Para o ainda garoto, em 1923, a proposta era irrecusável: ordenado inicial de 200 mil réis para ser o pianista da “Recreativa”, uma recém inaugurada casa de espetáculo de Uberaba.
O pai do menino foi, inicialmente, contra “alegando ser o mesmo demasiadamente novo” para ocupar lugar de tamanha relevância e responsabilidade. Além do mais ele ainda era aluno do Ginásio Diocesano e isso certamente lhe atrapalharia os estudos. Mas acabou cedendo, ante a insistência do menino e a sua promessa de muito estudo.
O primeiro obstáculo a ser superado veio de um dos músicos do grupo que disse firme e forte: “ou ele veste calça comprida ou abandono a orquestra”. É que para homens na faixa dos 40 era difícil aceitar ordens e dicas de um mero adolescente de apenas 14 anos. Demais disso e ainda por cima, usando calças curtas.
Sem se intimidar o jovem aceitou o desafio, envergou calça comprida e se tornou um dos maiores nomes da história da música em nossa cidade.
Imagens: fotos de Alberto Frateschi constante do livro citado.
Mais tarde, já adulto, consagrado professor e maestro, ele manteve seu jeito elegante, educado, seu espírito de liderança e, sobretudo, sua personalidade brincalhona no trato com alunos, amigos e colegas. Um deles, o também hoje maestro Jeziel Paiva e seu aluno à época, relembra com carinho sua tirada humorística predileta nos encontros ocasionais quando, referindo-se ao grande compositor e músico italiano Paganini, dizia: “Paganini, Paganada, Paganunca!!!”
Dono de uma das mais brilhantes carreiras no mundo da música ele consagrou-se como um dos maiores nomes do meio artístico da cidade e região. E assim foi até aquele fatídico e premonitório dia, 1/10/1977, por sinal um sábado de “céu azul de brigadeiro”, quando ele “sentiu uma vontade irresistível de sentar-se e tocar. E ele tocou nesse dia como nunca o fizera antes!” Familiares, vizinhos e transeuntes admirados pararam para apreciar tão inusitado recital.
No dia seguinte, domingo, ele levantou-se cedo, como de costume, foi até a padaria Pão Gostoso, na Rua João Pinheiro, comprou pães e seu jornal matinal e retornou para a sua residência, à Rua João Caetano, 32, onde minutos depois um infarto fulminante silenciou-o para sempre, aos 68 anos de idade.
Em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à Uberaba ele merecidamente tem seu nome lembrado na Rua Maestro Alberto Frateschi, no bairro Frei Eugênio.
Com muito mais riqueza de detalhes, essa e outras belas histórias você encontra no livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba”, de Olga Maria Frange de Oliveira.
Moacir Silveira
História de Uberaba