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domingo, 3 de janeiro de 2021

José Mendonça: História de Uberaba

O advogado José Mendonça nasceu em Uberaba em 1904, aqui falecendo em 1968



O AUTOR 

José Mendonça nasceu em Uberaba em 1904, aqui falecendo em 1968. Estudou no então Grupo Escolar Brasil e no Colégio Marista Diocesano, formando-se em Direito no Rio de Janeiro, em 1926. Exerceu a profissão até 1930 na cidade do Prata, transferindo-se em seguida para Uberaba. Paralelamente ao exercício profissional, lecionou na Escola Normal e nas faculdades de Filosofia e de Direito.
Participou da fundação, integrou as diretorias e também presidiu a 14ª Subseção da OAB, o Rotary Clube de Uberaba e a Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

José Mendonça discursando.
 Foto Arquivo Público de Uberaba



História de Uberaba

OBRAS



Além das obras inéditas que deixou − Soluções Econômicas e Sociais, Ação Declaratória e História das Américas − escreveu e publicou os livros Ação Nacional (1937), que suscitou o entusiasmo de Monteiro Lobato e de vários outros intelectuais brasileiros, 

A Prova Civil (1940), considerado um clássico no assunto, e, ainda, os ensaios históricos O Centenário do Município de Uberaba (1936), Santa Casa de Misericórdia de Uberaba (1949) e O Visconde de Taunay e o Triângulo Mineiro em 1865 (1964).




PESSOAS E INSTITUIÇÕES FOCALIZADAS

O livro abrange a maioria dos acontecimentos e instituições mais importantes da cidade.
Além disso, são ressaltadas em capítulos especiais as atuações do major Eustáquio (fundador da cidade), vigário Silva (seu primeiro vigário e primeiro historiador), frei Eugênio (missionário e gênio empreendedor, construtor do primeiro cemitério e do hospital da Santa Casa), des Genettes (fundador da imprensa), dom Eduardo (primeiro bispo), dr. José Ferreira (um dos maiores médicos do país e o visconde de Mauá do Brasil Central), Fidélis Reis (introdutor do ensino técnico profissional no país) e Quintiliano Jardim (notável jornalista), focalizando também, ao final do volume, mais de trinta outras figuras históricas na seção “Pequenas Notas Biográficas”, como as denominou.


Fidélis Reis, Quintiliano Jardim, José Mendonça e Valdemar Vieira.  
Foto Arquivo Público de Uberaba


Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017.




sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Diálogos entre o deputado uberabense Fidélis Reis e o físico Albert Einstein através de cartas

Em 14 de março de 1930, o jornal uberabense Lavoura e Comércio anunciava o aniversário do célebre físico alemão Albert Einstein. Naquela ocasião, o jornal reproduziu a íntegra de uma carta do então deputado Federal Fidélis Reis enviada a Einstein anos antes. Em seguida, traz a carta de resposta do físico alemão ao deputado de Uberaba.

O aniversário de Albert Einstein. 

O deputado Fidélis Reis foi autor da “Lei Fidélis Reis” de 1927, que dava diretrizes ao Ensino Profissional no Brasil. Por meio desta lei foi edificado em Uberaba o Liceu de Artes e Ofícios, atual sede do Centro de Cultura José Maria Barra e entorno da Escola Profissional Fidélis Reis do Senai e a Fiemg.

História, ética e nacionalidade: a trajetória política do deputado federal Fidélis Reis na Primeira República.

É farta a produção historiográfica sobre a educação profissional, bem como estudos sobre pressupostos de nacionalidade que rodas de intelectuais e projetos políticos debatiam quanto à entrada de estrangeiros em solos brasileiros. Tais matizes abordam de forma secundária a trajetória política do deputado federal por Minas Gerais Fidélis Reis. Este artigo nasceu da percepção da importância que estes debates em evidência no cenário político e intelectual brasileiro nos finais da Primeira República, não foram profundamente estudados e carece de estudos futuros centrados na biografia do deputado Fidélis Reis, agente político preponderante no cerne destes assuntos em tal período.

Fidélis Reis - Foto: Superintendência Arquivo Publico de Uberaba.

Fidélis Reis nasceu em Uberaba/MG em 4 de janeiro de 1880 e faleceu e 29 de março de 1962 na mesma cidade aos 82 anos de idade. Formou-se em Agronomia, tendo se graduado na primeira e única turma do Instituto Zootécnico de Uberaba, em 1901. Prestou serviços à Diretoria-Geral de Povoamento, ligada ao Governo Federal em 1907, investigando secretamente na Argentina o serviço de colonização e imigração do governo argentino. A partir de então, sua experiência na Argentina por seis meses o despertou profundamente para o assunto da imigração que mais tarde como deputado federal iria defender. (SOARES, s/d. p. 103). Em seguida foi inspetor do Serviço de Povoamento Federal no Estado do Espírito Santo de 1907 a 1909. Em Belo Horizonte foi inspetor agrícola federal do 7° e 18° distritos nos anos de 1910 da Secretaria de Agricultura, Indústria, Terras, Viação e Obras Públicas. Na capital mineira foi eleito presidente da Sociedade Mineira de Agricultura e foi um dos fundadores da Escola de Engenharia de Belo Horizonte, nesta entidade lecionou ao longo de cinco anos e ganhou o título de professor honorário em 1961. (REIS, 1962 p. 123). 

Em 1912, Fidélis Reis foi a Europa para fazer novos estudos. Na França fez o curso de Ciências Físicas e Naturais na Sorbonne, seguindo posteriormente para Suíça e Itália. Na Itália esteve em Roma e prestou serviços ao governo brasileiro estudando planos para emigração de italianos ao Brasil. 

Dedicou-se à vida pública como Deputado Estadual e Federal entre os anos de 1919 e 1930. Foi um dos fundadores e primeiro presidente da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro – SRTM, atual ABCZ – Associação Brasileira de Criadores de Zebu, entidade que congregou particularmente os pecuaristas uberabenses que se dedicavam à criação de gado indiano, conhecido como Zebu. Foi presidente da Associação Comercial e Industrial de Uberaba – ACIU, quando foi construída a sede da entidade, a Casa do Comércio e da Indústria. Participou da fundação e presidiu o Banco do Triângulo Mineiro. Também participou como co-responsável pela construção do Palácio do Departamento Regional dos Correios e Telégrafos de Uberaba. Reis escreveu os seguintes livros: País a Organizar; Política Econômica; Política da Gleba; Ensino Técnico Profissional; Homens e Problemas do Brasil e Problemas Imigratórios (REIS, 1962. p. 123). Manteve um intenso trabalho como articulista de vários jornais da época em que viveu.

Sua vida na política pública começou em 1919, sendo eleito para o cargo de Deputado Estadual do Estado de Minas Gerais e, no ano de 1921, para Deputado Federal por Minas Gerais, cargo para o qual foi reeleito até 1930 quando se deflagrou o processo da Revolução de 1930 e o seu mandato foi então extinto. Um de seus principais projetos na vida parlamentar foi a criação da lei que levou seu nome – Lei Fidélis Reis – instituindo o ensino profissionalizante de caráter obrigatório no país. Como parlamentar, esteve envolvido em projetos xenófobos e racistas na Câmara dos Deputados (FONTOURA, 2001 p. 145), contrários à imigração de japoneses e de negros afro-americanos vindos dos Estados Unidos para o Brasil. 

