Dr. João Modesto dos Santos foi um dos nossos melhores trovistas, repentistas e poetas. Formado em Odontologia, só trabalhou na Regional de Saúde, onde atendia com especial zelo e carinho, principalmente os mais humildes. Mas João Modesto gostava mesmo era de compor, fazer versos, “bater papo”, viver à sua maneira. Casado, 2 filhos, figuras conhecidas na cidade. Final de tarde , raro o dia em que não estava a bebericar no “Tip-Top”, “Buraco da Onça”, ou “Guarani”. João Modesto fazia daquele trecho da Leopoldino seu trecho favorito do “amassa barro”. Certa vez, precisou de um empréstimo bancário e recorreu ao amigo Zico Sotero, do “Banespa”. O amigo pediu-lhe o cadastro. Surpreso com o pedido, João Modesto não se fez de rogado e lascou pronta resposta em rápido improviso. –“Toda riqueza singela do meu rancho ao pé do morro – é um cacho das tranças dela – meu violão , meu cachorro”. O empréstimo, claro, não saiu, mas a cidade inteira tomou conhecimento do antológico verso. Apreciador da boa cachaça, não dispensava , antes dp primeiro gole, a cuspidinha no chão, era para o “santo”, dizia. No auge do bar do “Polenta”, na rua João Pinheiro, costumava reunir-se com o Morais, Saul Perácio, Cacildo Assunção, Zé Coelho e Tércio Camargo. Num final de tarde, lá reunidos, viu entrar sorridente e faceira, gingando as cadeiras, cabelos esvoaçantes, devidamente acompanhada, aquela beleza de morena! Mal estar geral. Na “roda” tinha alguém que, ainda recentemente, teve “cacho” com a morena… João Modesto pediu permissão ao amigo, tomou de um pequeno guardanapo, lápis à mão, escreveu o versinho endereçado à mocinha e assim escrito:
Ora viva quem merece Que eu também já mereci Você hoje rói a casca Da fruta que já comi
O acompanhante leu o bilhetinho e foi o bastante para levantar-se e ir embora. Sem olhar prá trás…..
Desnecessário dizer que o resto da noite, regada à cerveja, foi patrocinada pelo amigo do Dr. João Modesto, já que teve a “honra lavada” com versos tão preciosos…
Luiz Gonzaga de Oliveira