Mostrando postagens com marcador Cidade de Uberaba.. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cidade de Uberaba.. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 5 de março de 2020

UM VIVA À WILMA CESARINI!


Luiz Alberto Molinar

“Me segura!”, era seu bordão para algo tido como segredo revelado ou assunto constrangedor. Minha professora particular nos anos 70 e companheira de mesa na Choperia do Mário, nos 90. Ao som do Trio Irakitan, Nelson Gonçalves e Orlando Silva, que ela cantarolava junto, com alegria, degustávamos porções e sucos. Gostava de ouvir suas histórias. A levei aos shows de Inezita Barroso e dos Demônios da Garoa.

Wilma Cesarini

Wilma Cesarini (18/12/1929-4/3/2020), desde a década de 1930, morou na rua Artur Machado. No final de tarde, ficava debruçada sobre seu portãozinho, vigiando a vizinhança e cumprimentando comerciários que voltavam do trabalho.

Afilhada do líder espírita e psiquiatra Inácio Ferreira, era também adepta da mesma doutrina. Se sentia ofendida com convites a missas e festas católicas. Solidária, contribuía com casas assistenciais. Ranzinza, vez ou outra entrava em conflito com vizinhos.

O marido de Wilma, Alaor Araújo, adquiriu da viúva do memorialista Hildebrando Pontes seu acervo de jornais. Com a morte do companheiro, ela doou a mim esse tesouro. Parte dele, edições dos anos 1960 do “Lavoura & Comércio”, decorou paredes do primeiro endereço da Choperia do Mário.

Gostava de sua casa na qual permanecia 24 horas por dia. Guardava orgulhosa móveis antigos e porcelanas de seus pais. Um incêndio destruiu tudo em 2017, quando ela já morava em hotel geriátrico. Por sorte a casa foi apagada de sua memória, nunca quis voltar lá ou sequer perguntava por ela. 

Restou um banco de jardim e um suporte de vaso, de madeira entalhada, e com pernas curvas, que ficavam no alpendre. Os bombeiros retiraram para combater as chamas e deixaram no passeio. Ficaram lá, abandonados...

Além das lembranças, foi o que ficou da minha vizinha – desde 1964 -, estão no meu jardim, e bem guardados! 


*Paixão pelo Uberaba Sport*


Aos domingos à tarde, quando se ouvia – em alto e bom som - a “Marcha Uberaba Sport”, no quinto quarteirão da rua Artur Machado, principalmente nos anos 1970, época áurea do clube, era o anúncio e comemoração de gol do USC. Antes do hino, o grito do narrador esportivo da rádio já prenunciava a música. 

Nas manhãs vitoriosas de segunda-feira, a vitrola lembrava comerciantes e comerciários da vizinhança o êxito do dia anterior, principalmente se havia torcedores do arquirrival Nacional Futebol Clube por perto. E se o triunfo fosse sobre o Naça, a música era tocada inúmeras vezes.

Os ruídos de alegria partiam da residência número 615, da Wilma. Apaixonada, acompanhava o seu Uberaba desde a década 1940 pela Rádio PRE-5, a Sociedade do Triângulo Mineiro. Do programa diário às 10h, o “Parada Alvi-rubra”, nos anos 1970, era ouvinte cativa. Gazeteiro do “Lavoura” entregava todo dia o exemplar da torcedora, que buscava mais informação sobre o USC.

Aos 90 anos, residia no Recanto Hotel Geriátrico, na rua José de Alencar, 184, São Benedito, há cinco anos. A incomodava morar no bairro do Nacional. Ficava contrariada, quando passeava pelas redondezas, ao ver o comércio mais ativo que o da sua Artur Machado. Continuava firme, por rádio e pelo “Jornal de Uberaba”, acompanhando a paixão de uma vida. A alegrou ao ler, em 2017, a revista “Replay” comemorativa do centenário do USC.

Cidade de Uberaba


terça-feira, 1 de outubro de 2019

NAUFRÁGIO NO RIO GRANDE

Já passava das duas da tarde quando a lancha “Sapucahy-Mirim” acionou o seu motor a vapor, lançou um longo apito e afastou-se do atracadouro do porto da Bocca Grande, na margem paulista do Rio Grande, próximo a Vila de Santa Rita, atual Igarapava. O barco, que pertencia à Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação, havia começado de manhã cedo sua viagem naquela quinta-feira, 22 de novembro de 1888. Deixara o porto de Jaguara, 30 quilômetros rio acima, onde funcionava a última estação da ferrovia paulista, que ligava a cidade de Campinas ao Triângulo Mineiro. Em Jaguara, embarcaram no vapor dois passageiros: Arlindo Alves Monteiro, da cidade de Bebedouro, e Guilherme Walick, do Salto de Itu, representante comercial da casa Mac-Hardy. O destino de ambos era o Porto da Ponte Alta, na margem mineira do rio, junto à atual cidade de Delta, alguns quilômetros abaixo de Bocca Grande. De lá, chegava-se por terra a Uberaba.

