São muitas as datas que podem ser comemoradas em relação à Uberaba. A primeira seria, naturalmente, a data de seu nascimento, quando aqui fincou raízes, próximo ao córrego das Lages, o sargento-mor Antônio Eustáquio da Silva Oliveira. Todavia, não existem documentos apontando a data exata em que ocorreu este fato histórico.
Vista aérea da cidade de Uberaba.
Foto: Arquivo Público de Uberaba.
Relatam alguns historiadores, que a 1ª Bandeira organizada em Desemboque pelo sargento-mor Antônio Eustáquio para desbravar a região de Uberaba ocorreu em 1810. Dizem ainda que, por solicitação desta autoridade, em 1811, o povoado foi elevado à condição de Distrito dos Índios.
Para o historiador Guido Bilharinho, não há documentos comprobatórios desta elevação.
Mesmo assim, a Prefeitura Municipal, em 03 de maio de 1911, em parceria com as lideranças econômicas da região, promoveu a 1ª Exposição Agropecuária nas dependências do hipódromo do Jockey Clube, localizado no bairro de São Benedito e organizou, ainda, uma grande festa na cidade para comemorar a elevação de Uberaba da condição de povoado para a de Distrito.
Coincidência ou não, desde a década de 1950, as aberturas das exposições da ABCZ são realizadas na data de 3 de maio.
Curiosamente, em 1810 ou 1811 não pertencíamos ao estado de Minas Gerais e sim ao estado de Goiás. As disputas sangrentas entre os dois estados, que já duravam mais de cinquenta anos conforme relato do historiador Hidelbrando Pontes, tiveram fim em 1816.
Conta ainda este historiador que foi por um acontecimento fortuito é que pôs termo à velha questão de divisas entre os dois estados. Joaquim Inácio Silveira Mota, Ouvidor Geral da Comarca de Paracatu, indo a Araxá, ao conhecer Ana Jacinto de São José, mais conhecida como Dona Beija que passava a cavalo pela praça da Matriz com seu pajem, foi tomado de violenta paixão e mandou raptar a donzela.
Como foi processado pela família da vítima e seu caso seria julgado pelo governo de Goiás, seu desafeto. Para evitar esta situação, ele passou a interceder também junto a D. João VI, pela passagem dos julgados de Araxá e Desemboque para Minas, onde o seu julgamento seria, como efetivamente foi, coisa sem importância.
E assim, em 4 de abril de 1816, a região foi incorporada ao Estado de Minas Gerias. Deixamos de ser goianos e passamos a ser mineiros.
Minas das Alterosas incorporou os cerrados e os chapadões dessa imensa mesopotâmia que se chamava Desemboque e que passou a se chamar Triângulo Mineiro. Interessante que, o primeiro jornal a ser criado em Uberaba já nasceu separatista, conforme relata Guido Bilharinho.
Em 02 de março de 1820, por decreto assinado pelo imperador Dom João VI, Uberaba foi elevada à condição de “Freguesia”, ou seja, de “Distrito” passou à “Paróquia”. O objetivo deste decreto foi o de diminuir a distância de 60 léguas que separavam o novo povoado da “Freguesia de Desemboque”, facilitando, assim, o “socorro e pasto espiritual”.
O poder estava dividido entre a Igreja e o Estado, que só vieram a se separar na Constituição de 1891, transformando o Brasil em um país laico.
Em 22 de fevereiro de 1836, o Presidente da Província, Manuel Dias de Toledo, na cidade imperial de Ouro Preto, assinou o decreto aprovado pela Assembleia Legislativa Provincial, elevando Uberaba à condição de “Vila”. Foi o nascimento do município de Uberaba, que se desmembrou da Vila de Araxá, a qual estava vinculada desde 1831. Foi a criação da Câmara Municipal de Uberaba.
Em dezembro de 1836, tomou posse perante a Câmara Municipal de Araxá o vereador mais votado nas eleições de Uberaba, Capitão Domingos da Silva Oliveira. Em janeiro de 1837, o Capitão é empossado em Uberaba como o primeiro Presidente da Câmara Municipal e Agente Executivo (Prefeito).
O prédio que ele construiu para servir de Câmara e Cadeia, foi, por longas décadas, sede da Prefeitura Municipal e depois, sede da Câmara Municipal e é hoje patrimônio histórico de destaque na Praça Rui Barbosa.
Para comemorar o centenário da emancipação política de Uberaba em 22 de fevereiro de 1936, grandes festas foram realizadas na cidade. Bandas, passeatas, foguetórios, salvas de 21 tiros, discursos e direito a um grande baile oferecido pelo prefeito Paulo Andrade Costa. Foi inaugurado um marco comemorativo no Córrego do Lajeado, próximo ao bairro rural de Santa Rosa, onde teve início o povoamento da cidade.
Em 1840, Uberaba passou a sediar uma Comarca para distribuir justiça, denominada Comarca do Rio Paraná, desmembrada da Comarca de Paracatu do Príncipe. Não há, porém, registro de comemorações no centenário desta conquista, no ano de 1940.
Em 02 de maio de 1856, Uberaba foi elevada à condição de “Cidade” em reconhecimento do Rei e da Igreja, trazendo a emancipação em assuntos atinentes à ordem civil, militar e religiosa.
Para comemorar o Centenário desta elevação de “Vila” para “Cidade”, Uberaba se vestiu de gala em 1956, no governo de Arthur de Mello Teixeira. Novas comemorações aconteceram em 2006, no governo de Anderson Adauto, quando Uberaba completou 150 anos.
Nesta ocasião, a Fundação Cultural, então comandada por Luiz Gonzaga de Oliveira, homenageou em solenidade ocorrida no Cine Metrópole, 150 personalidades da cidade, escolhidas em comissão presidida por Gilberto Rezende.
Foram festejados três centenários, 1911. 1936, 1956, um sesquicentenário, 2006 e um bicentenário, comemorado em 2020, no governo de Paulo Piau.
Não encontramos referências sobre as comemorações do centenário da elevação de Uberaba à condição de “Freguesia”, ocorrido em 1920.
Ao longo destes 200 ou 210 anos, a verdade é que passamos de um pequeno povoado à uma grande cidade, hoje com cerca de 350.000 habitantes. Todas estas datas são, realmente, motivo de júbilo para todos nós. Todas elas podem e devem ser comemoradas.
Gilberto de Andrade Rezende – Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
Álvaro de Melo Rezende é o único remanescente dos 13 filhos de Manoel Gonçalves Rezende e Idalina Augusta de Mello Rezende. É também o último representante de do tronco da família de José Valim de Mello, irmão de sua mãe Idalina que, casado com Delfina Gonçalves, irmão de seu pai Manoel Gonçalves, tiveram 12 filhos. É também o último representante do tronco da família de Osório Guimarães, casado com sua tia Rufina Gonçalves que geraram 21 filhos. No total dos 46 primos, 45 deles são apenas saudades.
Álvaro de Melo Rezende - Foto acervo da família
Álvaro foi o único filho a permanecer como administrador da fazenda São José de propriedade de seu pai e localizada no município de Uberaba. Ao se mudar para a cidade exerceu por muitos anos a profissão de corretor de imóveis rurais pois conhecia a região do Triângulo Mineiro como a palma de sua mão. Nossa empresa de reflorestamento, a Triflora, criada em 1968, foi uma das organizações beneficiadas pela sua expertise.
Álvaro Rezende por duas vezes se enviuvou. A primeira esposa foi Nila Rezende, uma das primeiras vítimas do enfermeiro Bossuet que na década de 1950 aplicava injeções à domicílio, mas não desinfetava as agulhas, transmitindo para seus clientes, o vírus da hepatite. A segunda esposa, Beth Castejon, professora, lhe deu dois filhos, Fábio e Kátia.
No dia 30 de março de 2022 Álvaro completou 99 anos de idade, com muita saúde e já está se preparando para a grande festa do centenário.
Mas o que são 99 anos na história de um cidadão que nasceu em 1923?
O município de Uberaba naquela época era bem maior do que hoje. Abrangia as terras dos distritos de Conceição das Alagoas, Campo Florido e Veríssimo e as do futuro distrito de Água Comprida. A transformação dos três primeiros distritos em municípios ocorreu em 1938 e o de Água Comprida em 1953. Hoje temos dois distritos – Ponte Alta e Baixa.
A população registrada no Censo de 1920, contou cerca de 15.000 habitantes somente no munícipio. Cresceu mais de vinte vezes nesse período de 99 anos, levando em consideração que Uberaba possui hoje 350.000 habitantes, aproximadamente.
Nesses 99 anos de vida do Álvaro, 26 Presidentes da República tomaram posse. Em 1923 era presidente Artur Bernardes (1922/1926). O que mais tempo governou nesses 99 anos, foi Getúlio Vargas, 15 como ditador (1930/1945) e mais 4 (1951/1954) como presidente eleito, até seu suicídio em 1954.
Carlos Luz, em 1955, só foi presidente por 3 dias. Ranieri Mazzili, então Presidente da Câmara dos Deputados, foi empossado duas vezes, em 1961 e 1964 mas a soma de seu governo não passou de 26 dias; Nereu Ramos (1955/1956), 81 dias; José Linhares, 94 dias e Café Filho (1954/1955), governou por um ano e 76 dias
Dois presidentes foram eleitos, mas não assumiram. Júlio Prestes em razão da revolução de 1930 liderada por Getúlio Vargas e Tancredo Neves, por seu falecimento em 1985, razão da posse de José Sarney, seu vice.
Um presidente, Jânio Quadros, renunciou em 1961 e só ficou 206 dias no governo.
Dois presidentes foram depostos em seus cargos pelos militares. O primeiro foi Getúlio Vargas em 1945 e, em 1964, foi a vez de seu genro, João Goulart, vice de Jânio Quadros, após 2 anos e 208 dias na presidência, o que provocou uma revolução e a eleição indireta de 5 presidentes militares e uma Junta Governativa desde 1964 até 1985.
Dois presidentes tiveram impeachment aprovado pelo Congresso Nacional: Fernando Collor de Mello em 1992, sendo seu mandato completado por Itamar Franco e Dilma Rousseff em 2016, substituída pelo seu vice Michel Temer.
Em seus 99 anos Álvaro assistiu à movimentação política de Uberaba no âmbito municipal.
Nasceu no governo do Agente Executivo (Prefeito) Leopoldino de Oliveira (1923/1925). Foram mais dois Agentes eleitos pela Câmara Municipal, até 1930, quando os Prefeitos passaram a serem nomeados pelo Governador Estadual. Foram 11 os Prefeitos nomeados, começando com Guilherme de Oliveira Ferreira (1930/1935) e terminando com João Carlos de Melo Lisboa em 1947, que só governou 7 meses e 5 dias.
Outros Prefeitos nomeados que tiveram vida curta no governo, nos anos de 1935/1936, foram: João Euzébio de Oliveira, 20 dias; Horácio Bruno, 47 dias; Adolfo Soares, 55 dias; Paulo Costa (1935/1936), 14 meses e 2 dias e Menelick de Carvalho, 16 dias.
Nos anos de 1946/1947, novamente Uberaba assistiu a troca de Prefeitos nomeados com reduzidos mandatos. Lauro Fontoura (1946/1947), ficou no cargo 9 meses e 26 dias; Mizael Cruvinel Borges, 4 meses e 23 dias e o último Prefeito nomeado, João Carlos Belo Lisboa, permaneceu no cargo por 7 meses e 5 dias (maio/dezembro de 1947).
A partir de 1948, os Prefeitos passaram a ser eleitos pelo sufrágio universal sendo o primeiro eleito em Uberaba, Luis Boulanger Rodrigues da Cunha Castro Pucci. Foram 16 prefeitos eleitos nesta modalidade sendo que dois foram reeleitos em épocas distintas como Arthur de Mello Teixeira (1955/1959 e 1963/1967) e Hugo Rodrigues da Cunha (1973/1977 e 1989/1992). Arnaldo Rosa Prata só governou em mandata tampão, dois anos, de fevereiro de 1971 a janeiro de 1973.
