Mostrando postagens com marcador Capinópolis. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Capinópolis. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

CAPINÓPOLIS: UM MONSTRO E SEUS MISTÉRIOS

Em fevereiro de 1972, o norte do Triângulo Mineiro foi assombrado pelo medo. Assassinatos inexplicáveis em fazendas do entorno da cidade de Ituiutaba deixaram em pânico os moradores da zona rural. Cadáveres de homens e mulheres eram encontrados em fazendas, mortos por tiros de espingarda ou desfigurados por golpes de facão. Bezerros apareciam degolados nos pastos, sem que a polícia encontrasse qualquer pista dos autores dos crimes.

O pânico se espalhou pela região. Levantamentos da polícia davam indícios de uma trilha de mortes misteriosas, começando na região de Paracatu e descendo pelo vale do Rio Paranaíba até a cidade de Capinópolis, na época com cerca de 14 mil habitantes, a maioria na zona rural. Os pequenos destacamentos policiais eram impotentes para garantir a segurança da população e para encontrar os rastros dos assassinos.

O pânico logo se transformou em terror, com boatos correndo de boca em boca. Pessoas da região contavam ter avistado o “monstro” caminhando pelos campos e brejos: era descrito como um homem negro, alto e forte, de olhos vermelhos como o fogo. Sua habilidade de se esconder e fugir da polícia foi atribuída a poderes mágicos. O “monstro” teria um pacto com o diabo e se alimentaria do sangue dos bezerros. Disfarçava-se durante o dia na forma de um boi preto ou de um ninho de cupins. Podia virar fumaça e deslocar-se na velocidade do vento para cometer crimes que aconteciam no mesmo dia a dezenas de quilômetros de distância.

Notícias de mais de 12 mortes chamaram a atenção da grande imprensa, que enviou jornalistas. Jornais, rádio e televisão falavam sobre o “louco do Pantanal” ou “monstro de Capinópolis”, cobrando respostas. O governo de Minas Gerais montou uma operação de guerra, sob comando da Polícia Militar. Cerca de 200 homens do 4º Batalhão de Uberaba foram deslocados para a região sob comando do tenente-coronel Newton de Oliveira, que recebeu reforços de Uberlândia e Belo Horizonte. Caminhões com militares armados de fuzis e metralhadoras, acompanhados de cães rastreadores, cruzavam as estradas do Vale do Paranaíba, uma verdadeira caçada humana.

Nas pequenas cidades, o clima de suspense era ampliado pela chegada de moradores do campo, que fugiam em busca de segurança. Ninguém ousava dormir nas fazendas, as aulas foram suspensas nas escolas e as portas e janelas das casas passaram a ser trancadas a ferrolho e chave. Ruas ficavam desertas à noite mas, durante o dia, curiosos reuniam-se nas praças e bares para saber das novidades. Militares e policiais de passagem eram cercados por repórteres e moradores em busca de informações.

Em 3 de março, uma notícia na capa do jornal Correio Brasiliense contava que o “louco-assassino” havia escapado de um cerco formado por mais de 400 homens. Havia a suspeita de que se tratasse de um ou mais detentos, recentemente fugidos de uma penitenciária em Goiás. Cinco dias depois, o jornal contava que o “monstro” dera um drible nas forças policiais, dessa vez “conseguindo escapar de tiros de revolveres, metralhadoras e granadas de gás lacrimogênio”, reaparecendo logo depois em lugar muito distante.

Orlando Sabino Camargo.