Lancha “Sapucahy-Mirim”

Oito meses antes, em março de 1888, o primeiro trem da Mogiana havia cruzado o Rio Grande por uma ponte ferroviária construída sobre as pedras da corredeira de Jaguara. Menos de um quilômetro adiante da ponte, havia sido erguida a estação de mesmo nome. Era a segunda estação da Companhia a ser aberta na província de Minas Gerais: a pioneira havia sido Caldas (mais tarde renomeada Poços de Caldas), inaugurada em outubro de 1886. A estação Jaguara marcava o ponto final da chamada “linha do Rio Grande”. Dali em diante, começaria a “linha do Catalão”: uma ferrovia que, passando por Uberaba, deveria chegar até essa cidade no sul de Goiás, mas que acabou encerrando o trajeto em Araguari, estação inaugurada em 1896.

As instalações da estação de Jaguara, hoje em ruínas, impressionam pela seu tamanho e imponência. Os terrenos para construção dos pátios de manobra, grandes armazéns e uma vila ferroviária foram cedidos pelo Coronel Manoel Pereira Cassiano, residente em Uberaba. Jaguara não era apenas uma estação de trem. Em 1887, a Cia. Mogiana havia conseguido do governo uma concessão por 10 anos para explorar a navegação no Rio Grande num trecho de 160 km até a foz do rio Sapucaí. A empresa pretendia utilizar o rio para recolher e distribuir as mercadorias para os seus trens-de ferro em Jaguara. Entre elas, milhares de sacas de sal grosso usadas pelos criadores de gado da região.

O Rio Grande não facilitava muito as coisas. Antes da construção das grandes barragens que hoje interrompem seu curso, era um rio de águas agitadas. Na época da seca, surgiam no seu leito diversas corredeiras com poucos canais navegáveis: “Soledade”, “Pedras de Amolar”, “Barra Rica” e assustadora “Cachoeira dos Junqueira”. Durante as cheias, as águas encobriam as pedras, formando turbilhões e escondendo armadilhas para os barcos. Por mais de um ano, um grupo de engenheiros e operários da Mogiana trabalhou ao longo do rio, dinamitando obstáculos e desviando o curso das águas para facilitar a navegação. Um jovem engenheiro, Dr. Armando Barreto, de 26 anos de idade, pagou com a vida pela ousadia de se divertir nas águas do rio, tragado pela correnteza das Pedras de Amolar em setembro de 1887.

Apesar desse infortúnio, a Mogiana não desistiu. Um mês depois, chegou ao Rio Grande o vapor “Jaguara”, com roda de popa, primeira das três lanchas encomendadas ao estaleiro inglês Thorneroft para operar no trecho. Sua viagem inaugural contou com as presenças do presidente da empresa, João Ataliba Nogueira, e do engenheiro-chefe Joaquim Ribeiro Lisboa. A inédita passagem de um barco a vapor pelas águas do Rio Grande foi efusivamente saudada pelos moradores das povoações ribeirinhas. No início de 1888 juntou-se ao “Jaguara” o rebocador a hélice “Sapucahy-Mirim”, mais moderno, projetado para puxar barcaças e batelões de carga.

O Rio Grande não seria vencido com facilidade. Naquela fatídica tarde de 22 de novembro, suas águas já começavam a engrossar com as chuvas do final do ano. Meia hora após deixar o porto da Bocca Grande, o “Sapucahy” começou a descer a corredeira da Soledade. Um redemoinho de água o desviou do curso, o casco bateu em uma pedra e o barco virou no meio do rio. Morreram afogados os dois passageiros, um foguista e o maquinista do rebocador. Salvaram-se a nado o piloto e um marinheiro. Toda a carga perdeu-se.

Nos dois anos seguintes, a Mogiana ainda manteve ativo seu serviço de navegação para tentar preservar a concessão. Mas o naufrágio roubara a confiança dos clientes, e os barcos acumulavam prejuízos. Em abril de 1889, com a chegada dos trilhos à cidade de Uberaba, a demanda de cargas caiu e a situação ficou insustentável. Pouco tempo depois, os barcos foram desativados. Nas décadas seguintes, o Porto de Jaguara continuou a ser usado por pescadores, que despachavam pelos trens da Mogiana os peixes fisgados no Rio Grande.

(André Borges Lopes – Texto publicado originalmente na coluna Binóculo Reverso do Jornal de Uberaba em 15/09/2019 – Foto do site www.turismorifaina.com.br)


Fanpage: https://www.facebook.com/UberabaemFotos/

Instagram: instagram.com/uberaba_em_fotos

Cidade de Uberaba

sábado, 14 de setembro de 2019

CIDADE CONTRA CIDADE

Oi, turma!