Dois prefeitos governaram por de 6 anos diretos: Silvério Cartafina Filho (!977/1983) e Wagner do Nascimento (1983/1988).
Três prefeitos buscaram a reeleição e tiveram sucesso. Marcos Montes (1997/2000 e 2001/2004); Anderson Adauto (2005/2008 e 2009/2012) e Paulo Piau (2013/2016 e 2017/2020).
Dois prefeitos renunciaram ao cargo para concorrer em eleições – João Guido, eleito Deputado Federal em 1969, deixando o cargo para o vice Randolfo Borges Júnior (15/05/1970 a 31/01/1971) e Marcos Montes, eleito deputado Federal e entregou o cargo de Prefeito para seu vice Odo Adão que ficou no governo de 18/08/2004 a 31/12/2004.
Álvaro está conhecendo também a primeira mulher eleita em Uberaba, Elisa Araújo. No total, entre Agentes Executivos (3), prefeitos nomeados (11) prefeitos e vice eleitos (16), Uberaba, em 99 anos, foi comandado por 30 Chefes do Executivo.
Um número menor do que o de Governador do Estado de Minas Gerais por onde passou 33 mandatários começando com Raul Soares (1922/1924) e atualmente com Romeu Zema.
Álvaro teve o privilégio de saber que no ano que nasceu, 1923, é que veio para o Brasil a primeira transmissão de rádio, liderada por Roquete Pinto e Henry Morize, uma invenção atribuída ao italiano Guglielmo Marconi.
O inventor do telefone, Alexander Graham Bell, nascido em 1847, faleceu em 1922, um ano antes do nascimento do Álvaro. Apesar do telefone ter chegado ao Brasil em 1876, por muitos anos as fazendas do interior do país só vieram a conhecer as engenhocas de manivelas que exigiam uma telefonista central para falar na cidade ou em outras fazendas. Com a evolução natural e o a chegada do celular na década de 1990, o mundo ficou interligado.
O Álvaro nasceu no meio dos anos que as montadoras americanas resolveram fabricar carros no Brasil. A Ford em 1919 e a GM, em 1925.
Uberaba só veio a criar a primeira agência Ford, na década de 1930, vendendo os famosos Ford de bigode.
A televisão chegou ao Brasil em 1950 através da TV Tupi mas só apareceu em Uberaba em 1963 graças aos esforços da ACIU, na época sob o comando de Aurélio Luiz da Costa.
Em 99 anos milhares de invenções foram patenteadas trazendo progressos para a humanidade. Mas p mundo conheceu também a 2ª guerra mundial (1939/1945).
Nesses 99 anos o Brasil registrou também algumas escaramuças e revoluções. Em 1923 houve o conflito político no Rio Grande do Sul, conhecida como a guerra dos Chimangos contra o Maragatos.
A Revolta Paulista, estendida depois para Mato Grosso e Paraná (1924/1925). A revolta de 1930, comandada pela Aliança Liberal, tendo à frente, Getúlio Vargas. A Revolta Constitucionalista de São Paulo em 1932/1934. A Revolução de 1964 que só terminou em 1985 com a eleição de Tancredo Neves.
Outras revoluções ocorreram como as dos costumes assim como revoluções tecnológicas com o fim de ampliar produções com redução de custos.
Fiz alguns levantamentos históricos que ocorreram no mundo nesses 99 anos que foram presenciados e vivenciados pelo Álvaro Rezende. Foram feitos em homenagem de admiração por ser uma pessoa que é testemunha das radicais transformações ocorridas nesses anos e por ser um cidadão exemplar que vem dedicando toda sua trajetória de vida ao trabalho, à família e aos interesses de sua cidade e de sua pátria.
As minhas saudações e o desejo de que possa desfrutar dessa vida por mais longas décadas.
“Vou cancelar esta cerimônia”. Mal ele terminou estas palavras, já avisamos a Dom Alexandre Gonçalves do Amaral que a noiva já estava se posicionando para o tradicional desfile, dando início ao casamento.
Havia sempre uma preocupação maior com a questão de horário quando se tratava de um casamento realizado pelo arcebispo na década de 70, na Casa do Folclore.
Foto: Curia Metropolitana
Jamais recusou qualquer solicitação nossa. A sua presença era por nós considerada como uma demonstração de estima e de consideração, já que a maioria dos padres e outros bispos, com exceção de Dom Alberto Guimarães, recusava-se a realizar casamentos sob o argumento de que não havia ali uma capela.
Dom Alexandre, de uma educação esmerada e de afável trato, era, todavia, rígido em disciplinas eclesiásticas e em horários, motivo de sua impaciência.
Em termos de disciplina, de defensor intransigente da fé, do rito e das determinações religiosas, basta o fato de usar fivelas em sapatos que lhe machucavam os pés, mas que compunha as indumentárias determinadas pelo Vaticano e que, para tirá-las teve que receber autorização, após graves ferimentos provocados, conforme relata César Vannucci em seu livro “Um Certo Dom”.
A primeira vez que recebemos a visita de Dom Alexandre na Casa do Folclore foi em razão de um convite feito por meio do professor Erwin Pühler e sua esposa, Eunice, amigos de longa data do arcebispo. Acompanharam-no nesta visita também o padre Hyron Fleury, João Francisco Naves Junqueira, seu médico particular e algumas religiosas.
Neste dia, acontecia mais uma apresentação da Catira dos Borges. O Arcebispo gostava de manifestações culturais. Conheceu essa dança folclórica em Iturama.
Na época desta visita, década de 1970, não havia grandes construções no local, e sim jardins, o que levou Dom Alexandre a dizer que o local se parecia com os jardins do Éden. Muito gentil, disse ainda que batizaria a Casa do Folclore como Academia Brasileira do Folclore.
Filho de Benjamim Gonçalves e Maria Cândida Gonçalves do Amaral, Alexandre nasceu em Carmo da Mata, Minas, aos 12 de junho de 1906.
Aos 23 anos, em 22 de setembro de 1929, foi ordenado padre. Dez anos após, ao ser eleito bispo, foi ungido em 29 de outubro de 1939 o mais jovem bispo em todo o mundo. Neste mesmo ano, tomou posse em Uberaba em 8 de dezembro de 1939, exercendo a função episcopal até 1962, por indicação do Papa Pio XII. Foi o 4º bispo da cidade, após D. Luiz Maria de Sant’Anna.
Na década de 1940, dono de uma inconfundível voz, Dom Alexandre foi considerado o maior orador sacro do Brasil. Segundo César Vannucci, apesar de conhecer bem a ortografia, apegava-se em escrever seus artigos de próprio punho e utilizando a grafia antiga, como “pharmácia”, e não aceitava a revisão do jornal.
Em 14 de abril de 1962, o papa João XXIII elevou a Diocese de Uberaba a Arquidiocese e criou a Província Eclesiástica de Uberaba, abrangendo as dioceses de Patos de Minas, Uberlândia e Paracatu. A Catedral obteve o título de Catedral Metropolitana e o bispo Dom Alexandre foi elevado à categoria de arcebispo, o 1º de Uberaba.
Manteve este título até maio de 1978, quando renunciou juntamente com seu administrador apostólico, Dom José Pedro Costa. Dom Alexandre Gonçalves do Amaral e Dom Pedro passaram à categoria eclesiástica de “bispo emérito”.
A atuação de Dom Alexandre como supremo dirigente da Igreja em Uberaba, iniciada em 1939, não ficou restrita a pastor espiritual.
Diversos desafios ocorreram em sua longa trajetória episcopal. Assumindo suas funções eclesiásticas em plena 2ª Guerra Mundial (1939/1945), sua primeira intervenção se deu quando os padres dominicanos foram acusados de manter uma emissora clandestina para passar informações para os alemães. Buscas foram realizadas na igreja São Domingos e nada foi encontrado. Quando os fiéis quiseram fazer o desagravo deste lamentável fato foram impedidos e o próprio Jornal Católico, censurado.
No governo de Juscelino Kubitschek (1951/1955) ocorreram em Uberaba graves manifestações contra os abusos cometidos por fiscais da Secretaria da Fazenda do Estado de Minas Gerais, comandada por José Maria Alkimim, resultando em uma revolta dos contribuintes. Baderneiros aproveitaram para provocar atos de vandalismo, destruindo arquivos da Receita Federal, que funcionava no prédio da Associação Comercial e Industrial de Uberaba, e os da Receita Estadual, instalada na rua Major Eustáquio com a rua Manoel Borges.
Na época, foram presos inúmeros uberabenses. Coube a Dom Alexandre partir para a defesa dos injustiçados, em artigos virulentos contra o arbítrio, publicados no Correio Católico, conseguindo a vinda do então Secretário Estadual a Uberaba para apaziguar a situação.
Como o governador Juscelino tinha interesse na eleição para Presidente da República, além de serenar os ânimos dos uberabenses, atendeu às solicitações de Dom Alexandre e, pouco tempo depois, deu de presente, segundo relato de Frederico Frange, o prédio da antiga cadeia, situada na Praça do Mercado, acrescido de um bom numerário para que a Associação de Medicina de Uberaba implantasse uma Faculdade de Medicina particular, que se transformou na UFTM, uma das grandes Universidades Federais do Brasil.
Dom Alexandre foi uma poderosa voz na Revolução de 1964. Nas palavras de César Vannucci, não lhe faltavam carisma, cultura, inteligência, sabedoria, vivência humanística e espiritual. Sobrava coragem para enfrentar desafios. Para corrigir abusos que estavam sendo cometidos em nome do governo, foi pessoalmente a Belo Horizonte para um encontro marcado com o governador Magalhães Pinto. Nessa oportunidade, conseguiu a transferência do comandante do 4º Batalhão, que era o objeto de reclamações dos injustiçados.
O Governador designou para seu lugar o ajudante de Ordens do Gabinete Militar tenente-coronel PM José Vicente Bracarense, que depois de pacificar os relacionamentos entre o governo estadual e a Igreja, fincou raízes em Uberaba, ocupando por duas vezes secretarias nos governos municipais de Hugo Rodrigues da Cunha (1973/1976) e Silvério Cartafina (1977/1982).
A Fista – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino, criada pela Congregação das Irmãs Dominicanas em Uberaba no ano de 1948, por iniciativa de Dom Alexandre, teve sua diretoria invadida, em abril de 1964, por elementos estranhos ao quadro da Instituição, que assumiram o poder em nome do Governo. Repudiados pelo bispo, foi necessário manter contato com o general Castelo Branco para terminar com esta situação. O Presidente determinou que onde houvesse Diocese a Igreja deveria ser ouvida antes de quaisquer atividades em entidades vinculadas.
Além dessas interferências, durante seu bispado, teve que enfrentar tempos desagradáveis e polêmicos, entre os quais os desentendimentos com a classe médica em relação a cartas anônimas – pichações anônimas –, tomada de posição em favor da implantação da Cemig e muitas outras registradas pela imprensa.
Dom Alexandre fazia sua defesa por meio do Correio Católico, jornal por ele criado e que inicialmente era mensal, passando para semanal e se tornando diário em 1954, na gestão de Dom José Pedro Costa. Segundo César Vannucci, em seu livro “Um Certo Dom”, foram escritos cerca de 6.000 artigos para o Jornal.
Em 1972, o Correio Católico foi vendido para um grupo de empresários, do qual participavam na diretoria Joaquim dos Santos Martins, Gilberto Rezende e Edson Prata. O nome foi mudado para Jornal da Manhã.
Como empreendedor, Dom Alexandre construiu o Seminário São José (Praça Dom Eduardo) na década de 1980, hoje chamado Centro Pastoral João Paulo II, sede da Cúria Metropolitana. Durante seu bispado, trouxe a Uberaba três mosteiros contemplativos – das beneditinas, carmelitas e concepcionistas. Trouxe ainda as carmelitas, da Afonso Rato; os capuchinhos, os padres sacramentinos, as irmãs do Asilo São Vicente e do Orfanato Santo Eduardo.
Pastor e evangelizador, pregador, conferencista, jornalista e escritor, foi também professor de Filosofia e Teologia. Um de seus alunos ilustres foi Mário Palmério, a quem incentivou a criação das Faculdades.
