papo encerrou ali.

Luiz Gonzaga de Oliveira