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quarta-feira, 12 de julho de 2017

Devotos d’Abadia veneram imagem de Nossa S. Auxiliadora



Desde 1881 em Uberaba


* Luiz Alberto Molinar


A história de Nossa Senhora da Abadia se iniciou no ano de 883, em Braga (Portugal). Abadia é uma palavra originária de abade, a principal autoridade de comunidade de monges, e significa grupo religioso ou moradia de padres. No Brasil, a devoção à santa chegou por meio de portugueses e começou em 1750 no distrito de Muquém, de Niquelândia (GO).

Nos municípios de Uberaba e Romaria se realizaram as principais festas à Abadia no Triângulo Mineiro, onde é considerada a padroeira, com feriados nas duas principais cidades: Uberlândia e Uberaba. Além de Goiás e Minas, a santa é festejada, principalmente, em Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.

O santuário de Nossa Senhora da Abadia, de Uberaba, se iniciou em maio de 1881, com o capitão Eduardo José de Alvarenga Formiga, após participar de uma missa na então igreja de Santo Antônio e São Sebastião, depois denominada Adoração Perpétua, na pç. Dom Eduardo, Mercês.

Em conversa com amigo, o major Ananias Ferreira de Andrade disse-lhe do seu desejo de construir uma capela dedicada à Nossa Senhora d’Abadia, no bairro então denominado Alto da Misericórdia, que era conhecido assim por abrigar hospital com esse nome na pç. Tomaz Ulhoa, e que integra, atualmente, o complexo de saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Cerca de vinte anos depois, com o crescimento da popularidade da santa, o bairro passou a levar o seu nome.

Ainda em 1881, a Câmara Municipal concedeu ao capitão Formiga a licença para erguer a capela. Ele mesmo ficou encarregado das obras. Quatro dias depois o cônego Santos celebrou, no local da futura igreja, uma missa após a qual foi bento e levantado um cruzeiro para marcar o lugar da construção. No ano seguinte, em 15 de agosto, realizou-se a primeira festa de Nossa Senhora d’Abadia e benzida a imagem da santa que se tornaria a padroeira da cidade.

A capela precisava de água para as obras. Foi então furada uma cisterna, ao lado do cruzeiro, e a água jorrou com fartura. Houve até mesmo quem a considerasse milagrosa por seu líquido curar enfermidades. No entanto, espalhou-se que um indivíduo portador de doença venérea, numa madrugada, tomou banho no poço. Daquela data em diante a água secou e logo depois o reservatório foi aterrado.

Mantida pelo capitão Formiga, a igrejinha ficou pronta. Considerava-se dono do templo, não prestava contas a ninguém de sua administração. Após reclamações, suspeitas e denúncias, o bispo interditou a igreja. Com isto, Formiga trancou o santuário e levou consigo as chaves e a imagem da santa. Em sua casa fazia novenas, rezas e organizava procissões. Depois de disputa judicial, em sentença favorável à Cúria Diocesana, o capitão foi notificado a devolver os objetos retirados da capela.

Fieis d’Abadia em Uberaba vereram N. S. Auxiliadora

Segundo o memorialista e teólogo paulistano e residente em Uberaba desde a década de 1950, Carlos Pedroso, em seu livro intitulado “Padroeira Principal, Tratando da Devoção e da História de Nossa Senhora da Abadia”, a imagem da santa na igreja de Uberaba é de Nossa Senhora Auxiliadora. A diferença foi reconhecida por fiéis que frequentavam o santuário de Romaria, a 130km de Uberaba. Entretanto, devotos locais decidiram manter Auxiliadora em sua igreja. Haviam acostumado com ela...

O motivo da confusão se deu a partir da ida de uma comissão de devotos que foi a São Paulo (SP) para adquirir, na virada dos séculos 19 para 20, a estátua para adornar o altar da igreja. Numa livraria de padres salesianos, a réplica da santa Abadia não foi encontrada. O atendente sugeriu ao grupo que levasse a representação de Auxiliadora por ter, também, manto azul e crianças. A diferença é que enquanto a Abadia tem três crianças na base e uma no colo, a outra possuiu apenas uma no colo.