Foi um dos fundadores da Academia de Letras do Triângulo Mineiro (ALTM), ocupando a cadeira número 21, sendo sucedido por Maria Antonieta Borges Lopes. Escreveu três livros, entre eles “Os Católicos e a Polícia”, em 1946.
Dom Alexandre faleceu aos 5 de fevereiro de 2002, tendo vivido 96 anos, 73 como padre, 39 anos de governo episcopal e 23 anos como bispo emérito. Está sepultado na cripta dos bispos na Catedral, onde, em 2006, foi celebrado o centenário de seu nascimento.
Sua vida bateu três recordes quase impossíveis de serem repetidos, pois foi ordenado padre aos 23 anos, nomeado bispo com apenas 33 anos e viveu 63 anos como bispo.
“Dom Alexandre Gonçalves do Amaral” é hoje nome de uma rua no residencial Mário de Almeida Franco.
Fontes: Jornal da Manhã; César Vannucci – livros “Um Certo Dom” e “Voz da Arquidiocese”.
Gilberto de Andrade Rezende
Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ex-presidente e conselheiro da Aciu e do Cigra
A Mogiana que tanto progresso trouxe para a cidade, trouxe também problemas sociais. Ao longo de muitos anos, principalmente na década de 1960, inúmeras prefeituras de cidades do interior do Estado de São Paulo despachavam seus indigentes para Uberaba.
Beatriz Guido - Foto/Reprodução.
No governo municipal de João Guido (1967/1970), a primeira dama Beatriz Guido, preocupada com este amontoado de necessitados, com o apoio de diversas paróquias, criou a LAC – Legião de Assistência Cristã.
Com a chegada em Uberaba do Bispo Dom José Pedro Costa, a LAC mudou seus procedimentos de distribuição de alimentos para cuidar de crianças.
Em 1972, com o terreno doado para a LAC pelo Prefeito João Guido, Beatriz Guido e Abigail Miranda criaram a Casa do Menino e decidiram construir uma sede própria para abrigar crianças com problemas na Justiça.
Os recursos iniciais vieram de uma Instituição de Caridade Alemã, a Misereor. Teve participação também da Ordem Religiosa dos Capuchinhos da Colômbia.
Outra grande contribuição foi de Abigail Miranda, através de doações de todos aqueles que eram agraciados com as serenatas de seu grupo de jovens.
Em 24 de novembro de 1975 a Casa do Menino, tendo como mantenedora a LAC, recebia os primeiros adolescentes enviados pelo Juizado de Menores.
Beatriz Guido, formada pelo Colégio Sion que sempre pregava ação, participou de várias organizações sociais e por muitos anos foi diretora e presidente do Hospital da Criança.
Mãe de cinco filhos, João Eduardo, Antônio Augusto, Paulo Roberto, José Luiz e Gilberto, Betriz Moura Telles Guido faleceu em 2003, aos 83 anos de idade, após uma vida intensa de trabalho em prol de sua cidade.
Seu nome é guardado com carinho na Casa do Menino, através do seu “Bazar Beatriz”.
Gilberto de Andrade Rezende – Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
Em fins de semanas na rua Arthur Machado, por muitos e muitos anos era comum a formação de grandes filas, esperando abertura de vagas na porta do Bar da Viúva.
Saborear uma pizza ou picadinho de filé ao molho e outros petiscos, era o programa semanal de centenas de famílias uberabenses. O local era também ponto de encontro de todos os que visitavam a cidade.
As bebidas, sempre da Antártica, vinham pela Mogiana, diretamente de Ribeirão Preto.
Junto com o chope e as cervejas, uma especial, a Niger. Só não entravam no cardápio, os velhos e valiosos uísques escoceses enfileirados nas prateleiras.
No início da década de 1930, Maria com o seu marido Felipe Vasques, fundaram a “Confeitaria Vasques”. Na década de 1950, com o falecimento precoce de Felipe, aos 40 anos de idade, Maria meteu a mão na massa, literalmente.
Maria Ponticcelli Vasques - Foto: Prieto.
Começou a produzir pizzas e salgados a partir das 6 horas da manhã, se banhava no próprio local e à noite assumia a administração do bar com a ajuda dos filhos Felipe e Gilberto.
Uma rotina que durou quatro décadas, mesmo estando com problemas de saúde. Os amigos e frequentadores mudaram o nome da Confeitaria para Bar da Viúva.
Maria Ponticcelli Vasques, mais conhecida como dona Maria, faleceu em 1989. O Bar encerrou suas atividades em 1994.
Fechou as portas uma tradição de quase setenta anos.
Todavia, as lembranças do exemplo de uma mulher guerreira que deixou profundas marcas da sua tenacidade, vão viver para sempre.
Gilberto de Andrade Rezende – Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
Foi igual à um conto de fadas o casamento de Cecília Arantes com Mário Palmério. Em 1939, sabendo da determinação dos pais em não permitir o namoro da filha, o príncipe encantado, na calada noite, rapta a donzela, ainda em trajes de dormir, para se casarem em Santos.
Após dois anos morando em São Paulo, o casal se mudou para Uberaba, onde tiveram os dois filhos, Marcelo e Marília. Unidos pela paixão, se uniram também no propósito de revolucionar o ensino da cidade.
Cecília Arantes -
Foto/Reprodução
No início da década de 1940, Mário e Cecília construíram os primeiros alicerces de uma gigantesca obra educacional, na Avenida Guilherme Ferreira. Ali nasceu o Colégio Triângulo e ali mesmo, construíram sua residência.
Em 1950 foi criada a Sociedade de Educação do Triângulo, entidade sem fins lucrativos, com sede na própria Escola. Cecília Arantes Palmério foi sua primeira presidente por 20 anos.
Em toda sua vida Cecilia Arantes foi o braço direito na Administração da
Entidade que era uma Escola que se transformou na FIUBE em 1972 e na UNIUBE-Universidade de Uberaba., em 1988.
Cecilia Arantes, nascida em 22 de novembro de 1915, trabalhou ao lado de Mário Palmério na área educacional, por 46 anos e colaborou com seu filho Marcelo Palmério, por cerca de 30 anos, até o seu falecimento ocorrido em 29 de maio de 2011.
Em 1997, a UNIUBE – Universidade de Uberaba, criou no Campus I, o “Centro Cultural Cecilia Palmério”, implantado em um magnífico conjunto arquitetônico, com o objetivo de apoiar as manifestações artísticas e culturais e perenizar o nome de quem por toda sua existência dedicou sua vida, em prol da família e da educação.
“Cecília Palmério” é nome também de uma rua localizada no bairro Santos Dumont.
Gilberto de Andrade Rezende – Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
A notícia chegou e causou um alvoroço em toda a região do Triângulo Mineiro no ano de 1949. Uma empresa de São Paulo recebeu autorização para implantação de uma grande fábrica de cimento, aproveitando a rocha de calcário da região que se estende por vários municípios. A abertura de novos empregos e a ampliação do comércio da região eram as expectativas mais comentadas.
Quando se tomou conhecimento de que a área comprada pela empresa estava localizada parte no município de Uberaba e parte no município de Conquista, a euforia tomou conta dos uberabenses, conforme relata José Mousinho Teixeira, citando ainda que a disposição para esta empreitada era de responsabilidade da família Matos Barreto, os irmãos José e Francisco e outros familiares.
Fábrica de cimento Ponte Alta - Foto: década de 1950
- Autoria desconhecida.
Cientes de que a região era rica em pedras calcária, conhecida pela extração e produção de cal virgem, os irmãos Barreto, e da potencialidade que estas terras poderiam oferecer e ainda visando a exploração da área para produção de cimento, contrataram estudos técnicos como sondagens e viabilidade econômica, por meio de uma empresa da Dinamarca, país mais preparado na produção de cimento portland.
A área adquirida no município de Uberaba ficava localizava no Distrito de Ponte Alta e o local, a antiga Caieira Fantini, fundada em 1883, era propriedade de Flamínio Fantini, um emigrante italiano.
Como a parte da fazenda comprada pela família Matos Barreto, no município de Conquista, era maior do que a parte de Uberaba houve uma acirrada disputa pela conquista da preferência para a instalação da fábrica.
De um lado, representando Conquista, o Cel. Tancredo França, incansável na batalha para que a fábrica de cimentos fosse implantada em seu município. Uberaba acabou ganhando na preferência por mostrar para à diretoria da fábrica que a estrutura da cidade oferecia melhores condições.
Há que se registrar o empenho da ACIU-Associação Comercial e Industrial de Uberaba, sendo presidente o empresário Arlindo de Carvalho e tendo a seu lado, na diretoria, João Guido, Lívio da Costa Pereira, Reynaldo de Melo Rezende, Durval Furtado Nunes, Geraldo de Oliveira, Rubens Dornfeld e ainda no Conselho Fiscal, Paulo José Derenusson, Mário Amaral e Bruno Martinelli.
O esforço dispendido pela Entidade não ficou restrito à apresentação das vantagens de Uberaba. Muitos obstáculos ainda teriam que ser superados para que o sonho se tornasse realidade. Um destes obstáculos era a questão da energia elétrica.
Não havia energia suficiente para atender a demanda de uma fábrica de grande porte. Novos estudos foram realizados através da empresa AEG, buscando um local onde se pudesse instalar uma usina hidrelétrica, recaindo a preferência em uma queda d’agua no rio Araguari, no local denominado Cachoeira dos Macacos. A própria AEG se encarregou da construção que acabou sendo conhecida como a “Usina dos Macacos” que, após concluída, se instalou uma linha de transmissão até Ponte Alta.
Resolvida esta questão veio a do transporte que somente foi equacionada, conforme relata José Mousinho: “merece registrar que, em complemento à infraestrutura necessária ao empreendimento, foi construído um ramal ferroviário ligando a localidade de Ponte Alta aos trilhos da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro que, à época, trafegava com o ramal Uberaba/MG à cidade de Franca/SP.”
Relata ainda José Mousinho que “na mesma oportunidade, os irmãos Barretos, por deferência à região onde deveria situar o empreendimento, liberaram dez por cento de subscrição do capital a ser integralizado pela Companhia de Cimento Ponte Alta a investidores das cidades de Conquista e de Uberaba.
A quota gentilmente oferecida foi prontamente subscrita em apenas uma semana. Destaca-se que entre os uberabenses a subscrição de maior vulto foi realizada pelo pecuarista Sr. Lamartine Mendes dos Santos e de Conquista pelo também pecuarista Sr. Theodulfo de Rezende”.
Neste sentido a firma Carvalho & Teixeira & Cia. Ltda. - Casa Carvalho tornou-se o ponto de apoio em todas as relações e operações com o comércio local. As encomendas destinadas à construção que chegavam via ferroviária em Uberaba eram encaminhadas à Casa Carvalho e, em seguida, por sua ordem, enviadas ao canteiro de obras da fábrica na localidade de Ponte Alta.
As turbinas, fornos e outros equipamentos de grande porte que igualmente vinham por via ferroviária eram encaminhados para a Estação de Erial da Companhia Mogiana e de lá transportados por caminhões até o canteiro de obras”.
Junto à construção da fábrica se iniciou a construção de uma vila para abrigar os funcionários. Vieram pessoas dos municípios da região e do todo o país, principalmente do Nordeste, para se habilitar ao trabalho. Afinal, precisavam ser contratados algumas centenas de trabalhadores, se registrando na época cerca de 400 famílias para atender a demanda da fábrica.
A vila chegou a ter uma população de 2.500 pessoas. A fábrica de cimento era a maior empregadora de toda a região.
A diretoria era composta por Antônio Aymoré Pereira Lima, Augusto Freire de Matos Barretos Filho, Armando Freire de Matos Barreto, Walter Prado Dantas e Arlindo de Carvalho.
Por volta de 1975 o controle acionário foi transferido para os empresários das famílias Moraes Barro e Mesquita Vidigal, conforme nos informou José Mousinho, sendo posteriormente incorporada pela Lafarge Holcim. De origem francesa é a maior indústria cimenteira do mundo, presente em 80 países.