Segundo o historiador Manoel Jesus Araújo Soares, em 1926 vem à tona uma proposta estudada por Fernando Azevedo que previa que uma reforma educacional se fazia necessária à época no intuito de “prevenir as desordens sociais, formando nas classes dirigentes elites esclarecidas, competentes e responsáveis” (SOARES, 1995. p. 98). O propósito de tal proposta seria disciplinar uma “educação adequada as massas populares” como uma solução alternativa a uma possível ameaça que as população poderia oferecer as oligarquias dos anos de 1920. (SOARES, 1995. p. 98). Na contrapartida desta proposta, o deputado Fidélis Reis encaminhou em 1922 a Câmara Federal o projeto de lei que previa a obrigatoriedade do ensino profissional no Brasil, projeto que foi intensamente discutido entre os parlamentares e a imprensa da região do Triângulo Mineiro e nacional até sua aprovação em 1926. Na elaboração da proposta de lei, o deputado mineiro correspondeu com Albert Einstein e Henry Ford, homenageando o segundo num dos pavilhões do Liceu de Artes e Ofícios de Uberaba.

Como dissemos acima, a Lei sancionada não cumprida. Sobre este aspecto o deputado fez o seguinte comentário em livros de memórias:

(...) desde a sansão da lei foi sincero o Presidente da República em declarar-me que não poderia executá-la de pronto, mesmo dentro do crédito votado, que era o primeiro a reconhecer insuficientemente para uma obra de proporções tamanhas. O Tesouro não suportaria nenhum ônus além das despesas estritamente orçamentárias. Além de que, a execução integral da lei reclamaria quantia não inferior a 400 mil contos, dizia o Presidente”. (REIS, Fidélis. 1962, p. 186).

Paralelamente, em 1926, a Lei da Consolidação das Escolas de Aprendizes Artífices, determinava o curso profissional de quatro anos para o primário e dois anos para o complementar. Foi prevista na consolidação a possibilidade de nove seções de ofícios:

- seções de trabalhos de madeira

- seções de trabalhos de metal

- seção de arte decorativa

- seção de artes gráficas

- seção de artes têxteis

- seção de trabalhos em couro

- seção de fábricas de calçados

- seção de fabrico de vestuário

- seção de atividades comerciais

Uma grandiosa obra fomentada pelo deputado Fidélis Reis, a construção dos edifícios que iriam compor o Liceu de Artes e Ofícios de Uberaba projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, contou com a contribuição financeira de inúmeros moradores do Triângulo Mineiro para sua construção, bem como recursos do governo federal e estadual, sendo inaugurado em 1928. O propósito de então deputado era que o Liceu de Artes e Ofícios de Uberaba servisse de modelo experimental ao seu projeto de lei aprovado recentemente. Todavia, o Liceu de Artes e Ofícios de Uberaba nunca chegou a funcionar de fato, pois inúmeros obstáculos insurgiram após sua inauguração, faltava apoio e recursos para o início dos trabalhos, e assim nos anos iniciais em suas dependências instalaram-se a Escola Normal de Uberaba, entendida como prioritária pelo governo federal, posteriormente nas mesmas edificações, funcionou o 4º Batalhão de Caçadores Mineiros. Apenas em 1942 que os sonhos do deputado Fidélis Reis esboçaram a possibilidade de se concretizarem, exatamente quando se criou o SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, entretanto, apenas no ano de 1948 o SENAI ocupou as dependências do idealizado Liceu de Artes e Ofícios de Uberaba com a presença na inauguração da Escola de Aprendizagem Fidélis Reis do então presidente da República, marechal Eurico Gaspar Dutra.

Um outro aspecto que Fidélis Reis discute quanto às propostas para ensino técnico-profissional no Brasil foi quanto à criação da Universidade do Trabalho. Este assunto foi pautado em intensas discussões em quase toda História da Educação no Brasil durante o século XX. De 1922 até o final do século dez iniciativas dessa natureza (PRONKO, 1997 p. 37). Contudo, o debate quanto ao assunto ganha bastante fôlego nos anos de 1940 a 1950. 

A primeira proposta sobre a Universidade do Trabalho nasce nos anos de 1920, em meio a um contexto conveniente em que pudesse contribuir para “obtenção da harmonia social, propiciar a racionalização do processo produtivo e formar mão-de-obra necessária ao crescimento industrial” (PRONKO, 1997 p. 39). Nesse sentido se questionavam o modelo de educação superior praticado no Brasil e o modelo voltado para a formação técnico-profissional. Contudo, poderíamos dizer que este assunto vai assumir a força necessária nos anos de 1930 a 1940, pois os objetos “educação e trabalho” recebem amplo apoio como política de Estado.

Dos projetos de criação de instituições desse modelo no Brasil, de 1930 a 1955, duas correntes tiveram bastante relevância no contexto, apesar da Universidade do Trabalho ter sido um projeto fracassado. A primeira proposta foi de autoria do belga Omer Buyse, de 1934, e a segunda de Humberto Grande, 20 anos depois. Omer Buyse tinha formação em engenharia na Bélgica e participou efetivamente na criação da Universidade do Trabalho de Charleroi (Bélgica) em 1902. Segundo Pronko, Fidélis Reis foi introdutor desta proposta no Brasil, e o próprio Fidélis Reis sugeriu ao governo contratar Buyse para realizar estudos sobre a possibilidade de instalação desta proposta no Brasil, com a finalidade de articular modalidades de ensino profissional. Mediante essa situação, surgiu a proposta de criação de três universidades do Trabalho no Brasil, que foi entregue ao governo brasileiro em 1934.

A proposta de Buyse em anteprojeto foi fundamentada num conjunto orgânico, cujo papel era centralizar nas instituições de ensino superior a relação com cursos das instituições de ensino técnico de nível médio. Foi previsto na estrutura acadêmica da criação destas instituições a formação em diversas áreas que abrangeria o campo do trabalho industrial e o apoio às atividades de extensão e à indústria. O projeto de Buyse foi enviado ao governo brasileiro em 1934; contudo não foi efetivado pelo então ministro da Educação Gustavo Capanema e assim, foi arquivado. Em outro momento, provavelmente nos anos de 1940, Fidélis Reis comentava sobre este assunto da seguinte maneira, 

O Brasil deve tomar a sério seu ensino, de modo geral, desde o primário-ginásio, de grau médio, universitário e técnico de grau superior. Seu futuro está intimamente ligado à eficiência desse ensino no qual já emprega enormes quantias. Impõe-se uma revisão na federalização das universidades estaduais para que sejam conservadas uma em cada Estado, dividindo à União os compromissos com eles, para que o ensino seja uma realidade e não simples ficção, distribuindo diplomas que nada significam. Há grandes necessidades de técnicos no Brasil, neles está profundamente interessada à indústria que, por iniciativa própria, nas organizações do SENAI, instrui com muito cuidado operários e mestres. Por que não conjugar esforços, de modo a levar mais alto essa colaboração como hoje se faz nos Estados Unidos e em outros países. (REIS Fidélis (In.) recortes Lavoura e Comércio Caderno do Liceu de Artes e Ofícios, sd. n/p.). 