(Jornalismo é saudade e muita verdade...)


Foi uma noite inesquecível ! Agosto de 1969 ! 50 anos são passados ! Parece que foi ontem ! Uberaba não dormiu naquela noite. O povo grudado na TV., assistia Silvio Santos, no “Cidade Contra Cidade”. Uberaba enfrentava São José do Rio Preto. O “homem do baú”, no Teatro Tupi, da avenida Brigadeiro Luiz Antônio ,realizava um programa em que as cidades que recebiam sinal da saudosa TV-Tupi, mostravam seus valores, personalidades, curiosidades, feitos fantásticos e tudo mais. Era o espetáculo televisivo coqueluche do Brasil. O convite para a terrinha partiu de José Pedro de Freitas, diretor da rádio Tupi e do repórter Saulo Gomes.

As provas mais variadas. Nomes singulares de uberabenses; personalidade ”fora de série”; quadro musical que expressasse o costume da cidade; um filho da terra de expressão nacional e internacional; arrecadação de livros que iriam abastecer escolas municipais que não possuíam bibliotecas; um jovem da terra que, numa redoma de vidro inviolável, acertasse nomes de musicas pelo fone de ouvido, as mais difíceis. Juntaram-se as forças da cidade. João Guido, prefeito, doou toda a logística: ônibus para a torcida e participantes, além das refeições. O 4º.Batalhão, responsável pelo recolhimento e transporte dos livros arrecadados, Raul Jardim, Netinho e Geraldo Barbosa, pela PRE-5, Jorge e Farah Zaidan e este veterano escriba, como apresentador responsável, pela “ 7 Colinas”, responsáveis pela programação.

Ainda com o tempo curto para ensaios, Luiz Rossetti, o melhor conjunto musical da época, encarregou-se do primeiro quadro. Título:- “Uai, o que uai , sô? Uai é uai, uai...” João Cid, como o “caipira”, deu “show”. Helvecinho ,na bateria, Gabriel e Barão, vozes, Urano, violão e Rosseti, no piano e a voz feminina de Ivete. Quadro seguinte: Fernando Braz, que ainda não era Vannucci, respondeu todos os nomes das músicas que lhe foram apresentadas. Depois, ”personalidade mundial ”.Dr.Álvaro Lopes Cançado (Nariz), médico introdutor da medicina esportiva no Brasil e jogador da seleção brasileira de 38, acompanhado da filha médica, psiquiatra, Wania Magon Lopes Cançado. O quadro, recebeu nota 10 dos jurados.

Nomes originais, novo sucesso. Pincal Pedro Nascimento, Atríbulo Quaresma e Deusvelindo Salvenil Cirineu, foram vencedores. Da metade do programa em diante, Silvio Santos, começou a chamar a atenção para o quadro “Fora de série”. Avisava que Chico Xavier, estava nos estúdios e representaria Uberaba ! Praquê! São Paulo ouriçou ! Em minutos, a Brigadeiro Luiz Antônio, foi recebendo gente querendo ver Chico Xavier ! Brasileiros de todos os cantos, chegando aos borbotões! A Policia Militar e Departamento de Trânsito, organizando o trecho . O trânsito, desviado. Gente chegando. De norte, sul, leste, centro, bairros e periferia, tomando conta da avenida. Cálculo da Policia Militar: aproximadamente 15 mil pessoas !

Apoteose! Delírio ! Palmas ! Gritos ! Chico Xavier, entra no palco. Silvio santos, começa a chorar. Eu também. A platéia, de pé, aplaudindo. Silvio e Saulo Gomes, iniciam as perguntas. e Paulo Moura, o maior clarinetista do Brasil, representando Rio Preto, não se conteve. Abraça Chico, demoradamente. Em silêncio, as perguntas. Chico, responde todas. Homossexualismo, disco voador, drogas, família, religião, seres extra-terrestres. Nenhuma sem resposta ! Três e meia da madrugada de 6ª.feira, termina o programa. O público não arreda pé, nem do auditório ,nem da avenida. A multidão, queria ver, de perto, o nosso Francisco Cândido Xavier! Uberaba venceu ! Aqui na terrinha, fogos espocavam por todos os cantos ! Uberaba fora mostrada para todo o Brasil ! No dia seguinte, a grande recepção ! Uberaba recebia seus ídolos e guerreiros que souberam honrar o nome da CIDADE !
A saudade mata a gente... Eram tempos de glória !Abraços do “ Marquez do Cassú “.

Fanpage: https://www.facebook.com/UberabaemFotos/

Instagram: instagram.com/uberaba_em_fotos

Cidade de Uberaba