Em maio de 1926, a Câmara de Uberaba aprovou duas concessões que marcaram a história do cinema na cidade. Na primeira, a prefeitura transferiu para Orlando e Olavo Rodrigues da Cunha os direitos sobre o terreno na Praça da Matriz onde funcionava, desde 1864, o Theatro São Luiz. Concedeu ainda uma isenção de impostos para que a dupla erguesse e passasse a explorar no local um novo teatro. A segunda autorizava a concessão a um grupo de investidores de um terreno a ser escolhido, além de um auxílio em dinheiro, para a construção de um novo hotel. Chefiava o executivo na época um primo de Orlando, Geraldino Rodrigues da Cunha.
O resultado das duas concessões resultou na inauguração, em 1931, do novo Cine Teatro São Luís, luxuosa e moderna casa de espetáculos administrada pela empresa Orlando Rodrigues da Cunha & Cia, que tinha como sócios, além de Orlando, José Machado Borges e Alberto Fontoura Borges. A mesma firma, já renomeada “Empresa Cinematográfica São Luís” (e incorporando Joaquim Machado Borges), multiplicaria a aposta em 1941 ao inaugurar o Cine Metrópole e o Grande Hotel na Av. Leopoldino de Oliveira.
No intervalo desses 10 anos, Orlando monopolizara o negócio das salas de cinema em Uberaba. A empresa Damiani, Bossini & Cia, dona dos Cines Alhambra e Capitólio abriu falência meses após a abertura do São Luís. O Alhambra fechou definitivamente, o Capitólio seguiu alguns meses sob nova direção. Em 1932, foi comprado por Orlando e reaberto como Cine Royal. Dona de todas as salas da cidade, a São Luís inaugurou em 1948 mais um cinema: o Vera Cruz no bairro São Benedito.
A falta de concorrência era motivo de queixas em Uberaba. Como a São Luís era atendida por uma única distribuidora, muitos filmes famosos jamais chegavam à cidade. Havia reclamações também quanto ao preço dos ingressos, à qualidade da programação e a estado de conservação de algumas das salas. Em 1957, foi grande o entusiasmo com que os uberabenses saudaram o anúncio de que a Empresa Teatral Paulista – dona de mais de 20 salas de cinema no estado vizinho, em Goiás, em Araxá e em Uberlândia – iria abrir uma nova casa na cidade.
A promessa inicial falava em uma sala enorme – duas mil poltronas, tela larga CinemaScope e amplo palco – a ser erguida em um terreno na esquina da Av. Leopoldino com Rua Senador Pena, adquirido da empresa Derenusson. As obras começaram em janeiro de 1958 com um projeto moderno para a época, ainda que menos ambicioso. Em 18 de março de 1959 abriu as portas aquele que seria o último cinema de rua a ser inaugurado na cidade. Nomeado “Cine Uberaba Palace”, tinha projetores de última geração, poltronas confortáveis e foi o primeiro a oferecer ar-condicionado, um grande alívio nos meses de verão – lembrando que os cinemas da época exigiam da clientela traje social, aos homens, terno e gravata.
Franck Pourcel, “Here, there and everywhere”.
O Uberaba Palace reativou a concorrência e aumentou a variedade de títulos, numa época em que os cinemas ainda não disputavam espaço com a TV e com sistemas de vídeo domésticos. Nunca foi um cinema muito diferente dos demais, mas deixou boas lembranças. Ao seu lado funcionou por anos a livraria “Ponto de Encontro”, de Deusedino Martins, frequentada pela intelectualidade local. Muitos se recordam com nostalgia da trilha sonora que embalava a sala nos anos 1970 e 80 antes dos filmes: músicas dos Beatles numa famosa versão instrumental de Franck Pourcel, abrindo sempre com “Here, there and everywhere”.
Vista aérea do cinema Uberaba Palace e córrego das Lajes.
Foto: Nau Mendes.
A partir dos anos 1980, as mudanças no mercado cinematográfico selaram a decadência dos cinemas de rua, e o Palace não foi exceção. Trocou de dono algumas vezes antes de fechar as portas em 7 de março de 1993. Por algum tempo, chegou a sediar um Bar e Bingo, ligado ao Nacional Futebol Clube. Após a proibição dos bingos, o prédio foi ocupado por uma igreja evangélica.