É importante ponderar outras ações que o deputado Fidélis Reis tivera na Câmara dos Deputados, principalmente as que tolhiam a imigração de certos elementos considerados como “inferiores”. Entusiasta de ideais de branqueamento de raças em projetos xenófobos e racistas Fidélis Reis foi contrário à vinda de levas de imigrantes afro-americanos dos Estados Unidos para o Brasil, além de se colocar absolutamente contrário à imigração de japoneses para cá. Porém, era favorável a ações que estimulassem a imigração de europeus, a fim de justificar a tese de branqueamento dos brasileiros, baseado principalmente nas implicações racistas de Gobineau (FONTOURA, 2001 passim). 

Um bom exemplo da resistência que houve no Brasil contra a entrada de imigrantes entendidos como grupos de “indesejáveis” é o estudo feito por pelo historiador norte-americano Jeffrey Lesser (LESSER, 2001). No Brasil em 1891, foi proibida pelo governo a entrada de imigrantes nativos da África e da Ásia. Em 1907, foi criada uma legislação que revogou a entrada da imigração japonesa, havendo, entretanto forte resistência à entrada de árabes da África do Norte e de chineses. 

No ano de 1921, houve um vasto incentivo difundido na imprensa da época sobre a entrada de agricultores norte-americanos no Brasil, para isso foi prometido crédito de longo prazo, passagens e concessões de terras no Mato Grosso. Neste sentido foi criada a “Brasilian American Colonization Sindicate” – BACS, mas algo deu errado na negociação diplomática para vinda destes “esperados” imigrantes dos Estados Unidos da América, foi exatamente quando se descobriu que se tratava de negros norte-americanos, ou seja, mandar indesejados da América do Norte para a América do Sul que aqui também não seriam bem vindos, foi algo que criou um relativo mal estar entre as relações diplomáticas entre os dois países. A partir de então o Itamaraty negou vistos a todos os membros da Companhia, enviando mensagens confidencias a consulados dos Estados Unidos no Brasil, explanando qual era o tipo de imigrantes se pretendia introduzir no Brasil. Naquela época havia um tratado de imigração entre os dois países que foi questionado pelo governo norte-americano, haja vista que este tratado dava ao povo estadunidense o direito de se estabelecer livremente no Brasil, independente de raça, etnia ou religião. Questionado pelo governo dos EUA, sobre tal procedimento, o Itamaraty justificou que a política imigratória brasileira não poderia ser questionada sobre assuntos que envolveria a soberania nacional. Esse assunto também foi muito discutido por nossas autoridades políticas, entre estes podemos citar Fidelis Reis como um dos deputados que mais se dedicou ao assunto, sendo que este propôs em projeto no legislativo federal o impedimento da entrada dos negros norte-americanos. Em plenária em 1923 o deputado Fidélis Reis disse: 

Quando então pensamos na possibilidade próxima ou remota da imigração do preto americano para o Brasil é que chegamos a admitir a eventualidade da perturbação da paz no continente. ... O nosso preto africano, para aqui veio em condições muito diferentes, conosco pelejou os combates mais ásperos da formação da nacionalidade, trabalhou, sofreu e com sua dedicação ajudou-nos a criar o Brasil. ... O caso agora é iminentemente outro. E deve constituir para nós motivo de sérias apreensões, como um perigo iminente a pesar sobre nossos destinos. (disponível em: http://www.interney.net/blogs/lll/2008/07/16/os_defeitos_dos_negros_americanos_histor/. Acesso em 15 mar. 2008). 

Numa de suas falas na Câmara Federal o deputado discursa: “(...) Além das razões de ordem étnica, moral, política, social e talvez mesmo econômica, que nos levam a repelir in limine a entrada do povo preto e do amarelo”. Mais a frente faz referência à questão do branqueamento da seguinte maneira: “(...) que é o ponto de vista estético e a nossa concepção helênica da beleza jamais se harmonizaria com os tipos provindos de semelhante fusão racial.” (DIÁRIOS da Câmara). Num artigo do Jornal do Brasil, Fidélis Reis comenta sobre quanto considerava negativo o convívio de dois mil imigrantes japoneses à integração e desenvolvimento da comunidade de Conquista, no Triângulo Mineiro. 

Os japoneses vivem completamente separados dos brasileiros e dos demais estrangeiros que ali residem e não compra coisa alguma senão nas lojas e nas vendas de que são donos os seus patrícios. (...) A presença em conquista, portanto, de 2000 japoneses não chega a produzir um movimento comercial que produziram 100 imigrantes de qualquer outra nacionalidade. Há ainda um aspecto que não deixa de ser muito interessante e de grande valor para questão social: os japoneses, quer pelos seus nomes, muito difíceis para serem retidos pelos nossos homens, quer pela fisionomia, muitos parecidos uns como os outros, não podem ser distinguidos pelos brasileiros e pelos estrangeiros pertencentes as outras raças. Recentemente deu-se em Conquista um fato que vem em relevo os perigos resultantes desta falta de diferenciação: um japonês entrou em uma luta corporal com um caboclo e matou com uma facada. O assassinato foi testemunhado por várias pessoas que não lograram prender imediatamente o assassino ele misturado com os seus patrícios. Pois bem chegaram as autoridades policiais não pode o criminoso ser preso... Por não ser possível as testemunhas distinguir entre japoneses, qual o que tinha cometido o crime. E assim ficou impune o criminoso. (JORNAL DO BRASIL. s/d. s/p.). 

Avaliamos que estudos biográficos se tornam significativos em muitas linhas historiográficas da atualidade, esses aspectos evidenciam num plano mais amplo meios para encontrar argumentos que possam relacionar histórias de vida com a construção do cotidiano e do imaginário. Nesse sentido, é notável que muitos aspectos podem se revelar sobre o biografado. “O ser humano existe somente dentro de uma rede de relações” (BORGES, 2006 p. 222). Um estudo biográfico sobre Fidélis Reis profundo revelará avaliações sobre a história das idéias, “os condicionamentos sociais ao qual o mesmo estava submetido, grupo ou grupos em que atuava e todas as redes de relações pessoais que constituíam o seu dia-a-dia” (BORGES, 2006 p. 222). 

Bibliografia: 

BORGES, Vanvy Pacheco. Fontes biográficas: grandezas e misérias da biografia. IN: PINSKY, Carla Bassanezi. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2006. 

CUNHA, Luiz Antônio. Ensino Industrial manufatureiro no Brasil. São Paulo: Revista brasileira de educação, mai-ago, n°14. Associação Nacional de Pós-graduação e pesquisa em Educação. 

_____. O Ensino de Ofícios Artesanais e manufatureiros no Brasil Escravocrata. Ed. UNESP, São Paulo, 2000. 

FONTOURA, Sônia Maria. A invenção do inimigo: Racismo e Xenofobia em Uberaba 1890 a 1942. 2001. Dissertação. (Mestrado em História). Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho", Franca, 2001. 

PRONKO, Marcela Alejandra. (Dissertação de mestrado). A universidade que não aconteceu: uma análise das propostas de criação da Universidade do Trabalho no Brasil, nas décadas de 30 a 50. Niterói: UFF, 1997. p. 37. 

LESSER, Jeffrey. A Negociação da Identidade Nacional. São Paulo: Unesp, 2001. 

