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terça-feira, 19 de março de 2019

No dia 14 de março de 2019, foi celebrado o Dia Nacional da Poesia e, também, data de nascimento de Carolina Maria de Jesus

No dia 14 de março de 2019, foi celebrado o Dia Nacional da Poesia e, também, data de nascimento de Carolina Maria de Jesus, uma escritora brasileira, conhecida por seu livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada que foi publicado em 1960. Carolina de Jesus foi uma das primeiras escritoras negras do Brasil e é considerada uma das mais importantes escritoras do país.
A escritora nasceu no dia 14 de março de 1914, em Sacramento (MG) e morreu em 13 de fevereiro de 1977, aos 62 anos.

"A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago." (Carolina Maria de Jesus, em "Quarto de despejo", 1960)

 Carolina Maria de Jesus

A primeira grande escritora negra do país celebraria 105 anos em 2019.

“Eu vivo para o meu ideal”. Essa frase é da escritora Carolina Maria de Jesus e encaixa-se perfeitamente para descrevê-la. Natural de Sacramento (MG), Carolina amava as palavras e tinha certeza de quem era: mulher, preta e poetisa. Seu sonho e maior objetivo era ser publicada. Ela conseguiu. Foi publicada em português e outros 14 idiomas, em 40 países.

Catadora de papel e moradora da favela do Canindé, em São Paulo, Carolina escreveu sobre suas vivências. A vida de catadora, as pessoas que moraram na favela, a fome, tristezas e, principalmente, a pobreza. Seu primeiro livro, Quarto de despejo, chegou a vender mil exemplares em um único dia. Um retumbante sucesso editorial e recorde para a época. Depois do bestseller, a autora produziu outras obras, mas sem igual sucesso. Entre elas, as publicações: Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada, de 1961. Provérbios, e Pedaços da fome, de 1963. A última obra, Diário de Bitita: um Brasil para brasileiros, publicada primeiro na França pela Éditions Métailié, com o título de Journal de Bitita, só sairia no Brasil em 1986.

O dia do registro de nascimento de Carolina é o dia 14 de março. Mesma data de aniversário de Castro Alves e antigo Dia Nacional da Poesia no Brasil. No mês de seu aniversário, confira outras sete curiosidades sobre sua vida!

Segundo a historiadora, Elena Pajaro Peres, Carolina frequentou a escola durante apenas dois anos em sua cidade natal. Foi no Colégio Allan Kardec, que ela foi alfabetizada e já adulta dedicava grande parte de seu amor a literatura à sua professora.

Carolina adorava o Carnaval e chegou a gravar um álbum com sambas e marchinhas. As músicas, apesar de raras, estão disponíveis online na Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles (IMS).

Antes de conseguir publicar seus livros. Carolina bateu na porta de diversas redações e jornalistas para divulgar seus poemas e alguns foram publicados em duas reportagens na revista O Cruzeiro.

Carolina atuou no documentário alemão: Favela: a vida na pobreza, protagonizado por ela mesma, mas impedido de passar no Brasil durante a ditadura militar, por apresentar a miséria da favela do Canindé. Localizado e restaurado pelo IMS na Alemanha, o filme foi exibido pela primeira vez no Brasil, no centenário de nascimento da escritora, em 14 de março de 2014 e pode ser assistido na sede do instituto.

Em Sacramento (MG), Carolina foi criada em uma comunidade de forte tradição oral. Seu interesse pela literatura é despertado primeiro pelo oficial de justiça, Manoel Nogueira, que todas as tardes lia para os negros que não sabiam ler, o jornal, poemas ou pensamentos.

O primeiro romance lido por Carolina de Jesus foi A Escrava Izaura, emprestado por uma vizinha de sua mãe e a partir daí começou a ler tudo que chegava ao seu alcance.


 Carolina Maria de Jesus
Durante os anos em que Carolina vivia em São Paulo, a publicidade do governo para trazer novos imigrantes para a capital paulista era muito forte – a Nova York da América Latina. Mas pouco ou nada era dito sobre as recentes favelas instaladas na cidade. Carolina denunciou as condições de miséria, as quais vivia e a constante chegada de migrantes do campo fadados ao mesmo destino.