Em Ponte Alta a Lafarge ainda produziu por cerca 18 anos até encerrar as atividades e se transferir, em 2004, para a cidade de Arcos, em Minas Gerais. Os fornos foram adquiridos pela Magnesita S/A que produz refratários para sua sede em Contagem, Minas Gerais.
Ponte Alta, localizada a cerca de 40 KM de Uberaba, às margens da BR 262, viu sua economia encolher, obrigando uma parte de sua população a se transferir para outras cidades, principalmente Uberaba.
Atualmente o Distrito de Ponte Alta, criado em 1879, vem se adaptando aos novos tempos, vendendo ou arrendando suas terras para as empresas canavieiras, tendo a Magnesita como importante apoio econômico e diversificando suas atividades rurais em criação de animais.
Por 60 anos a fábrica de Cimento Portland Ponte Alta, considerado o melhor cimento do país, foi oi principal suporte da economia de Ponte Alta que teve, nesse período, um extraordinário desenvolvimento, contribuindo para a economia de Uberaba através da comercialização de seus produtos, elevação do nível de emprego e arrecadação de seus tributos.
Gilberto de Andrade Rezende – Ex-presidente e Conselheiro da ACIU e do CIGRA. Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
“Olhe a sorte”. Esta era a abordagem dos empolgados diretores da ACIU, travestidos de vendedores de rifa junto aos transeuntes de Uberaba naqueles dias de dezembro, próximos do Natal de 1963. Mil bilhetes numerados estavam à venda sob a responsabilidade da diretoria de Aurélio Luiz da Costa. As vendas corresponderam ao preço do prêmio, um carro zero km Aero-Willis. Apurado o resultado, a sorte finalmente sorriu para a Entidade, concedendo-lhe a premiação.
Este dinheiro era necessário para cobrir os custos finais de implantação da torre de transmissão da TV TUPI que, de Buritizal, SP, jogaria o sinal para Uberaba.
Era o remate de uma epopeia que se iniciou quando a TUPI, a pioneira da TV no Brasil, criada em 1950, passou a se expandir na década de 1960, para o interior de São Paulo.
As tratativas iniciais para trazer o sinal para Uberaba começaram na gestão de Mário Grande Pousa na ACIU (1961/1962), tendo como auxiliares diretos nesta empreitada, entre outros, os seus diretores José Sexto Batista de Andrade, Aurélio Luiz da Costa, Lincoln Borges de Carvalho, Gilberto Rezende e Mário Salvador.
Grande parte dos entusiastas deste processo firmaram compromissos de apoio mediante a promessa de pagamentos em parcelas para cobertura das despesas. Todavia, muitos não puderam resgatar seus compromissos.
A responsabilidade dos custos remanescentes recaiu sobre a gestão de Aurélio Luiz da Costa (1963). Desavenças que a poeira do tempo apagou, reduziu para oito o número de diretores da Entidade. Mesmo assim, novos personagens se juntaram nesta empreitada, entre outros, Benedito Jorge, Zito Sabino de Freitas, Jorge Dib Neto, Ronaldo Benedito Cunha Campos e José Leal do Alemão.
Não foi nada fácil para a diretoria da ACIU concretizar o compromisso assumido com a comunidade. Recursos e pessoal escasso, todavia, não foi capaz de aquebrantar o espírito de luta do presidente Aurélio. Dezenas de viagens a São Paulo, busca de apoio com o deputado estadual José Marcus Cherém em Belo Horizonte e por fim, o resultado de uma rifa, deu a ele e a sua diretoria, o troféu de “Vencedor”.
O pequeno e improvisado estúdio foi implantado no final da Rua Artur Machado. Os remates ficaram por conta da diretoria de Leo Derenusson (1964/1965) para que, finalmente, na gestão de Edson Simonetti, (1966/1967), a cidade contasse com a programação da TV Tupi.
Uma nova era foi inaugurada com a implantação da TV em Uberaba. Novos pilares econômicos foram se assentando. Lojas se abriram para o comércio de aparelhos de televisão e de antenas; novos profissionais para oficinas de reparos e novas profissões vinculadas às áreas artísticas e de comunicação. Um mundo novo e deslumbrante de fantasias se apresentou na cidade que só conhecia o rádio. A paixão pela novidade foi retumbante.
Apesar do tempo dedicado à missão TV, outras questões mereceram a atenção da ACIU na gestão do Aurélio. Foi neste período que a Entidade participou da elaboração do Código Tributário Municipal. A UNASBA-União das Associações e Sindicatos de Uberaba, criada a cerca de uma década, tinha Aurélio na presidência neste período, contribuindo assim com a ACIU, na luta para o asfaltamento de Uberaba/Belo Horizonte (BR 262) e Uberaba/Uberlândia (BR 50) bem como para a campanha de canalização dos córregos. Aurélio foi o maior acionista individual do Banco do Triângulo, criado por Fidélis Reis e que posteriormente foi encampado pelo Banco Nacional de Magalhães Pinto e que, por sua vez, foi encampado pelo Banco da Lavoura, virou Banco Real e hoje é Santander.
Uma de suas atividades era o comercio de madeiras, inicialmente na Praça Frei Eugênio com a empresa “Madeireira Triângulo”, posteriormente transferida para a Rua Capitão Manoel Prata. Foi também diretor da empresa estatal FRIMISA - Frigorífico de Minas Gerais, localizada onde se encontra hoje as instalações do Frigorífico Boi Bravo.
Dotado de espírito comunitário, Aurélio fez diversas doações de terrenos para instituições de caridade e escolas municipais e estaduais, entre estas, a da Abadia e do Jardim Induberaba.
Sua morte prematura em 25 de dezembro de 1965, aos 34 anos de idade, deixou inconsolável sua esposa Ivani Amaral Costa e seus quatro filhos Marco Aurélio, Aurélio Jr., Márcia e Márcio (Budú) Aurélio Luiz da Costa é hoje nome de uma Praça de Uberaba localizada no bairro de São Benedito. É também nome da Escola Estadual localizada no Jardim Induberaba. É saudade de seus amigos e familiares. É exemplo de luta extremada na defesa dos interesses de Uberaba. É história que jamais poderá ser esquecida.
Gilberto de Andrade Rezende. Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ex-presidente e Conselheiro da ACIU e do CIGRA. Fontes; ACIU – Mário Salvador – Marco Aurélio Luiz da Costa.
Não foi possível dormir. A excitação era muito grande. Às quatro horas da madrugada eu já estava de pé. Que emoção. Pela primeira vez, aos 8 anos de idade, em 1941, ia ter a oportunidade de ser ajudante de candieiro.
A velha caseira Colodina acabava de fazer o café. No curral, o carreiro Benedito já com as quatro juntas de boi na canga, ultimava as providências para a viagem. Divaldo, filho do meio da Estorgilda e neto da Colodina, era o candieiro. As 40 sacas de fubá garantiam os gemidos dos mancais que iriam atravessar a madrugada.
Reynaldo Rezende de Melo -
Foto: Reprodução.
Apesar de ponteiro, teria que ajudar da guia ao cabeçalho, mas na realidade, ficava em cima da carga ou enganchado nos fueiros já que a esteira de proteção me impedia de ficar escarrapachado no carro.
Não obstante a curta distância, oito quilômetros, a viagem demorava quase três horas, passando pelo córrego dos Carneiros e entrando pelo bairro da Abadia. Aliás, o tempo não tinha a menor importância. Ouvindo as toadas do carreiro, o cantar do carro e curtindo o raiar do dia, não poderia desejar felicidade maior.
Estas viagens eram uma rotina na fazenda São José de propriedade de meu avô Manoel Gonçalves de Rezende. Desde 1914, data da compra do moinho de meu bisavô Antônio Vallim de Mello, que a fazenda vinha produzindo fubá.
Sem concorrência no mercado, no decorrer dos anos foram instalados mais dois moinhos para garantir uma produção de 50 toneladas/ano.
Os córregos Quati, Três Córregos e Conquistinha abasteciam os moinhos. Contrariando o provérbio de que “águas passadas não tocam moinhos”, a mesma água que passava em um moinho, passava nos demais.
Os fregueses eram cativos. José Mateus, Tufy José Elias, Artur Amâncio, Manoel Alfredo Freire, Antônio Carrilho, José Rufino, José Benito Naves, Armazém Central, Casa Carvalho, Adalberto Pena e Irmãos Almeida se destacavam pela quantidade comprada.
As vendas já haviam sido efetuadas pelo meu tio Reynaldo Rezende, que a exemplo de seu pai, corria o comércio a cavalo. O pagamento era a prazo, 14 dias. O preço oscilava entre 12 e 16 mil réis o saco de 50 quilos de fubá, equivalente ao dobro do preço do saco de milho. O salário mínimo era de 3 mil réis/dia.
A lucratividade era pequena por isso a maioria da produção era de responsabilidade de alguns dos treze irmãos. Ajudava o fato de não haver impostos sobre o produto e nem ônus sobre a folha de pagamento.
No início, o plantio de 15 alqueires, era suficiente para a produção de 150 carros de milho de 5 jacás cada. Eram suficientes também para os 3 moinhos que levavam 24 horas para produzir 250 quilos de fubá.
O dia da viagem foi divertido. No retorno para a fazenda nada poderia ser melhor. Enquanto os bois descansavam na porta da venda do sr. Tufy, o carreiro comprava as encomendas. Deu tempo suficiente para comer um pão com salame e tomar um gole de capilé. Se houvesse chuva no retorno, teria direito a um dedal de pinga na fazenda para evitar resfriado, dosado pela minha avó Idalina.
Foi minha primeira e única viagem nesta experiência como candieiro. As férias escolares terminaram e o retorno para o colégio desmanchou meus sonhos de viver na fazenda.
Foi também uma das últimas viagens do carro de boi com carregamento de fubá. Doravante, a carga seria de milho em grãos.
Os moinhos de água pararam, mas durante 27 anos, de 1914 a 1941, eles transformaram a fazenda São José numa das pioneiras na Agroindústria.
A fazenda foi se esvaziando ano após ano pois os filhos, doze homens e uma mulher, Maria Rezende, foram se afastando. Vinham para a cidade para estudar e depois tomavam outros rumos. Alguns seguindo o exemplo do pai, como o Romeu, o Randolfo, o Antônio e o Raymundo, compraram fazendas. Outros como o Raul, (meu pai), o Mário, o Orlando e o Gentil, preferiram seguir a carreira bancária. O Manoel (Nequinha) faleceu prematuramente. Somente o avô Manoel Gonçalves e os filhos João e Álvaro de Melo Rezende permaneceram.
Já o Reynaldo Rezende, conhecendo a potencialidade do comércio de produtos do milho, tomou a iniciativa de construir uma fábrica de moagem e torra de milho para produção de produtos empacotados de fubá e farinha, no fim da década de 1940.
A indústria foi instalada em um terreno localizado entre as ruas Barão da Ponte Alta e Maestro José Maria, bairro da Abadia. Nessa época o município de Uberaba, incluindo diversos distritos ainda não emancipados e a zona rural, já se aproximava dos 60 mil habitantes.
Seu início foi muito difícil. Em plena 2ª. Guerra Mundial, havia dificuldade de energia. Não havia motores a diesel. O gasogênio era o combustível dos carros e também das indústrias. Só com a intermediação de Thomaz Bawden é que se conseguiu energia da usina “Pai Joaquim”.
A capacidade de produção foi multiplicada por vinte, graças a uma peneira inventada pelo primo Silvio, filho de Romeu Rezende, alçando a produção de fubá a 200 quilos/hora. As vendas passaram a ser feitas em pacotes de pesos variados.
Consolidada a fábrica de produtos derivados do milho, Reynaldo implantou também, no mesmo local, uma indústria de torrefação, moagem e empacotamento de café, batizando todos os seus produtos com a marca “REYNA” que por seis décadas tiveram a preferência do mercado.
Nessa mesma época adquiriu as cotas de capital de seus irmãos em uma máquina de beneficiamento de arroz, “Rezende & Cia Ltda”, implantada na rua São Benedito e a transferiu para um novo endereço, em sede própria, no bairro do Fabrício.