REIS, Fidélis. Homens e Problemas do Brasil: Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1962. 

_____. A Política Econômica. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 1921. 

____. A política da Gleba: falando, escrevendo e agindo (1909-1919). Rio de Janeiro: Casa Leuzinger, 1919. 

____. Dois discursos. Belo Horizonte : Sociedade Mineira de Agricultura, 1917. 

____. O século XX, tempo das dúvidas: do declínio das utopias às globalizações. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2000. v.3 

_____. Paiz a organizar. Rio de Janeiro: A. Coelho Branco, 1931.
_____.O problema immigratório e seus aspectos éthnicos na Câmara e fora da Câmara. Rio de Janeiro,1924. SOARES, Manoel Jesus Uma Nova Ética do Trabalho nos Anos 20 – Projeto Fidélis Reis Série Documental/RelaRelatos de Pesquisa n. 33. Universidade Santa Úrsula, 1995.

SKIDMORE, Thomas. Preto no branco. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1976.


Thiago Riccioppo, especialista em História do tempo presente pela Universidade de Franca – UNIFRAN; professor na Universidade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC/UBERABA; historiador do Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico de Uberaba - CONPHAU de 2005 a 2009.



Cidade de Uberaba


segunda-feira, 2 de setembro de 2019

JOSÉ PEIXOTO – PRESIDENTE DA ACIU

Comemorando os 95 anos da Entidade.


A crise instalada no país provocada pela primeira Guerra Mundial, (1914/1918), cria dificuldades econômicas que são combatidas pelos governos com rebaixamento de salários e sobrecargas de impostos

A reação patronal para defender o interesse dos empresários e enfrentar a inquietude operária organizada em sindicatos foi a de criar, em todo o Brasil, as associações.

Uberaba, centro de irradiação econômica e educacional para todo o Brasil Central, é uma das primeiras cidades do interior a compreender a necessidade e o potencial de uma organização de classe. Em 16 de dezembro de 1923, em pleno domingo, nasce a Associação Comercial e Industrial de Uberaba (ACIU), em sala cedida pelo Jockey Club.

A assembleia, contando com a presença de 52 empresários e presidida por Adolpho Soares Pinheiro, elegeu sua primeira diretoria provisória composta por Cesário de Oliveira Roxo, Raul Terra, Jonas de Carvalho, Fernando Sabino e o próprio Adolpho.

José Peixoto - Foto/Reprodução.

No inicio de Janeiro esta mesma diretoria provisória tomou posse para o período de 1924/1927, contando com o reforço de Luiz Humberto Calcagno e José Guimarães, elegendo Cesário de Oliveira Roxo como primeiro presidente da ACIU.

Coube ao presidente Fidélis Reis (1938/1948) a responsabilidade pela edificação da sede, com projeto dos engenheiros Signoreli e Abel Reis. A construção começou com a empresa de Santos Guido em 1940.

Nestes 95 anos, (1923 a 2018) a ACIU foi palco de 42 eleições, 5 reeleições e conheceu 41 empresários que hoje estão na galeria de presidente.

O que mais tempo permaneceu na diretoria – 10 anos – foi Fidélis Reis, (1938/1948). Ele foi um dos mais destacados uberabense: foi jornalista, escritor, deputado federal, construtor de pavilhões para o SENAI, cofundador do Banco do Triângulo Mineiro e da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro.

A ACIU é uma verdadeira fonte da juventude. Até agora, teve 42 novas diretorias. Em cada uma delas há o renascer de um novo entusiasmo e a chama ardente de desejos para realizar.

Por isso, é difícil dizer quais as realizações nos campos político, social e econômico que influenciaram o desenvolvimento de Uberaba que tiveram a participação da ACIU. Mais fácil relatar de quais ela não participou.

A entidade nasceu sob o signo do protesto. Em cada presidente, em cada diretor, um soldado pronto para a luta. Em defesa da comunidade. Em defesa dos interesses regionais. Em defesa de seus associados.

A primeira preocupação de qualquer nova diretoria é a satisfação de seu associado. Esse é o motivo da criação da entidade. É a razão de sua existência. O associado sempre foi a preocupação primeira de todas as diretorias

Na defesa dele, estão as medidas tomadas contra a criação ou ampliação de impostos e taxas em todas as áreas governamentais, tomada de posições contra redução de créditos bancários, disponibilidade de corpo jurídico, planos de saúde e de seguro variados e estancamento de quaisquer situações que possam prejudicá-los.

A ACIU ao longo dos seus 95 anos se inseriu também como porta-voz dos interesses da comunidade.

Entre as ações voltadas para o benefício coletivo, destacam-se a luta para implantação do SENAC e do SESC, a construção de sede dos Correios inaugurada na gestão de João Fernandes Côrrea (1956/1957), a participação na fundação do IDT – Instituto de Desenvolvimento Tecnológico (em parceria com a UNIUBE e a UFTM, no governo de José Mousinho Teixeira (1982/1983)), a busca incessante em todo país de novas

indústrias para criação de novos empregos, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo.

Com o patrocínio da ACIU, dessa comissão também nasceu a empresa de capital misto CODIUB – Companhia de Desenvolvimento Industrial de Uberaba e a CEVALE - Fundação Centro de Pesquisas Vale do Rio Grande.

Esses projetos, aprovados pela comunidade foram aprovados também pelo prefeito Hugo Rodrigues da Cunha (1973/1976) que os incorporou em seu governo.

A partir dessa data, estava incluída a Secretaria de Indústria e Comércio em toda a plataforma política de Uberaba. A primeira secretaria foi criada no governo de Wagner do Nascimento (1983/1988) e seu primeiro titular foi Anderson Adauto.

Entre outras realizações podem ser destacadas – A participação da ACIU na implantação da CEMIG na gestão de Helmuth Dornfeld; a implantação da Televisão em Uberaba que começou na gestão de Mario Pousa, passou por Aurélio Luiz da Costa, Leo Derenusson para terminar na diretoria de Edson Simonetti; a criação do SPC na gestão de Mario Grande Pousa e posteriormente iniciado os estudos para fusão com CDL na diretoria de Flamarion Batista Leite; a criação do PACE na gestão de Karim Abud; seminários para implantação de novas rodovias; criação da Faculdade de Ciências Econômicas que diplomou milhares de profissionais nas áreas de Economia, Administração de Empresas e Ciências Contábeis.

Essas são em linhas gerais o retrato da atuação da ACIU. Difícil falar de todas as suas realizações. São milhares.

Todavia, acreditamos que esta exposição possa transmitir o quanto de carinho que centenas de empresários que, abrindo mão de seus afazeres, diminuindo o tempo junto com seus familiares, dotados de muito espírito cívico, se dispuseram a compor as 47diretorias da Entidade nestes últimos 95 anos para o exercício do associativismo.

São heróis anônimos que merecem a nossa estima e consideração. O nosso reconhecimento pelo muito que fizeram e faz pelo desenvolvimento de sua cidade.

Gilberto de Andrade Rezende – Ex-presidente e conselheiro da ACIU.

Sócio da ACIU desde 1958.

