Era calma, suave, cheia de tardes bucólicas.
A cidade da minha infância tinha um absoluto céu azul,
Chuvas fininhas, intermináveis, irritantes.
Aventura era encontrar Maria Boneca portando o brinquedo
E fugir, para descansar sob a sombra da Gameleira.
Na exposição de gado meus pais compravam mexericas
Levando-me a preferir, sempre, mexericas ao Zebu.
No meu tempo Uberaba tinha córregos a céu aberto
Guardados por muretas que nos serviam de encosto
Antes das sessões do Metrópole, do Palace
Esperando caronas do Padre Nicolau após aulas no Cristo Rei.
Brincava no Mangueirão, passeava pelos trilhos da Mogiana,
No parque infantil da Praça Rigoleto de Martino (hoje só resta a Codau!)
O autor do Hino do Uberaba Sport, o time que, na Uberaba do meu tempo
Rivalizava com o Independente, o Nacional…
No Boa Vista éramos todos sobrinhos da Tia Carola.
Fazíamos teatro com a Belinha
Sabíamos que era maio pelas congadas
E que era dezembro no presépio de d. Castorina.
Foram tempos de festas constantes
Quando bastavam as quermesses de santos e santas, soando sinos e cânticos nas sete colinas de Uberaba.
Parque Fernando Costa
A minha Uberaba tinha crônica ao meio-dia
O festival do Chapadão de Teatro e de Música
O Observatório, no Lavoura e Comércio,
Tudo criação do Ataliba Guaritá, o Netinho.
Raul Jardim fazia o “Escutando e Divulgando”
Lídia Varanda reinava na PRE-5
E Nhô Bernardino terminava o dia na hora do Ângelus.
Noite de Uberaba tinha o Parque Boa Vista (Eu era o filho do rei!)
O circo do Cheiroso, batuques no terreiro de Mãe Marlene
Cartas pelas mãos abençoadas de Chico Xavier
Mamãe rezando terço, aguardando-me dormir na noite sempre calma da cidade.
Recordo o café oferecido pelas freiras do Carmelo
As aulas na Escola Estadual Fidélis Reis
As tardes de jogos no pátio da Igreja Nossa Senhora das Graças…
Tantas coisas como essas que continuam na Uberaba de hoje.
Que vejo longe, sei de ler, de ouvir contar
A cidade de agora é de quem por lá está.
Há uma Uberaba que é minha, feita de sonhos acalentados
De planos vitoriosos, de projetos engavetados.
Guardada por todo o sempre e sempre teimando em sair à tona
Aquela cidade ganha meus dias, ocupa minhas noites de insônia.
A cidade de agora é porque um dia foi outra
Essa outra que chamo “minha”
Impregnada em ruas e morros, acalentando ternamente o coração transforma-se sempre
Vive o hoje, comemora o agora
Segue rumo ao tempo em que alguém, lá longe, lembrará:
A Uberaba do meu tempo…
Valdo Resende