Foi nesta empresa que ele, na década de 1950, como pioneiro, lançou no mercado nacional o empacotamento de arroz de sequeiro, com pesos de 2 e 5 quilos com a marca “Rezende”, abarrotando por muitos anos os mercados do Rio de Janeiro e São Paulo o que motivou outras empesas brasileiras a seguir o exemplo. Na década de 1970, a máquina de arroz foi alienada para a empresa de José Miguel Árabe.
Em 1948, aos 15 anos eu já era funcionário de escritório das “Indústrias Alimentícias REYNA” Ltda., pioneira no Triângulo Mineiro. Uma das características do Reynaldo Rezende era dar oportunidades para seus familiares. Os irmãos Maria, Orlando, Gentil, Manoel (Nequinha) e Orlando Rezende, enquanto estudantes, trabalhavam na fábrica. Também os sobrinhos Paulo Rezende, Dário e Djalma Batista, deram sua contribuição por muitos anos. Já os cunhados, Honório (Dico), faleceu em serviço e José Batista de Carvalho, seu principal gerente, foi o primeiro a entrar e o último a sair.
As famílias italianas, Faina, Dellalíbera, Faquinelli e Arduini bem como os Arruda originários da fazenda São José, foram as que por mais tempo permaneceram na indústria.
O movimento era intenso no grande pátio da fábrica. Registrava-se a chegada de caminhões abarrotados de milho ou café em grão e a saída de peruas carregadas de café em pó e produtos derivados de milho, para distribuição no comércio de Uberaba e região.
Por lá passavam também os vendedores, compradores, funcionários, fiscais e visitantes. Era grande o burburinho. Transações gerando riquezas, criando e resguardando empregos e dando vida econômica e social ao bairro e à cidade.
Todas as tardes, horário de torra, levado pelas brisas, as casas do bairro eram inundadas pelo gostoso aroma do café. Os relógios eram acertados pelas sirenes da fábrica que marcavam os horários de entrada e saída dos grupos de trabalho.
As dificuldades eram parceiras constantes no desenrolar das atividades empresariais do Reynaldo e provavelmente de milhares de empresas brasileiras. Deposição do presidente Getúlio Vargas em 1945, as agruras do pós guerra onde o Brasil perde importantes mercados, o suicídio de Getúlio Vargas em 1954, o êxodo rural a partir de 1960, a renúncia de Jânio Quadros em 1961, as agitações políticas de 1963 no governo de Jango Goulart, a revolução militar de 1964, o AI5 de 1968, o plano Cruzado de José Sarney e os planos “Verão” dos ministros Bresser (1987) e Maílson da Nóbrega (1989), a rapinagem da poupança de Fernando Collor em 1990, o congelamento do dólar em 1997 no governo Fernando Henrique e outros atos, nem sempre republicanos, desses e outros governos, causaram grandes estragos na economia. Os bancos fechavam suas carteiras de créditos, os juros escorchantes e a inflação desenfreada faziam com que os empresários vislumbrassem, como a única forma de salvar sua empresa e o seu patrimônio, a adoção de medidas legais, chamadas atualmente de recuperação judicial como a que a Indústria “REYNA” teve que recorrer em um desses momentos.
Apesar dos destemperos e rebuliços, Reynaldo, dotado de espírito filantrópico, encontrava tempo de participar das confrarias dos asilos São Vicente e Santo Antônio e de outras instituições beneficentes, sempre participando com generosas contribuições financeiras ou com permanente fornecimento de alimentos de sua fábrica.
Também no associativismo, fazia questão de se reunir com seus companheiros empresários tendo participados por alguns anos da diretoria da ACIU na década de 1950. Em reconhecimento ao seu pioneirismo, por duas vezes foi “Industrial do Ano” em promoção do Estado de Minas Gerais.
Permaneci por 20 anos na empresa “REYNA” de 1948 a1967, mesmo tendo outros empregos e outros empreendimentos próprios para administrar. A partir de 1968 continuei como seu conselheiro por quase trinta anos, até que ele, já com a idade de 90 anos, transferiu o empreendimento para o seu filho mais novo, Reynaldo Luiz Oliveira Rezende, um renomado oftalmologista, residente em Ribeirão Preto.
A fábrica continuou funcionando até o ano de 2002, quando paralisou todas as suas atividades. Por 60 anos foi sustento de centenas de famílias, foi uma das bases da economia da cidade, foi um refúgio para os necessitados e foi símbolo de produtos de qualidade.
Em 09 de março de 2004, em uma fatalidade decorrente de um acidente caseiro, fecharam-se as cortinas do teatro da vida para o principal e único ator, Reynaldo de Melo Rezende. Numa peça escrita pelo destino, é contada a história de um ser humano extraordinário que, vindo de uma roça, se lança no mundo do empreendedorismo confiado apenas em seu próprio instinto, tendo por capital a sua coragem e que, depois de 80 anos de trabalho duro, sem direito a férias, o ato é encerrado. Deixa para a posteridade, em pleito de reconhecimento, a magnitude de seu exemplo, gravados na memória de todos os que o conheceram, com o direito a registro permanente de sua obra, escrita em belas letras douradas nas páginas da história do desenvolvimento econômico de Uberaba.
Reynaldo deixou viúva Nazareth de Oliveira Rezende (Tita) e cinco filhos – João Carlos, Maria Regina, Manoel Afonso, Reynaldo Luiz e Maria Angélica.
Não se ouve mais o apito das sirenes. Não se sente mais o odor das torras. O movimento que dava vida na rua, parou. Os prédios da fábrica e a casa de morada foram demolidos. A história ficou soterrada nos escombros. Resta um terreno vazio. Resta um vazio na alma. Resta uma grande lembrança e uma doída saudade.
– Membro da Academia de Letras – Ex-presidente e Conselheiro da ACIU e do CIGRA. Ex-funcionário das “Indústrias Alimentícias REYNA Ltda.”
Não temos pretensão de analisar aspectos científicos de Saúde Pública até porque isto é de competência de especialistas. Ateremos tão somente ao processo evolutivo, a ampliação de conceito, sua posição na Política Social e os reflexos socioeconômicos.
Nosso reconhecimento especial deve ser de início, para os pesquisadores, heróis anônimos. Em nosso país, a exemplo do que sucede no exterior, todos os ramos da saúde têm produzido grandes pesquisadores. Epidemiologistas, sanitaristas, parasitologistas, imunologistas, biólogos, geneticistas, bioquímicos, patologistas, clínicos, dentistas, enfermeiros e profissionais de outras especialidades dignificam a pesquisa biológica.
Dr. Edison Reis Lopes. Foto: Acervo da família.
Uberaba, centro médico reconhecido como de alto nível, tem hoje renome nacional e internacional no campo das Doenças Tropicais. Neste campo, nossa cidade, tanto no passado como no presente, tem do que se orgulhar,
Em todo o mundo científico, quem não conheceu o nome de Aluízio Prata. Professor na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro da disciplina de Doenças Tropicais e Infecciosas? E, no setor de Medicina Tropical, principalmente em relação à Doença de Chagas, Malária e Esquistossomose., seu trabalho é uma das referências primeiras em todo o país.
Suas centenas de trabalhos sobre profilaxia, clínica e tratamento da Malária, Doença de Chagas, Esquistossomose Mansoni, Leishmanioses e outras endemias constituem referências básicas para todos que se preocupam com estes temas.
Sempre manteve amplo intercâmbio com pesquisadores internacionais na experimentação de vacinas. Trouxe para Uberaba o XXVII Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, o qual teve repercussão internacional.
O reconhecimento de seu valor é atestado pelos cargos que ocupou nos organismos como Organização Mundial de Saúde e Organização Panamericana de Saúde.
Outro ramo em que nossa cidade se destaca é no da Patologia Tropical. A fundação da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro em 1954 propiciou a vinda para Uberaba de Edmundo Chapadeiro, então professor da Universidade Federal de Minas Gerais, onde havia sido discípulo de um dos maiores patologistas que nosso país teve, Luigi Bogliolo, renomado pesquisador italiano, que se radicara em Belo Horizonte na década de 40.
Chapadeiro formou em Uberaba excelente centro de patologia, formando uma grande escola cuja linha de pesquisa fundamental é na Doença de Chagas. Seu trabalho foi tão proveitoso que o único centro de Pós-graduação "senso stricto", que até o ano de 1991 havia no interior de Minas Gerais, era o Curso de Pós-graduação em Patologia Humana da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, hoje classificado no MEC como classe A.
Chapadeiro e seus discípulos Edison Reis Lopes, Fausto Pereira, Hipólito Almeida, Sheila Adad, Sebastião Tostes Jr, Vicente de Paula Antunes, Ademir Rocha, e outros, produziram especialmente no campo da morte súbita e da forma indeterminada da doença de Chagas, trabalhos fundamentais e básicos para o melhor conhecimento da enfermidade.
No setor hematológico, Hélio Moraes de Souza e sua equipe, também realizam pesquisas básicas em relação a transfusões de sangue e doença de Chagas. Desnecessário frisar o pioneirismo e a importância dos estudos de Humberto de Oliveira Ferreira no conhecimento da fase aguda da tripanossomíase cruzi e na terapêutica da endemia e Ruben Jacomo nos aspectos laboratoriais da doença.
Vários nomes ainda devem ser lembrados por suas contribuições na pesquisa das Doenças Tropicais, especialmente na Doença de Chagas: Fausto da Cunha Oliveira, Adib Jatene, Valdemar Hial, Luiz Ramirez, Eliane Lages Silva, Virmondes Rodrigues Jr, Jaime Olavo Marques, Maria Aparecida Enes Barros, Lineu Miziara, Sylvio Pontes Prata, Antônio Carlos Meneses e outros mais.
Graças a estes pesquisadores, muitos deles hoje apenas saudades, a FMTM pode se projetar como centro de pesquisa nacional e internacional.
Gilberto de Andrade Rezende – Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ex-Presidente da ACIU e do CIGRA e ex-diretor do Grupo TRIFLORA.
FONTE DE PESQUISAS: Dr. Edison Reis Lopes. a) - Revista Goiana de Medicina - Artigo Doença de Chagas rio Triângulo Mineiro.
Maravilha! INSTITUTO CIENTÍFICO E CULTURAL LAMAR LAMOUNIER, agradece ao Jornalista e Escritor Reynaldo Domingos Ferreira por este importante artigo sobre o valor da Mulher na evolução cultural de Uberaba (MG). (Gilberto Rezende - Casa do Folclore)
(Artigo, solicitado, pelo Instituto Científico e Cultural Lamar Lamounier)Essa é, de fato, uma grande lacuna, que precisa ser, reparada, a da valoração do empenho feminino, pela evolução cultural da cidade de Uberaba ( MG ), onde só se reconhece, com algumas poucas exceções, o trabalho masculino, nos nem sempre criteriosos relatos históricos da cidade.
As mulheres, entretanto, marcaram presença, e efetiva atuação, em quase todos os setores da vida cultural uberabense - mesmo, em outros centros culturais do país, e do exterior -, destacando-se, entre eles, o da música, o do magistério, o da área jurídica, o da moda, o da medicina, o das artes plásticas, o de assistência social, o da política, o da locução radiofônica, o do teatro, o da pesquisa histórica e folclórica, o da literatura ( prosa e poesia), o do jornalismo, e o da pecuária, por tradição, dominado por homens.
O primeiro destaque é para Dinorah ( ou Dinorá ) de Carvalho, pianista e compositora, ( 1895-1980 ), que viveu pouco tempo, na cidade, pois, logo, sua família se mudou para São Paulo, como aconteceu também, com a do seu sobrinho, Joubert de Carvalho, que foi, primeiro, igualmente, para São Paulo e, depois, para o Rio de Janeiro.
Na Capital paulista, Dinorah matriculou-se, no Conservatório de Música, onde teve como colega, e amigo, Mário de Andrade, um dos organizadores da Semana da Arte Moderna, de 1922. Dinorah, ao se formar, em piano, com as melhores notas, no Conservatório, recebeu bolsa de estudos, na França, do governo de Minas Gerais.