Fontes – ACIU – Arquivo Público – José Mousinho – Guido Bilharinho


segunda-feira, 12 de agosto de 2019

A PRIMEIRA FAZENDA MODELO

Em 1911, aconteceu a primeira “Exposição Agro-Pecuária” de Uberaba. Visitaram o evento o presidente estadual (equivalente aos atuais governadores) Júlio Bueno Brandão e representantes do Ministério da Agricultura, que elogiaram qualidade dos animais e o trabalho de seleção de gado Zebu feita pelos pecuaristas da região. Fidélis Reis – na época inspetor agrícola em Minas Gerais – sugeriu ao governo que instalasse no Triângulo Mineiro “uma fazenda modelo para aclimação de animais de raça de elite”. Essa exposição é relatada em detalhes no livro “ABCZ 100 anos: história e histórias”, recentemente lançado.

No ano seguinte, o Ministério da Agricultura mandou a Uberaba dois técnicos para que fizessem um relatório sobre a pecuária no Triângulo e escolhessem uma propriedade rural que pudesse ser comprada para montar uma fazenda modelo. O relatório listou sete fazendas no município de Uberaba e duas em Sacramento, descrevendo cada uma. Os autores recomendavam que a fazenda ficasse próxima a Uberaba, em local de fácil acesso. Como a maioria dos zootecnistas da época, a dupla não estava convencida das vantagens de criar o gado indiano, em lugar de gado europeu: “É inútil tentar demonstrar, aos que se convenceram das vantagens comerciais da aclimação e multiplicação do zebu, que esse caldeamento de sangue, assim feito, sem obedecer aos preceitos zootécnicos e a um rigoroso critério científico (…) é de resultado duvidoso e pode vir a ser nocivo e perigoso”. Diante disso, defendiam que a fazenda modelo deveria abrir novos rumos à pecuária da região, “ensinando pelo exemplo” e orientando os fazendeiros sobre métodos melhores de criação.

Das propriedades visitadas, a preferência ficou com a Fazenda do Veadinho, que pertencia ao Coronel Raymundo Soares de Azevedo – dono do casarão defronte ao atual Hospital da Criança, onde hoje funciona a Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Sua fazenda ficava próxima da estação de Peirópolis da Cia Mogiana. Tinha cerca de mil alqueires de terra roxa, água abundante, invernadas de capim gordura e Jaraguá, plantações de café, cana de açúcar, arroz e um bom pomar. No final de 1912 o governo do estado de Minas desapropriou as terras e as doou ao governo federal – que criou a Fazenda Modelo de Criação e assumiu sua administração.

Essa iniciativa teve vida breve. O Almanak Laemmert de 1914 informa que o agrônomo José Maria dos Reis, irmão de Fidelis, foi seu primeiro diretor. Em matérias publicadas no jornal “O Paiz”, do Rio de Janeiro, encontramos algumas informações sobre os trabalhos desenvolvidos por ele à frente da instituição. Em setembro de 1913, o autor das reportagens deixa evidente a intenção de que “a imunização do gado exótico com o azul de trypan, o melhoramento das pastagens e o desenvolvimento dos serviços da fazenda modelo (…) concorrerão, de certo, para dissipar nos criadores o fanatismo pelo zebu.”

Em outubro de 1914 direção da fazenda passou para o engenheiro agrônomo Militino Pinto Carvalho. Natural do estado de Sergipe, Militino havia sido colega de José Maria e Fidélis Reis na única turma de alunos formada pelo Instituto Agronômico – a primeira faculdade a funcionar em Uberaba, entre 1895 a 1898. Antigo funcionário dos Correios e da Cia Mogiana, Militino tornara-se professor da Escola Normal e exercia desde 1907 o cargo de inspetor técnico de ensino em Uberaba. Ele comandou a Fazenda Modelo até o final de 1915, quando passou o bastão para Armando Alves da Rocha. Poucos anos mais tarde, Militino fez parte do grupo de aventureiros que atravessou o mundo para ir buscar gado na Índia – contagiado pelo tal “fanatismo pelo zebu” que o estabelecimento pretendia combater.

O fim dessa primeira Fazenda Modelo de Criação foi melancólico. A partir de 1916, há relatos nos jornais de atrasos de pagamentos a funcionários e fornecedores. No fim desse ano, a Câmara dos Deputados aprovou um enxugamento no orçamento federal para 1917, onde autorizava o Ministério da Agricultura a devolver a propriedade ao governo mineiro, “ficando a União exonerada de quaisquer encargos referentes ao seu custeio e administração, e suprimindo os cargos do pessoal em serviço”. Em 1918, estava extinta.

A Fazenda do Veadinho foi revendida a particulares, e existe até hoje. Seus atuais proprietários talvez nem saibam que lá funcionou a primeira Fazenda Modelo do Triângulo Mineiro. Só em 1937, no governo de Getúlio Vargas, foi criada uma nova Fazenda Experimental de Criação, onde hoje é a Univerdecidade.

(André Borges Lopes)




Cidade de Uberaba

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

FIDÉLIS REIS – EXEMPLO DE EMPREENDEDORISMO

“De duzentos contos como era previsto, mudamos os planos e construímos um dos mais lindos edifícios da cidade com cinco pavimentos, a um custo superior a setecentos contos”.

Essas são as palavras, em síntese, de Fidélis Reis em 26/07/1942, ao se referir à construção da sede da ACIU, em seu discurso de inauguração.

Eleito presidente da entidade em 1938, em três anos conseguiu realizar o sonho dos empresários que, ao criar a ACIU em 16/12/1923, tiveram que esperar por quase vinte anos para ter sua própria sede. A ação foi possível através do apoio dos associados e empréstimos do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários (I.A.P.C.).

Por dez anos, 1938/1948, Fidélis Reis esteve à frente da ACIU, coincidindo com o período da Segunda Guerra Mundial (1939/1945), oportunidade em que a associação se manifestou contra a ação alemã nas costas do Brasil, em 1940.

Em sua gestão foi realizado um congresso das classes produtoras com repercussão nacional. Foi nesse período que a entidade contribuiu, através de seus contatos nos governos estadual e federal, para a solução do problema de abastecimento de açúcar, provocado pela guerra, e ajudou os produtores rurais a conseguir gasolina durante a safra numa época em que, por racionamento e escassez, a maioria dos veículos utilizavam o gasogênio.

Fidélis Reis. Foto: Arquivo Público de Uberaba.

Nascido em 4 de janeiro de 1880 em Uberaba, Fidélis Reis graduou-se como engenheiro agrônomo, aos 21 anos, na primeira e única turma do Instituto Zootécnico de nossa cidade, em 1901.

Sua primeira missão como integrante do Governo Federal, na Diretoria Geral de Povoamento em 1907, foi a de investigar secretamente na Argentina, por seis meses, o serviço de colonização e imigração. A atitude despertou profundamente para abordagem na sua vida política. De 1907 a 1909, foi inspetor do Serviço de Povoamento no Espírito Santo.

Um ano após, em 1910, já era inspetor agrícola federal em Belo Horizonte (MG) e, em 1911, foi eleito presidente da Sociedade Mineira de Agricultura e um dos fundadores da Escola de Engenharia, onde lecionou ao longo de cinco anos.

Na Europa, Fidélis Reis fez o curso de Ciências Físicas e Naturais na Sorbonne, seguindo posteriormente para a Suíça e Itália, países nos quais, a serviço do Governo Federal, estudou os projetos para emigração dos italianos ao Brasil.