Cidade de Uberaba

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Arquivo Público de Uberaba digitaliza originais de Carolina Maria de Jesus

Carolina Maria de Jesus
Nesta quarta-feira (28), o Arquivo Público de Uberaba recebeu o secretário de Cultura e Turismo de Sacramento, que disponibilizou a coleção de obras originais da escritora Carolina de Maria de Jesus para ser digitalizados. A ação é fruto de uma parceria firmada entre a Prefeitura de Uberaba/Secretaria de Governo por meio do Arquico Público, com a Prefeitura de Sacramento, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo/Arquivo Público Municipal Cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswik.

O pesquisador do Arquivo Público de Uberaba, Miguel Jacob Neto, destacou a importância de poder digitalizar esse material que será disponibilizado para os interessados em pesquisar sobre a obra da escritora e também poderá ser utilizado para pesquisas internas do arquivo. “É muito importante essa parceria entre os municípios para que haja o estreitamento entre os Arquivos Públicos que só tem a se facilitar o acesso a informações e o desenvolvimento de pesquisas”, pontua Miguel.

De acordo com o Secretário de Cultura e Turismo de Sacramento, Carlos Alberto Cerchi, o material está no arquivo de Sacramento desde 1990, doado pela filha da Carolina. “Com a digitalização esperamos socializar o trabalho da Carolina Maria de Jesus, que é uma autora muito conhecida internacionalmente tendo suas obras traduzidas em mais de 15 idiomas e comercializada em mais de 60 países”, destaca Cerchi.

Estão sendo digitalizados 37 cadernos brochura, que foram manuscritos por Carolina, onde estão obras inéditas contendo peças teatrais, romances, diários, composições de musica, poemas, enfim, uma gama de trabalhos não publicados. Também serão digitalizados os originais dos livros, Pedaço da Fome e Casa de Alvenaria, que não são mais encontrados no mercado.

A responsável pelo Arquivo Público de Sacramento, Eliana Garcia Vilas Boas, pontuou ainda a importância desse material, como um arquivo pessoal físico, onde inclusive os rascunhos estão preservados para análise da obra da autora. “Hoje com os arquivos digitais, na maioria das vezes você apaga o rascunho sobrando apenas o produto final. Já nos arquivos físicos, temos o rascunho e original, o que é uma fonte muito rica para os pesquisadores”, ressalta Boas.

Esse trabalho está sendo realizado para democratizar o acervo de Carolina Maria de Jesus, uma vez que, desde seu centenário em 2014, uma corrente de pesquisadores tem defendido que a autora seja pesquisada em suas obras inéditas, até mesmo para que eles possam desvendar novas facetas de Carolina.