Padres passam a administrar a igreja

Em 1899, padres da ordem religiosa portuguesa de Santo Agostinho, que chegavam ao Brasil oriundos das Filipinas, assumiram a paróquia e imediatamente começaram a construir uma igreja ao lado da capela. Próximo dali ergueu-se uma casa que serviria de morada para os sacerdotes.
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Os agostinianos, anos depois, se retiraram da Diocese de Uberaba e o santuário passou ao cônego César Borges. Em 1921, o bispo dom Eduardo Duarte e Silva, nascido em Florianópolis (SC) e procedente da diocese de Goiás Velho, criou a Paróquia de Nossa Senhora d’Abadia, desmembrando-a da Freguesia de Santo Antônio e São Sebastião, que coordenava a ação da igreja no município.
Posteriormente, o bispo, transferido de São Paulo (SP), frei capuchinho Luís Maria de Santana, italiano de Verona, entregou a paróquia à Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo, ordem religiosa originária da Itália. Procedentes de Rio Claro (SP), os padres Albino Sella, estadunidense, e João Consolaro e o irmão Pedro Bianconi fundaram em Uberaba a nova comunidade dos estigmatinos e assumiram a paróquia d’Abadia, que contava então com 15 mil fieis.

Imagem da torre tem 4,4m e sino de tem 800kg

Os projetos da torre e da nova fachada da igreja estavam concluídos em 1937. O padre José Tondin administrava a obra em 1939, quando o sino maior, com 800kg e confeccionado pela paulistana Casa Angeli, chegou a Uberaba. Porém, somente em 1941 suas badaladas ressoaram pelo bairro.

A imagem d’Abadia instalada acima da torre da igreja, com 4,4m e dividida em três partes, foi inaugurada em 1940 sob o comando do novo bispo, dom Alexandre Gonçalves do Amaral, que assumira o posto há quatro meses. Os anjos da fachada do templo, esculpidos em São Paulo, no entanto, foram instalados em 1945, juntamente com as imagens de São Pedro e de São Paulo, produzidas em Campinas (SP), e colocadas no frontispício do templo.

Iniciou-se em 1946 a construção da abóboda, coordenada pelo padre João Missoni, que se transferiu em seguida para a cidade de Magda (SP). Dois anos depois a cobertura da nave central era revestida com telhas modelo francesa. Dom Alexandre desentendeu-se com a prefeitura e a festa da padroeira não se realizou em 1948. Em protesto, a igreja permaneceu fechada durante os dias destinados à festa e reabriu somente no dia 22 de agosto.

O padre italiano Ângelo Pozzani passou a administrar a paróquia a partir de 1949. Estavam terminados, em 1954, o revestimento interno, as molduras dos arcos, os capitéis - ornamento de gesso no alto das colunas - e suas bases cobertas com granito preto. A pintura da cúpula foi concluída após três anos e o altar-mor inaugurado.

Entre 1968 e 1969 assentou-se o piso de cerâmica, foram realizados acabamentos de mármore e de granito no presbitério, fixou-se os vitrais e cobriu-se as naves laterais. Montaram-se também as três portas da fachada e o altar, trabalho realizado pelo artista Ammeletto Belloni, de Ribeirão Preto (SP).
Dois sinos eletrônicos passaram a integrar o carrilhão da igreja em 1975: um com 380kg e o outro de 240kg, que se juntaram ao antigo de meia tonelada. Os novos foram fabricados pela paulistana Fundição Crespi. A partir de 1977 o santuário passou a contar com um órgão eletrônico.

O padre Vicente Ruy Marot promoveu durante sua gestão, entre 1994 e 2001, a remodelação do santuário que incluiu a colocação de cruz pendente sobre o altar da imagem da padroeira e, em outro, a de São Gaspar Bertoni. A instalação de grandes lustres no vão central da igreja constituiu-se na inovação mais importante, além de pinturas artísticas imitando mármore e granito nas colunas e paredes no entorno, conforme projetos do arquiteto Demilton Dib.

A virada do milênio foi comemorada com a inauguração do quarto sino. Vitrais reformados, bancos de madeira substituídos, remodelação da entrada do santuário e grades para segurança foram afixadas à frente da igreja. Com o galpão para abrigar a festa da padroeira e eventos, ao lado do templo, padre Marot encerrou suas ações na direção da paróquia.

Embora Nossa Senhora d’Abadia fosse conhecida como padroeira de Uberaba desde o início do século 20, inclusive sua data comemorada com feriado municipal, oficialmente somente em 14 de agosto de 2007 que a lei 10.196 a reconheceu como patrona.  

Fontes: santuarioabadia.com.br e Wikipédia

*Luiz Alberto Molinar é jornalista e coautor da biografia www.luciliarosavermelha.blogspot.com,da Editora Bertolucci.

Nossa Senhora d’Abadia de Romaria tem três crianças na base e uma no colo 
     Primeira igreja d’Abadia sem a torre e os anjos no frontispício, nos anos de 1920 
                                   

            O segundo santuário na década de 1960, com a imagem de 4,4m na torre


Nossa S. Auxiliadora no santuário de Uberaba, com apenas uma criança no colo