Em 1919 iniciou sua carreira política ao ser eleito deputado estadual pelo PRM - Partido Republicano Mineiro. Em 1921 foi eleito deputado federal, no qual através de outras três eleições, permaneceu até 23 de outubro de 1930, quando teve o mandato interrompido pela revolução que levou Getúlio Vargas ao poder e extinguiu todos os órgãos do legislativo do país.

Em sua passagem pelo Legislativo Federal, Fidélis Reis se distinguiu pela apresentação de inúmeros projetos de interesse nacional, como o Tratado de Santos Dumont, pelo qual os países signatários abster-se-iam de utilizar aviões como arma de guerra.

Dois de seus projetos conseguiram fazer história.

O primeiro, apresentado em 1923, se relacionava à imigração. Alicerçado em suas observações feitas em viagens ao exterior, Fidélis Reis estava convicto de que o serviço de imigração teria que manter um rigoroso controle para impedir a entrada de qualquer elemento julgado “nocivo” à formação étnica, moral e psíquica da nacionalidade.

Esse projeto, que dava prioridade às famílias da Europa em detrimento das raças negra e amarela, causou intensas polêmicas durante muitos anos e dividiu opiniões em todo o país.

Todavia, o segundo projeto teve mais sucesso ao abordar a economia. Ele era destinado a criar o ensino profissionalizante obrigatório em tempo integral, sob a égide do Liceu de Artes e Ofícios, apresentado em 1922, foi o marco inicial da transformação da economia nacional do setor industrial.

Para a sua elaboração, Fidélis Reis manteve contatos com todos os parlamentares, com a imprensa regional e nacional e até com sumidades internacionais como Albert Einstein, Henry Ford e Vladimir Lênin, com o objetivo de buscar subsídios sobre a relevância do ensino técnico e profissional. Aprovado em 1927, após cinco anos de sua difícil tramitação, a lei deixou de ser aplicada por falta de verbas.

No entanto, para concretizar seu intento, Fidélis Reis fomentou a construção dos edifícios que iriam compor o Liceu de Artes e Ofícios de Uberaba na praça Frei Eugênio que contou com a contribuição financeira de personalidades do Triângulo Mineiro bem como recursos dos governos estadual e federal.

Inaugurado em 1928, o Liceu - que tem um de seus pavilhões com o nome de Henry Ford - nunca chegou a funcionar de fato, instalando-se ali a Escola Normal de Uberaba e, posteriormente, o 4º Batalhão de Caçadores Mineiros.

Foi apenas em 1942, com a criação do SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem - que os sonhos de Fidélis Reis esboçaram a possibilidade de se concretizar. Porém, só em 1948 que a entidade ocupou as dependências que foram idealizadas para o Liceu.

As dezenas de milhões de profissionais já formados pelo SENAI no território nacional ao longo destes anos são frutos de uma obsessiva determinação em prol do ensino profissionalizante do idealista Fidélis Reis.

A participação comunitária desse grande uberabense não se restringiu apenas ao setor político. Foi um dos fundadores do Herd Book Zebu, do qual foi presidente de 1929 a 1934, data em que esta entidade foi incorporada pela recém-criada Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (S.R.T.M).

Eleito primeiro presidente da S.R.T.M em 1934, em sua curta gestão criou os núcleos de Araxá e Prata, além de buscar recursos junto ao governo federal para a realização de exposições e instalação da fazenda Modelo.

Renunciou em 1935 por razões políticas.
Fidélis Reis também foi vereador na Câmara Municipal de Uberaba. Entre seus companheiros estavam Boulanger Pucci, eleito prefeito em 1947, e Jorge Frange.

Em 1936 criou o Banco do Triângulo Mineiro tendo como parceiros Alexandre Campos, Euclides Prata dos Santos, entre outros. Chegou a ter agências em várias localidades inclusive em São Paulo. Posteriormente, o banco foi encampado pelo Banco Nacional de Magalhães Pinto que, por sua vez, vendeu para o Banco da Lavoura de Minas Gerais, hoje, Banco Real.

Jornalista por vocação, Fidélis Reis colaborava com a imprensa local, o Jornal do Comércio do Rio de Janeiro e outras publicações, sendo reconhecido como um dos principais articulistas da cidade.
De sua lavra foram publicados os livros “A política da gleba”, “País a organizar”, “Homens e problemas do Brasil”, “Política econômica”, “Ensino profissional” e “O problema emigratório e seus aspectos étnicos”.

Fidélis Reis, falecido em 1962, aos 82 anos de idade, é patrono da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ocupando a cadeira de n. 01. É nome de uma escola estadual da rua Vitória, no bairro Santa Marta. É nome de uma das principais avenidas de Uberaba. É um dos maiores empreendedores que a cidade e região já conheceram e figura proeminente na galeria dos vultos da nossa história.

Gilberto de Andrade Rezende - Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro e do Conselho Consultivo da ACIU e do CIGRA.

Fontes:

ACIU;

Thiago Riccioppo – historiador do Museu do Zebu;

Guido Bilharinho – livro Personalidades Uberabenses;





Cidade de Uberaba


domingo, 28 de abril de 2019

ZEBUS NO QUINTAL DO BISPO

Dentro de um mês, Uberaba estará novamente às voltas com o seu grande evento anual. No dia 27 de abril será aberta a 85ª ExpoZebu que, este ano, tem uma atração extra: os criadores de gado indiano comemoram o centenário da fundação da “Herd Book Zebu”, a primeira associação fundada no País para apoiar o trabalho de seleção genética dos bovinos que foram buscados no outro lado do mundo para revolucionar a pecuária brasileira.

Funcionando desde 1941 no Parque Fernando Costa, pouca gente têm conhecimento de que a que os primeiras feiras de gado realizadas em Uberaba nem de longe dispunham de instalações adequadas. Em 1911, a exposição pioneira foi montada em pavilhões temporários, construídos pelo engenheiro Francisco Palmério (pai do escritor Mário Palmério) no antigo “Prado de São Benedito”, uma pista de corridas de cavalos que existiu até a década de 1950 num terreno entre a atual Estação Rodoviária e a avenida Fernando Costa.

Nas décadas seguintes, aconteceram exposições esporádicas, sem local fixo. Algumas foram feitas no Prado, outras no antigo “Largo da Misericórdia: um descampado que havia entre o Colégio N. Senhora das Dores e o antigo prédio do hospital Santa Casa de Misericórdia – onde mais tarde foi feito o Uberaba Tênis Clube. Em 1934, a grande “Exposição-Feira Agro Pecuária do Triângulo Mineiro”, realizada com apoio da prefeitura, ocupou o novo prédio (ainda em obras) da Santa Casa e seu quintal, onde hoje existe o Hospital Escola da UFTM.

Primeira sede da Sociedade Rural de Uberaba do Triângulo Mineiro. Rua: São Sebastião,259 - Década:1930. Foto/Acervo: Museu do Zebu.
Foi durante a exposição de 1934 que os pecuaristas da região decidiram montar uma nova associação para substituir a Herd Book Zebu. Sob a liderança do agrônomo Fidélis Reis, foi fundada a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro que, três décadas mais tarde, daria origem à ABCZ – Associação Brasileira de Criadores de Zebu. Conhecida pela população como “a Rural”, a SRTM assumiu o compromisso de realizar todos os anos uma exposição de gado na nossa cidade. Começou aí a tradição dos certames anuais, que logo se transformaram em um dos mais importantes eventos do sector agropecuário brasileiro.