Jorn. Natália Melo
Comunicação PMU

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

CAROLINA MARIA DE JESUS – A INTELECTUAL DO MORRO A ESCRITORA CAROLINA MARIA DE JESUS

 Carolina Maria de Jesus


Mais de quatro décadas antes de livros como os da série Falcão, de MV Bill, ou de obras sobre a realidade das favelas escritas por gente de fora dos morros, como Carandiru e Abusado, se tornarem sucesso nas livrarias, uma moradora de favela se destacou como escritora e intelectual, num tempo em que a cultura das favelas não era ainda manipulada pela mass media.
Ela nasceu em Sacramento, em Minas Gerais, em 14 de março de 1914. Sua família extremamente pobre contava ainda com outros sete irmãos. Na década de 30 se mudou para São Paulo para arrumar trabalho e, morando na favela do Canindé, que ficava às margens do Rio Tietê e hoje não existe mais, sustentava três filhos trabalhando como catadora de papel. Certa vez, no meio de um lixo, Carolina encontrou um caderno velho, sem coisa alguma escrita e com folhas meio soltas, e pensou em registrar suas memórias em forma de diário.
Por sorte, Carolina foi descoberta em 1958 por um repórter da Folha da Noite (um dos três jornais que, mais tarde, se fundiram e viraram a Folha de São Paulo), Audálio Dantas (ex-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas e atual vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa), durante uma reportagem na favela do Canindé.
O SUCESSO DE CAROLINA MARIA DE JESUS CHAMOU A ATENÇÃO DE INTELECTUAIS COMO A ESCRITORA CLARICE LISPECTOR.
Audálio Dantas prometeu a Carolina que iria datilografar os manuscritos no diário. Com algumas revisões, até porque a língua culta exercia grande influência na época (e mesmo assim, a simplicidade narrativa da obra foi integralmente mantida), Audálio, já contratado, em 1959, como jornalista da revista O Cruzeiro, de Assis Chateaubriand, publica na revista alguns trechos do diário de Carolina, incluindo fotos tiradas com os manuscritos.
Mas foi somente em 1960 que o trabalho foi publicado, com o título de Quarto de Despejo. 600 exemplares foram vendidos só na noite de lançamento, e, no final de 1960, as vendas chegaram a 100 mil exemplares. Intelectuais como a escritora Clarice Lispector foram prestigiar pessoalmente a autora.
Com o sucesso, Carolina Maria de Jesus viajou pelo mundo. Sua obra foi traduzida para 29 idiomas e a edição italiana ganhou prefácio do escritor Alberto Moravia. Uma peça de teatro foi adaptada por Edi Lima e encenada no Teatro Nídia Líci, em São Paulo. Também houve uma adaptação da mesma obra em telefilme, pela Televisão Alemã, utilizando a própria Carolina de Jesus como protagonista. A obra, cujo título, em português, é Despertar de Um Sonho, é até hje inédito no Brasil.
No entanto, a obra Quarto de Despejo e a própria expressão da escritora nos seus depoimentos, mostram a dura realidade das favelas. A obra não tem cunho ideológico e as exposições e opiniões da autora deixavam tanto a esquerda quanto a direita em situação incômoda. O livro de 1960 tem narrativa monótona, e seus dados pouco variavam no decorrer do tempo, o que dá um tom de amarga atualidade na obra. Um trecho do livro dá a noção da narrativa simples e deste propósito de denunciar a miséria e o descaso da sociedade de forma crua e sem disfarces:
1 de julho. Eu percebo que se este Diário for publicado vai maguar muita gente. (…) Quando passei perto da fabrica vi varios tomates. Ia pegar quando vi o gerente. Não aproximei porque ele não gosta que pega. Quando descarregam os caminhões os tomates caem no solo e quando os caminhões saem esmaga-os. Mas a humanidade é assim. Prefere vê estragar do que deixar seus semelhantes aproveitar.
As declarações causaram muita polêmica para muita gente, irritando até mesmo o governador da Guanabara, jornalista Carlos Lacerda, certa vez, e as más línguas, injustamente, tratavam a escritora como se ela tivesse um ataque de estrelismo. Nessa época, com o Brasil começando uma ditadura militar, Carolina foi aos poucos injustiçada e caiu num desmerecido esquecimento, diante da revolta desmedida de setores da opinião pública.
Carolina ainda publicou Pedaços de Fome, em 1963, pela Editora Áquila, e em 1965 publicou Provérbios. Em 1977, último ano de sua vida, foi entrevistada por jornalistas franceses. Na ocasião ela entregou os manuscritos de suas memórias biográficas. A escritora faleceu em 13 de fevereiro do mesmo ano, tendo as anotações biográficas sobre sua infância e adolescência publicadas em livro na França e Espanha, em 1982. Só em 1986 esse livro seria lançado no Brasil, com o título de Diário de Bitita.
Carolina Maria de Jesus foi uma das duas únicas brasileiras que foram incluídas na Antologia de Escritoras Negras, publicada em 1980 pela Random House, em Nova Iorque. Seu nome também foi incluído no Dicionário Mundial de Mulheres Notáveis, publicado em Lisboa por Lello & Irmão.