Finalmente, em 10 de março, o maníaco acabou sendo encontrado e preso por 60 soldados da PM mineira, às margens do Rio Tijuco, em Ipiaçu. Identificado como Orlando Sabino Camargo, natural de Arapongas, no Paraná, foi levado ao centro de operações em Capinópolis, para ser apresentado a jornalistas e autoridades, que se amontoavam em torno da delegacia. Ao entrar na sala, causou enorme decepção. Orlando era um homem negro de idade indefinida, cabelos desgrenhados, magro e franzino, com pouco mais de 1,60 de altura. Descalço, vestia roupas surradas e tinha um ar assustado, que lembrava um adolescente com evidentes distúrbios mentais. Respondia com frases curtas às perguntas dos jornalistas e dos policiais. Segundo a polícia, havia assumindo a autoria de ao menos cinco dos crimes investigados. No interrogatório, era premiado com lascas de rapadura a cada resposta que dava. Levado ao Instituto de Medicina Legal de Uberaba, foi diagnosticado com oligofrenia, o que lhe rendeu mais de 38 anos de internação num manicômio judiciário. Libertado em 2011, viveu mais dois anos em uma casa de repouso, antes de morrer de infarto. 

Na época, pouca gente acreditou que um andarilho miserável com problemas mentais tivesse mesmo cometido todas aquelas atrocidades, mas a sua prisão encerrou a série de crimes. O Brasil vivia o período mais duro da ditadura militar de 1964. Órgãos de repressão do governo combatiam os grupos de oposição armada ao regime, entre eles os que tentavam montar um foco guerrilheiro na região do Rio Araguaia. Com a imprensa sob censura e a oposição mantida sob controle, questionar versões oficiais da polícia e de militares representava um sério risco, inclusive de vida. Só recentemente, a história oficial do “monstro de Capinópolis” passou a ser contestada. Falaremos disso na próxima semana.


(André Borges Lopes)




Cidade de Uberaba

domingo, 1 de janeiro de 2017

QUEM SEMEIA VENTO, COLHE TEMPESTADE

Lá vai Luiz Henrique: Os mais novos não estão lembrados, no Triângulo, tivemos um” monstro assassino”. Assim, a imprensa tratou um caso de um cidadão que aterrorizou a região, principalmente as cidades do pontal do Paranaíba.. O fato se deu nos anos 72 e ganhou repercussão nacional. A zona rural de Capinópolis, Canápolis, Ituiutaba, Ipiaçú, ficou em polvorosa com as estripulias que vinham acontecendo e amedrontando os fazendeiros. Animais mortos, corpos decapitados, animais mutilados e ninguém conseguia “ botar a mão no assassino”. Diziam ser um homem franzino, que matara seis pessoas na zona rural de Ituiutaba. A população estava em polvorosa. Delegado e soldados da cidade, organizaram escolta porá prender o assassino e nada ! O bandido conseguia fugir de todas as situações. Pedido reforço policial em Belo Horizonte, veio para a região, o delegado especiaTacir Menezes Sá e uma “leva” de detetives especializados. Buscas incessantes, a imprensa estadual dando destaque especial. Ninguém conseguia deitar mão no assassino. A população em polvorosa. A região em parafuso. Era medo só. A grande imprensa tomou ciência e, diariamente, noticiava a “caçada ao monstro do Triângulo”. Recorreu-se ao Quarto Batalhão de Minas, sediado em Uberaba. O comandante Newton Oliveira, colocou em prática, uma verdadeira operação de guerra, à captura do misterioso individuo. Depois de 10 dias de intensa busca, em Ipiaçú, margens do Tijuco, o dito cujo foi preso. Moreno escuro, franzino, cabelos encaracolados, olhar assustado, rosto de retardado mental, dizia chamar-se Orlando Sabino. Trazido para Uberaba , Orlando, foi apresentado à imprensa nacional, em meio a um intenso arsenal policial. Jornais do Brasil inteiro , na capa, mostravam aquele negrinho, magrinho, , cabelos encaracolados, olhar assustado, rosto de retardado mental, , respondendo “sim” a tudo que lhe perguntavam, inclusive o assassinato das 6 pessoas em Capinópolis. Orlando Sabino, foi removido para Barbacena (MG), onde morreu tempos depois.
Com a captura de Orlando Sabino, cessaram as mortes no pontal do Tijuco e apenas uma interrogação: teria sido aquele menino franzino, quase raquítico, “pinta” de retardado, o “monstro do Triângulo”, tão decantado pela imprensa nacional?.

Luiz Gonzaga de Oliveira