Tendo que montar uma exposição por ano, a SRTM cuidou de arranjar um local apropriado, que acomodasse as feiras de modo permanente. Como a entidade não tinha sede própria, a diretoria conseguiu um terreno na Rua São Sebastião, a menos de dois quarteirões da catedral, onde ergueu provisoriamente um galpão com uma portaria em traços “art déco”, estilo em moda na época. Esse terreno (onde hoje está o edifício São Gerônimo) tinha uma vantagem: a parte traseira se comunicava com uma chácara, que se estendia por todo o terreno entre a rua Major Eustáquio e o córrego da Manteiga, sobre o qual surgiu mais tarde a Av. Santos Dumont. Uma inusitada área rural, a poucos metros da praça da Matriz, loteada a partir dos anos 1950 para dar origem às ruas Antônio Carlos e Getúlio Guaritá.

Nessa chácara, a SRTM mandou construir dez currais cobertos, que abrigavam os animais durante as exposições. Ficavam logo atrás do grande palacete que, poucos anos antes, havia sido comprado pela Cúria Metropolitana para servir de residência ao Bispo de Uberaba. Dai surgiu a expressão de que as exposições eram realizadas “no quintal do bispo”. Há uma foto, feita dos fundos da SRTM, onde se vê os currais quadrados – feitos de madeira, cobertos com telhas francesas – e, no alto do morro do outro lado do córrego da Manteiga, os antigos prédios do Colégio Diocesano.

O local acomodou seis exposições entre 1935 e 1940 era muito limitado para as pretensões de um evento, que crescia ano após ano. Ao final de cada dia, os animais precisavam ser retirados dos currais e levados para fazendas nas imediações da cidade, retornando na manhã seguinte. Pode-se imaginar o transtorno das boiadas cruzando a área central da cidade. Além do mais, faltava espaço para os estandes comerciais e de diversões, que haviam deixado boas lembranças nas exposições de 1911 e 1934. Por isso, todos se animaram quando o Fernando Costa – então ministro da Agricultura do governo Getúlio Vargas – sugeriu que fosse construído um novo parque de exposições em Uberaba, que acabou ganhando seu nome. Essa e outras curiosidades estarão no livro “ABCZ – 100 anos de história”, de autoria de Maria Antonieta Borges Lopes e Eliane Marquez de Rezende, que será lançado no dia 25 de abril, dentro das comemorações do centenário.


(André Borges Lopes) 

Cidade de Uberaba

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

UBERABA DOS MEUS AMORES

No templo das minhas preces, oro com amor filial pela minha Uberaba. Seus filhos, dos mais ilustres aos mais humildes, estão corados de vergonha com o que está acontecendo na sagrada terrinha. Dos que nasceram em berço de ouro, aos que estão sem teto, temos por Uberaba um amor imenso ! Um velho e simpático ditado, retrata o tanto que a queremos bem: “quem bebe da nossa água, não sai mais daqui.” Uberaba, sob o manto sagrado de Nossa Senhora d’Abadia, jamais negou , nem renegou um filho seu. Seja legítimo, por adoção, ou “intruso”...

Depois de epopéias monumentais, conquistas homéricas, berço da civilização triangulina, de excepcionais e exponenciais uberabenses como Mário Palmério, Fidélis Reis, Alaor Prata, Leopoldino de Oliveira, Antenógenes Silva, Augusto César Vanucci, João Henrique, Toniquinho Martins, Alberto Fontoura Borges, Edgard Rodrigues da Cunha, lembrando apenas alguns políticos, empresários e artistas, Uberaba, está ficando fora de” cena “no contexto nacional. Aqueles que se aventuraram à tarefa de representar a amada terrinha, não deram conta do recado. Fracassaram em cheio nas suas empreitadas. Foram insípidos e incolores...

Figuras ocas, não deixaram e nem estando deixando, um resquício de saudade. Suas atuações são medíocres, opacas, totalmente sem luminosidade. Estamos sofrendo derrotas, em cima de derrotas, perdendo posições de relevo que ostentávamos até poucos anos atrás. Nossos arremedos de políticos, funcionam como “puleiro de pato”. Preocupam-se tão somente em governar através do rádio, jornal e televisão. Esqueceram-se de Uberaba. Tiram proveito, descaradamente, em favorecer seus bolsos e dos seus “amigos diletos”. Coisa mais feia!...

Estamos perdendo todo o jogo que enfrentamos e saímos com o “ rabo entre as pernas” . Nossos políticos são uma lástima ! Nas “conquistas”, estamos disputando com o Ibis, de Pernambuco, que não ganha uma... Perdemos em competitividade em todo embate. Os impostos e taxas, aumentam ano após ano, o centro comercial, outrora tão atuante, virou “fantasma”. Lojas tradicionais fechando suas portas, cobra-se de tudo do uberabense; lixo, esgoto, limpeza pública, transporte, saúde, iluminação, educação, espaço nas ruas, praças e avenidas... E o retorno ? Nada ! Absolutamente nada! 

Os últimos prefeitos que tivemos, não disseram a que vieram. Deixaram e deixam muito a desejar. Acomodados, preguiçosos, agem , com eficiência, no apadrinhamento dos afilhados políticos e se enriqueceram no cargo. Sabem das mazelas de secretários. Fazem de conta que não “é com eles”. Negociações despudoradas, ostentam, embora contem com “ laranjas”, de vultosos patrimônios. Trabalham, acintosamente, para “fazer” sucessores e não perderem a “grande veia financeira” que é a administração pública.

A prática da cidadania, o zelo e o esforço pela cidade, “às favas”! Desapareceram ! Querem apenas manter-se no cargo e preparar “seguidores” à continuar comendo na “ panela”... A politicalha, está, umbelicalmente, colada ao DNA que praticam. A subserviência do Legislativo ao Executivo, causa arrepios, de tão vergonhoso ! É um “beija-mão” e “troca de favores’ que não acaba nunca. Virou tradição. O nepotismo, campeia despudoradamente. O Ministério Público, não é acionado e dá graças a Deus. Pois, assim, não precisa mexer na”ferida”. Secretários municipais, tidos como achacadores do cargo, permanecem intocáveis.

Nosso desenvolvimento e progresso, perdeu na corrida com a “tartaruga” e o “bicho preguiça”. Enquanto isso, a 100 kms. da terrinha, floresce e prospera uma majestosa cidade. Há quase 20 anos, o nosso moral continua patinando . Damos graças a Deus, pela vinda da ex-Fosfértil, nossa última e única bandeira de conquista. Depois dela... "Marquez do Cassú “.


Luiz Gonzaga de Oliveira


Cidade de Uberaba

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O QUE É SER POLÍTICO...