Em Paris, Dinorah aperfeiçoou seus estudos, com Isidor Philipp. Ao retornar a São Paulo, foi apresentada, por Mario de Andrade, ao professor e maestro Lamberto Bardi, com quem aprimorou seus conhecimentos de composição e regência. Ela criou, na Capital paulista, uma escola de música, que levava o seu nome. Nos anos de 1960, o maestro Souza Lima, que conheci, organizou, no Teatro Municipal de São Paulo, um Festival Dinorah de Carvalho. Entre suas principais peças, que são quase quatrocentas, se destacam: " Missa De Profundis ", " Três Danças Brasileiras "," Serenata da Saudade ", " Arraial em Festa " e " Noite de São Paulo ", essa sobre um texto do poeta Guilherme de Almeida, de quem era também muito amiga.
Nair Carvalho Medeiros, também pianista, da mesma família de Joubert de Carvalho, e de Dinorah de Carvalho, teve, como seus ilustres parentes, carreira brilhante, como concertista, no país, e na França, onde se casou e, em Paris, permaneceu morando.
No campo da música, nas décadas de quarenta, e, parte da de cinquenta, a figura feminina mais expressiva, era a da professora Odete Camargos, embora se dedicasse mais ao magistério musical ( canto coral ), na Escola Normal Oficial, e, de piano, em casa, onde tinha muitas alunas e alunos, competindo, naturalmente, com o grande nome da música uberabense, Renato Frateschi, que deixou mais de 400 composições musicais. Em meu livro, de memórias, "As Raparigas da Rua de Baixo", assim, tento fazer a figuração de Dona Odete Camargos:
"A palavra " enérgica " era tida, na época, como a mais fluente e adequada para designar um bom mestre, um bom educador. Quando se dizia que alguém era " enérgico", já se entendia tratar-se de um bom profissional de ensino, ou seja, que sabia impor seus conhecimentos aos seus alunos. Tal era o caso, sem dúvida, de Dona Odete, que, de exemplar maneira, não só parecia trazer estampada a palavra " enérgica", na testa - emoldurada por uma cabeleira meio grisalha -, como envergar, bem ao seu estilo, uma postura rígida e austera."
Em 1949, Dona Odete, em sociedade, com a pianista Mirthes Bruno, criou o Instituto Músical Uberabense, quase ao mesmo tempo, em que o casal Alberto Frateschi e Alda Loes Frateschi fundaram o Conservatório Musical de Uberaba, atualmente, denominado Conservatório Musical " Renato Frateschi ". Por ambas instituições, formaram-se várias pianistas, que abrilhantaram, na ocasião, o panorama musical de Uberaba.
Maria Emília Osório, que, logo depois de se tornar a primeira formanda, pelo Conservatório Musical de Uberaba, mudou-se para Brasília, onde aprimorou seus estudos, com a pianista e compositora Neusa França, e com o professor Ney Salgado, além de fazer várias apresentações, na Capital da República. Maria Emília é neta do maestro Carlos Maria do Nascimento, um dos regentes da Banda União Uberabense, e filha de Sylvia Nascimento, a qual, como atriz, integrou, na década de trinta, o Grupo Arthur Azevedo, responsável por diversas montagens de textos teatrais, de autores brasileiros, no antigo Cine Royal, sob a direção de Renato Frateschi.
Valmira Cardoso, de apurada técnica pianística, dedicada as interpretações dos românticos, Chopin e Debussy, se apresentou, em diversos concertos, no Jockey Club de Uberaba, mas, frágil de saúde, cedo, desapareceu. O mesmo aconteceu, com Isa Lais Bernardes Ferreira, neta, como eu, do maestro Eloy Bernardes Ferreira, também regente da Banda União Uberabense, a qual se transferiu, logo, para Belo Horizonte, fez uma única apresentação, no Teatro Francisco Nunes, como solista, acompanhada pela Banda Musical, do Corpo de Bombeiros, da cidade, assumiu o magistério, no Conservatório Musical de BH, e morreu, prematuramente, três anos, depois de formada.
Outro nome de destaque, entre as pianistas de época, é o de Lélia Bruno Sabino, que, além de várias apresentações, na cidade, mais tarde, emprestou o seu talento, como escritora de crônicas, e diretora do Arquivo Público Municipal, criado, em 1985.
Atualmente, o grande nome da música, em Uberaba, é o da maestrina Olga Maria Frange de Oliveira, graduada, em piano, pelo Instituto Musical Uberabense e, como instrumentista, pela Faculdade de Artes, da Universidade Federal de Uberlândia. E pós-graduada, em Cultura e Arte Barroca, pela Universidade de Ouro Preto, além de bacharel, em Direito, pela Universidade de Uberaba - Uniube. Ex-Diretora Geral da Fundação Cultural de Uberaba, onde foi também conselheira da área de música e de dança, e diretora cultural. É professora de piano, percepção musical e canto coral. Escritora de crônicas para o " Jornal da Manha" e conferencista - no Brasil e, no exterior: na França ( Universidade da Sorbonne ), e, em Portugal, a convite do governo, tendo, no país, trabalho, publicado pela Fundação Coluste Gulbekian, sobre " A Modinha e o Lundu, no Período Colonial".
É também a maestrina Olga Maria Frange de Oliveira regente do Coral Artístico Uberabense, que inaugurou, recentemente, o Coro da Igreja de São Domingos. Pesquisadora emérita, ela prepara, atualmente, para ser lançado, em marco, do próximo ano, durante as comemorações do bicentenário da cidade, o livro " Os Pioneiros da História da Música, em Uberaba", abrangendo o início do século XIX ( 1815 ), com a criação da Banda dos Bernardes, primeira expressão artística da cidade, fundada por Silvério Bernardes Ferreira, meu antepassado, no Arraial da Capelinha e, depois, transferida para Uberaba. A pesquisa da maestrina se estende até a década de 1980 ( século XX ), com a morte dos últimos pioneiros.
Entre cantoras, destaca-se o nome de Honorina Barra, que, também, viveu pouco tempo, na cidade, pois, com apenas seis anos, mudou-se, com a família para Goiânia, onde, logo, começou a se destacar, como cantora lírica ( soprano ), sendo sempre convidada, pelo governador, Pedro Ludovico, a se apresentar, nas solenidades oficiais do Estado de Goiás. Mudando-se, depois, para o Rio de Janeiro, aprimorou seus estudos de canto, na Escola Nacional de Música, fazendo, depois, diversas apresentações, no Teatro Municipal e, na Radio do Ministério da Educação. Dos quinze concursos, dos quais participou, ganhou quase todos eles. Regressou, mais tarde, a Goiânia, onde assumiu a vaga de Professora de Canto, da Universidade Federal de Góias.
Entre outras cantoras líricas, de expressão, da cidade, podem ser citadas: Sylvia Riccioppo (soprano), Cordélia Borges, Arailda Gomes Alves ( soprano ligeiro ) - também escritora, cronista de muito fôlego, com vários livros publicados, entre eles, " A Voz Que Pensava Demais", " Poetas Del Mundo em Poesias " e "A Saga dos Frateschi" -, Dora Bellochio, Adelaide Novaes, que se apresentou, em diversos recitais, em Belo Horizonte, e Eleusa Fonseca ( sopranos ligeiros ). Essa ultima foi também, atuante agente cultural, criadora do Núcleo Artístico e Cultural da Juventude - NACJ -, entidade, que dominou as atividades artístico-culturais, na cidade, na década de cinquenta, do século passado.
Eleusa foi igualmente a criadora do " Presépio ao Vivo", encenando, com crianças, durante dois, ou três anos, consecutivos, as cenas do nascimento de Cristo, nas escadarias da Catedral, uma tradição, que deveria ter sido mantida. Como atriz, ela integrou o Departamento de Teatro do NACJ, participando das montagens de " Casa de Bonecas ", de Henrik Ibsen, sob minha direção, e de " Assim é, se lhe Parece", de Luigi Pirandello, sob a direção de Petrônio Borges. Outras atrizes, que, como Eleusa, se projetaram, na referida instituição, foram: Lígia Varanda, Irene Dias, Terezinha Teixeira e Venina Nunes.
Por não ter conseguido o apoio da Câmara Municipal - impulsionada, em sentido contrário, por Alda Loes Frateschi, e pelo vereador Dioclécio Campos - para a construção, na Praça de Santa Rita, do Teatro de Alumínio, projetado por Germano Gultzgolf, cuja construção tinha recursos, aprovados pela Assembleia Legislativa do Estado, decepcionada, Eleusa abandonou, de vez, suas atividades culturais e, infelizmente, anos mais tarde, por exercer a benemerência, a quem nao a merecia, teve morte, de forma trágica, violenta.
Na linha de cantoras populares, deve ser citada ainda Martha Mendonça, nome artístico de Irenice Mendonca Ferreira, nascida, na cidade, em 1940, que alcançou certo tipo de popularidade, em São Paulo, por ser casada, com o cantor capixaba Altemar Dutra, morto prematuramente.
Vale aqui ressaltar a importância, que Dona Quita Próspero deu ao desenvolvimento da cultura e das artes, em Uberaba, durante o mandato, de seu marido, Dr Antônio Próspero, como prefeito da cidade ( 1951 - 1955 ). De fato, nenhuma Primeira-dama, nem antes, nem depois dela, colaborou tão intensivamente, com o movimento cultural, na cidade, especialmente com o teatro - a arte, que mais amava -, pois, foi ela a incentivadora da criação do Teatro do Estudante, sob a minha direção, vinculado ah União Estudantil Uberabense.
Sob os auspícios, de Dona Quita, foi realizada a primeira, e única, Semana do Teatro, em Uberaba, que, além da encenação de vários autores brasileiros, até mesmo um do Triângulo Mineiro, contou, com a presença do embaixador Paschoal Carlos Magno , recebido por ela, no aeroporto da cidade, criador do Teatro do Estudante, do Rio de Janeiro, revelador de inúmeros talentos do teatro brasileiro, como Sérgio Cardoso, Cacilda Becker, Ítalo Rossi, Teresa Raquel, Sérgio Brito e outros. A Primeira-dama se entusiasmava tanto, com o desempenho dos atores do Teatro do Estudante, que nos acompanhou, por duas vezes, para apresentacoes, sempre muito concorridas, na cidade de Sacramento, localizada também, no Triângulo Mineiro.
No setor político-administrativo, da cidade, destaca-se também o nome de Helena de Brito, primeira mulher eleita, para a Câmara Municipal, graças ah popularidade, que ganhou, ao criar cursos de catequese, ministrados, principalmente, por frades Dominicanos, como o Juventude Estudantil Católica - JEC -, o Juventude Universitário Católica - JUC, o Juventude Operária Católica, além de outros mais, que tinham, por sede, um edifício, localizado, na Praça do Uberaba Tênis Clube, atrás da Faculdade de Medicina.
A primeira modista da cidade - especializada, porém, em trajes, e adornos ( bouquets e grinaldas), para noivas, pois, era também florista, com curso de formação, em São Paulo -, foi Dona Nair Ribeiro, criadora da loja " A Noiva ", localizada, na Rua Arthur Machado, no trecho, que fica, entre a Avenida Leopoldino de Oliveira, e a Praça Ruy Barbosa, a qual atraia clientes de todo o Triângulo Mineiro. Dona Nair, inspiradora de Marquito, estilista uberabense, de fama internacional, especializou-se também, na arte da ornamentação de igrejas, para as cerimônias religiosas de casamento. E, posteriormente, dedicou-se ainda a criar fantasias carnavalescas, para concorrer aos prêmios dos famosos bailes do Jockey Clube de Uberaba.
Numa época - década de cinquenta -, em que, antes das sessões cinematográficas, de oito da noite, aos domingos, no Cine Metrópole, acontecia um verdadeiro desfile de elegância das mulheres uberabenses, ao som da "Marcha Turca", de Mozart, outra modista famosa, especializada, em vestimenta sob medida, bem como trajes de noite, era Dona Santinha Roberto, que tinha seu ateliê de costura, montado, em sua ampla residência, cercada de um vasto, e arborizado quintal, situado, no bairro Estados Unidos. Dona Santinha também aderiu ah feitura de fantasias para concorrer aos prêmios dos bailes carnavalescos, do Jockey Clube de Uberaba.
