Encerro, hoje, a série Zote. Embora pareçam fantasias e ou anedotas, são crivadas da mais pura e cristalina verdade. Aliás, José Formiga do Nascimento, Zote, se não tivesse nascido, o mais justo, real e sincero , seria confeccionar um protótipo, nem que fosse de matéria plástica, tamanha a autenticidade de suas histórias. Veio-me à memória um fato religioso, de fé, igreja e devoção vivida por Zote. Seguinte: o nosso homenageado era devoto fervoroso de São Sebastião, santo trabalhador, guerreiro, batalhador e vencedor. Era se ver “apertado”, situação financeira que requeria cuidado, Zote invocava o santo. Zote era “cliente preferencial” do Banco Mercantil de Minas. “Amigo especial” do gerente Djalma Guimarães, que o socorria a qualquer hora. “Segurar um cheque por alguns dias”, “fingir de morto à duplicata vencida” e pelai. Djalma, sabia e tinha certeza que o amigo nunca iria “mancar”. Certa feita, alguns cheques estavam na “gaveta” a pedido de Zote. Só que, inesperadamente, chega à agência, um inspetor do banco e a usual conferência do “caixa”. Djalma, ficou ansioso..onde encontrar o Zote? Na fazenda? No posto? Na usina de açúcar?na empresa de ônibus? Telefona prá cá, telefona prá lá , demorou um bom tempo à encontrar o Zote.
-“Zote, meu amigo, corra aqui na agência. Estou com inspetor na casa e aqueles cheques…”
Hora e meia depois, chega o Zote, sorridente, calmo, calça abaixo da barriga, botina “mateira”, camisa prá fora da calça, chapéu de aba curta, barba por fazer, estende a mão ao amigo gerente e, folgado, perguntou:
-“E aí compadre, que foi que aconteceu?”.
Antecipando qualquer esposa, o inspetor atravessou e foi direto ao assunto:
-“Sabe, “seo”José, encontrei uns cheques emitidos pelo senhor sem cobertura e preciso solucionar essa pendência”…
Zote tirou o chapéu, coçou o couro cabeludo, pigarreou e, de pronto, começou a falar:
-“Sabe, “seo” inspetor, o Djalma é o melhor gerente que o Mercantil tem em Minas Gerais, ajuda todo mundo que precisa. Eu precisei e pedi um prazo de 3 dias para “cobrir” os cheques. Vence depois de amanhã. Num dá pro senhor esperar?”
-“Dá não, “seo” José, senão complica a vida do gerente”. ..
Foi aí então que entrou a “lábia” e o “proseado”do Zote-“
“-O senhor é católico ?”, perguntou.
A afirmativa veio em seguida.
-“Pois é. O Djalma tá me ajudando a carregar o andor de São Sebastião, há muito tempo. Saiu da Catedral, tá vendo a torre da Igreja? Desceu a praça Rui Barbosa, contornou a Notre Dame, ganhou o lado direito do casarão do Coronel Geraldino, num esforço danado, subiu comigo, segurando o andor, as escadarias da Catedral e no momento que a gente ia colocar o santo no altar, o senhor quer que eu deixe ele cair?”
O riso foi geral. O inspetor compreendeu a situação e, na 6ª.feira, conforme o combinado, Zote “cobriu” os cheques…
Luiz Gonzaga de Oliveira