Politica, é uma palavra oriunda do grego e se refere a um estadista, homem público que lida com a chamada “ coisa pública”. É um cidadão que influencía maneiras de como a sociedade deve ser conduzida. São, normalmente, pessoas do bem que estão ou estiveram em cargos de decisão no governo, em qualquer esfera, ou almejam esse cargo, quer por indicação, quanto por eleição. O político pertence a um partido que quer, ou tenta, obter aceitação popular para qualquer posto; se puder, os mais elevados. O político, geralmente, é um formador de opinião , quer no município, estado ou federação. Mesmo sem ocupar qualquer cargo eletivo ou de mando. Considera-se político pessoa que manipula e influencia a opinião pública em favor do grupo a qual pertence. Em Uberaba, nossa santa terrinha, mal ou bem, alguns se pontificam.

Respeito e reverencio políticos uberabenses de proa , que sempre estiveram em evidência, por serviços prestados à coletividade, elevando o sagrado nome da nossa cidade. Nunca é demais citar, Mário Palmério, Fidélis Reis, Alaor Prata, Wilson Moreira, Marcus Cherém, Godofredo Prata, Antônio Próspero, Boulanger Pucci, João Guido, Hugo Rodrigues da Cunha, Randolfo Borges Jr., Arnaldo Rosa Prata, Juarez Batista, Eurípedes Craide, Wilson de Paiva, Roberval Alcebíades Ferreira, Chico Veludo, Ivo Monti, Jorge Furtado, Hélio Angotti, Artur Teixeira, cujas atuações políticas em favor da cidade, obtiveram dividendos e condutas irrepreensíveis. Honraram seus mandatos e dignificaram com altivez e probidade.

Formadores de opinião, foram também jornalistas da estirpe de Quintiliano Jardim, seu filho, Raul, os Ruis (Mesquita, Novais e Miranda), César Vanucci, Antônio Fialho, Jorge Zaidan, Ataliba Guaritá Neto (Netinho), Mons,Juvenal Arduini, D.Alexandre Amaral, Orlando Ferreira (Doca), Chico Xavier, Celso Afonso, Carlos Bacelli, em belíssimas pàginas psicografadas, entre outras celebridades que engrandeceram a cidade, como Hildebrando Pontes e José Mendonça. Figuras que enalteceram o nosso “ curriculum” cultural.

Porém, a história de políticos mal preparados, correm aos montes... A que vou contar, reflete o grau de alguns deles. Evidente, que os citados anteriormente, nada tem a ver com o que relato. Politico de meia-idade, recém eleito, “lambuzou-se” todo no primeiro ano de mandato. Enamorou-se ,perdidamente, pela secretária. Romance tórrido. Certo inicio de noite, depois de um” penoso” dia de trabalho, enviou mensagem à esposa:- “Querida, espero que compreendas a razão deste bilhete. Tenho 54 anos, necessidade sexual que tu não podes me satisfazer. Sou muito feliz contigo. Espero que não fiques magoada comigo. Quando leres este, estarei no motel com a minha secretária. É linda; tem só 18 aninhos . Não te preocupes, chegarei em casa antes da meia-noite. Não te perturbarei. Durma com os anjos...Teu amor.....”

Depois de uma bela noite de prazeres sexuais, pé ante pé, volta para casa. Acende a luz da sala e vê em cima da mesinha de centro, um caprichado bilhete. Nele estava escrito:-“Querido maridinho, obrigada pelo aviso. Aproveito o ensejo para lembrar-te que tenho também 54 aninhos. Ao leres esta cartinha, comunico-te que estarei noutro motel, com o meu professor de tênis. Ele é jovem. Bonito ! Tem apenas 18 aninhos. Como és um bom político e sabes fazer conta de quantos eleitores votaram em ti, compreenderás que estamos nas mesmas circunstâncias. Com uma pequena diferença: 18 anos, “entra” mais vezes em 54, do que 54, “entra” em 18...Te quero ! mas, não me esperes para dormir. Chegarei só amanhã, de manhã. Da sua ...”

A separação do benquisto casal aconteceu alguns meses depois... Abraços do “Marquez do Cassú”.



Luiz Gonzaga de Oliveira



Cidade de Uberaba

domingo, 15 de janeiro de 2017

QUEM FOI FIDÉLIS REIS

Quem foi Fidélis Reis 


“Fidélis Reis nasceu em Uberaba e era filho de Fidélis Reis e Escolástica Reis Gonçalves.


Graduado em Agronomia pelo Instituto de Uberaba, Fidélis é considerado um dos responsáveis pela prosperidade do município.


Ninguém, mais do que ele, amou esta terra. Durante toda a sua vida, ininterruptamente, trabalhou em extraordinário devotamento, pela grandeza de sua querida Uberaba.


Com que carinho ele se referia, em seus artigos e em suas palestras, às nossas paisagens, aos nossos horizontes, às nossas tradições.


Entregou-se a Uberaba, numa doação total, integral, completa.


[…] Não poupou esforços para conseguir, junto ao governo federal, a edificação do Palácio do Departamento Regional dos Correios e Telégrafos.


Na área educacional, foi um dos idealizadores e presidente da comissão para a construção do Liceu de Artes e Ofícios, atualmente, SENAI e – de acordo com historiadores – quase tudo que se fez no Brasil relacionado ao desenvolvimento do Ensino Técnico deve-se a sua luta por esse tipo de educação.


[…] A sua campanha pertinaz, decisiva, inflexível, pelo ensino técnico-profissional, em nossa pátria, há de imortalizá-lo nas páginas da história da nossa civilização.


Foi o pioneiro corajoso, firme, intrépido, que se dispôs a todos os sacrifícios, pela redenção de nossa mocidade.

[…] Ele sustentava que o mundo está passando por um processo de profunda transformação e o que vemos é a preponderância decisiva dos povos e nações que mais se enriqueceram e melhor se aparelharam para vencer no campo da produção.

E quantas outras realizações suas estão aí, a beneficiar os brasileiros e os uberabenses, a contribuir para o nosso engrandecimento e para as mais nobres conquistas da nossa civilização.[…] Deputado Estadual e Deputado Federal; antigo presidente da Sociedade Mineira de Agricultura, professor, sociólogo, jornalista dos mais ilustres, autor de vários livros que enaltecem a nossa cultura; fundador da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro; construtor do conjunto de edifícios onde se instalou o SENAI; criador do Banco do Triângulo Mineiro; Presidente da Associação Comercial e Industrial de Uberaba e construtor do prédio do Comércio e da Indústria; um dos fundadores da Escola de Engenharia da Universidade de Minas Gerais, Fidélis Reis foi um homem de extraordinário e excepcional valor, que veio ao mundo com a vocação de ser útil aos seus semelhantes.

[…] Além de ter artigos publicados em jornais locais da época, foi autor das obras: País a Organizar, Política Econômica, Ensino Técnico Profissional, Homens e Problemas do Brasil e Problemas Emigratórios.


[…] Propunha medidas, sugeria providências, indicava diretrizes para o estímulo do progresso, para o aumento da fortuna coletiva, para a elevação do nível de vida do povo brasileiro, para a conquista do bem-estar, da felicidade, da alegria de viver. E, como Goethe, ele viveu, afirmando por suas ações, pelos seus trabalhos, pela integridade do seu caráter e pela generosidade de seu coração:


– ‘Cumprirei o meu destino, custe o que custar’. 

O seu destino foi o de ser bom, o de ser útil. E ele o cumpriu, gloriosamente.” 

Fidélis Reis faleceu em março de 1962. 


(MENDONÇA, 1974 e 1962)


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