Como os bordados estavam, em alta, tanto, nas fantasias carnavalescas, como, nos vestidos de noivas, e também, nos trajes de noite, o ateliê, liderado por Adélia Novaes Andrade, e suas duas filhas, Arailda e Romilda Novaes Andrade, localizado, na Avenida Presidente Vargas, era o mais solicitado, o qual recebia, igualmente, alunas, desejosas de se iniciarem, na profissão de bordadeira, uma das mais rendosas, de então.
No setor da pecuária, amplamente liderado por homens, como já disse, o nome de Dona Ibrantina de Oliveira Penna, viúva do criador José Jorge Penna, precisa ser lembrado, entre os introdutores do gado zebu, nos rebanhos do Triângulo Mineiro. Em 1920, a fazenda Cedro, origem do rebanho JJ, de propriedade do casal, importou, da Índia, dois bois, de raça apuradíssima, Africano e Lobishomem. Esse segundo conquistou, logo, o concurso da I Exposicao de Gado Zebu de Uberaba.
Após a morte do marido, Dona Ibrantina assumiu o comando da fazenda, tida então como matriz da raça Gir. Foi, nessa fase, que nasceu Turbante, filho de Lobishomem, que venceu o concurso Rei Zebu, promovido pela Exposição de Uberaba, considerado como o touro mais forte, produzido, no Triângulo Mineiro. Dona Ibrantina foi também magnânima assistente social, pois, enquanto a situação lhe foi favorável, promovia farta distribuição de cestas de alimentos para a população mais pobre de Uberaba, nas festas de finais de ano.
Nomes, que merecem ser reverenciados, no setor do magistério, são os de Irma Domitila Ribeiro Borges, o de Eunice Puhler, o de Leila Venceslau Rodrigues da Cunha, todas também escritoras, e o de Lourdes Fernandes Pontes, que se dedicaram, por longo tempo, ah profissão. A primeira, durante 36 anos; a segunda, criadora e diretora do Grupo Escolar Uberaba, e, durante 30 anos, do Colégio Dom Eduardo; a terceira, durante 27 anos, lecionou Português e Literatura, na Escola Agrotécnica; e, a quarta, que permaneceu 25 anos, em sala de aula. Todas elas demonstraram uma exemplar lição de amor ah profissão, que abraçaram, a de ensinar, o que não é muito comum, nos dias, que correm.
Igual merecimento se deve reconhecer, em relação à Dona Cecília Palmerio, que não só ajudou o marido, Mário Palmério, a criar, mas também a administrar, o Colégio do Triângulo Mineiro, pedra angular das Faculdades, que constituem, hoje a Universidade de Uberaba - Uniube, onde estudei. Dona Cecília da nome, hoje, a um centro cultural, vinculado à Uniube. Vale aqui lembrar, a propósito, que foi da Faculdade de Medicina, criada por Mario Palmério - mais tarde, federalizada por Juscelino Kubitschek -, que se graduou a primeira médica uberabense, Dra, Nilza Martinelli.
Mas outros nomes, da mesma têmpera, devem ser mencionados, como as irmãs, Corina e Olga de Oliveira. A primeira, foi, por longos anos, diretora do Grupo Escolar Brasil, e, a segunda, lecionou, também, por longo período, na Escola Normal de Uberaba, a língua, e a literatura francesas, pelas quais era apaixonada. Entre suas preferências literárias, figuravam Alfred de Musset e Chateaubriand.
Ainda, na Escola Normal, merecem citação: Laura Pinheiro, da cadeira de Ciências Naturais, Esperanca Ribeiro Borges - artista plástica, como Estela Chaves, que produzia, da areia, as tintas, por ela usadas, em suas pinturas, e, também como, Sonia Carolina Batista de Andrade, poeta, escritora, artista plástica e psicanalista, hoje, radicada, em Brasília, ilustradora dos próprios livros, como "Falando de Amor".
Outros nomes, que se dedicaram ao magistério, foram: Edith Novaes França e, sua sobrinha Adilia Novaes França; Hilda Martins; iaiá Pontes; Terezinha Macciotti, Marília de Oliveira Magalhães - coordenadora de pessoal, da área de ensino, abrangendo mais de 20 municípios, do Triângulo Mineiro -, Maria de Lourdes Melo Praes, igualmente escritora ( " Educaderno e Caderno de Cultura ", "Administração Colegiada da Escola Pública ", " Escola: Currículo e Ensino ", " Escola Cidadã ", e outros ), e Geni Chaves, que escreveu uma gramática funcional e, mais tarde, mudando-se, para Brasília, criou um curso de alfabetização.
Tanto, na área do magistério universitário, como, na da consultoria jurídica, ou, no setor da benemerência social, um nome, que se evidencia, na atualidade, é o da Dra. Mirto Fraga, detentora de um curriculum notável, que a credencia, sem dúvida, entre as mulheres importantes para a cultura de Uberaba. Ela estudou, no Colégio Cristo Rei, na Escola Normal Estadual, e na Faculdade de Direito, da Uniube. Exerceu o magistério universitário - Direito Constitucional, Direito Público e Constitucional, Teoria Geral do Estado, Introdução ah Ciência Política e Prática de Processo Civil -, na Faculdade, em que se formou ( 1966 ). Ainda, na cidade, lecionou - Instituições de Direito Público e Instituições de Direito Privado -, na Faculdade de Ciências Econômicas do Triângulo Mineiro. Na Universidade de Brasília - UnB -, em substituição ao Dr, José Francisco Rezek, designado para integrar a Corte de Haia, lecionou Direito Internacional Público.
A Dra Mirto Fraga exerceu a advocacia, em Minas Gerais, de 1962 a 1976. Foi consultora do Instituto de Pesquisas, Estudos e Assessoria, do Congresso Nacional, e integrou o Ministério Público, de 1977 a 1985. Foi Assessora, na Câmara do Deputados e, no Senado Federal, e Consultora da Advocacia-Geral da República. Integrou diversos Grupos de Trabalho e participou de várias missões, no exterior, como integrante, por exemplo, da Delegação Brasileira, nas negociações do Tratado de Extradição, com a França. Tem inúmeros trabalhos publicados, em jornais e revistas especializadas, como " A Dupla nacionalidade, no Direito Brasileiro", e muitos outros, principalmente, no campo do Direito Constituicional. Além disso, recebeu o troféu " Cecília Meireles ", no evento " Mulheres Notáveis", realizado, em Belo Horizonte, em 2004, o prêmio de " Maior Doação", na Corrida e Caminhada Contra o Câncer de Mama ( 2005 e 2006 ), e o prêmio " Solidariedade", pela efetiva colaboração, dada, para a construção do Hospital da Criança de Brasília "José de Alencar".
Aqui - a propósito da colaboração, dada pela Dra, Mirto Fraga, a várias iniciativas, em Brasília, de assistência social -, é preciso lembrar também o valoroso trabalho, em Uberaba, de Aparecida Conceição Ferreira ( Dona Aparecida ), que, sozinha, contando apenas, com doações, colhidas, por ela própria, nas ruas da cidade e, posteriormente, nas de São Paulo, construiu o Hospital do Pênfigo ( Fogo Selvagem ), em 1959. Nascida, em Igarapava, Dona Aparecida, quando chegou ah cidade, com marido e filhos, foi trabalhar, como enfermeira, no setor de isolamento, da Santa Casa de Uberaba, que, em certo momento, teve de suspender, por ser difícil e dispendioso, o tratamento dos portadores da doença. Inconformada, com o que via, Dona Aparecida levou todos os pacientes, para a sua casa, iniciando, assim, a sua luta, pela criação do Hospital. Foi, mais, ou menos, por essa época, que, de forma providencial, Chico Xavier apareceu, na cidade e, impressionado com a abnegação de Dona Aparecida aos doentes, passou a ajudá-la, em sua fervorosa batalha.
Muito antes desse grande feito de Dona Aparecida, entretanto, ou mais precisamente, na década de trinta, a senhora Maria Modesto Cravo ( Dona Modesta ), nascida, na cidade, em 1899 , que teve formação católica, inspirada nas palavras do médium espírita Eurípedes Barsanulfo, de Sacramento, após o surgimento nela dos primeiros fenômenos mediúnicos, criou, em 1934, o Sanatório Espírita de Uberaba, cujo projeto recebeu mediunicamente. Em 1938, o Sanatório foi inaugurado, pelo presidente do Centro Espírita de Uberaba, o sanitarista Dr. Henrique von Krugger, tendo como diretor clínico, o Dr. Inácio Ferreira. -, também de orientação espírita e, como psiquiatra, seguidor da linha de pensamento de Freud. Atualmente, o Sanatórios Espírita passa por grandes dificuldades para continuar, prestando assistência aos portadores de doenças mentais.
A História, infelizmente, não guardou os nomes das muitas enfermeiras, que, no século XIX, enfrentando inúmeras dificuldades, cuidaram dos soldados, doentes, feridos, participantes das forças militares, para a campanha de Mato Grosso, ao eclodir a Guerra do Paraguai, os quais chegaram ah cidade, em 18 de julho, de 1865, depois de uma viagem de quatro meses, vencendo distância de 93 léguas, desde Santos, no Estado de São Paulo. Essas enfermeiras merecem também, penso eu, terem, aqui, suas memórias reverenciadas.
É no setor do jornalismo e das letras, contudo, que as mulheres importantes para a cultura de Uberaba são mais numerosas, de acordo, com a " Coletânea Biográfica de Escritores Uberabenses", organizada por Sonia Maria Rezende Paolinelli, publicada pela Sociedade Amigos da Biblioteca Pública Municipal " Bernardo Guimarães". Destaca-se, nesse sentido, o nome de Ina de Sousa, que, com um irmão, Nicanor de Sousa Junior, criou a famosa revista " Graça e Beleza", impulsionadora da vida social da cidade, nas décadas de quarenta e cinquenta. Suas crônicas foram reunidas no livro " Fragmentos ", o único, que publicou, em vida.
Iná de Sousa, que foi também diretora da Biblioteca Municipal " Bernardo Guimarães", empenhou-se, ao lado de Eleusa Fonseca, na frustrada campanha para construção de Teatro de Alumínio, sucedendo-a, depois, na presidência do Núcleo Artístico e Cultural da Juventude - NACJ. Idealista, Ina - em companhia da vice-presidente da entidade, Mirthes Bruno, também grande artesã - nao se furtou, em me ajudar, na tarefa de adaptar um barracão da Prefeitura, localizado, na Rua 13 de Maio, cedido ao NACJ, sob a forma de comodato, pela primeira administração de Arthur de Mello Teixeira ( 1955-1959 ), num Teatro de Bolso, de 120 lugares, inaugurado, em maio, de 1958, com a montagem da peça " Cândida", de George Bernard Shaw, sob minha direção. A criação do Teatro de Bolso foi o tema escolhido por Luíza Ritz Bertocco, natural de São Paulo, para o seu excelente trabalho de graduação, em Letras, pela Universidade do Triângulo Mineiro, o qual, lamentavelmente, necessitando de patrocínio, permanece inédito!...
Ainda, no setor do jornalismo, as figuras femininas, que despontam, com base em informações colhidas, no livro " Periódicos Culturais de Uberaba ", de Guido Bilharinho, são: Maria Aparecida Manzan, criadora, no âmbito do Arquivo Público de Uberaba, da revista " Documento e História" ( 1989 ), do boletim informativo " Acervo Cultural" ( 1990 ), da revista " Memória Viva " ( 1990 ) e " Cadernos de Folclore" ( 1993 ), que surgiu, com uma edição especial, dedicada ahs Folias de Reis, a qual revelou outra pesquisadora, de mérito, Sonia Maria Fontoura; professora e escritora Vânia Maria Resende, responsável pela série, de sete livros, sob o título " Antologia Literária Infanto-juvenil Vinicius de Moraes ", com textos de crianças e jovens, do Estado de Minas Gerais, e pela editoria do jornal " Nova Dimensão", da Secretaria Municipal de Educação; Lenice Sivieri Varanda, editora da revista " Reflexos"; Marcia Maldonado, editora da revista " Voila ";
Devem ser citadas ainda: Ellen Gomes, editora da revista " Revista da Zito"; Marisa Borges de Brito, editora de " Ponto de Encontro"; Eva Reis, poeta, autora do livro " A Fiandeira", e editora do jornal " A Trova Na Trova"; Adriana Helena Soares, editora de " Cidade Atual " ; Mariana do Espírito Santo, editora do jornal literário " MUH!"; e Lídia Prata Ciabotti, presidente do Grupo JM, que edita há mais de 45 anos, o " Jornal da Manhã", cujo acervo, foi adquirido, recentemente, pelo Arquivo Público Municipal, o qual já havia adquirido o do " Lavoura e Comércio " ( 1899-2003 ). Ambas aquisições se deram na gestão de Marta Zednik de Casanova, também autora do livro " Biblioteca Pública Municipal " Bernardo Guimarães" - Evolução Histórica: 1909 - 2009 - Um Século de Cultura ", lançado, nas comemorações do centenário da Biblioteca.
Na " Coletânea Biográfica de Escritores Uberabenses ", organização de Sonia Maria Rezende Paolinelli, figuram ainda as seguintes escritoras, citadas aqui, com algumas de suas obras: Ana Maria Leocádio ( " Eu e a Paz", poesia ); as irmãs, gêmeas, Ani e Iná ( " Gêmeos, Semelhança Oculta", " Viagem Cósmica" ) ; Brunhrild Maria Fátima de Souza ( " Ovo de Gente" e " Engenharia, Arte de Construir Vidas " ); Consuelo Pereira Rezende do Nascimento ( " Mundo Esse ", " Em Tempo", " Narco-Íris ", poesias ); Déa Rodrigues da Cunha Campos Rocha ( " Os Comes e Bebes, nos Velórios das Gerais, e Outras Histórias " ); Delia Maria Prata Ferreira ( " Do Silva ao Prata" ); Dirce Miziara ( " São Paulo aos Coríntios, na Passagem do Século" ); Irmã Domitila Ribeiro Borges ( " Fonte Selada" , " Flor Intocada", " O Santo Que Me Encantou " ); Eliane Mendonça Márquez de Resende ( " Uberaba, Uma Trajetória Sócio-Econômica 1811-1940", " Arquivos Cartoriais " , " Guia Curricular de História" e " ABCZ: História e Histórias";. Eliete Rodrigues Pereira ( " O Poder do Sexo" ); Elza Hermínia Sabino Mendes ( " Retalhos de Vidas" , " Porto Alegre: Essa Doce Gaúcha" , " Tributo de uma Vênus " ).
São citadas ainda, na " Coletânea ": Eunice Puhler ( " Menino do Mar ", " Menino de Cristal ", " Menino do Cerrado" , " Menina Rosa ", " Menina dos Olhos de Deus ", " Coração do Cerrado ", " As Mil e Uma Ruas Por Onde Andou... Minha Infância ", e outros ) ; Eva Reis ( " Fiandeira " , " Cantares: Trovas de Outono "; Gina Mara Silva ( " Sementes de Amor " ); Leila Venceslau Rodrigues da Cunha ( " Improvisos " ) ; Lourdes Marques de Almeida ( " Cantando Vivências " , " Quando eu Crescer " ); Lusa Almeida Soares de Andrade ( " Barracão de Barro: Cerâmicas" ) ; Magda Vilas-Boas ( " Relaxamento Com Crianças", " Terceira Idade: Uma Experiência de Amor " , " Crianciranda: Terapia Corporal com Crianças", " Atraindo Realizações " e outros ) ; Márcia Queiroz Silva Baccelli ( " A Porta de Céu ", " Além do Arco-Iris ", " O Violinista ", " A Estrelinha Beatriz" , " Chico Xavier Para Sempre", " O Mineiro do Século " , e outros ); Maria Abadia Enes Lombardi ( " Mel, a Abelha " ); Maria Ângela Cusinato ( "Sentimentos Escritos nas Estrelas", " Recados de uma Luz" ) ;
Na referida " Coletânea ", destacam-se também: Irmã Maria Antonia de Alencar ( " Opúsculo Uma Alma Celeste", As Flores do Meu Jardim ", " No Claustro, Com Meus Amigos ", " Meu Canto Ao Por do Sol " , " Últimas Flores " , e outros, inclusive CDs de Poesia; Maria Antonieta Borges Lopes ( " ABCZ - 50 Anos de História e Historias ", " ABCZ : Historia e Historias ", " Dominicanas: Cem Anos de Missão no Brasil ", e outros ) ; Maria Regina Basílio Teodoro dos Santos ( "Uma Palavra para Você que está..." ); Mariane Bellocchio Fontoura Borges ( " Família: Amora Doce & Limão Galego" ) ; Selma Amuí ( " Professor: Profissão ou Sina?" ) ; Suely Braz Costa ( " Cada Pessoa é uma Empresa ", " O Ministério da Família ", " Educador", " Minha Viagem ah Índia ", " Marketing Pessoal: Teoria e Prática ", e outros ); Teresa Maria Machado Borges ( " Criança em Idade Pré-escolar Escolar, " Ensinando a Ler, sem Silabar: Alternativas Metodológicas " , " Alfabetização Matemática - Do Diagnóstico ah Intervenção" ); Teresinha Caubi de Oliveira ( " Sinfonia de Quintal ", " Boa Noite, Dona Lua ", " Fuga do Pantanal", " Monólogo da Natureza ", " Encontro das Aves", " Com a Palavra, os Mamíferos ", e outros ), e Terezinha Hueb de Menezes ( " Tempesfera ", " Temas do Cotidiano ", " Quantas Saudades do Colégio Vou Levar ", e " Murilo Pacheco de Menezes, o Homem, e seu Legado)
(Foto do acervo da Casa do Folclore).
A doçaria, que hoje floresce, na cidade, começou a se desenvolver, plenamente, ao final da década de 40, do século passado, quando duas doceiras, de escol, entre outras, exercendo suas atividades, no âmbito doméstico, simplesmente, se destacaram, por suas criações, tidas, então, como originais, mas muito apreciadas, pela sociedade uberabense.
A primeira delas, foi Dona Diva Lemos de Abreu - mãe de uma Miss Uberaba, Maria Josina -, que lançou, atendendo apenas a encomendas, em embalagens de metal ( alumínio ou latão ) , um doce de leite, inigualável, com textura bastante semelhante ah do mel, meio puxento, que se mantinha, no céu da boca, por algum tempo, e de um sabor extraordinário, lembrando, um pouco, ao de um refinado chocolate, como o, que é produzido, na França, na Bélgica, e, na Suíça. Lamentavelmente, o doce de leite, hoje, produzido, nos dias, que correm, em larga escala, na cidade, nada, ou quase nada, tem a ver com o de Dona Diva Lemos de Abreu. Era verdadeiramente sublime!...
A segunda, foi Dona Acelina Novaes Magalhães, que, entre outros tipos de doces, finíssimos, por ela produzidos, também por encomendas, para festas, recuperou a receita de um manjar, a Siricaia, de origem indiana, trazida ao Brasil, pelos portugueses, no período colonial ( 1638 ). A Siricaia é uma espécie de creme ( ou manjar ), feito ah base de leite, açúcar, ovos e raspas de casca de limão. Na Índia, acrescenta-se também fruta-de-conde.
As versões de receitas da Siricaia, que derivam, da original, têm sempre um ponto em comum: o leite é fervido, antes de serem acrescentados os demais ingredientes. A receita vai ao forno, em banho-maria. No Brasil, segundo Câmara Cascudo, existem duas versões, diferentes - a da Bahia, e a de Pelotas, no Rio Grande do Sul, que, segundo ele, é a mais autêntica. Mas, de uma forma geral, não se perpetuou, entre nós, o gosto pela Siricaia, como se perpetua, até hoje, em Portugal.
Na época, a Siricaia, de Dona Acelina Magalhães, era muito servida, e apreciada, por exemplo, nas tertúlias literárias, que estavam em alta, com apresentações, em residências familiares, de cantoras e de declamadoras. Foi nessas tertúlias, por sinal, que apareceu Altiva Fonseca, declamadora dos poemas de Olavo Bilac, e de outros poetas, em voga, na época, que, por ser possuidora de timbre de voz bastante semelhante ao da rádio-atriz, Ísis de Oliveira, da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro - de muito sucesso, então, como intérprete da novela " O Direito de Nascer ", do cubano Felix Cañet -, logo, foi contratada, pela PRE-5, para ser a primeira locutora uberabense.
Altiva era irmã do polemico advogado Pelópidas Fonseca, e tia de Eleusa Fonseca, já mencionada acima. Outras locutoras, que se seguiram, para fazerem história, na emissora, da família Jardim, foram: Iara Lins, que prosseguiu, na carreira, em São Paulo, primeiro, atuando, como locutora, na Radio Tupi, depois, mais tarde, como atriz, nas novelas, transmitidas pela TV- Tupi; Marina Márquez e Lídia Varanda, que, como também foi dito acima, integrou o Departamento de Teatro, do Núcleo Artístico e Cultural da Juventude, inesquecível intérprete da senhora Frola, personagem central da peça" Assim é, se lhe Parece", de Luigi Pirandello.
O leitor deste simples relato, compreenderá, finalmente, como assim espero, que, nele, procurei demonstrar, que os conceitos de cultura, principalmente, em nosso país, são mutáveis, pois se tornam, através dos tempos, ultrapassados, antiquados, ou obsoletos, como, por exemplo, os casos lembrados aqui dos desfiles de elegância feminina, antes das sessões de cinema, das tertúlias literárias, dos bailes carnavalescos, do gosto pela Siricaia, etc. Tudo muda, com o tempo. Como voraz absorvedor de culturas de outros povos, o Brasil, facilmente, despreza as suas culturas próprias, tradicionais.
As pessoas, porém, que vivenciam ( ou as que vivenciaram ) a sua cultura própria, sob seus variáveis aspetos, permanecem. Eternizam-se. É esse o caso das mulheres importantes para a cultura de Uberaba, aqui lembradas, que, cada uma, ah sua maneira, ou especialidade, oferece ( ou ofereceu ) sua valorosa contribuição ao desenvolvimento de nossa cidade. Deve haver muitas outras, que a mim, involuntariamente, escaparam de serem citadas, perante as quais, agora, me penitencio. A todas, porém, fica registrada a minha reverencia, o meu reconhecimento, neste ligeiro esboço de documento histórico que, no futuro, merecerá, sem dúvida, não só ser revisto, como desenvolvido, e ampliado, até eternamente!...
(Reynaldo Dommingos Ferreira)
Hino de Uberaba - MG.
Interpretação por Cláudia Falconi, possui licenciatura plena em Canto pela Universidade Federal de Uberlândia e Pós Graduação em Educação Musical pelas Faculdades Integradas de Jacarepaguá do Rio de Janeiro. Gravação realizada no dia 05 de Setembro de 2012. Centro de Cultura José Maria Barra. Letra de Ari de Oliveira Música de Gabriel Toti Da jornada de fé, corajosa De bandeiras por todo o Brasil, Tu surgiste, Uberaba formosa, Na campina, sob um céu de anil. És Uberaba, o formoso E mais rico florão, Desde nosso sertão Valoroso. Oh! Grande terra gentil, Um torrão sem igual, No Planalto Central Do Brasil Não transiges com teu inimigo, Mas acolhes, gentil, em teu colo, Os que vêm ao trabalho, contigo, Procurando elevar o teu solo. És Uberaba, o formoso E mais rico florão, Desde nosso sertão valoroso. Oh! Grande terra gentil, Um torrão sem igual, No Planalto Central Do Brasil tuas matas, teus campos, teu montes, De riquezas sem par, peregrinas, Construíram, entre teus horizontes, A mais bela das jóias mais finas! És, Uberaba, o formoso E mais rico florão, Desde nosso sertão valoroso. Oh! Grande terra gentil, Um torrão sem igual, No Planalto Central do Brasil.
Extraído do Grupo Difusão - Gilberto de Andrade Rezende - (Casa do Folclore.)